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LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 DOENÇA DE CHAGAS CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 Homem, 42 anos com queixas de dispneia aos esforços há cerca de 3 meses. Edema vespertino de membros inferiores, ortopnéia, dispneia paroxística noturna, ictus cordis desviado para esquerda, RXT: aumento de área cardíaca. ECO: dilatação das câmaras esquerdas. CASO CLÍNICO 2 Homem, 45 anos com queixas de disfagia há 6 meses. Disfagia baixa (se for alta, o paciente refere a deglutição e depois sente a dor, referindo um bolo na garganta). Paciente com disfagia esofagiana, há uma progressão – começa para sólidos, e depois evolui para líquidos; indistinto para líquidos e sólidos. Chagas sorologia reagente. QUESTÕES ABORDADAS EM AULA ACERCA DA FORMA INDETERMINADA DE CHAGAS: • COMO REALIZAR O SEGUIMENTO? • ONDE REALIZAR? • REALIZAR TRATAMENTO ESPECÍFICO? O QUE FAZER EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO DE CHAGAS NA GRAVIDEZ? RESUMO A doença de Chagas é uma condição crônica negligenciada com elevada carga de morbimortalidade e impacto dos pontos de vista psicológico, social e econômico. Representa um importante problema de saúde pública no Brasil, com diferentes cenários regionais. Foi descrita em 1909 pelo pesquisador brasileiro Carlos Chagas. É conhecida também como triponossomíase americana, é a infecção pelo Trypanosoma cruzi transmitida por triatomíneos através da picada de inseto ou, menos comumente, pela ingestão de suco de cana ou alimentos contaminados com triatomíneos infectados ou suas fezes por via transplacentária da mãe infectada para o feto ou por transfusão de sangue ou transplante de órgão de um doador infectado. Manifesta-se como uma doença aguda, potencialmente fatal, mas sua apresentação mais comum é a forma crônica, que traz altos custos pelo tratamento de suas formas cardíaca e digestiva. O TRIATOMÍDEO O T. cruzi é um protozoário hemoflagelado que parasita indivíduos ou animais infectados, na forma de tripomastigota, no sangue periférico ou líquidos biológicos (líquor, líquido pericárdico) e na forma amastigota, nos tecidos. É transmitido por insetos hematófilos do gênero Triatoma, sub-família Triatominae, conhecido como barbeiro, chupança, chupáço, protocó ou bicudo para um hospedeiro vertebrado. ➢ Mais comum: Triatoma infestans; Dentro do hospedeiro, os protozoários passam por multiplicação intracelular nos fagócitos mononucleares, na forma de amastigotas, sendo então eliminados no sangue periférico como formas tripomastigotas, havendo parasitemia elevada na fase aguda e baixa e persistente na fase crônica da doença. CICLO BIOLÓGICO ➢ Doméstico; ➢ Silvestre; O triatomíneo injeta o parasito quando se alimenta do sangue do vertebrado. O protozoário se mantém no intestino do inseto do 6° ao 15° dias seguintes, sob a forma de epimastigotas, que se multiplicam e migram para o intestino grosso ou reto, onde evoluem para a forma de tripomastigotas metacíclicos. Essas formas são eliminadas pelos insetos nas fezes enquanto picam a pele do hospedeiro e penetram na pele com erosão ou com mucosas intactas. Obs: não é qualquer refeição que transmite, apenas quando há tripomastigotas nas porções finais do intestino. LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 Dentro do hospedeiro, passam por multiplicação intracelular nos fagócitos mononucleares, na forma de amastigotas, sendo então eliminados no sangue periférico como formas tripomastigotas, havendo parasitemia elevada na fase aguda e baixa na fase crônica. Pode ocorrer multiplicação em qualquer célula, exceto hemácias, atingindo inclusive órgãos vitais, tais como o coração, no qual se observa a fase crônica da doença. Obs: não ocorre multiplicação nas hemácias. Alguns outros gêneros, além do Triatoma, como o Panstrongilus e Rhodnius são associados ao hábitat de palmeiras e outras plantas, o que pode facilitar a transmissão oral. Alguns animais podem agir como hospedeiros intermediários entre os ciclos silvestres e domiciliar, como roedores, marsupiais, gambás, tatus, galinhas no peridomícilio. Tripomastigotas na corrente sanguínea EPIDEMIOLOGIA • A Distribuição é limitada primariamente ao continente americano em virtude da distribuição de mais de 140 espécies do inseto vetor (Triatominae, Hemiptera e Reduviidae) → por isso o nome “triponossomíase americana”. o Alcança outros através de viagens, por exemplo; • Estima-se que 8 milhões de pessoas estejam infectadas pelo T. cruzi. • Possuímos