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CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Olá pessoal, Estamos na reta final de mais um concurso bastante interessante para aqueles que almejam ingressar em uma carreira de Estado (eu ia dizer que é a melhor de todas, mas acho que eu seria muito suspeito para isso!). A prova para EPPGG está bem próxima. Muitas pessoas estão se preparando para aplicar os conhecimentos adquiridos na resolução de 120 questões em oito domínios diferentes de conhecimento, entre eles o da Ciência Política (a ciência mais legal também...). O presente curso é uma proposta de fazer uma leitura objetiva e precisa dos temas do edital que fazem parte do domínio da ciência política. Para os não-iniciados, este curso representa uma oportunidade para terem seu contato com a disciplina facilitado e, para os candidatos já estudaram bastante o tema, o curso pode ser um meio de consolidar o conhecimento adquirido e preparar-se da melhor forma para o concurso. Ao longo do curso, serão indicadas bibliografias complementares, as quais são de leitura altamente recomendável – se houver tempo é claro. Sucesso a todos, *** Janine Mello Marcelo Gonçalves Para quem ainda não nos conhece, somos cientistas políticos e gestores governamentais (EPPGG). Somos formados pela Universidade de Brasília (graduação e mestrado). Já ministramos aulas em cursos da UnB e em cursinhos preparatórios em Brasília e outros estados na área de teoria política, política brasileira e políticas públicas. Além disso, atualmente, o Marcelo é colaborador na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e está lotado no Ministério do Trabalho e Emprego, onde exerce o cargo de Coordenador de Planejamento e Projetos na Coordenação- Geral de Qualificação. A Janine cursa doutorado em sociologia e está lotada na Casa Civil, onde trabalha no acompanhamento de políticas públicas prioritárias para governo federal. *** www.pontodosconcursos.com.br 1 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Bom, chega de conversa e vamos ao que interessa. O curso abordará os seguintes temas do edital, conforme ordem de aulas exposta abaixo: Aula 01 1. Conceitos básicos da ciência política: consenso; conflito; política; poder; autoridade; dominação; legitimidade, soberania, ideologia, hegemonia. Aula 02 2. Temas centrais da teoria política clássica: constituição e manutenção da ordem política; contrato social; demarcação das esferas pública e privada; repartição de poderes. 3.Economia, classes sociais e política. Aula 03 4. Modelos de distribuição do poder: pluralismo, elitismo, socialismo. 5. Teorias da democracia: poliarquia, democracia consociativa e majoritária. Aula 04 6. Capacidade de ação estatal: autonomia e inserção. 7. Relações entre política e administração. 8. Mecanismos de intermediação de interesses e articulação entre o estado e a sociedade. 9.Participação da sociedade na esfera pública: ação coletiva, cultura política e capital social. Aula 05 10. Presidencialismo e dinâmica de relacionamento entre os poderes no Brasil. 11. O papel do Poder Legislativo na produção de políticas públicas. 12. Representação política, dinâmica parlamentar, governança e governabilidade no Brasil. Aula 06 13. Democracia, descentralização, atores sociais, gestão local e cidadania. 14. Conceitos de Estado, sociedade e mercado. Como vocês devem ter percebido, é um curso longo e que exige muita dedicação dos alunos também. Teremos de, pelo menos duas vezes, publicar mais de uma aula por semana. Portanto, fiquem sempre atentos às novidades no site e se dediquem à leitura. www.pontodosconcursos.com.br 2 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ AULA 01: CONCEITOS BÁSICOS DA CIÊNCIA POLÍTICA C O N S E N S O ; C O N F L I T O ; P O L Í T I C A ; P O D E R ; A U T O R I D A D E ; D O M I N A Ç Ã O ; L E G I T I M I D A D E , S O B E R A N I A , I D E O L O G I A , H E G E M O N I A . Os conceitos apresentados nesta aula são os pilares do objeto de estudo da ciência política. Constituem-se a base do estudo dos fenômenos políticos que têm lugar nas sociedades. O entendimento desses conceitos é fundamental para entender o que se passa na cabeça de um cientista político e, por isso, são necessários para entender o enquadramento das diversas teorias que serão analisados nas aulas seguintes. Para efeito de prova vale ressaltar que esses conceitos – alguns bem simples outros bastante chatos, ou sofisticados – têm sido objeto de pelo menos duas questões em cada prova. Logo, leia com atenção e garanta, de imediato, 20% da prova. Alguns desses conceitos, como veremos são interdependentes de modo que a separação deles não é muito clara. Assim, não se espante, por exemplo, pelo fato de os tipos de dominação se confundirem, muitas vezes, com os tipo de legitimidade ou de autoridade. O importante é capturar os fundamentos desses conceitos e perceber que, na maioria dos casos, trata-se de faces do mesmo prisma. A estrutura dessa aula, em função da pontualidade do tema, é semelhante à estrutura dos dicionários de ciências sociais. Tentaremos expor os conceitos um a um, de modo que seja possível fixá-los com mais propriedade. CONSENSO www.pontodosconcursos.com.br 3 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 1. O CON C EITO DE CONSENSO O conceito de consenso é bastante intuitivo e aproxima-se bastante da noção geral do senso comum. De uma maneira genérica, é possível afirmar que consenso denota a existência de um acordo entre os membros de uma determinada unidade social concernente aos princípios, valores e normas que regem a coletividade e sobre seus objetivos e os meios (instrumentos) necessários para alcançar aqueles objetivos. Quando observamos a realidade, contudo, mesmo que seja a da sociedade mais pacífica, é possível perceber o consenso não representa mais que um conceito cuja materialização não pode significar mais que uma existência relativa. Pois, por mais que a sociedade em análise seja marcada pela paz social, essa tranqüilidade nunca será plena e completa, algum nível de desentendimento sempre existe. Isso é um fato humano que pode ser visto como um axioma. Sendo assim, não faz muito sentido falar na existência ou não de consenso em uma coletividade ou em uma sociedade. Faz mais sentido falar em graus de consenso. Isso significa que poderíamos analisar as questões que surgem para tratamento na esfera pública e sobre elas verificaríamos o nível de consenso que a coletividade alcançou, na sua existência, em relação àquele tema. Nesse sentido, teríamos graus de consenso acerca de algumas questões ao invés de consenso em todos os assuntos. Em que tipo de questões é mais observável um nível alto de consenso? Nas questões fundamentais para a existência de um grupo de pessoas como coletividade. Ou seja, nos assuntos que são tidos como fundamentos da sociedade. Nesses pontos, que