Isadora Albuquerque Mieloma Múltiplo INTRODUÇÃO O mieloma múltiplo é a principal neoplasia plasmocitária – os plasmócitos são células originadas dos linfócitos B, responsáveis pela produção e secreção dos anticorpos, ou imunoglobulinas. Assim, as neoplasias plasmocitárias cursam com níveis elevados de imunoglobulinas. Geralmente, um pico monoclonal (ou seja, formado por uma única imunoglobulina específica) é detectado na eletroforese de proteínas séricas. Este pico monoclonal é chamado de “componente M” (M = monoclonal). A origem do clone neoplásico do mieloma múltiplo parece ser um linfócito B de memória ou um plasmablasto. Os marcos da doença são: plasmocitose medular + gamopatia monoclonal + lesões de órgão- -alvo (anemia, lesões ósseas líticas, hipercalcemia e insuficiência renal). O paciente típico da doença é: homem, negro, geralmente idoso (idade média ao diagnóstico é de 68 anos). Não existe fator de risco bem estabelecido para esta doença, embora a incidência seja maior que a esperada em lavradores, trabalhadores dos setores madeireiro e de couros e nos expostos a derivados do petróleo. SUSPEITA CLÍNICA Dor óssea com lesões líticas em raio x de rotina; Aumento de proteínas séricas ou urinárias; Sinais sistêmicos de neoplasia e anemia; Hipercalcemia sintimática ou incidental; Insuficiência renal aguda ou crônica, síndrome nefrótica. QUADRO CLÍNICOLABORATORIAL São 6 características rincipais dessa doença: 1. LESÕES ESQUELÉTICAS: SINTOMA MAIS COMUM DO MIELOMA As “células do mieloma” ativam os osteoclastos através da produção de Fatores Ativadores dos Osteoclastos (FAO), aumentando a reabsorção óssea, o que leva à destruição do osso e, portanto, às LESÕES ÓSSEAS LÍTICAS características da doença. Essa destruição óssea libera cálcio para a circulação, causando HIPERCALCEMIA. As lesões ósseas do mieloma são líticas, sendo localizadas principalmente na COLUNA LOMBAR, crânio, costelas e esterno. Tais lesões, além de causar dor óssea, podem levar ao surgimento de fraturas patológicas e até mesmo compressão medular. As lesões do mieloma geralmente não são vistas na cintilografia óssea, já que a atividade dos osteoblastos está inibida. Assim, os exames usados para sua detecção são RADIOGRAFIA E TC. 2. INSUFICIÊNCIA RENAL A hipercalcemia é considerada a principal causa de insuficiência renal. Todavia, são diversas as causas do acometimento renal: a) NEFROPATIA POR CADEIAS LEVES (“rim do mieloma”) Ocorre quando as cadeias leves Isadora Albuquerque são filtradas (proteínas de Bence-Jones) em excesso, lesando os túbulos renais. As células tubulares proximais absorvem essa síndrome, podendo apresentar uma disfunção conhecida como “Síndrome de Falconi” (bicarbonatúria, aminoacidúria, glicosúria, hipofosfatemia, hipouricemia). Essa causa é reversível. b) NEFROPATIA POR ÁCIDO ÚRICO: A hiperuricemia corre tanto pelo alto turnover celular do MM, quanto pela síndrome de lise tumoral que pacientes submetidos à quimioterapia podem apresentar. c) NEFROPATIA AMILOIDE: Alguns pacientes portadores de MM desenvolvem amiloidose primária (AL). A proteína amiloide lesa os gromérulos, causando nefropatia amiloide, que geralmente evolui para síndrome nefrótica. Na maioria dos casos, a proteína de Bence- Jones NÃO é detectada pelo EAS para proteinúria. Assim, esse achado (proteinúria) em pacientes com MM sugere nefropatia amiloide. d) OUTRAS: Piora transitória da função renal decorrente de infecções, uso de AINE para controle da dor, contraste iodado para exames de imagem ou bifosfonatos para o tratamento de hipercalcemia. 3. ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS: COMPRESSÃO MEDULAR: ocorre quando as células do mieloma invadem o canal espinham e provocam a síndrome da compressão medular. O quaro geralmente é iniciado por dor radicular que evolui com compressão medular propriamente dita, cursando com perda de função esfincteriana e paraparesia (fraqueza do MMII). As fraturas vertebrais patológicas também podem cursar com esse achado. POLINEUROPATIA PERIFÉRICA: tanto a amiloidose AL, quanto a síndrome POEMS podem cursar com neuropatia periférica sensitivo- motora. CRISE HIPERCALCÊMICA: a hipercalcemia é secundária à intensa destruição óssea. Geralmente, o quadro se instala quando o cálcio sérico ultrapassa 12 mg/dL, com cefaleia, náusea e vômitos, que evolui para convulsões generalizadas, topor e coma. OUTRAS CAUSAS MENOS COMUNS: presença de plasmocitomas intracranianos e a síndrome de hiperviscosidade devido ao acúmulo de imunoglobulinas no sangue. 4. ANEMIA, VHS AUMENTADA E DISTÚRBIO DA COAGULAÇÃO: Os clones neoplásicos plasmocitários se proliferam na medula óssea vermelha, ocupando o espaço das células hematopoiéticas e inibindo a proliferação dos eritroblastos, causando ANEMIA; As DISCRASIAS SANGUÍNEAS ocorrem diretamente pelo efeito da proteína M, que pode interferir na agregação plaquetária ou na cascata de coagulação, funcionando semelhantemente à deficiência do favor VIII. O ESTADO DE HIPERCOAGULABILIDADE é mais comum nos pacientes com MM por IgA. As causas são diversas: resistência à proteína C ativada, anticoagulantes “lúpus-like”, deficiência adquirida de proteína S, etc. A TROMBOCITOSE é mais assoada ao mieloma que a própria trombocitopenia, o que se deve provavelmente a um importante estímulo aos megacariócitos pela grande quantidade de IL-6 circulante. OS PORTADORES DE MM FREQUENTEMENTE APRESENTAM ROULEAUX DE HEMÁCIAS E VHS AUMENTADAS. VSH AUMENTADA E ROULEAUX DE HEMÁCIAS Normalmente, a membrana eritrocitária possui uma carga negativa, que acaba por repelir as outras hemácias. Como eles se repelem mutuamente, a sedimentação das hemácias normalmente é lenta. Contudo, em estados inflamatórios existem muitas proteínas de fase aguda circulantes. Essas proteínas neutralizam parcialmente a carga negativa das membranas eritrocitárias, diminuindo as forças de repulsão entre as mesmas e facilitando, assim, a sua sedimentação. Dependendo do número de proteínas circulantes, a carga negativa é anulada de tal maneira que as hemácias se “grudam”, formando um agregado que chamamos de rouleaux (rolos em francês). O excesso de imunoglobulinas circulantes funciona com a mesma lógica das proteínas de fase aguda, anulando a carga das hemácias e formando rouleaux à microscopia Isadora Albuquerque 5. PREDISPOSIÇÃO A INFECÇÕES: PRINCIPAL CAUSA DE MORTE Ocorre principalmente devido à queda dos níveis séricos de imunoglobulinas funcionais, sendo as apresentações mais comuns a PNEUMONIA e PIELONEFRITE. Febre no MM quase sempre é associada a infecções. Idade Disfunção linfocítica, supressão de plasmócitos normais e hipogamaglobulinemia; Hipoventilação pulmonar; Pneumococo e gram negativos. 6. HIPERCALCEMIA: É decorrente da destruição óssea e pode ser fator causador de insuficiência renal nesses pacientes. PLASMOCITOMAS EXTRAMEDULARES Ocorre em 7% dos pacientes, está associado a pior prognóstico e pode aparecer (6% dos casos) ao longo da doença. EXAMES COMPLEMENTARES HEMOGRAMA COM MICROSCOPIA Anemia normo-normo; Raramente leucopenia e trombocitopenia (plaquetopenia); Rouleaux de hemácias. VSH bastante aumentado (geralmente > 50 mm/h); Plasmócitos > 10% (leucemia de células plasmáticas (>100 plasmócitos/mm3 pior prognóstico VISCOSIDADE SANGUÍNEA Se pico monoclonal >5g/Dl ALBUMINA, CREATININA, CÁLCIO, PCR, DHL e BETA-2 MICROBLOBULINA Creatinina sérica elevada em até metade dos pacientes com diagnóstico recente; Hipercalcemia (cálcio sérico corrigido > 10,5 mg/dL ou cálcio iônico > 1,32 mmol/l) Beta 2 microglobulina está elevada na maioria