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TUTORIA 3 - Icterícia Neonatal ● METABOLISMO DAS BILIRRUBINAS A bilirrubina é um pigmento esverdeado, presente na bile, que será armazenado na vesícula biliar e liberada no intestino. Bile- água, eletrólitos, colesterol, bilirrubina, sais biliares, fosfolipídeos. Cerca de 70% a 80% da bilirrubina são provenientes da destruição das hemácias velhas, 15% de fontes hepáticas e o restante é proveniente da destruição de hemácias defeituosas na medula óssea e nos citocromos 1- Inicia-se no baço com a degradação da porção heme da hemoglobina → forma a biliverdina. 2- A enzima biliverdina redutase, transforma a biliverdina em bilirrubina indireta (BI), ou Não-Conjugada. - A BI é lipossolúvel e liga-se à albumina para circular no sangue - Vai até o fígado pela circulação porta 3- No fígado, penetra nos hepatócitos, desliga-se da albumina e a BI sofre a ação da enzima glucoronil transferase → Bilirrubina direta - A BD é conjugada, hidrossolúvel, logo não precisa se ligar à albumina. MACETE → B. Indireta (a que saiu do baço e ainda não chegou no �ígado) → B. Direta (a que se formou no �ígado e vai cair DIRETAmente no intestino). 4- No intestino, pode ser excretada nas fezes, ou ter dois destinos diferentes: 1. Reconvertida em BI pela ação das betagluronidases → reabsorvida e retorna ao fígado (circulação entero-hepática) 2. Convertida em Urobilinogênio pelas bactérias → reabsorvida e secretada (urina e fezes). 2-Compreender a epidemiologia e os fatores de risco para icterícia neonatal. 2.1- Epidemio Observamos icterícia em cerca de 60% dos re- cém-nascidos a termo e em 80% dos recém- nascidos prematuros em sua primeira semana de vida. 2.2- Fatores de risco 3- Entender definição e classificação da icterícia neonatal (patológica e fisiológica). 3.1- Definição de icterícia neonatal coloração amarelada de pele e mucosas, provocada por um aumento da fração indireta ou lipossolúvel da bilirrubina, geralmente quando > 7 mg/dl ou da sua fração direta, menos frequentemente. A icterícia decorrente do aumento da fração indireta de bilirrubina confere à pele uma tonalidade amarelo-brilhante ou mesmo alaranjada. Nas https://pt.wikipedia.org/wiki/Hem%C3%A1cias https://pt.wikipedia.org/wiki/Hem%C3%A1cias https://pt.wikipedia.org/wiki/Medula_%C3%B3ssea https://pt.wikipedia.org/wiki/Citocromo condições associadas à hiperbilirrubinemia direta, esta confere à pele uma cor amarelo-esverdeada. No entanto essas diferenças são percebidas somente com níveis muito elevados do pigmento. A grande complicação desta impregnação não acontece a nível cutâneo, mas sim encefálico. Em níveis muito elevados, a bilirrubina indireta pode cruzar a barreira hematoencefálica produzindo efeito tóxico sobre os neurônios, levando com isso ao desenvolvimento de um quadro de encefalopatia bilirrubínica ou kernicterus. A hiperbilirrubinemia à custa da fração direta, quando presente nas primeiras horas ou semanas de vida, indica uma desordem subjacente de extrema gravidade, como sepse neonatal, infecções congênitas (toxoplasmose, citome- galovirose, rubéola, sífilis, herpes, etc.), atresia biliar, fibrose cística, galactosemia, cistos do colédoco e deficiência de alfa-1-antitripsina. 3.2- Classificação em icterícia fisiológica, patológica e associada ao aleitamento materno ICTERÍCIA FISIOLÓGICA Normalmente, o nível de bilirrubina indireta no soro do cordão umbilical encontra-se entre 1 e 3 mg/dl e eleva-se a partir de então, che- gando no segundo dia ao valor de 5 mg/dl, o que determina a icterícia. Cerca de 60% dos RN a termo e 80% dos RN pré-termo tornam-se ictéricos na primeira semana de vida. Acredita-se que a icterícia fisiológica é reflexo de: ● maior produção de bilirrubina pela degradação de hemácias fetais, que possuem uma sobrevida mais curta que as hemácias dos adultos, ● limitação transitória da captação e da conjugação hepáticas ● exacerbação da circulação entero-hepática. O valor de bilirrubina na icterícia fisiológica atinge um pico de 5-6 mg/dl por volta do segun- do ao quarto dia, podendo alcançar 12 mg/dl, caindo a seguir para nível inferior a 2 mg/dl entre o quinto e sétimo dia de vida. Como nos prematuros a captação e a conjugação são mais lentas, eles tornam-se mais ictéricos (pico de bilirrubina indireta entre o quarto e o sétimo dia de vida, podendo alcançar valores de 15 mg/dl) e permanecem mais tempo ictéricos (até o meio da segunda semana de vida). No entanto, observamos alguns RN a termo (6-7%) com teores acima de 12,9 mg/dl e alguns neonatos apresentando cifras superiores a 15 mg/dl (2 a 3%). Os fatores de risco associados a uma icterícia fisiológica mais intensa incluem: ● filhos de mãe diabética, ● raça oriental, ● prematuridade, ● altitude, ● policitemia, ● drogas (vit. K3), ● eliminação tardia de mecônio ● história familiar de irmão que teve icterícia fisiológica. ICTERÍCIA ASSOCIADA AO LEITE MATERNO Existem duas formas de icterícia associada ao leite materno: uma forma precoce (também conhecida como icterícia do aleitamento ma- terno) e