são a base da existência comum, havia maior consenso, já nas questões de natureza mais secundária o consenso alcançaria níveis mais baixos. Assim, a primeira variação no nível de consenso de uma coletividade será na temática em questão. Um sindicato de metalúrgicos pode ter discordância internas acerca dos tipos de convênios e serviços prestados aos www.pontodosconcursos.com.br 4 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOGPROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ seus sindicalizados, mas não pode discordar na razão de ser (representação dos interesses laborais) da organização. Este ponto é fundamental para existência dessa organização, aquele não. (ampliando o conceito, a sociedade seria uma mega associação) É preciso observar também que o grau de consenso social – seja ele sobre o que for - varia de acordo com a sociedade e a época. Por exemplo: se compararmos duas sociedades razoavelmente semelhantes podemos encontrar níveis totalmente distintos de consenso, é o caso da Bolívia e do Equador atualmente. Considerando o fator época, temos o caso do Brasil ao longo de sua construção história, os diversos conflitos segregacionistas que tiveram de ser suplantados. 2. DUAS DI MENSÕES DO CO NSENSO Nos regimes democráticos, ou democratizados, é possível identificar duas dimensões do consenso, as quais estão relacionadas ao nível de consenso necessário para a existência do sistema político e aos dissensos e são naturais e toleráveis nesse sistema. As dimensões são as seguintes: A. Fundamental: aceitação das regras do jogo, essencial para o funcionamento do sistema político; B. Secundário: discordâncias acerca de algumas orientações de políticas públicas. O consenso fundamental é crucial para conduzir os debates sobre as discordâncias políticas. Ou seja, para que estas discordâncias concernentes a políticas públicas específicas não resultem na dissolução do grupo social, é necessária a aceitação consensual das regras fundamentais do sistema político. Mas se essas discordâncias forem excessivamente controvertidas, podem acabar comprometendo o consenso fundamental e o funcionamento do sistema política. Ressalva: considerando longos períodos, é natural que haja alguns questionamentos de parte das regras fundamentais. Entra em cena, então, a capacidade do sistema político de se reformar. www.pontodosconcursos.com.br 5 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 3. ELEMEN TOS QUE INFLUENCIAM O NÍVEL DE CONSENSO Como o grau de consenso nas sociedades é variável, torna-se forçoso, para o analista social, identificar quais são dos fatores, ou elementos, que influenciam na determinação dos níveis de consenso. Bobbio aponta cinco fatores principais: 1. Grau de homogeneidade sócio-cultural: em sociedade em que não há uma variedade de formações de identidades muito ampla, haveria uma tendência para níveis mais altos de consenso (ex. Japão = sociedade relativamente homogênea X Brasil = país de múltiplas identidades, possuidor de diversas clivagens sócio-culturais relevantes); 2. Sucessão, em um mesmo país, de regimes políticos fundamentalmente diversos no que toca às regras essenciais do funcionamento do sistema político: isso é importante, porque realidades sociais que se sucedem deixam vestígios umas nas outras, de maneira que um sistema democrático que sucede uma ditadura tem que coexistir com muitos traços remanescentes do regime anterior (é caso do país de democracia recente em que os resquícios da ditadura dificultam, por exemplo, o desenvolvimento de ampla participação popular). 3. Grau de congruência dos meios de socialização: os mecanismos de formação social dos indivíduos são importantes para suas construções/visões de mundo e para a definição de comportamento na esfera pública. Se uma sociedade tiver mecanismos de socialização muito distintos, por exemplo, orientações familiares, escolas e religiões que formam indivíduos com visões muito distintas umas das outras, há uma possibilidade alta de o conflito ser maior, pois as pessoas “não falam a mesma língua”, logo o consenso é prejudicado. 4. Coexistência de ideologias antagônicas: um país marcado pela existência de grupos de adotam ideologias antagônicas (comunismo x fascismo) é um país em que os cidadãos terão dificuldades de se relacionar, logo, para construir consenso também; www.pontodosconcursos.com.br 6 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 5. Forma de interação das diversas forças políticas, principalmente quando buscam o apoio das massas. A maneira como as forças políticas se relacionam é importante, porque em algumas realidades sociais, um grupo político, para ganhar apoio da população hostiliza ostensivamente seus adversários, a conseqüência disso é um antagonismo cada vez maior e uma dificuldade crescente de firmar acordos entre essas forças. 4. IM PO RTÂNCI A DE AL TO GRA U DE CON S E N SO Além de permitir a existência e perpetuação do corpo social, o consenso é importante para diversas relações sociais que ocorrem dentro da coletividade. Nesse contexto, é possível afirmar que o consenso é importante: 1. Como elemento fundamental de solidariedade: os valores compartilhados pelos concidadãos seria um fundamento de reconhecimento de proximidade que facilitaria a vida em comum aumentando, por exemplo, o capital social, ou a confiança mutua e a preocupação com um destino compartilhado; 2. Como fator de cooperação e elemento fortalecedor do sistema político: uma sociedade com amplo consenso tenderia a contar com instituições mais estáveis e com maior cooperação entre seus membros, necessitando, portanto, de mecanismo menos custos de enforcement em suas relações sociais; 3. Para reduzir a utilização do poder coercitivo para induzir comportamentos aprovados pelos detentores do poder: se há consenso não há porque utilizar a força para obter obediência. CONFLITO NORM A LIDADE OU PA TOLOG I A www.pontodosconcursos.com.br 7 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ O debate clássico sobre o conflito no corpo social tendia a colocá-lo em um contínuo que ia da normalidade (isto é, o conflito é entendido como sendo algo natural, parte da sociedade seja ela como for) à patologia (conflito é um acidente de percurso da sociedade e deve ser tratado como uma infecção que deve ser sanada antes que o corpo social morra). A Ciência Política contemporânea superou esse debate dicotômico e passou a assumir o conflito como uma normalidade. Assim, nas leituras mais recentes, o conflito é considerado (1) ou algo normal, sempre presente no sistema política – o que varia é o seu grau de saudável a patogênico - ou (2) um fenômeno normal, pode ocorrer ou não, depende do contexto e da interação de um conjunto de variáveis. Pressupõe-se, de qualquer forma, que o conflito não pode ser eliminado (no máximo camuflado, como fazem os regimes corporativistas autoritários). Diante