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Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 1 DISTÚRBIOS DE MICÇÃO EM PEDIATRIA Introdução As diversas alterações da micção na infância, também conhecidas como distúrbios miccionais ou disfunção do trato urinário inferior, acometem um grande número de pacientes em idade pediátrica, e apesar da sua frequência elevada, ainda não são diagnosticados e tratados adequadamente; A incontinência urinária: O principal sintoma das disfunções miccionais pode ser causa de infecção do trato urinário e por isso necessitam ser identificadas para o tratamento adequado; Há um predomínio entre as meninas; No Brasil (2 ESTUDOS): - Crianças de 3 a 9 anos de 22,8%, sendo 10,5% para os meninos e 33,8% para as meninas; - Crianças de 6 a 12 anos de 21,8%, sendo 22,4% composto por meninos e 77,6% de meninas. ATO DA MICÇÃO: ação coordenada entre a bexiga, a uretra e o complexo esfincteriano sob o controle do sistema nervoso autônomo, somático e central (córtex, tronco cerebral e medula espinhal); Essas estruturas atuam de forma coordenada, possibilitando uma continência inconsciente permanente e o início voluntário consciente da micção; Processo normal da micção: - A urina produzida nos rins é armazenada na bexiga – fase de armazenamento – que se faz sob baixas pressões vesicais e permite o esvaziamento ureteral da urina para a bexiga por peristaltismo contínuo dos ureteres; - Na fase de esvaziamento, ocorre a abertura do complexo esfincteriano uretral, coordenada com a contração da musculatura lisa da bexiga, o músculo detrusor e consequente aumento da pressão intravesical; - Ocorre neste momento o fluxo urinário, com a saída da urina pela uretra, levando ao esvaziamento completo da bexiga. A Bexiga A bexiga tem duas funções: o armazenamento e a eliminação da urina; O principal componente da parede vesical é um músculo liso: o detrusor; A bexiga neurologicamente intacta armazena, de modo inconsciente, grande volume de urina com alta complacência e pequena ou nenhuma alteração da pressão intravesical; Durante o enchimento - a musculatura estriada do esfíncter é ativada reflexamente, mantendo a continência mesmo na capacidade máxima do enchimento vesical; A contração do detrusor, que ocorre simultaneamente com o relaxamento reflexo do esfíncter uretral, permite o esvaziamento completo da bexiga e sem interrupções. Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 2 Continência Urinária O desenvolvimento da continência urinária ocorre em diversas etapas: - 1º Ano de vida: ocorre o aumento progressivo da capacidade vesical, em função do seu crescimento somático acelerado; - 1-3 anos: a criança começa a ter a percepção da plenitude vesical e consegue a inibição consciente da contração detrusora, inicialmente acordada e depois dormindo; - A partir de 3-4 anos: a maioria das crianças está continente durante o dia. OBS 1: Após a continência existe um período variável, usualmente de até seis meses, em que o escape urinário pode ocorrer; OBS 2: O controle urinário noturno ocorre em torno de seis meses a um ano depois da retirada das fraldas do período diurno. Avaliação dos Distúrbios Miccionais Anamnese; Exame físico; Diário miccional; Ultrassonografia; Urodinâmica. Anamnese Um dos instrumentos mais importantes para a avaliação de crianças com queixas relacionadas à função do trato urinário inferior; História da gestação: hidronefrose antenatal? Oligohidrâmnio? Pesquisar situações de risco, como prematuridade, asfixia perinatal, convulsões e outros, que possam ter ocorrido no período neonatal; O desenvolvimento psicomotor deve ser avaliado e informações sobre o treinamento e controle esfincteriano obtidas; Na história familiar: presença de enurese, incontinência urinária, sintomas do trato urinário inferior, litíase, uropatias e doença renal. Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 3 Sintomas Exame Físico Recomenda-se atenção a alguns aspectos clínicos que permitam uma diferenciação com a bexiga neurogênica e com problemas estruturais do trato urinário inferior: - Exame cuidadoso da região genital - epispádia, hipospádia, sinéquia labial, aparência e localização dos meatos uretral e himenal e perdas urinárias durante o exame - Inspeção da coluna lombossacra em busca de sinais neurocutâneos que possam estar associados com espinha bífida - lipoma, pigmentação anormal, aumento de pilosidade, assimetria de sulco interglúteo - Faz-se necessário, ainda, pesquisar a sensibilidade de reflexos perineais de área inervada pelos segmentos sacrais S1-S4 e tônus do esfíncter anal, bem como observar alterações na marcha. Espinha Bífida Oculta Alteração da Via de Saída da Uretra Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 4 Hipospádia Abertura anormal da uretra em um local por baixo do pênis; Excesso de pele na região do prepúcio; Falta da abertura da uretra na extremidade do órgão genital; O genital quando ereto não fica reto, apresentando a forma de anzol; O menino urina sentado. Epispádia Masculina: - Distal: a abertura anormal da uretra se encontra perto da glande; - Total: a uretra se abre na base do órgão masculino e forma uma fenda até à ponta do genital; - Órgão curto, largo e com uma curvatura anormal para cima; - Presença de uma fenda na parte superior do pênis por onde sai a urina; - Incontinência urinária; - Infecções urinárias constantes; - Osso da bacia alargado. Feminina: - Muito rara; - Abertura da uretra junto do clitóris, acima dos grandes lábios; - Clitóris dividido em dois; - Refluxo da urina para a bexiga; - Incontinência urinária; - Infecções urinárias; - Osso da bacia alargado. Epispádia Total Bexiga Neurogênica É a disfunção da bexiga (flácida ou espástica) causada por lesão neurológica; Os sintomas podem incluir incontinência por transbordamento (pacientes retêm a urina e apresentam gotejamento constante), urgência, incontinência e retenção; O risco de complicações graves (infecções reincidentes, refluxo vesicoureteral e disreflexia autonômica) é elevado; O diagnóstico compreende exames de imagem e/ou exame urodinâmico; O tratamento abrange cateterismo ou medidas para desencadear a micção, fármacos, cirúrgico. Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 5 Bexiga Hiperativa/Urgeincontinência A hiperatividade do detrusor - urgência, urgeincontinência, assim como aumento da frequência urinária; É o tipo mais comum distúrbio do trato urinário inferior em crianças, na qual o quadro clínico é consequência da hiperatividade do detrusor que ocorre durante a fase de enchimento, seguida de contração voluntária do assoalho pélvico com o objetivo de evitar as perdas urinárias; A fase miccional é normal, entretanto, a contração do detrusor durante a micção pode ser muito intensa; Como as contrações do detrusor são involuntárias, caso a criança, durante essas contrações, tente manter a continência contraindo o esfíncter uretral externo, isto resultará em uma contração simultânea, não fisiológica, do esfíncter e do detrusor; Este comportamento causa uma obstrução funcional ao esvaziamento da bexiga, com elevação da pressão vesical persistindo até que a bexiga relaxe ou esvazie; Se a criança, durante a contração instável, não impede a micção, esta ocorre normalmente com baixa pressão porque o esfíncter uretral externo relaxará durante a contração vesical; Muitas vezes, os pacientes tendem a diminuir a ingestãohídrica para diminuir as perdas urinárias; Portanto, muitas crianças não relatam espontaneamente o sintoma de urgeincontinência, sendo essencial um questionário detalhado para o diagnóstico preciso. Bexiga Hipoativa Crianças que possuem uma baixa frequência de esvaziamento, com necessidade de aumentar a pressão intra- abdominal para iniciar, manter ou completar micção; Relatam que não têm vontade de ir ao banheiro, ficando até 12 h sem urinarem; No passado, foi chamada de "bexiga preguiçosa". Caracteriza-se por uma bexiga de grande capacidade. Adiamento da Micção Crianças com incontinência diurna adiam a micção usando manobras de contenção, quadro que, geralmente, se associa com baixa frequência miccional e sensação de urgência com a bexiga cheia; Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 6 Estas crianças frequentemente sofrem de comorbidade psicológicas ou distúrbio de comportamento. Outras Condições Frequência urinária diurna extraordinária: ocorre em crianças pré- escolares saudáveis, sem antecedentes mórbidos ou relato de ITU anterior. A causa é desconhecida e caracteriza-se por uma elevada frequência urinária diurna sem incontinência urinária, que pode ocorrer a cada 10 a 20 minutos. Os sintomas desaparecem quando a criança dorme, embora a incontinência urinária noturna possa preceder ou coexistir com os sintomas; Obstrução: Impedimento mecânico ou funcional, estático ou fásico durante o esvaziamento da bexiga. É caracterizada pelo aumento da pressão detrussora e um fluxo de urina reduzido; Incontinência por estresse: perda de pequenas quantidades de urina durante o esforço ou aumento da pressão intra- abdominal por várias razões. É rara em crianças neurologicamente normais; Refluxo vaginal: Meninas na pré- puberdade que apresentam incontinência em quantidade moderada, ocorrendo até 10 minutos após a micção; Incontinência do riso: Consiste na perda urinária desencadeada pelo riso. Investigação Diário (Mapa/cartilha) miccional: registro dos horários e volumes da micção e registro da ingestão hídrica; Ultrassonografia de rins e vias urinárias com medidas do volume vesical pré e pós-miccional e medida da espessura da parede vesical; Fluxometria urinária: taxa de fluxo, identificar problemas de esvaziamento; Urodinâmica ou estudo urodinâmico: exame complexo, com cateterismo uretral e retal, apenas para casos associados com comprometimento do trato superior. Diário Miccional (Mapa de volume urinário) É um diário que registra a ingestão hídrica e o volume urinado em 24 horas; O mapa dá informações objetivas do número de micções diurnas e noturnas, juntamente com o volume e os episódios de perdas urinárias; Estes dados são fundamentais para se conhecer e acompanhar a rotina miccional da criança; No diário também devem ser registrados as evacuações e os episódios de perdas fecais; O preenchimento das micções é solicitado por um período de 2 dias que pode compreender o final de semana, enquanto o hábito intestinal deve ser anotado pelo período mínimo de uma semana. Fernanda Jorge Martins – 4º Período @fernandamartins.med HAM IV 7 Referências Manual de Uropediatria – Guia para pediatras. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_uploa d/Manual_Uropediatria-Final.pdf Disfunção do trato urinário inferior: um diagnóstico comum na prática pediátrica. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbn/a/VLxsw7MXmYVr DLkjyJ7xd6t/?lang=pt https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Manual_Uropediatria-Final.pdf https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Manual_Uropediatria-Final.pdf https://www.scielo.br/j/jbn/a/VLxsw7MXmYVrDLkjyJ7xd6t/?lang=pt https://www.scielo.br/j/jbn/a/VLxsw7MXmYVrDLkjyJ7xd6t/?lang=pt