certificação da interrupção da transmissão da doença de chagas pelo Triatoma infestans, concedida em 2006 pela OPAS/OMS, dentro da iniciativa dos países do cone sul; • São notificadas apenas a doença aguda e a reativação da doença chagásica. • Formas de transmissão em centros urbanos: o Transfusão de sangue e derivados; o Transplante de órgãos; o Transmissão congênita; o Reativação da triponossomíase, face à coinfecção com HIV; • Estima-se que 80% das pessoas atingidas pela doença de chagas não tenham acesso a diagnóstico e tratamento sistemáticos. ➢ Por que ainda alto? o Existência de espécies de triatomíneos autóctones com elevado potencial de colonização; o Presença de reservatórios de T. cruzi e da aproximação cada vez mais frequente das populações humanas a esses ambientes; LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 o Persistência de focos residuais de T. infestans ainda existentes em alguns municípios dos estados da Bahia e RS; Obs: Surtos de transmissão por via oral (VO) têm emergido como a principal forma de transmissão da doença, nas localidades onde ocorreu o controle intradomiciliar e peridoméstico do vetor. Na América Latina, 300 mil casos novos são registrados por ano, com dois a três milhões de pacientes apresentando complicações crônicas da moléstia, atingindo 21 mil óbitos por ano. É considerada a quarta causa de morte no Brasil entre as doenças infectoparasitárias, nas faixas etárias acima de 45 anos. FORMAS DE TRANSMISSÃO ✓ Forma clássica, vetorial: picada do inseto (triatomíneos hematófagos); o Gêneros Triatoma, Rhodnius e Panstrongilus; ✓ Transfusão de sangue: em áreas endêmicas, é a 2° forma mais comum; ✓ Vertical: 3° mais comum, sobretudo após o 3° mês de gestação. o Para que ocorra a passagem de T. cruzi, é necessário haver parasitemia materna (maior na fase aguda) e que o T. cruzi atravesse o epitélio corial e atinja o estroma vilositário. o Pode ocorrer na fase crônica. ✓ Transmissão acidental: laboratórios, centros cirúrgicos; ✓ Transplante de órgãos: rins, coração, medula óssea; o Receptor imunodeprimido pode ter apresentação grave e disseminada. o Assim como na transmissão sanguínea, ocorre quando não se realiza a triagem adequada; ✓ Transmissão oral: ingestão de alimentos contaminados (garapa, açaí), leite materno; ✓ Transmissão intercurso sexual; ✓ Transmissão por vetores não triatomíneos. LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 FISIOPATOLOGIA E CLÍNICA ENVOLVIDA FASE AGUDA: Essa fase representa a ação direta do parasito. Ocorre a presença do parasito (ninho de amastigotas) em qualquer tipo de fibras musculares e no sangue periférico (tripomastigotas). Após o período de incubação que varia de acordo com a via de transmissão, segue-se uma fase aguda. O período de incubação varia por via de transmissão: 1. Transmissão vetorial: 5 a 22 dias (6-10 dias, média); 2. Transmissão transfusional: 20 a 30 dias (máximo de 117 dias) 3. Transmissão vertical: em qualquer período da gestação, durante o parto ou pós-parto; 4. Transmissão oral: 3 a 22 dias; 5. Transmissão acidental: até 20 dias após. Pode ser sintomática ou não, assim como oligossintomática, com desaparecimento dos sintomas após 4 a 12 semanas. Isso é relacionado com o perfil imunológicodo hospedeiro e sua idade, sendo mais aparentes e graves em indivíduos abaixo de 2 anos de idade. ➢ Parasitemia elevada (1 a 3 meses), desaparece com o surgimento de anticorpos, independe de terapêutica utilizada; ➢ Manifestações de toxemia (febre, adenomegalia); ➢ Processo inflamatório difuso, com predomínio de polimorfonucleares em quase todos os órgãos e tecidos. CLÍNICA 1. SÍNDROME FEBRIL COM ADENOMEGALIA, HEPATO E ESPLENOMEGALIA, EXANTEMA CUTÂNEO E EDEMA NÃO INFLAMATÓRIO. “Quadro clínico similar a uma mononucleose infecciosa sem faringite, com adenomegalia regional, cervical e generalizada” ➢ Exantema variável → máculas, pápulas, vesículas, petéquias, púrpuras; ➢ Sinal de Romanã? → após isso, percepção de edema em face, bipalpebral; 2. MIOCARDITE. ➢ ECG com taquicardia sinusal, arritmias; ➢ Com ou sem sopro sistólico mitral; ➢ Com ou sem cardiomegalia; 3. MENINGOENCEFALITE. ➢ Parasitas no líquor; ➢ Hipercelularidade no líquor → predomínio em linfomononucleares e hiperproteinorraquia. • Portas de entrada (sítios) perceptíveis ao exame físico: o Sinal da porta de entrada oftalmoganglionar = sinal de romanã → reação do hospedeiro à penetração dos tripanossomas na mucosa ocular, gerando conjuntivite aguda, com edema bipalpebral unilateral, indolor, róseo, acompanhado