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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 1 1. Introdução O aneurisma da aorta abdominal infra-renal é uma doença de importância crescente com uma prevalência em torno de 2% em pacientes masculinos com mais de 60 anos. Com o aumento da expectativa de vida observado nos últimos anos, tem sido constatada uma maior prevalência da doença. A mortalidade dos pacientes com aneurismas de aorta pode estar relacionada com a ruptura do mesmo, causando quadro clínico de hemorragia abdominal, exigindo correção cirúrgica de emergência para evitar a alta mortalidade. Assim, essa doença deve ser tratada de forma eletiva antes que a ruptura aconteça, com o objetivo de evitar tal complicação e diminuir a mortalidade cirúrgica. O tratamento do aneurisma de aorta abdominal é cirúrgico, consistindo a técnica convencional na substituição da dilatação aneurismática por uma prótese vascular. O tratamento cirúrgico é amplamente aceito e tem resultados a longo prazo já definidos e aceitáveis para pacientes com alto risco de ruptura. Tais pacientes são os que apresentam diâmetro acima de 5 cm, hipertensão diastólica e doença pulmonar obstrutiva com VEF1 inferior a 50 %. Os melhores cuidados intra- e pós-operatórios obtidos nos últimos anos foram fundamentais para que a operação pudesse ser indicada para pacientes com risco de ruptura médio, como os citados acima. A diminuição da mortalidade cirúrgica pode ser comprovada por diversos estudos. O mais importante deles foi publicado por Crawford et al.1, que demonstraram uma diminuição da mortalidade de 18% em 1960 para 1,4% em 1980. O aneurisma da aorta abdominal (AAA) é uma doença vascular que merece constante atenção, tanto para os estudos de identificação como de aperfeiçoamento terapêutico. Sua importância clínica se baseia na alta mortalidade que ocorre com a sua ruptura, contrastando com a baixa mortalidade (2,8%) descrita com o tratamento cirúrgico eletivo nos serviços especializados. O aumento gradativo da prevalência do AAA se deve à maior expectativa de vida da população idosa e aos avanços tecnológicos, entre os quais ressaltamos os métodos diagnósticos não-invasivos mais acessíveis e outra opção de correção, além da cirurgia convencional, que é o tratamento endovascular. Este último proporcionou maior integração entre o cirurgião e o paciente, visto que, diante de duas modalidades terapêuticas, a opinião do paciente se fez necessária, fato inexistente nas recomendações mais antigas. A importância da realização e o incentivo para o rastreamento do AAA justificam-se por três fatos ❖ Sua evolução, que pode ser assintomática até a ruptura, dificultando o diagnóstico clínico inicial. ❖ A possibilidade de obter um diagnóstico preciso por técnica não-invasiva e de baixo custo, representado pela ecografia vascular. ❖ A expectativa de vida dos pacientes tratados, que se iguala a dos indivíduos da mesma faixa etária sem a doença 2. Conceito Define-se dilatação da aorta como uma medida que excede a faixa normal para uma determinada idade e dimensões corporais. Aneurisma, ou dilatação patológica, é definido Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 2 como um aumento de 50% acima desta faixa. As dimensões aórticas normais variam de acordo com o sexo, idade e as dimensões corporais. As dimensões documentadas também variam (tipicamente dentro de 2 a 3 mm) de acordo com a modalidade e a técnica de geração de imagens. Os aneurismas