desse fato, são freqüentes as tentativas de regulamentá-lo, ou administrá-lo, utilizando por base regras aceitas pelos participantes, as quais, tem como função principal estabelecer limites para o conflito – impedir que a existência conflitos comprometa a existência do próprio grupo social. Quando o conflito se desenvolve sob a égide dessas regras aceitas, sancionadas e observadas pelos participantes do jogo político, diz-se que ocorreu a sua institucionalização. CONFLI TO SOCI AL E CON F LITO POLÍT I CO Os conflitos sociais são potencialmente conflitos que interessam ao campo da política. Todavia, é preciso observar que nem todo tipo de conflito é relevante politicamente. O desentendimento de dois garotos sobre o jogo que irão brincar em um videogame não importa ao estudo da política. O tipo de conflito que nos interessa aquié uma forma de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que implica choques para o acesso e a distribuição de recursos escassos. Por exemplo, numa coletividade, o tipo de conflito relevante diz respeito, pelo menos em última análise, aos choques relacionados à distribuição de sua riqueza. www.pontodosconcursos.com.br 8 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Poderíamos alternativamente dizer que conflitos politicamente relevantes são também aqueles que envolvem grande número de pessoas, ainda que ocorram separadamente (ex. violência doméstica). *** Indo além da classificação de acima, é possível considerar alguns outros elementos que podem ser avaliados para distinguir e classificar os conflitos políticos, os principais deles são: 1. Dimensão: número de participantes; 2. Intensidade: grau de engajamento dos participantes; 3. Objetivos: “normais” (cotidianos) ou radicais (revolucionários). PO LÍ TI CA 1. O CON C EITO DE POLÍ TI CA Numa concepção mais clássica, aproximando o conceito a visões helenísticas do que vem a ser a política, ela pode ser entendida como um conjunto de atividades relativo à condução dos negócios da cidade (polis). Extrapolando a definição para uma leitura mais moderna, poderíamos dizer que seriam atividades relativas à condução do Estado. Se adotarmos, no entanto, uma leitura mais contemporânea, política pode ter diversos significados. O mais abrangente e forte deles aponta para a política como a solução pacífica dos conflitos. Se considerarmos que a maioria dos conflitos tem uma relação com as políticas públicas, é possível dizer que a política tenta resolver, principalmente, conflitos referentes à distribuição e alocação de recursos públicos. 2. DIMENSÕES DA POLÍ TI CA Política pode ser definida por meio de 4 dimensões de acordo com o campo de investigação: www.pontodosconcursos.com.br 9 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 1. Leitura institucional formal: consiste na abordagem mais tradicional e estrita. Nesse sentido política seriam as atividades desenvolvidas no âmbito das instituições formais públicas, das quais a principal é o Estado; 2. Política sob o prisma dos recursos de poder: I. Poder: seguindo a máxima weberiana segundo a qual “o meio decisivo da política é a força”. A política é entendida como o conjunto de atividades humanas desenvolvidas para conquistar e controlar o poder político, a força legitimada, logo se torna forçoso atuar no sentido de influenciar, direta ou indiretamente, os negócios do Estado, pois o poder político (força legitimada) tende a ser monopolizado por esta entidade política. II. Influência: os conceitos de política que têm ênfase na variedade e na sutileza dos meios de conquista e exercício do poder, sem o uso da força – violência – tendem a definir a política como uma atividade em que os atores políticos lutam por influência, buscando influenciar no destino da história da coletividade, grupo ou sociedade. Isso significa que, esses analistas trazem para a noção de política a idéia de que não é apenas a coerção que conta como poder político, mas também a coação (que é mais abrangente) ou pressão, enfim, a influência. O grau de influência, todavia, depende dos recursos disponíveis e da vontade de utilizá-los. III. Autoridade: consiste no poder legitimado e cristalizado, o qual se faz obedecer voluntariamente (Weber). Nesse sentido, governar é fazer crer na justeza do sistema político (o que muitas vezes significa dividir o poder entre os membros da coletividade, ou, pelo menos, alguns deles). A autoridade estabelece hierarquia, no topo da qual está o Estado, cujo governo teria o direito de utilizar a força (apenas uma potencialidade) para se fazer obedecer. Política seria, portanto, as relações que se dão dentro de uma estrutura específica de autoridade (hierarquia de mando e obediência). !! É comum a mistura das três noções para definir política. www.pontodosconcursos.com.br 10 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 3. Política como atividade do processo decisório de alocação de recursos materiais de uma sociedade: nesse sentido as relações sociais que podem ser classificadas como políticas são aqueles que têm seu foco no processo em que é decido como os recursos descritos anteriormente são utilizados. Trata-se, eminentemente, do processo de desenvolvimento de policies (isto é, políticas públicas) ou de decisões com caráter imperativo para todos os cidadãos. Nesse sentido, analisando a atividade política é possível responde porque dada conduta foi adotada ao invés de outra; 4. Política como resolução pacífica dos conflitos (é a dimensão mais ressaltada atualmente): esse conceito ressalta a política como uma função dentro do sistema social. Sendo assim, aparece como uma atividade necessária ao bom funcionamento da sociedade que permite permitir a realização de fins coletivos. Neste contexto, a política serve para resolver conflitos entre indivíduos e grupos, evitando que o conflito destrua dos envolvidos. A função precípua da política seria, portanto, evitar a destruição do corpo social em decorrência de seus conflitos naturais. OUTROS CONCEI TOS DE POLÍT I CA Maquiavel: é a arte de conquistar, manter e expandir ou reaver o poder. É uma esfera autônoma da moral, da religião, da filosofia, do direito, associa-se tão somente ao príncipe e ao exercício do poder político em sentido estrito. Weber: ação com objetivo de influenciar as ações estatais (do aparelho estatal, principalmente burocracia) e a coletividade – nesse sentido, influenciar “nas rodas da história”. É uma atividade humana caracterizada pela relação amigo versus inimigo. ATO SO CIAL X ATO POLÍ TI CO www.pontodosconcursos.com.br 11 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Nem tudo que acontece na sociedade pode ser considerado um ato político. Portanto, é preciso diferenciar as ações humanas entre atos sociais simples e atos sociais que são políticos (nessa classificação, atos políticos estariam dentro dos atos sociais, sendo um tipo destes). Para que um