Isadora Albuquerque Hemofilias INTRODUÇÃO As hemofilias são coagulopatias hereditárias resultantes da deficiência ou anormalidade de proteínas plasmáticas da coagulação. Tem como característica a dificuldade da formação de fibrina, o que resulta em sangramentos anormais, e podem ser hemofilia A ou hemofilia B. HEMOFILIA A É causada pela deficiência do fator VII:C (FVII) e é transmitida quase exclusivamente a indivíduos do sexo masculino por um gene da mãe portadora, localizado na porção 2.8 do braço longo do cromossomo X aparentemente normal. Raramente descendentes femininos apresentam a doença. As manifestações hemorrágicas aparecem já no primeiro ano de vida, e sua gravidade depende dos níveis plasmáticos do FVIII. Cerca de metade dos recém-natos com a forma grave pode sofrer hemorragia profusa após circuncisão parto traumático, extração a vácuo e uso de fórcipe. As hemorragias podem se exteriorizar por meio de: Hematúrias (a avaliação na urina precária, pois mesmo a diluição 1/100 ainda dá pra ver sangue macroscopicamente), epistaxes, OU Hematomas, sangramentos retroperitoneais e intra-articulares OU Hemartroses, que constituem um dos aspectos mais característicos das formas graves da doença e afetam principalmente as articulações do joelho, tornozelo, cotovelo e coxofemoral OU Além dessas hemorragias espontâneas, são importantes as que ocorrem após trauma. A hemartrose se manifesta com uma monoartrite de grandes articulações. A articulação mais acometida é o joelho, seguida do cotovelo, tornozelo e quadril. Essa hemorragia é proveniente de capilares subnoviais e provoca edema e dor intensa. A articulação encontra-se inflamada, semiflertida, com edema e apresenta difícil mobilização. Sangramentos recorrentes e mal controlados espessamento da sinóvia dano a cartilagem articular A reposição do fator de coagulação e repouso articular ajudam a reabsorção do sangue na cavidade. A punção articular NÃO deve ser feita pelo risco de infecções. CLASSIFICAÇÃO Depende do nível plasmático do fator deficiente circulante, assim, são considerados como: Graves: fator VIII:C (FVIII), inferior a 1% ou 1 U/dL, com quadro clínico de sangramento espontâneos e frequentes; Moderados: FVIII entre 1% e 5% ou 1 a 5 U/dL, com sangramentos menos frequentes; Leves: com FVIII entre 5% e 30¨% ou 5 e 30 U/dL. Estes últimos tem sangramentos pouco frerquentes e, em geral, desencadeados, por trauma (acidentes, procedimentos cirúrgicos, extrações dentárias, etc.). HEMOFILIA B Apresenta hereditariedade, quadro clínico e classificação idênticos ao da hemofilia A, da qual difere quanto ao fator plasmático deficiente, que nesse caso é o fator IX, com incidência 10x menor. Isadora Albuquerque DIAGNÓSTICO Depende da história pregressa pessoal e familiar, do quadro clínico e laboratorial. Os achados laboratoriais característicos são: Contagem de plaquetas normais Tempo de sangramento (TS) normais Tempo de protrombina (TP) normais Dosagem de fibrinogênio normais e Tempo de tromboplastina parcial (TTPA) prolongado. O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DEPENDE DA DOSAGEM ESPECÍFICA DE FVII e FIX. Embora a dosagem de fibrinogênio esteja normal, há dificuldade em formar a fibrina, pela deficiência dos fatores da coagulação supracitados, ou seja, produz fibrinogênio normal, só que desse fibrinogênio não vai formar fibrina. TRATAMENTO DA HEMOFILIA A Baseado na reposição do fator da coagulação que está deficiente, associado ao quadro clínico. A reposição de preparos de fator VIII está indicado sempre que houver hemorragia, no pré operatório e no pós operatório. O tratamento pode ser pela administração IV de: Concetrado de FVIII: obtido por fracionamento de pool de plasma A dose do hemiderivado deve ser administrado 2x/dia por 3-14 dias, dependendo da gravidade do caso. TRATAMENTO DA HEMOFILIA B Concentrado de FIX: também obtido por fracionamento de pool de plasma; Completo protrombínico (CCP): contém os fatores II, VII, IX e X e também é obtido por fracionamento de pool de plasma. É usado no tratamento alternativo dos hemofílicos B, quando não se dispõe de concentrado de FIX. Hemofílicos A que desenvolveram inibidores de baixo título – anticorpos específicos contra o FVIII – também podem ter resposta a esse composto. TRATAMENTO DAS HEMOFILIAS COM INIBIDOR Cerca de 5% a 30% dos pacientes com hemofilia A desenvolver inibidores, isto é, autoanticorpos da classe IgG dirigidos contra o FVIII. Entre os hemófilos B, a incidência dos inibidores do FIX é de 1% a 3%. Clinicamente, a presença de inibidores manifesta-se pela má resposta ao tratamento habitual ou pelo aumento da frequência e da gravidade dos episódios hemorrágicos em pacientes com hemofilia grave ou moderada. TODO paciente que apresenta sangramento e não responde adequadamenteai tratamento habitual, deve ser levantada a hipótese de surgimento de inibidor e A PESQUISA LABORATORIAL É MANDATÓRIA. Além da terapia de reposição, pacientes hemofílicos requerem cuidados gerais que reduzem os riscos de sangramentos, a saber: Não prescrever drogas que alterem a função plaquetária, como aspirina e derivados, butazona, diclofenaco e derivados; Não fazer aplicações intramusculares, sendo exceções as vacinas; Nunca puncionar líquor sem antes elevar FVIII ou FIX a 100%; Nunca puncionar veias profundas (jugulares ou femurais) ou artérias; Se necessário, puncionar artéria radial e comprimir por tempo prolongado após a retirada da agulha; Não puncionar as hemartrose. Exceções: o procedimento deve ser executado, apenas por profissionais experientes, quando houver grande volume e com distensão de tecidos e quando houver necessidade de diagnóstico diferencial com pioartrite; Todos os procedimentos invasivos devem ser precedidos de terapia de reposição, com níveis adequados; Cuidado especial quando a imobilização for necessária. Nunca prolongar por mais de 48 horas, exceto nas fraturas e nas lesões ligamentares. Isadora Albuquerque MEDICAMENTOS QUE PODEM SER UTILIZADOS: 1. Antitérmicos dipirona ou paracetamol (Novalgina, Tylenol); 2. Analgésicos derivados do ácido mefenâmico (Ponstan); derivados da morfina (Dimorf); derivados da codeína (Tylex); 3. Anti-inflamatórios: ibuprofeno (Motrin, Advil); propoxifeno; cloridrato de benzidamida (Benflogin); inibidores da COX 2 (Celebra, Arcoxia); 4. Anti-histamínicos: dicloridrato de cetirizina (Zyrtec); clorofeniramina (Polaramine).