envolvem todas as três camadas da parede de um vaso, enquanto que os pseudoaneurismas são delineados apenas pela túnica adventícia, com rompimento das camadas íntima e média. Os aneurismas aórticos fusiformes afetam circunferencialmente um determinado segmento da aorta. Por outro lado, os aneurismas aórticos saculares [ver a Figura 1] envolvem apenas uma parte da circunferência da aorta. Os aneurismas dividem- se naqueles que afetam a aorta abdominal e os que afetam a aorta torácica. Os aneurismas mais extensivos (denominados toracoabdominais) envolvem ambas as áreas da aorta. Dilatações permanentes que ultrapassam o diâmetro de 50% Forma ❖ Saculares ➢ Localizados ➢ Excêntricos ➢ Maior risco de ruptura ❖ Fusiformes ➢ Longos ➢ Difusos 3. Epidemiologia Ruptura de aneurisma de aorta nos EUA ❖ 130 causa de óbito ❖ 100 causa de óbitos >55 anos ❖ 30 causas de morte súbita Maior incidência a partir da 70 década Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 3 Mais comum em homens (8:1) Mais comum em brancos (2 a 3:1) No Brasil foi identificada uma prevalência de 4,5% em necropsias 4. Fatores de risco Idade → 70 anos Sexo → H:M//4-8:1 Tabagismo → Aumenta 5x História familiar → Aumenta 2x HAS → Processo biomecânico DM Obesidade sedentarismo 5. Etiologia Degenerativos (ateroscleróticos – termo não mais utilizado) → Mais comum Infecciosos ❖ Bacteriano ou micótico ❖ Endocardite bacteriana ❖ Septicemia por bacilos gram-negativos Congênitos ❖ Deformidades vasculares embriogênicas ❖ Pequenos ❖ Isolados ou múltiplos ❖ Vasos intracranianos, viscerais, artérias esplênicas ou renais ❖ Exemplos ➢ Síndrome de Marfan ➢ Ehlers-Danlos ➢ Deficiência genética do pró-colágeno tipo III ➢ Neurofibromatose ➢ Pseudoxantoma elasticum ➢ Síndrome de Turner ➢ Esclerose Tuberal ➢ Deficiência de elastina Condição traumática Pós-estenótico Anastomótico Inflamatório → 4 – 10% ❖ Arterite primária da aorta ❖ Aortite inespecífica (doença de Takayasu) ❖ Poliarterite nodosa, ❖ Lúpus eritematoso sistêmico ❖ Doença de Behçet ❖ Artrite reumatoide ❖ Síndrome de Kawasaki 6. Fisiopatogenia Aneurisma degenerativo → Aorta abdominal é a topografia mais comum ❖ Aneurisma X aterosclerose Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 4 ❖ 1º Aorta ➢ Abdominal infrarrenal → 80% ➢ Torácico descendente → 12% ➢ Torácico ascendente → 5,5% ➢ Torácico abdominal → 2,5% ❖ 2º Ilíacas ❖ 3º Poplíteas ❖ 4º Femoral ❖ 5º Esplênica ❖ 6º Hepáticas ❖ 7º Mesentérica superior ❖ 8º Pulmonar 7. História natural Probabilidade de ruptura anual para aneurisma infrarrenal ❖ <4cm → 0% ❖ 4 – 5cm → 0,5 – 5% ❖ 5 – 6cm → 3 – 15% ❖ 6 – 7cm → 20 – 40% ❖ 8cm → 30 – 50% Taxas de crescimento para aneurismas pequenos → 0,3 – 0,6cm/ano Mortalidade em 2 anos para aneurismas >5cm → 13% 8. Rastreamento Homens, hipertensos fumantes, > 65 anos, com história familiar de doença cardiovascular. Quando os aneurismas forem pequenos (em ambos os sexos), o seguimento deve ser regular de 6 a 12 meses ou mais frequentemente, dependendo da velocidade de crescimento Aneurismas >5cm → Abordagem cirúrgica Rastreamento ultrassonográfico reduz a mortalidade por rotura de AAA em cerca de 70% 9. Exames diagnósticos Radiografia ❖ Aneurismas calcificados ❖ Corrosão de corpos vertebrais ❖ Alargamento do mediastino Ultrassonografia ❖ Exame de rastreio ❖ Diagnóstico ❖ Avaliação ❖ Seguimento Obs. 80% dos aneurismas de aorta abdominal são infrarrenais Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 5 Tc – Angiotomografia ❖ Padrão ouro ❖ Diâmetro, extensão, topografia, relação com as artérias viscerais ❖ Aorta e variações anatômicas ❖ Outros órgãos ❖ Extensão do hematoma ❖ Sensibilidade e especificidade de até 93% para ruptura ❖ Terapêutica com radiologia intervencionista RNM ❖ Ramos vísceras Arteriografia ❖ Ramos viscerais e estenoses periféricas ❖ Implante de endopróteses 10. Aneurisma de aorta abdominal Os aneurismas aórticos abdominais (AAAs) são mais comuns que os aneurismas aórticos torácicos (AATs). Provavelmente a idade e o históricode tabagismo sejam os fatores de risco mais relevantes para a ocorrência de aneurismas. A incidência de aneurismas aumenta em homens com idade acima de 55 anos e em mulheres com mais de 70 anos. Dependendo da idade, os homens têm uma probabilidade de duas a cinco vezes de desenvolver aneurismas aórticos. Os fatores de risco adicionais são hipertensão e histórico familiar, sugerindo que há uma predisposição genética para aneurismas.4,5 Vários registros mostram que os aneurismas se desenvolvem em até 25% de parentes do primeiro grau de pacientes com AAAs. De maneira geral, a aorta infrarrenal é a região mais afetada. Classificação ❖ I – Infrarrenal (mais comum) ❖ II – Justarrenal ❖ III – Pararrenal ❖ IV – Suprarrenal Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 6 Quadro clínico ❖ Assintomá0cos ou sintomas vagos (80%) → Achados incidentais ❖ Pacientes magros → Massa pulsátil abdominal ❖ Dor ➢ Contínua ➢ Insidiosa ➢ Periumbilical com irradiação para flancos, nádegas ou escroto ➢ Lombar Corrosão da face anterior dos corpos vertebrais de L3/L4/L5 Parede posterior do aneurisma é destruída ❖ Isquemia distal ➢ Embolização de trombos da parede do aneurisma ➢ Trombose aguda da aorta ou seus ramos *A maior parte dos aneurismas aórticos abdominais (AAAs) não produz nenhum sintoma nos exames físicos rotineiros ou como resultado de rastreamentos não invasivos, ou são detectados por acaso nos estudos de imagens para qualquer outro motivo não relacionado à doença. O sintoma mais comum é a dor, geralmente descrita como um desconforto constante e persistente na região lombar ou no hipogástrio. De maneira geral, os movimentos não chegam a ser afetados pela dor. Em alguns pacientes, os AAAs são identificados pela primeira vez nos períodos de expansão rápida ou de rompimento iminente que, com frequência, é marcado pela presença de desconforto grave na parte inferior do abdome ou na região lombar que irradia para as nádegas, virilhas ou para as pernas. O rompimento é acompanhado pelo início abrupto de dor lombar e abdominal, sensibilidade abdominal, presença de uma massa pulsátil palpável, hipotensão e choque. Cabe observar que os aneurismas rompidos podem imitar outras condições tais como cólica abdominal, cólica renal, diverticulite e hemorragia gastrintestinal. Não chega a causar nenhuma surpresa o fato de que, inicialmente, mais de 25% dos pacientes que se apresentam com rompimento ou expansão de aneurismas aórticos estão sujeitos a erros diagnósticos. Os pacientes com rompimento iminente ou real devem ser tratados como emergência cirúrgica da mesma forma que os indivíduos com trauma muito grave. Esses pacientes desenvolvem choque hemorrágico muito rapidamente, que se manifesta através de vasoconstrição periférica, hipotensão, pele manchada, diaforese, oligúria, desorientação e parada cardíaca. Embora seja Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 7 raro, o rompimento com erosão interna no duodeno pode se