ato realizado na sociedade seja considerado um ato político, é necessário atender a duas condições: A – condição necessária: existência de um ponto de controvérsia (real ou potencial), conflitos, antagonismo de interesses. B – condição suficiente: os atores em conflito devem reconhecer um quadro de limitações mútuas. Havendo, portanto, um certo nível de cooperação entre os diferentes, de forma que a auto-limitação faz o ato político. Como essas condições podem confundir um pouco, ressalte-se, então, que um ato político consiste no exercício do poder em função de um interesse, ou seja um ato realizado na defesa ou em prol de um interesse específico. Logo, o ato político pressupõe uma decisão de perseguir um objetivo resultante do interesse em questão. PODER O poder é a partícula fundamental do fenômeno político, ou seja, não há como falar em política sem que a idéia de poder esteja ao menos subentendida. O poder está presente em todos os fenômenos políticos. É o poder que determina a existência de assimetria nas relações sociais, gerando relações de mando e obediência entre os indivíduos. Isso ocorre porque, em todas as sociedades que já existiram, o poder sempre foi dividido desigualmente. Os que detêm o poder têm maior capacidade de forçar sua vontadesobre os demais agentes sociais. Poder, em sentido genérico, consiste na capacidade de agir, de produzir efeitos, de determinar o comportamento de outrem (Bobbio). Pode ser entendido como a capacidade de imposição da própria vontade, a despeito da resistência do outro, visando um objetivo, uma finalidade. www.pontodosconcursos.com.br 12 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Todavia, à ciência política o conceito de poder mais relevante é o de poder social, o qual apresenta o homem como sujeito e, ao mesmo tempo, objeto. O conceito social de poder é também relativo, porque deriva de uma relação social, logo, sua mensuração não é dada em todas as situações, mas depende do contexto e das pessoas envolvidas. Sua manifestação mais clara surge em contexto de conflito real ou potencial. Seus elementos constitutivos fundamentais são o conflito e a coerção. Em todo caso, é importante observar que o poder, sendo um fato social relacional, nunca é neutro e, apesar de ser uma “coisa” social, o poder é mensurável, pelo menos de maneira genérica. CLASSIFI CAÇÕE S DE PODE R Existem diversas classificações de poder. Apresentaremos aqui apenas as mais fundamentais. Bobbio diferencia poder atual de poder potencial. O primeiro seria o poder que de fato é exercido. O segundo seria apenas uma potencialidade, sua utilização depende das percepções e expectativas que os seus detentores têm da realidade que enfrentam. Segundo o fundamento do poder, ou seja a fonte do poder, é possível identificar na literatura especializada duas tipologias do Poder: Classificação Clássica - aristotélica Tipo de poder Fundamento do poder Poder paterno Natureza Poder despótico Castigo Poder político Consenso Classificação Moderna Moderna Fundamento do poder www.pontodosconcursos.com.br 13 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Poder econômico Bens escassos Poder ideológico Idéias Poder político Posse de instrumentos que possibilitem o uso da força física.1 AUTORIDADE 1. O CON C EITO Autoridade não é um conceito independente. Na verdade trata-se de uma espécie de poder calcado na legitimidade. Ou seja, para entender o conceito é preciso ter o domínio desses outros dois conceitos. Isso se dá pelo fato de a autoridade consistir na aceitação do poder como legítimo, de maneira que essa aceitação acaba por produzir uma atitude mais ou menos estável no tempo no sentido da obediência incondicional às ordens ou diretrizes que emanam de uma dada fonte. Quando A tem autoridade sobre B, este tende a associar a obediência a um dever, muitas vezes moral. No caso extremo, o sujeito passivo adota, como critério de comportamento, as ordem e orientações do sujeito ativo sem avaliar seu conteúdo. É preciso observar, contudo, que B não obedecerá a A em todas as situações, pois, a autoridade tem uma esfera mais ou menos delimitada de atuação. Eu obedeço meu chefe no trabalho, mas em casa quem manda é minha mulher. São duas esferas de autoridade completamente distintas. Essa obediência incondicional, embora durável, não é permanente e, de tempos em tempos, necessita da reafirmação ostensiva da qualidade da fonte do poder. Caso isso não ocorra, pode haver o questionamento da autoridade, ou até mesmo, sua perda. 1 A violência não seria utilizada constantemente, sendo um recurso apenas para casos extremos. A força impediria que a coletividade se dissolvesse pelos conflitos internos. www.pontodosconcursos.com.br 14 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 2. CARA CTER ÍST I CA S FUN D AMEN TAIS A. Caráter hierárquico: o detentor da autoridade se situa numa posição superior aos que são alvos de sua influencia. Contudo, em muitas relações sociais em que a autoridade está presente, não há necessidade de uma estrutura formal, como uma organização, pode ser uma estrutura informal, como uma família; B. Estabilidade: é necessária, mas não é automática. Diferente disso, envolve processos complexos de construção ao longo de muito tempo; C. Crença na legitimidade do poder exercido. A legitimidade é capaz de transformar poder factual em autoridade, isto é, faz com que o poder baseado no uso ou potencial uso da força se transforme em poder estabilizado, que não necessita mais da violência, ou demonstração ostensiva de poder. 3. CRI S E DE AUTORIDADE O titular da autoridade pode não dispor do poder efetivo ou os subordinados podem perder a crença no princípio de legitimidade que fundamenta a autoridade. Nesses casos, há alto potencial de conflito, tanto os superiores quanto os subordinados tendem a se sentir traídos em suas expectativas e valores, diminuindo a relação de autoridade. 