de linfadenopatia satélite pré-auricular satélite pré-auricular, parotídea ou submaxilar. ▪ Obs: é o tipo mais comum de chagoma de inoculação. o Chagoma de inoculação: lesão nodular acompanhada de eritema, geralmente com gânglio satélite. ▪ 50% dos pacientes; ▪ Febre + adenomegalia cervical ou generalizada + hepatoesplenomegalia + edema subcutâneo; ▪ Pode aparecer em rosto, tronco ou membros; ▪ Reações de hipersensibilidade geradas por conta da saliva do triatomíneo. ➢ Pode ocorrer meningoencefalite (lactentes, imunodeprimidos); Sinal de Romanã LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 Chagoma de inoculação Na transmissão por via transfusional não são conhecidos sinais de porta de entrada e na transmissão por VO, hemorragias digestivas têm sido registradas. O edema subcutâneo pode ser generalizado ou localizado em face e membro inferior, sem relação com insuficiência cardíaca, exantema macular, papular, petequial, taquicardia sinual independente de febre, sinais de miocardite aguda, com ou sem insuficiência cardíaca. Se presente, pior prognóstico. TRANSMISSÃO ORAL: ➢ Febre ➢ Adenomegalia; ➢ Hepatoesplenomegalia; ➢ Miocardite sem pericardite (15-20° dia); ➢ IC; ➢ Meningoencefalite – formas graves ocorrem em 13% dos casos; ➢ Hepatite focal, com icterícia e aumento das aminotransferases; ➢ Enterites; ➢ Abdome agudo; ➢ Exantema subcutâneo e hemorragia digestiva → associados à transmissão VO; O exantema é do tipo macular, não pruriginoso, aparece do 4° ao 8° dia no tronco, membros inferiores e pescoço, é fugaz. Obs: apresenta morbimortalidade maior. TRANSMISSÃO VERTICAL Associado com: ➢ Aborto; ➢ Prematuridade; ➢ Baixo peso ao nascer; ➢ Quadros disseminados: o Miocardite; o Pericardite; o Hepatite; o Pneumonite; o Meningoencefalite; ➢ Exantema; ➢ Hepatoesplenomegalia; DESFECHOS CLÍNICOS • Antes do tratamento existir, 2 a 10% podem ir a óbito por conta da infecção aguda, sobretudo crianças. Hoje em dia é raro. • Nos casos não tratados, a fase aguda dura 10 a 60 dias. • A fase crônica geralmente se instala de forma indeterminada que se caracteriza por comprovação sorológica e/ou parasitológica da infecção, ausência de sinais e sintomas da doença e eletrocardiograma convencional e radiológico contrastado (esôfago e cólon) normais. FASE SUBAGUDA • Pode ser outra fase que evolui após a fase aguda. • Acomete adultos jovens; • Gera-se sintomas como cardiopatia; FASE CRÔNICA: A parasitemia é baixa e intermitente, estando os parasitos em infiltrados linfomonucleares focais no miocárdio e nos plexos mioentéricos, sob a forma de amastigotas. Estima-se LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 que 20 a 30% dos pacientes chagásicos irão desenvolver a forma crônica. A multiplicação em fibras miocárdicas deve facilitar a liberação de antígenos que se incorporarão novamente às células cardíacas, servindo de alvo para as células citotóxicas. Em função disso, o tratamento mais eficiente na forma crônica seria aquele que eliminasse as formas amastigotas. Por consequência, ocorre fibrose e intensa denervação neuronal no plexo mioentérico. Também pode ocorrer cardiomegalia, dilatação e hipertrofia das câmaras, aneurismas e tromboses apicais, insuficiência mitral e tricúspide. Por consequência da denervação, alguns pacientes desenvolvem uma dilatação no trato digestório, sobretudo cólon (megacólon) e esôfago (megaesófago). FASE INDETERMINADA • É a forma mais frequente da DC humana; • Acomete em áreas endêmica 50% dos infectados; • Morte é situação rara, 30 a 50% permanecem com a doença pelo resto da vida nessa fase ➔ baixo potencial evolutivo em curto e médio prazo; • A passagem para doença crônica ocorre de maneira insidiosa, 10 a 20 anos após a fase aguda, em 2 a 3% dos casos ao ano. • DESFECHOS: o Perdurar como indeterminado; o Evoluir para forma cardíaca, digestiva ou associada, observada em 1% dos pacientes; FORMA CARDÍACA • Ocorre em 30 a 40% dos pacientes nas áreas endêmicas do Brasil, sendo mais comum em adultos jovens (geralmente homens, com idade superior aos 25 anos); • Processo inflamatório discreto no miocárdio, raros ninhos de amastigotas, lesões degenerativas e fibróticas, comprometimento do sistema autônomo e de condução. o Fluxo fica mais turbilhonado, facilitando fenômenos arrítmicos; • Frequente lesão no ápice cardíaco, local onde pode surgir aneurismas, trombose intracavitária. • SÍNDROMES ENVOLVIDAS: o INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA → ICC, dispneia, tosse; o ARRITMIAS SIMPLES OU COMPLEXAS → palpitações, taquicardia; o DISTÚRBIOS DE CONDUÇÃO → bloqueios atrioventricualres (síndrome de Stokes- Adams: síncope por baixo débito, indicação de marca-passo, bradiarritmias + taquiarritmias associadas a tonturas); o ACIDENTES TROMBOEMBÓLICOS → Risco elevado para AVC, formação de trombos mais frequentes também no sistema vertebro-basilar; Cardiopatas chagásicos crônicos assintomáticos: pacientes com eletrocardiograma alterado, função ventricular normal, área cardíaca normal ao exame RXT, exame físico normal e ausência de manifestações clínicas. LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 FORMA DIGESTIVA • Predomínio de lesões em plexos nervosos intramurais; • Geração de megacólon e/ou megaesófago; REATIVAÇÃO DA DOENÇA DE CHAGAS • Quadros oligossintomáticos e mononucleose infecciosa-símile em transplante renal. • Quadros graves de miocardite, pericardite, encefalites em transplante de coração e órgãos sólidos (incluindo rim); • Pacientes com AIDS: meningoencefalite (mais frequente), miocardite, quadros de mononucleose infecciosas-símile, comprometimento digestivo, pericardite, pleurite, cervicites (mais raros). DOENÇA DE CHAGAS EM IMUNODEPRIMIDOS Em pacientes imunodeprimidos com doença de Chagas crônica e infecção por vírus HIV, doenças linfoproliferativas – sob uso de terapêutica imunossupressora, ou com doença de Chagas crônica, submetidos a transplante de órgãos, há risco de reativação da parasitose (20 a 30% em transplantes e 10% em coinfecção HIV/T. cruzi) por causa da deficiência dos mecanismos de controle de parasitemia, em geral associados à deficiência de resposta T mediada com deficiência de macrófagos. A doença pode se manifestar em transplantes como paniculite, apresentando amastigotas nas lesões e parasitemia negativa por microscopia direta, mas positiva, nos tecidos lesados (miocardite, paniculite,encefalite), sob formas menos graves (quadro similar à mononucleose infecciosa em transplante renal, mas com formas graves como miocardite aguda, particularmente em transplante de coração e outros órgãos sólidos, e encefalite e miocardite na AIDS, na qual a reativação está geralmente associada a níveis de linfócitos T CD4+ < 200/mm3 (70%) ou 300/mm3 (80%)). DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ SINAL DE ROMANÃ: considerar se existe sinal de romanã e verificar se é o sinal propriamente dito ou outras picadas de inseto. ➢ MONONUCLOSE-SÍMILE: o Mononucleose infecciosa por EBV ou CMV; o Síndromes similares à mononucleose infecciosa como toxoplasmose; ➢ DOENÇAS QUE GERAM ALTERAÇÕES COM HEPATOESPLENOMEGALIA: o Leishmaniose visceral; o Malária; o Febre tifoide; Penetração de formas infectantes (qualquer via de transmissão) Fagocitose por macrófagos: multiplicação como amastigotas, ruptura de células e disseminação por vasos linfáticos e sangue para todos os tecidos. Fase aguda ou inaparente: elevada parasitemia detectável por microscopia direta por cerca de 4 a 5 semanas e parasitismo nos tecidos (miocardite e meningoencefalite nas formas graves). Patogênese das lesões: presença do parasito e antígenos secretados que amplificam a resposta de hipersensibilidade tardia nos tecidos imunocomprometidos (miocárdio, por exemplo). Diminuição da parasitemia da fase aguda independente do tratamento e evolução à fase crônica com parasitemia baixa e intermitente com ninhos de amastigotas esparsos em focos inflamatórios de células linfomononucleares com resposta imune celular CD4 ou CD8 mediadas com papel de macrófago como célula efetora da destruição do parasito Forma indeterminada: modulação por resposta Th2 ao antígeno do parasito; sem cardiopatia; Forma cardíaca: resposta Th1 e destruição das fibras cardíacas por TCD8+, presença de IFN-gama no miocárdio Forma digestiva: denervação simpática; dilatação (mega) com alongamento (dolico) dos órgãos; REATIVAÇÃO da doença de chagas crônica por deficiência da imunidade celular incapaz de controlar a multiplicação de parasitos para causar atividade inflamatória aguda, principalmente no encéfalo, miocárdio ou sistema fagocítico mononuclear LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 o Sepse; o Doenças auto-imunes; ➢ DOENÇAS FEBRIS COM EXANTEMA E/OU ICTÉRICIA, HEMORRAGIA: o Leptospirose; o Dengue; o Febre amarela; o Chikungunya; o Meningococcemia; o Sepse; o Hepatites virais; o Febre purpúrica brasileira; o Hantaviroses; o Riquetsioses; ➢ MIOCARDITE/ENDOCARDITE? o Vírus Coxsackie; o Febre amarela; ➢ MENINGOENCEFALITE? ➢ CARDIOMIOPATIA CRÔNICA? o Doenças isquêmicas e hipertensivas; o