apresentar como hemorragia gastrintestinal maciça. Exame físico → Sinal de DeBakey *Usualmente, a aorta abdominal pode ser detectada por palpação profunda, principalmente em pessoas magras. Em geral não é possível palpar os impulsos aórticos normais em pacientes obesos. Os pacientes obesos podem abrigar aneurismas de grande porte sem apresentar nenhum sintoma ou nenhuma descoberta no exame físico, a menos que os aneurismas estejam pressionando alguma estrutura adjacente. Por outro lado, o paciente possivelmente sinta a presença de uma massa pulsátil no abdome nos casos de desenvolvimento de aneurismas abdominais. Nas situações em que forem palpáveis, os aneurismas poderão ser identificados como uma massa pulsátil que se estende até a altura do processo xifoide em relação à área suprapúbica. Tipicamente, o diâmetro transversal dos aneurismas é sobrestimado no exame físico levando-se em consideração a quantidade variável de tecido entre o examinador e o aneurisma. A distinção entre aorta ectásica e aneurisma também é muito difícil. Alguns aneurismas são sensíveis à palpação e, nos casos de expansão recente ou de rompimento iminente, poderão apresentar alguma sensibilidade. De maneira geral, os pacientes com aneurisma apesentam evidências de outra doença vascular periférica. Provavelmente, os pacientes com rompimento retroperitoneal apresentem evidências de equimose ou de hematoma no flanco e na virilha. *As recomendações em vigor são para rastreamentos não invasivos de pacientes do sexo masculino com idade acima de 60 anos e que tenham histórico familiar de aneurisma. O rastreamento em homens com idade entre 65 e 75 anos com histórico de tabagismo também é uma forte recomendação, porém há menos evidências que justifiquem esse tipo de triagem. O rastreamento com ultrassonografia abdominal pode ser particularmente eficaz em pacientes obesos nos quais o valor da palpação abdominal é bastante limitada. Um estudo amplo de rastreamento ultrassonográfico em 67.900 homens com idades entre 65 e 74 anos demonstrou que houve uma redução de 43% nas mortes relacionadas a aneurismas no grupo de indivíduos que fez testes de rotina. Em parte, a relação real entre custo e benefício das estratégias de rastreamento depende do custo das intervenções cirúrgicas ou endovasculares e, em última análise, ainda tem de ser comprovada Tratamento ❖ Indicação ➢ Forma ➢ Diâmetro >5cm ➢ Velocidade de crescimento → > 0,5cm em 6 meses ➢ Doenças associadas Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 8 ➢ Complicações Hematomas Embolia periférica Isquemia visceral ➢ Mortalidade Cirurgia eletiva → 5% Cirurgia de urgência → Aneurisma roto - 50 a 60% ❖ Tratamento cirúrgico – Aneurisma de aorta abdominal infrarrenal ➢ Exposição do aneurisma com seu controle proximal e distal com as pinças (clamps). ➢ O aneurisma é aberto longitudinalmente e as artérias lombares e a mesentérica inferior são ligadas ➢ Implante de tubo de Dacron bifurcado com anastomoses na aorta ou nas artérias ilíacas. ➢ As pinças são retiradas e a prótese é envolvida pela própria capa do aneurisma ❖ Tratamento endovascular – aneurisma de aorta abdominal infrarrenal ➢ Introduz-se o cateter-guia pela artéria femoral, e sua posição é verificada por fluoroscopia. ➢ Introduz-se a endoprótese com a bainha pelo fio-guia, com a extremidade posicionada na altura das artérias renais. ➢ Traciona-se a bainha, liberando a endoprótese, que se expande graças à estrutura metálica e fixa-se. dessa forma. à parede da aorta. ➢ A endoprótese tem um corpo principal e dois ilíacos. Com a retirada da bainha, o corpo principal é liberado junto de um dos ramos ilíacos. O outro ramo (curto) é mantido no interior do aneurisma. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 9 ➢ Pela artéria femoral contralateral, introduz-se outro fio-guia, que penetra no lúmen do ramo ilíaco curto. ➢ Por esse fio-guia, introduz-se outra bainha com a extensão ilíaca. ➢ Traciona-se então, a bainha da extensão ilíaca. que é, finalmente, liberada. ➢ Aspecto final ela reconstrução. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 10 ❖ Controle tomográfico Complicações perioperatórias ❖ Choque ao desclampeamento ➢ Diminuição da pós-carga cardíaca ➢ Depressão miocárdica ➢ Redução da pré-carga ➢ Hipovolemia ❖ Sangramento difuso ❖ Lesões iatrogênicas ❖ Isquemia → Trombo-embolização distal ❖ Atelectasia ❖ Pneumonia → 5% ❖ TVP → 8% ❖ AVC → 1% ❖ Íleo paralítico prolongado ❖ IRA → 2 – 8% ❖ Isquemia de cólon esquerdo → 1 – 2% ❖ Isquemia medulara → Paraplegia flácida; <1% ❖ Óbito → 5% Marina RibeiroPortugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 11 11. Aneurisma de aorta abdominal roto Introdução ❖ Complicação mais grave de pior prognós0co ➢ Livre ➢ Tamponada ❖ Causa de 2% das mortes de homens >65 anos ❖ Uma das maiores emergências cirúrgicas ❖ 13º causa de óbitos nos EUA ❖ 40% dos pacientes não chegam com vida ao hospital ❖ Mortalidade hospitalar 60 – 90% Manifestações clínicas ❖ Dor súbita e intensa ❖ Equimose nos flancos ❖ Obstrução parcial do duodeno → Compressão ❖ Sangramento gastrointestinal → Erosão da aorta no tubo digestivo – fístula aorta- entérica (0,01 a 0,5%) ❖ Insuficiência cardíaca ➢ Ruptura do aneurisma para a veia cava inferior → Fístula aorto-cava ➢ Aumento significativo do retorno venoso. ➢ Óbito em horas ou dias. ❖ Hematúria → Ruptura do aneurisma para o ureter constitui evento raro ❖ Instabilidade hemodinâmica Diagnóstico ❖ Clínico ❖ Muitas vezes não há tempo para realização de exames complementares Tratamento ❖ Tratar o choque hipovolêmico ❖ Hemotransfusão ❖ Tratamento cirúrgico ou endovascular 12. Algoritmo para suspeitar de aneurisma de aorta abdominal sintomático Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 12 13. Aneurisma de aorta toracoabdominal Os aneurismas aórticos torácicos (AATs) são menos comuns que os aneurismas aórticos abdominais (AAAs) e são classificados de acordo com o envolvimento da aorta ascendente, do arco aórtico, da aorta descendente, ou com base na combinação entre esses sítios. A etiologia dos aneurismas torácicos se correlaciona com as respectivas localizações. Os aneurismas na aorta ascendente geralmente estão associados a processos hereditários ou degenerativos que afetam a média aórtica. Muitos desses processos resultam em resistência à tração elástica na aorta. Com frequência, os AATs são observados em pacientes hipertensos com aterosclerose extensiva ou como sequelas de dissecções aórticas ou de traumas mecânicos. Usualmente, a origem desses aneurismas é além da artéria subclávia esquerda e são fusiformes ou saculares. Em geral, os aneurismas no arco aórtico têm a mesma configuração que os aneurismas na aorta ascendente ou na aorta descendente. A base fisiopatológica dos AATs é complexa e, em parte, se relaciona às condições subjacentes que predispõem os pacientes à dilatação da aorta. Embora as rotas fisiopatológicas específicas ainda estejam em fase de estudos, o esquema geral para