4. AUTO RID A DE E POLÍ TI CAS PÚB L ICAS 2 Política pública pressupõe uma estrutura formal para seu desenvolvimento: o Estado. Nesse contexto, é possível afirmar que a existência de uma política pública requer o apoio de tomadores de decisão que tenham lugar de destaque dentro do governo. Isso ocorre porque o consentimento e o 2 Paulo Calmon, anotações de aula. www.pontodosconcursos.com.br 15 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ envolvimento da autoridade (legitimada/estatal) são fundamentais para legitimar a política pública. Autoridade pode ser manifesta de diferentes formas, nas fases de formação, implementação e avaliação das políticas públicas. Dentre elas destacam destacam-se: A. O envolvimento direto do chefe do Executivo e de seus subordinados (ministros, secretários, etc.); B. A participação direta ou indireta dos demais dos demais poderes (Legislativo ou Judiciário), C. A delegação para terceiros dos “direitos de direitos de propriedade” sobre determinada política pública (comissões, agências regulatórias, etc.). quando o agente governamental com autoridade para tratar do assunto delega para outro, de acordo com um processo aceito, a autoridade para tratar de alguns aspectos desse tema. Observe-se, contudo, que a política e o poder se manifestam tanto nas decisões, como também como nos instrumentos a serem utilizados na consecução dos objetivos acertados. IDEOLOGIA 1 – O QUE É I D EO LOGI A? O conceito de ideologia não é facilmente definido nas Ciências Sociais e não existe consenso acerca de um único significado. A invenção do termo ideologia é atribuída à Destutt de Tracy, filosofo francês, discípulo dos enciclopedistas e que publicou em 1801 o livro „Eléments d‟Idéologie‟. Para ele, ideologia seria o estudo cientifico das idéias e as idéias seriam o resultado da interação entre o organismo vivo e a natureza, portanto estaria dentro dos estudos sobre zoologia. Em função de uma divergência, em 1812, Napoleão www.pontodosconcursos.com.br 16 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ atacou Destutt de Tracy e os enciclopedistas franceses e os chamou ideólogos. No sentido pejorativo, estes seriam metafísicos que fariam abstrações da realidade vivendo em um mundo especulativo. Ao adotar o termo, Marx o entende no sentido napoleônico e o utiliza pela primeira vez em seu livro “A Ideologia Alemã” de 1846. O significado atribuído por Marx e Engels à ideologia será abordado no item3 – Concepção Marxista de Ideologia. Lênin atribui à ideologia o sentido de qualquer concepção da realidade social ou política, vinculada a interesses de classes sociais. Existiria tanto uma ideologia burguesa como uma ideologia proletária, deixa de ter sentido pejorativo e assume um caráter mais amplo que aborda qualquer doutrina sobre a realidade vinculada a uma posição de classe. Uma tentativa sociológica de estabelecer um conceito para ideologia é feita por Karl Mannheim em seu livro „Ideologia e Utopia‟. Ideologia seria o conjunto de concepções, idéias, representações e teorias conservadoras que visam a estabilização, legitimação ou reprodução da ordem estabelecida. Enquanto as utopias representariam idéias que pensassem uma nova realidade ainda não existente. “Deste modo, o conceito de ideologia, na obra de Mannheim, aparece com dois sentidos diferentes: a ideologia total, que é o conjunto daquelas formas de pensar, estilos de pensamento, pontos de vista, que são vinculados aos interesses, às posições sociais de grupos ou classes; e ideologia em seu estrito, que é a forma conservadora que essa ideologia total pode tomar, em oposição à forma crítica, que ele chama de utopia.”3 Lowy define ideologia como visão social de mundo, como os conjuntos estruturados de valores, representações, idéias e orientações cognitivas, unificados por uma determinada perspectiva de classes sociais específicas. E as classifica em dois tipos: visões ideológicas que legitimam, justificam ou defendem uma ordem social visando a sua manutenção e visões utópicas quando têm função crítica, negativa ou subversiva que buscam propor uma realidade ainda não existente. 3 3 Lowy, Michael. “Ideologia”. In Ideologias e Ciência Social. Elementos para uma análise marxista, p.13, 1985. www.pontodosconcursos.com.br 17 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Terry Eagleton em seu livro Ideologia – Uma Introdução indica a variedade de significados atribuídos ao termo ideologia e lista 16 possíveis definições. a) Processo de produção de significados e valores atribuindo sentido mínimo às coisas e até cristalizando certos costumes, hábitos e sistemas de crença. b) Corpo de idéias próprio de uma determinada classe ou grupo social. c) Idéias que legitimam um poder político dominante. d) Idéias falsas que legitimam um poder político dominante. e) Comunicação sistematicamente distorcida com a intenção de falsear uma idéia. f) O que confere certa posição ao individuo. g) Formas de pensamentos relacionadas a interesses sociais. h) Pensamento de identidade coletiva ou individual. i) Ilusões socialmente necessárias para manutenção da ordem social. j) Conjuntura de discurso e poder k) Veiculo utilizado pelos atores sociais conscientes entenderem o seu mundo. Pré-entendimentos, idéias e valores necessários para compreensão do mundo. l) Conjunto de crenças que mobilizam a ação. m)Confusão entre realidade lingüística e realidade fenomenal em que os indivíduos não conseguem distinguir entre o que é dito e o que é real. n) Oclusão semiótica em que o plano de visão é ocultado. o) Meio através do qual indivíduos vivenciam suas relações com uma estrutura social, maneira como atores lêem o mundo em que vivem. p) Processo que converte a vida social em uma realidade natural através dos costumes, da tradição, do que é construído intencionalmente. Para Eagleton, entretanto, ideologia pode analisada sob duas diferentes perspectivas interpretativas. A primeira caracteriza ideologia como falsa consciência, uma ilusão, uma visão distorcida, algo que a „outra pessoa tem‟. Aqui encontraríamos os sistemas de crença e poder e as distorções como instrumentos de manutenção da ordem social. As distorções podem ser www.pontodosconcursos.com.br 18 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ identificadas como ocultações ou como codificações de necessidades, aspirações ou medos. Contraposto ao pensamento dogmático e apático das massas estaria a realidade não-ideológica e a compreensão dos fatos. A ideologia poderia também ser caracterizada através de sua função de explicação ou justificação como instrumento de legitimação de interesses ligados ao processo de poder e dominação. A ideologia seria a expressão de nossos vínculos com a realidade social através de meios de organização e estabelecimento de determinada ordem que atribuem sentido à convivência. Sendo assim, não existiria pensamento livre de „pré-entendimentos‟ e como poderíamos pensar o que é a verdade e o que é ilusão? 