Derrame pericárdico; ➢ FORMA DIGESTIVA? o Megacólon congênito; o Carcinomas? o Neoplasias? → houve perda de peso? DEFINIÇÕES PARA FINS EPIDEMIOLÓGICOS 1. CASO SUSPEITO: indivíduos com febre persistente (> 7 dias) e 1 ou + manifestações clínicas: a. Edema de face ou membros; b. Exantema; c. Adenomegalia; d. Hepatomegalia; e. Esplenomegalia; f. Cardiopatia aguda (taquicardia, sinais de insuficiência cardíaca); g. Manifestações hemorrágicas; h. Icterícia; i. Sinal de Romaã e/ou chagoma de inoculação; j. OU: i. Tenha tido contato direto com triatomíneo ou suas excretas; ii. Tenha recebido sangue/hemocomponentes ou transplante de células/tecidos/órgãos contaminados por T. cruzi; iii. Tenha ingerido alimento suspeito contaminado pela T.cruzi; iv. Seja recém-nascido, proveniente de mãe infectada; 2. CASO CONFIRMADO: a. Parasitológico; b. Sorológico; 3. CASO DESCARTADO: caso suspeito notificado, cujo resultado dos exames laboratoriais foi negativo ou teve como diagnóstico outra doença. 4. CASO CONFIRMADO POR TRANSMISSÃO ORAL: caso confirmado parasitologicamente (com provas diretas) como doença de chagas aguda, sem sinal de porta de entrada externa, tendo sido excluídas outras vias de transmissão, com evidência epidemiológica de mais de um caso e de um alimento como fonte comum de transmissão. 5. CASO PROVÁVEL POR TRANSMISSÃO ORAL: confirmado por exame parasitológico e ocorrência de casos epidemiológicos de vinculação. 6. CASO SUSPEITO POR TRANSMISSÃO ORAL: mais de um caso de doença de chagas aguda com quadro clínico, critério imunológico compatível e ausência de outras formas de transmissão. 7. CASO CONFIRMADO POR TRANSMISSÃO VERTICAL: Filho de mãe com doença de Chagas (confirmada por exame parasitológico positivo ou sorológico reagente para T. cruzi), com exame parasitológico positivo a partir do nascimento ou identificação de anticorpos antiparasitos a partir do 9° mês e sem evidência de infecção por outras formas de exposição ao T. cruzi. Anticorpos encontrados até o 8° mês podem representar anticorpos maternos de aquisição por via transplacentária. LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 QUANDO PENSAR NA DOENÇA – SOLICITAR QUAIS EXAMES E QUANDO? ➢ Pré-natal; ➢ Arritmias cardíacas – bloqueio de ramo/ICC; ➢ Disfagia; ➢ Sinais sugestivos de infecção aguda; ➢ Presença de obstipação → pode ser megacólon; ➢ Doação de sangue; ➢ Transplante; ➢ Filho de mãe soropositiva; ➢ Quadro clínico suspeito de chagas agudo; ➢ HIV; FORMA AGUDA FORMA AGUDA CLÁSSICA ➢ Período de incubação: 4 a 15 dias; ➢ Quadro clínico polimórfico, pode ser rico ou não; ➢ Analisar parte epidemiológica; ➢ Diagnóstico parasitológico: o Achado de tripomastigotas em esfregaço sanguíneo; o T. cruzi circulante no sangue periférico por exame microscópico direto (exame a fresco); o Estudo histopatológico; ➢ Diagnóstico sorológico: o IgM, IgG anti-T.cruzi; o Analisar se houve soroconversão; o Analisar se há aumento de titulação → acompanhamento; o Intervalo mínimo de 21 dias; ➢ Laboratório: o Anemia; o Leucopenia; o Linfocitose relativa; o Aumento de aminotransferases; o Plaquetopenia; o Raro → trombocitose; linfocitose atípica; ➢ Ecocardiograma: derrame pericárdico, dilatação do VE, áreas discinéticas podem ocorrer. FORMA CRÔNICA • O diagnóstico é feito por sorologia. o IgG detectado por meio de dois testes sorológicos com princípios/métodos distintos ou que possuam diferentes preparações antigênicas. o 1 TESTE COM ELEVADA SENSIBILIDADE: ELISA com antígeno total ou IFI + 1 TESTE COM ELEVADA ESPECIFICIDADE (HAI); • Parasitológico: método de enriquecimento/multiplicação, hemocultura e xenodiagnóstico possuem baixa sensibilidade; OBS: PARASITEMIA BAIXA → mais fácil verificar anticorpos; DIAGNÓSTICO DA FORMA INDETERMINADA DIAGNÓSTICO DA FORMA CARDÍACA BDAS = bloqueio divisional anterossuperior esquerdo TVNS = taquicardias ventriculares não sustentadas CARDIOPATIA CHAGÁSICA AGUDA ✓ Reativação da doença; ✓ Miocardite ou miocardite associada a pericardite. ✓ Quadro clínico: o Dispneia de intensidade variável; o Taquicardia (mesmo sem febre); o Palpitações; o Estase jugular; o Bulhas cardíacas hipofonéticas; o Galope; o Sopros cardíacos em região apical e área tricúspide; o Derrame pericárdico; o Hipotensão arterial; o Tamponamento cardíaco; o Taquiarritmias (fibrilação atrial); o Bradiarritmias (BAV); Em crianças, taquidispneia, irritabilidade, sudorese, vômitos, anorexia, hepatomegalia e edema de membro sinferiores. Tríade de beck: turgência jugular + hipotensão + abafamento das bulhas cardíacas → tamponamento cardíaco LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 CARDIOPATIA CHÁGASICA CRÔNICA (CCC) A suspeita do diagnóstico da CCC (Cardiopatia Chagásica Crônica) é geralmente feita pela presença de anormalidades no eletrocardiograma de repouso (ECG) sugestivos de comprometimento cardíaco, em indivíduos sintomáticos ou não. O diagnóstico é firmado com critérios epidemiológicos, sorológicos e evidência decomprometimento cardíaco por meio de alterações no traçado do ECG em repouso, além da exclusão de cardiopatias por outras etiologias. O ecocardiograma sugere miocardiopatia com disfunção ventricular (fração de ejeção – FE < 55%), estando associada à insuficiência cardíaca com ou sem sinais de congestão. O ECG pode demonstrar distúrbios de condução (BRV), uma vez que ocorre o aparecimento de áreas de fibrose. Pode ser gerado áreas discinéticas/acinéticas com a formação de aneurismas em região apical (foco de arritmias e embolias). • Alterações do ECG: ➢ Bradicardia sinusal (menor que 50 bpm); ➢ Taquicardia sinusal; ➢ Extrassístoles ventriculares polifocais; ➢ Fibrilação e flutter atrial; ➢ Alteração de condução; ➢ Bloqueios: o Completo de ramo direito; o De divisão anterossuperior; o AV de 2° grau e 3° grau; ➢ Alterações morfológicas; ➢ Alterações de onda T e complexo QRS; ➢ Padrões de fibrose; • 3 sintomas: o ARRÍTMICOS? ▪ Extrassístoles ventriculares; ▪ Taquicardia ventricular sustentada; ▪ Taquicardia ventricular não sustentada; ▪ Fibrilação ventricular; ▪ Fibrilação atrial; ▪ BAVT; o INSUFICIÊNCIA CARDÍACA? ▪ Discinergias regionais e disfunção diastólica; o TROMBOEMBÓLICAS? ▪ AVC; ▪ TEV; ▪ Fatores envolvidos: estase venosa, redução do débito cardíaco, trombose mural intracardíaca; NYHA (New York Heart Association), classes funcionais de IC: - Classe funcional I: indivíduo assintomático a limitação para esforços, similarmente aos indivíduos normais. - Classe funcional II: sintomas leves ao exercer atividades cotidianas como tomar banho, lavar louça; - Classe funcional III: sintomas causados por atividades menos intensas que as cotidianas ou aos pequenos esforços. - Classe funcional IV: sintomas aos mínimos esforços ou em repouso. LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 RADIOGRAFIA TORÁCICA Nas fases avançadas, cardiomegalia global muito acentuada em geral contrasta com graus discretos ou ausência de congestão pulmonar. Congestão venosa sistêmica, derrame pleural e pericárdico frequentemente acompanham os sinais de cardiomegalia. DIAGNÓSTICO DA FORMA DIGESTIVA MEGAESÔFAGO: QUADRO CLÍNICO: Disfagia + Sialorreia + Soluços + Odinofagia + Regurgitação + Sensação de sufocação noturna + Pneumonia aspirativa + Desnutrição + Hipertrofia de parótidas. Disfagia típica: dificuldade progressiva a sólidos e depois líquidos, sugerindo problema motor. A dor envolvida pode ser retroesternal, causada pela esofagite de refluxo. Além disso, desnutrição e caquexia com broncoaspiração podem ser vistas nas formas graves e como complicação a broncopneumonia. Pode ser classificado em: ➢ Grupo I: ausência de estase, com tempo de trânsito aumentado da boca ao estômago, embora o diâmetro do esôfago esteja dentro dos limites normais. ➢ Grupo II: dilatação moderada do esôfago e incoordenação motora; ➢ Grupo III: dilatação e tempo de trânsito mais pronunciados, e atividade motora diminuída; ➢ Grupo IV: formas avançadas com grande dilatação e alongamento do esôfago (dolicomegaesôfago). LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 Sinal do bico de pato MEGACÓLON CLÍNICA: Constipação + diarreia paradoxal (constipação intercalada por períodos de diarreia) + distensão abdominal + obstrução intestinal. A obstipação de grau variável de 6 dias a 6 meses com fecaloma. Como complicação do colo alongado (dolicocolo), pode ocorrer torção do colo sobre a sua própria raiz, bloqueando a circulação e causando quadro grave conhecido como vólvulo, associado a abdome agudo que pode causar o óbito do paciente. Sinal do grau de café = volvo de sigmoide REATIVAÇÃO A reativação é diagnosticada por: (a) Detecção do parasito no sangue ou líquido cefalorraquidiano (LCR), por exame direto ou por meio de tratamento com acridina orange; (b) Achados histopatológicos similares aos encontrados na doença de Chagas aguda, sendo recomendada biopsia quando persistir a dúvida diagnóstica, especialmente em casos de paniculite, encefalite e miocardite. DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO – APENAS SEPARANDO OS EXAMES ➢ Parasitológico, sorológico, histológico