explicar as descobertas clínicas dos AATs inclui mutações genéticas específicas ou predisposição que reduza a função contrátil das células dos músculos lisos vasculares. Em seguida, esse processo leva a um excesso de mediadores inflamatórios (fator de crescimento transformador beta [TGF-ß], sistema renina aldosterona e fator do crescimento semelhante à insulina-1 [IGF-1]) e aumento na ativação das rotas de alongamento que, por sua vez, aumenta a produção de proteoglicanos e de metaloproteinases matriciais (MPMs). Esse ambiente inflamatório aumenta ainda mais a degradação tecidual e resulta no enfraquecimento progressivo da parede aórtica e na subsequente dilatação da aorta. Sob o ponto de vista histológico o padrão de necrose cística medial e de perda de fibras elásticas geralmente é considerado como desfechos finais desta rota bioquímica. Epidemiologia ❖ Sobrevida ➢ 2 anos → 24% Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 13 ➢ 5 anos → 19% ❖ Mortalidade cirúrgica → 8,9% ❖ Sobrevida após cirurgia → 5 anos de 60% Classificação de Crawford ❖ Tipo I → Envolvem toda a aorta torácica descendente, desde a origem da artéria subclávia esquerda até a aorta supracelíaca, ou até a origem das artérias viscerais. ❖ Tipo II → Originam-se desde a altura da artéria subclávia esquerda, acometendo toda a aorta torácica descendente e a aorta abdominal até sua bifurcação. ❖ Tipo III → Comprometem a aorta descendente até abaixo das renais ❖ Tipo IV → Acometem toda a aorta abdominal, do hiato diafragmático até a bifurcação aorto-ilíaca ❖ Tipo V → Do 1/3 médio da aorta descendente, ao nível do sexto espaço intercostal até as artérias renais. Fisiopatologia Indicação ❖ Forma ➢ Saculares → Corrigidos sistematicamente ❖ Diâmetro >5cm ❖ Velocidade de crescimento > 0,5cm em 6 meses ❖ Doenças associadas ❖ Complicações ➢ Hematomas ➢ Embolia periférica ➢ Isquemia visceral Tratamento ❖ Cirúrgico Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 11: ANEURISMA DE AORTA 14 ➢ Toracolaparotomia →Tipos I, II, III ➢ Laparotomia → Tipo IV ❖ Endovascular Complicações perioperatórias ❖ Choque ao desclampeamento ➢ Diminuição da pós-carga cardíaca ➢ Depressão miocárdica ➢ Redução da pré-carga ➢ Hipovolemia. ❖ Sangramento difuso ❖ Lesões iatrogênicas ❖ Isquemia →Tromobo-embolização distal ❖ Paraplegia flácida ➢ Quando a irrigação medular é dada pelas artérias lombares ➢ Complicação rara nos aneurismas infrarrenais, mas que ocorre ❖ Atelectasias ❖ Íleo paralí0co prolongado ❖ Isquemia do cólon esquerdo ❖ Infarto agudo do miocárdio ❖ Insuficiência respiratória ❖ Insuficiência renal ➢ Isquemia renal ➢ Tempo de isquemia > 45 minutos dobra a incidência de disfunção renal ➢ Diálise → 20% ➢ Anúria → Oclusão de artérias renais; reintervenção cirúrgica Obs. Referências bibliográficas Aula de Dra. Lina Codes (01/11/2021) Barros, F. S., Pontes, S. M., Taylor, M. A. S., Roelke, L. H., Sandri, J. L., de Melo Jacques, C., ... & Moreira, I. G. (2005). Rastreamento do aneurisma da aorta abdominal na população da cidade de Vitória (ES). Jornal Vascular Brasileiro, 4(1), 59-65. Albuquerque, L. C., Palma, J. H., Braile, D., Gomes, W., & Guimarães, J. I. (2004). Diretrizes para a cirurgia das doenças da aorta. Arq Bras Cardiol, 82(Supl V), 35-50. Becker, M., Bonamigo, T. P., & Faccini, F. P. (2020). Avaliação da mortalidade cirúrgica em aneurismas infra-renais da aorta abdominal. Jornal Vascular Brasileiro, 1(1), 15-21.
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