2 – FU NÇÕ E S DA I D EOLO GIA A função geral da ideologia pode ser definida através de alguns traços caracterizados por Paul Ricoeur: representação, dinamismo, simplificação e esquematização, assim como o caráter dóxico e operatório do fenômeno ideológico. A representação ideológica atribui o “(...) caráter significante, mutuamente orientado e socialmente integrado da ação”.4 Esse processo é realizado através do estabelecimento de atos fundadores responsáveis por conferir representatividade a uma comunidade. Cabe à ideologia perpetuar os atos de representação próprios de um grupo garantidos através da lembrança, do consenso, da convenção e da racionalização. Dessa forma, fatos e impressões assumem o caráter de atos fundadores de um conjunto de representações, que definem a identidade de um determinado grupo, perpetuado no tempo através da História. A ideologia também pode servir como um motivo. Por ser dinâmica, a ideologia funciona como uma motivação social para a práxis justificando certas representações em diferentes épocas. A ideologia, portanto, passa a ser mais 4 Ricoeur, Paul. Interpretação e Ideologias, p.68, 1983. www.pontodosconcursos.com.br 19 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ que um reflexo, é também projeto e justificação de determinadas práticas sociais. A ideologia também é simplificadora e esquemática, na medida em que elabora uma visão codificada de conjunto, de grupo, da história e do mundo que fazendo uso de idéias básicas e rotineiras do imaginário coletivo facilita a absorção de seus símbolos sem questionamentos. O caráter dóxico da ideologia permite transformar as idéias presentes nos sistemas de pensamento em opiniões baseadas em sistemas de crença. A ideologia é também operatória porque opera atrás de nós, é a partir da ideologia que pensamos e não sobre ela, em função da existência de mensagens sociais com códigos não-transparentes que limitam a visão dos observadores. A ideologia assume um caráter de dissimulação ao deformar a realidade não permitindo seu conhecimento completo. A ameaça de algo novo perturbar a estabilidade de reconhecimento de um grupo opta por limitar as interpretações, “(...) é nesse sentido que podemos falar de enclausuramento ideológico e, até mesmo, de cegueira ideológica.”5 Além da função geral, podemos descrever mais duas funções do fenômeno ideológico: dominação e deformação. A primeira baseia-se nos aspectos hierárquicos da organização social nos quais a ideologia interpreta e justifica as relações com as autoridades, atribuindo-lhes uma legitimidade baseada em sistemas de crenças ideológicos. A função de deformação da realidade pela ideologia acaba por assumir um papel de distorção ou inversão dos fatos e das representações, a fim de manter determinadas regularidadesda organização social inviabilizando questionamentos. Ricoeur conclui definindo ideologia como “(...) um fenômeno insuperável da existência social, na medida em que a realidade social sempre possuiu uma constituição simbólica e comporta uma interpretação, em imagens e representações, do próprio vinculo social.”6 5 Ricoeur, Paul. Interpretação e Ideologias, p.71, 1983. 6 Idem, p. 75. www.pontodosconcursos.com.br 20 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 3 ‐ A CONCEPÇÃO MARXI S TA DE I D EOLO GIA. Para Marx e Engels, na „Ideologia Alemã‟, a existência de idéias dominando e determinando os homens reais geram representações falsas que precisam ser combatidas através da critica, sem, no entanto, apenas substituir um conjunto de idéias por outro, uma fraseologia por outra, uma falsa consciência por outra. Seria necessária a busca pela compreensão de novos conceitos aliada à crítica para que se tornasse possível a libertação do homem através da ampliação do seu plano de visão. E para isso, seria preciso conhecer a história real dos homens em suas relações de produção, descobrindo as bases reais presentes nos indivíduos em suas ações e condições materiais de existência. “(...) A maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são. O que eles são coincide, pois, como sua produção, isto é, tanto como o que eles produzem quanto com a maneira como produzem. O que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais de sua produção.”7 Para Marx, os fatos são constituídos por indivíduos determinados com suas atividades produtivas determinadas que entram em relações sociais e políticas determinadas. As atividades produtivas anteriormente estabelecidas inserem os indivíduos em suas estruturas e determinam as relações que serão estabelecidas entre os indivíduos e destes com o Estado. Partindo disso, as representações que os homens fazem de si mesmos passam a ser expressões de suas relações e atividades reais, são reflexos invertidos da posição em que estão inseridos no modo de produção material. Invertidos porque os homens estariam, segundo Marx, envolvidos por um processo de alienação em que só existe a percepção dos interesses isolados, sem que fosse reconhecida a força coletiva dos indivíduos. Os homens não reconhecem que o mundo à sua volta é criado por eles e que não existe uma força superior e estranha que determine a realidade. 7 Engels, F. e Marx, K. A Ideologia Alemã, p.11, 1989. www.pontodosconcursos.com.br 21 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ Através da análise materialista as relações entre produção material e as estruturas sociais e políticas do Estado são mostradas sem mistificações. A falsa consciência é substituída por uma consciência livre de ideologias, livre da dominação dos interesses predominantes. “A verdadeira solução prática dessa fraseologia, a eliminação dessas representações na consciência dos homens, só será realizada, repitamos, por meio de uma transformação das circunstâncias existentes, e não pro deduções teóricas.”8 Para Marx, os proprietários dos meios de dominação material, dos meios de produção também seriam os definidores das idéias predominantes na sociedade aceitas como válidas e determinantes da organização material da vida. Através da falsa consciência os indivíduos passam a se lerem pelo pensamento das classes dominantes. “(...) Em A Ideologia Alemã, o conceito de ideologia aparece como equivalente à ilusão, falsa consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as idéias aparecem como o motor da vida real. Mais tarde Marx amplia o conceito de e fala das normas ideológicas através das quais os indivíduos tomam consciência da vida real. Ele as enumera como sendo a religião, a filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas. Para Marx, claramente, ideologia é um conceito pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou que se refere à consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia dominante: as idéias das classes dominantes são as ideologias dominantes na sociedade.”9 Marx define, no Dezoito Brumário de Napoleão Bonaparte, o conceito de ideologia como expressões de uma classe social determinada (no caso do livro, a pequena burguesia) e a caracteriza como „superestrutura‟. Dessa forma, a classe cria e forma as suas „superestruturas‟, suas visões sociais de mundo desenvolvidas por seus representantes políticos e literários. Essas visões sociais não correspondem apenas aos interesses materiais da classe, mas também dizem respeito à sua situação social. “(...) O que define uma ideologia 8 Idem, p.39-40. 