e molecular MANEJO ➢ Equipe multidisciplinar; ➢ Promoção e prevenção, atenção a saúde para diagnóstico e tratamento oportunos, mas também reabilitação física, psicológica e social. ➢ Não se recomenda o tratamento na gestação, a menos que seja agudo e grave; ➢ TRATAMENTOS: o FASE AGUDA: RECOMENDA ▪ Em todos os casos, o mais rápido possível, independente da via de transmissão do parasito. LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 ▪ Medicamento disponível: benznidazol que se constitui o ideal para casos isolados no país, seguido de melhor resposta ao tratamento do que o nifurtimox. ▪ O 2° medicamento deve ser solicitado diretamente ao Grupo Técnico de Doença de Chagas do MS para conseguir o acesso. Efeitos adversos do benznidazol: náuseas, vômitos, exantema maculopapular, púrpurico ou eritema polimorfo, polineuropatia, agranulocitose, polineuropatia periférica. Efeitos adversos do Nifurtimox: náuseas, anorexia, vômitos, perda de peso, insônia, psicose, polineuropatia periférica, alergia cutânea e leucopenia o REATIVAÇÃO CHAGÁSICA: RECOMENDA ▪ O mais rápido possível. ▪ Tratamento antiparasitário seguido de resposta terapêutica sugestiva de cura (soroconversão negativa) → > 60% em casos agudos, > 95% em casos congênitos e 50-60% em casos crônicos recentes (até 5 anos); ▪ Benznidazol: Dose de 7 a 10 mg/kg/dia durante mais de 60 dias. Após o tratamento, pode-se realizar profilaxia secundária com benznidazol se linfócitos T CD4+ forem menores que 300/mm3 em pacientes portadores de AIDS com encefalite ou miocardite aguda chagásica depois do início em 60 dias. • USO DE ÁLCOOL É PROIBIDO → EFEITO ANTABUSE (palpitações, sudorese, cefaleia, náuseas, vômitos); o FASE CRÔNICA GERAL: NÃO RECOMENDA ▪ Só pode ser lançado em casos em que consiga delimitar um período de infecção de até 12 anos → crianças com até 12 anos ou que tenha tido a infecção em 12 anos; ▪ Objetivos: curar a infecção, prevenir lesões orgânicas ou evolução das mesmas e diminuir a possibilidade de transmissão do T. cruzi; o FORMA CRÔNICA INDETERMINADA E CARDIOPATIA NÃO GRAVE: RECOMENDA ▪ Recomenda-se o tratamento; ▪ Exceção: formas graves, descompensadas, pacientes idosos; ▪ Esquemas: • Benznidazol → 5 a 7 mg/kg/dia em adultos e 5 a 10 mg/kg/dia em crianças, ministrado em 2 doses durante 60 dias. • Nifurtimox → 8-10 mg/kg/dia para adultos e 15 mg/kg/dia em crianças. TRATAMENTO DE SUPORTE A internação hospitalar é indicada em casos de maior comprometimento geral, cardiopatia de moderada a grave, quadros hemorrágicos e formas agudas graves, e reativação da doença de Chagas. O tratamento sintomático da insuficiência cardíaca deve ser realizado com dieta com restrição hídrica e sódica, sintomáticos e diuréticos, sendo por vezes indicados os cardiotônicos em doses baixas. Pode-se utilizar amiodarona e outros antiarrítmicos, porém nas formas graves de arritmia a resposta não é satisfatória. O Refluxo esofágico deve ser tratado com orientação sobre postura e dieta. Educação intestinal, dieta e supositórios podem ajudar o paciente com obstipação, estando indicado esvaziamento de fecaloma mediante orientação específica, com esvaziamento mecânico quando localizado no reto, ou lavagem intestinal (clister) em outras localizações. Em relação ao tratamento cirúrgico, técnicas não invasivas (dilatação do segmento inferior) ou ressecção cirúrgica são indicadas para a correção do megaesôfago, particularmente em graus avançados. O tratamento cirúrgico do megacólon é indicado para as formas mais graves (casos avançados) e quando hávólvulo (associado com abdome agudo). Não existem critérios clínicos que possibilitem definir com exatidão a cursa para doença de chagas aguda. SOROCONVERSÃO NEGATIVA ➔ 20% dos casos, recomendando-se a pesquisa de anticorpos IgG anti-T.cruzi por 5 anos, entre 2 exames consecutivos. PROGNÓSTICO LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 • Depende da idade, estado imune e gravidade da doença. • Prognóstico ruim: o Cardiopatia crônica; o Cardiomegalia; o IC; o Arritmias ventriculares; • Megaesôfago → problemas relacionados com desnutrição, broncoaspiração, pneumonia, obstrução intestinal; • ESCORE DE RASSI: é uma das melhores formas para se predizer o prognóstico de um paciente com DC a longo prazo. Ele avalia 6 características para dizer o risco de mortalidade em 5 a 10 anos. PARA AJUDAR A MEMORIZAR: C ➔ CLASSE FUNCIONAL III ou IV H ➔ HIPOCONTRATITLIDADE NO ECO A ➔ AMPLITUDE REDUZIDA DO QRS G ➔ GRANDE CORAÇÃO NA RADIOGRAFIA A ➔ ARRITMIA NO HOLTER 24 H (TVNS) S ➔ SEXO MASCULINO • GERAIS: ➢ Morte súbita – 62%; ➢ ICC – 15%; ➢ AVC – 9%; PREVENÇÃO FLUXOS DE NOTIFICAÇÃO CHAGAS AGUDO E REATIVAÇÃO ➔ SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), ocorrência deve ser notificada em até 24 horas após suspeita. CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 Homem, 42 anos com queixas de dispneia aos esforços há cerca de 3 meses. Edema vespertino de membros inferiores, ortopnéia, dispneia paroxística noturna, ictus cordis desviado para esquerda, RXT: aumento de área cardíaca. ECO: dilatação das câmaras esquerdas. COMENTÁRIOS: ➢ HIPÓTESES: o ICC; o IC secundária a miocardiopatia: ▪ Chagas; ▪ Álcool; ▪ Tabagismo; LAVÍNIA PRADO ARTIAGA – MEDICINA 2018.1 ▪ Quadros infecciosos (endocardite), quadros virais; o Situações de imunodepressão: ▪ Quadros auto-imunes? LES? CASO CLÍNICO 2 Homem, 45 anos com queixas de disfagia há 6 meses. Disfagia baixa. Paciente com disfagia esofagiana, há uma progressão – começa para sólidos, e depois evolui para líquidos. Início indistinto para líquidos e sólidos. Chagas sorologia reagente. COMENTÁRIOS: O que seria disfagia baixa? Se for alta, o paciente refere a deglutição e depois sente a dor, referindo um bolo na garganta. Baixa se sente após já ter engolido. Quadro de progressão. O peristaltismo aparentemente está prejudicado, indicando uma alteração motora → megaesôfago chagásico? Quadro disfágico compatível com chagas. QUESTÕES ABORDADAS EM AULA ACERCA DA FORMA INDETERMINADA DE CHAGAS • COMO REALIZAR O SEGUIMENTO? Fazer ECG anualmente nesses pacientes, além de ecocardiograma, pois o paciente pode estar numa fase de insuficiência cardíaca congestiva pré-clínica. • ONDE REALIZAR? o Deve ser feito com acompanhamento específico; • REALIZAR TRATAMENTO ESPECÍFICO? o É recomendado. o Proposta com Benznidazol e nifurtimox O QUE FAZER EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO DE CHAGAS NA GRAVIDEZ? Não se trata a não ser que seja um quadro grave e agudo. Nesses casos, seguir esquema, porém contando com a toxicidade dos fármacos disponíveis. PONTOS-CHAVE A doença de Chagas é causada por Trypanosoma cruzi, que é transmitido por insetos barbeiros da família Triatominae (reduviídeos). A infecção é endêmica nas Américas Central e do Sul e no México; estima-se que 8 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo, incluindo 300.000 pessoas nos EUA (principalmente imigrantes). A infecção aguda é seguida por um período de latência (indeterminado) que pode permanecer assintomático, mas em 20 a 30%, ela progride para doença crônica, que afeta especialmente o coração (IC, arritmias) e trato gastrintestinal (megacólon, megaesôfago). O diagnóstico da doença de Chagas aguda é por microscopia óptica de esfregaços de sangue (finos ou espessos) ou testes baseados em PCR. O diagnóstico da infecção crônica pelo T. cruzi é feito por triagem com ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) no sangue e ensaio de radioimunoprecipitação (RIPA) confirmatório ou outros ensaios para anticorpos. Usar PCR para avaliar os casos potencialmente transmitidos por via transplacentária ou por hemotransfusão, transplante de órgãos ou exposição laboratorial. Para detectar a doença de Chagas crônica, fazer ecocardiografia se os pacientes tiverem sintomas sugestivos de doença cardíaca ou potenciais alterações cardíacas por radiografia de tórax ou traçado do ritmo pelo ECG; fazer exames com contraste ou endoscopia gastrintestinal se os pacientes tiverem disfagia ou algum outro sintoma gastrintestinal. Tratar os pacientes com doença aguda e muitos na fase indeterminada com benznidazol ou nifurtimox. Os antiparasitários não são eficazes na doença de Chagas crônica, mas medidas de suporte (p. ex., tratamento da insuficiência cardíaca, implante de marca-passo, antiarrítmicos, transplante cardíaco, dilatação esofágica, injeção de toxina botulínica no esfíncter esofágico inferior e cirurgia do trato gastrintestinal) costumam ajudar. Prevenção através do controle químico de vetores, manutenção do controle ambiental, triagem sorológica de doadores de sangue e tecidos, diagnóstico e tratamento da infecção congênita e de casos agudos e crônicos, com notificação compulsória dos casos agudos e de reativação da doença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • AULA REALE • DIRETRIZES CHAGAS 2015 • INFECTOLOGIA – BASES CLÍNICAS E TRATAMENTO • MSD MANUALS – DOENÇA DE CHAGAs • MATERIAL SANAR – CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA
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