9 Lowy, Michael. “Ideologia”. In Ideologias e Ciência Social. Elementos para uma análise marxista, p.12, 1985. www.pontodosconcursos.com.br 22 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ não é esta ou aquela idéia isolada, tomada em si própria, este ou aquele conteúdo doutrinário, mas uma certa „forma de pensar‟, uma certa problemática, um certo horizonte intelectual (´limites da razão‟). De outro lado, a ideologia não é necessariamente uma mentira deliberada; ela pode comportar (...) uma parte importante de ilusões e de auto-ilusões.”10 Assim, os indivíduos fazem sua história, para Marx, mas não a fazem como querem, estão sujeitos a circunstâncias ligadas e transmitidas pelo passado. A História formata o homem e suas preferências recorrendo sempre ao passado – previsível, visível e estabelecido – para que seja possível compreender o presente, sem que o status quo seja ameaçado por mudanças que provoquem a instabilidade. As noções de presente construídas têm como base elementos do passado, da tradição para evitar movimentos de ruptura contrários aos interesses da classe dominante. Para Marx, existiria uma espécie de „conhecimento máximo possível‟ limitado por metáforas óticas como um horizonte, ponto de vista, campo de visibilidade. O conhecimento e o saber seriam „a visão‟ do individuo e dependeriam da posição social, da „altura‟ do observador. Cada indivíduo veria como e o que sua posição social permitisse. Eagleton define três sentidos, que considera conflitivos, de ideologia em Marx. “A ideologia pode denotar crenças ilusórias ou socialmente desvinculadas que se vêem como o fundamento da história e que, distraindo homens e mulheres de suas condições sociais efetivas (inclusive as determinantes sociais de suas idéias), servem para sustentar um poder político opressivo. O oposto disso seria um conhecimento preciso, imparcial das condições sociais práticas. Por outro lado, a ideologia pode designar as idéias que expressam os interesses materiais da classe dominante e que são úteis na promoção de seu domínio. O contrário disso poderia ser o verdadeiro conhecimento científico ou a consciência das classes não-dominantes. Finalmente, a ideologia pode ser ampliada para abranger todas as formas conceptuais em que é travada a luta de classes como um todo, o que, 10 Lowy, Michael. “Ideologia e Ciência segundo Marx”. In As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen, p.97, 1987. www.pontodosconcursos.com.br 23 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ presumivelmente,incluiria a consciência válida das forças politicamente revolucionárias. O que o contrário disso poderia ser é, presumivelmente, qualquer forma conceptual correntemente não envolvida em tal luta.”11 HEGEMONIA 1. CONCEITO DE HEGEMO NIA A palavra hegemonia tem sua origem etimológica no grego egemonia, que significa direção suprema, liderar, guiar e era usada em contextos militares para definir o poder dos chefes dos exércitos. A noção contemporânea de hegemonia implica, de forma mais geral, na concretização objetiva de um projeto político através de um sistema de alianças ou ainda na capacidade/competência de direção política e cultural de um grupo ou classe social sobre as demais. Nesse sentido, todos que conseguem organizar uma coletividade em torno de um projeto comum dentro de um cenário heterogêneo exercem hegemonia. 2. NOÇÃO DE HEGEMONI A GR AMSCIA NA Para Gramsci, a hegemonia é o processo pelo qual um grupo exerce o controle através de sua liderança moral e intelectual, sobre as outras frações da sociedade. O grupo dirigente teria assim, o poder de articular os interesses mesmos de outras frações dominantes e articular suas visões de mundo a princípios hegemônicos. Outro significado estaria ligado às relações entre dominantes e dominados como tentativas do grupo dominante em usar sua liderança como instrumento de „imposição‟ de uma determinada visão de mundo como abrangente, legítima e universal capaz de „moldar‟ os interesses e as necessidades dos grupos subordinados. Para Gramsci: 11 Eagleton, Terry. Ideologia: uma Introdução, p.82, 1997. www.pontodosconcursos.com.br 24 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ “(...) a força verdadeira do sistema não reside na violência da classe dominante ou no poder coercitivo do seu aparelho de Estado, mas na aceitação por parte dos dominados de uma concepção de mundo que pertence aos dominadores. A filosofia de uma classe dominante atravessa todo o tecido de vulgarizações complexas para aparecer como „senso comum‟: isto é, a filosofia das massas que aceitam a moral, os costumes e o comportamento institucionalizado da sociedade em que vivem” (FIORI, 1970, 238 citado em CARNOY, 2004, 94). Apesar de haver uma relação de consentimento nas relações entre dominantes e dominados, ela não pode ser caracterizada como estática. Na acepção de Carnoy (2004), em Gramsci, ela se acomoda de forma específica em relação às diferentes circunstâncias históricas e é constituída por contradições e pelo constante conflito. As formas hegemônicas são expressas como um conjunto de instituições, ideologias, práticas e agentes que compreendem a cultura dos valores dominantes (CARNOY, 2004). As instituições funcionam assim como instrumentos de exercício de poder e como resultado de determinadas correlações de forças. DOMINAÇÃO 1. CONCEITO DE DOMIN A ÇÃO O conceito de dominação, para Weber, designa a possibilidade de se determinar a sujeição a uma ordem qualquer. Tal subordinação, sob a posição daqueles que obedecem, pode ser baseada em diferentes elementos, desde as ponderações racionais quanto a ganhos e perdas ("referente a meios e fins"), passando pelos critérios de costume (hábito continuativo com o tempo), chegando até aos fundamentos de admiração e afeto que constituem os aspectos carismáticos do poder. Além da possibilidade de dominação pelo uso exclusivo de tais elementos, o poder necessita de consentimento para estabilizar-se. No processo de dominação, observa-se a presença de bases www.pontodosconcursos.com.br 25 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ jurídicas importantes para a definição de legitimidade na relação entre dominantes e dominados. Tomadas sob a forma pura, tais bases de legitimidade restringem-se a três tipos. 2. TIPO S DE DOMI NAÇ Ã O Segundo Max Weber, os três tipos de dominação legítima podem ser definidos e caracterizados como: dominação legal, tradicional e carismática. A dominação legal é exercida por meio de uma estrutura organizada, cujo caráter distintivo é a sua base sobre um conjunto de ordenamentos estatutário-jurídicos que regulam a função e a ação do detentor do domínio. Tendo a dominação burocrática como o seu tipo mais puro, tal base de legitimidade estabelece a obediência não em virtude do direito inerente àquele que a impõe, mas sim graças aos regramentos previamente definidos no estatuto sancionado, que é a fonte reguladora do poder. O direito de mando é legitimado pelo ordenamento jurídico que rege a sociedade. A obediência estabelece-se em uma gradação hierárquica na qual distribuem-se inferiores e superiores, diferenciados por critérios de exigência profissional, conhecimento técnico e obediência ao posicionamento na escala, como função de seguimento às regras estatuídas. A dominação legal pode ser identificada na estrutura do Estado moderno e também nas formas de organização da empresas capitalistas privadas contemporâneas. Porém, deve-se salientar que nenhuma estrutura de dominação pode ser totalmente burocrática, nem essa é o único tipo de dominação legal. Mesmo nas modernas estruturas estatais, os cargos mais proeminentes tendem a ser preenchidos por critérios particulares ligados a indicação, eleição, comissão, sendo esses ocupados por meio de previsão contida nas regras legais que regem a dominação. A dominação tradicional assenta-se na obediência em virtude da presença continuativa – e, por isso, existente há certo tempo – de um conjunto de regras que regem a sociedade. Tal domínio estabelece-se sobre uma comunidade, tendo a dominação patriarcal a sua forma mais pura. Nestes casos, a fidelidade é corroborada pela sujeição tradicional ao "senhor". Pelo www.pontodosconcursos.com.br 26 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ fato do conteúdo de suas ordens estar delimitado pelos enunciados expostos pela tradição, seu poder limita-se à esfera de questões e temas sobre os quais versam tais expectativas costumeiras. A violação destes limites poderia por em risco a legitimidade do domínio tradicional. Seu quadro administrativo é composto por "dependentes pessoais", parentes, amigos e súditos vinculados por aspectos de fidelidade. A dominação tradicional pode tomar duas formas distintas em virtude da "modalidade de posição" de seu quadro administrativo. Na estrutura totalmente patriarcal de administração, os funcionários são completamente dependentes das ordenações pessoais do senhor. Sua gestão é "heterônoma" e "heterocéfala": não há direito adquirido sobre os cargos ocupados, tampouco processo seletivo para seus preenchimentos. Toda a estrutura administrativa é subordinada ao arbítrio do detentor do poder patriarcal. Na estrutura estamental, os servidores são investidos em posições proeminentes por privilégio ou concessão do senhor, mas esse não pode retirar-lhes o cargo arbitrariamente. A administração é "autônoma" e "autocéfala": os elementos tradicionais de dominação – manifestos por meio das relações sociais continuativas – estabelecem, antes do suserano, os critérios de posicionamento hierárquico e de privilégio. A estrutura totalmente patriarcal tem como tipo exemplar a dominação sob a forma de sultanato, enquanto que a estrutura estamental mostra-se de maneira nítida nas relaçõesde suserania e vassalagem típicas do feudalismo. A dominação carismática estabelece-se em virtude da crença nas capacidades incomuns e sobrenaturais do líder. Neste sentido, a obediência ao detentor de poder carismático vincula-se a um certo aspecto afetuoso e de devoção. As qualidades particulares do líder podem tomar diferentes formas: capacidades mágicas, proféticas, poder intelectual, habilidade guerreira, domínio dos aspectos de comunicação e comoção demagógica. A obediência ao líder deve-se exclusivamente às suas capacidades individuais, não se estabelecendo em função da posição que ocupa de direito ou em virtude de alguma orientação tradicional. Tal aspecto é importante, uma vez que perdidas suas habilidades ou sendo elas postas sob dúvida, o líder também terá o seu domínio enfraquecido. Sob este elemento de legitimação, o quadro www.pontodosconcursos.com.br 27 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ administrativo é escolhido por meio do carisma e da vocação. O caráter de revelação e designação por decisão particular é característico da seleção de quadros neste tipo de dominação. Pelo fato da dominação carismática ter um caráter caracteristicamente pessoal, sua sucessão mostra-se como um problema a ser resolvido. A sucessão pode acontecer de diferentes maneiras: 1) pela busca de sinais aparentes que revelam o futuro líder; 2) pela determinação feita por meio de um agrupamento carismático qualificado, constituído para decidir a sucessão; 3) por processos de "carisma hereditário"; 4) pela transferência do carisma por meios ritualísticos, que vê a qualidade de domínio como passível de transferência mágica; e 5) pela validade da dominação por meio da decisão por uma pessoa que detém as qualidades de carisma reconhecidas pelos súditos. LEGITIMIDADE Segundo Bobbio, “podemos defini r l egi ti midade como sendo um atributo do Est ado, que consiste na pres ença, em uma parcela signi ficati va da p opulação, de um grau de consenso capaz de assegurar a obedi ência sem a nece ssidade de recorrer ao uso da força, a não ser em casos esporádicos. É por essa razão que todo poder busca alcançar consenso, de manei ra que seja reconheci do como legítimo, transformando a obediência em adesão. A crença na legi ti midade é, pois, o elemento integrador na rel a ção de poder que se veri f i ca no âm bi to do Estado” . De imedi ato, é possível percebe r o concei to tem uma intima relação com os conceitos de au toridade e dominaç ão. Legit i midade aparece como a base da acei tação da dominação e o pi lar da autoridade. Tanto é que tradicionalmente, os tipos de l egi t i midade coincidem com os tipos tradicionai s puros de dominação definidos por Max Weber, q uais se ja m: www.pontodosconcursos.com.br 28 CURSO ON-LINE - CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVEZ 1. Legiti midade tradi cional: baseada na tradição. Na crença na existênci a de um pass ado eterno que justi f ica o exercício do poder no presente. É o domínio que se dá com base nos costumes e tradi ções. 2. Legiti midade cari smática: se fundamenta nos atr ibutos pessoais de um l íder, os quai s são valorizados em uma dada época ou contexto. 3. Legiti midade legal -racional (ou burocrática): baseia-se na crença na competência e valida de de um estatuto legal racional mente elaborado. BIBLIOGRAFIA BOBBIO, Norberto, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino (trad. João Ferreira, coord.). Dicionário de Política. Ed.UnB e Imprensa Oficial. 5ª edição. São Paulo. 2004. Verbetes. Eagleton, Terry. “O que é Ideologia?” e “Do iluminismo à Terceira Internacional”. In Ideologia: Uma Introdução. SP, Unesp/Boitempo ed., 1997. Engels, F. e Marx, K. A Ideologia Alemã. SP, Martins Fontes, 2002. Lowy, Michael. “Ideologia e Ciência segundo Marx”. In As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen: Marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. SP, Busca Vida, 1987. Lowy, Michael. “Ideologia”. In Ideologias e Ciência Social: elementos para uma análise marxista. SP, Editora Cortez, 4ª ed., 1985. Ricoeur, Paul. “Critérios do fenômeno ideológico”. In Interpretação e Ideologias. 1983. WEBER, Max .“Os três tipos de dominação legítima". Metodologias das ciências sociais. São Paulo: Cortez/ Campinas: EdUEC. [n.d.]. pp. 349-359. WEBER, Max .“A política como vocação. Edunb. 2005. www.pontodosconcursos.com.br 29
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