uma forma tardia (ou icterícia do lei- te materno). Forma Precoce (Icterícia do Aleitamento Ma- terno). Sabe-se que os RN amamentados ex- clusivamente no seio materno são fisiologica- mente mais ictéricos do que os alimentados com fórmulas nos primeiros dias de vida. Isso se deve a um aumento na circulação entero- -hepática, por uma ingesta de leite insuficiente relacionada às dificuldades do início da ama- mentação e, consequentemente, pela menor quantidade de eliminação do mecônio. Esta forma de icterícia não patológica surge entre o 2o e o 3o dia de vida e está associada a sinais de dificuldades alimentares, como pega/posi- cionamento incorretos, perda de peso acen- tuada nos primeiros dias de vida. No final da primeira semana, RN alimentados exclusivamente ao seio materno podem apresentar nível elevado de bilirrubina. Forma Tardia (Icterícia do Leite Materno). Tem um início mais tardio, e afeta 2-4% dos RN a termo. Ao redor do 4o dia, ao invés de haver a queda esperada nos níveis de bilirrubina como manda a história natural da icterícia fisiológica, sua concentração continua a subir até o 14o dia de vida, podendo alcançar cifras de 20-30 mg/dl! Se o aleitamento é continuado, estes níveis estabilizam e caem lentamente, atingindo níveis normais em 4 a 12 semanas. Se o aleitamento for suspenso, os níveis caem rapidamente em 48 horas. Estes bebês apresentam-se saudáveis, com bom ganho ponderal, não apresentam qualquer alteração de função hepática ou de hemólise. Quanto ao seu mecanismo patogênico, não se conhece muito, mas parece existir fatores no leite materno que interferem com o metabolismo da bilirrubina. Além disso, quando comparados com bebês alimentados com fórmula infantil, verificamos que os amamentados ingerem be- taglicuronidase presente no leite (enzima que converte a BD em BI a nível intestinal, facili- tando a sua reabsorção), têm menor coloniza- ção bacteriana intestinal (o que diminui a con- versão da BD em estercobilina) e excretam menos fezes. - Esse tipo de icterícia já foi relacionado à encefalopatia bilirrubínica, embora isso ocorra raramente. Quando houver dúvida do diagnóstico ou o nível de bilirrubina for muito elevado, pode-se realizar uma prova te- rapêutica: ● suspende-se o aleitamento por 24 horas, deixando o RN com complemento. A bilirrubinemia cai rapidamente, podendo ocorrer discreto aumento à reintrodução do aleitamento, porém não atingindo os valores anteriormente encontrados. ICTERÍCIA PATOLÓGICA Em neonatos com idade gestacional igual ou acima de 35 semanas de vida, devemos consi- derar causas patológicas para a icterícia na presença das características abaixo, e com isso, solicitar exames complementares: ● Icterícia que surge nas primeiras 24 horas dvida; ● Icterícia além da parte média abdominal; ● Icterícia associada a sinais clínicos de ane- mia, sepse, dificuldade respiratória, hepatoes- plenomegalia ou qualquer outro sinal de doença sistêmica; ● Níveis de bilirrubina que ascendem rapida- mentenas curvas de percentil da zona de baixo risco, para as zonas de risco intermediário e alto risco; ● Níveis de bilirrubina que ascendem em uma velocidade superior a 0,5 mg/kg/h; ● Níveis de bilirrubina que não diminuem com a fototerapia; ● Níveis elevados de bilirrubina direta; ● Icterícia que persiste além de três semanas de vida. Na presença destas características, deve-se in- vestigar causas patológicas para hiperbilirru- binemia, e assim, solicitar exames comple- mentares, como: - Bilirrubina sérica e frações. - Tipo sanguíneo e fator Rh da mãe e neonato. - Teste de Coombs. - Eritrograma e contagem de reticulócitos. - Análise da lâmina de sangue periférico. - Outros: TSH/T4, pesquisa de galactosemia, pesquisa de deficiência de glicose 6-fosfato-desidrogenase. São causas de icterícia patológica por hiperbi- lirrubinemia INDIRETA: Teste de Coombs positivo: • Isoimunização ABO • Isoimunização Rh • Isoimunização por outros grupos sanguíneos Teste de Coombs negativo: • Hemoglobina normal/baixa Reticulocitose − Esferocitose − Eliptocitose − Deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase − Deficiência de piruvato quinase Reticulócitos normais − Asfixia neonatal − Sangramentos/equimoses − Síndrome de Gilbert − Síndrome de Crigler-Najjar − Hipotireoidismo • Policitemia Atraso no clampeamento de cordão Transfusão feto-fetal PIG São causas de icterícia patológica por hiperbi- lirrubinemia DIRETA: ● Causas Intra-Hepáticas (Hepatite Neonatal) - Infecciosas: sepse neonatal; TORCHS. - Doenças metabólicas: fibrose cística, galactosemia, deficiência de alfa-1-antitripsina, tirosinemia. - Síndrome de Aagenaes: colestase com linfedema de extremidades por provável hipoplasia dos vasos linfáticos de fígado e extremidades. - Síndrome de Zellweger (cérebro-hepatorenal): fácies anormal, hipotonia, hepatomegalia, cistos renais, calcificações patelares, e anormalidades oculares por ausência de peroxissomos. - Hemocromatose neonatal: doença genética que determina deposição de ferro em fígado, coração e órgão endócrinos, sem au- mento dos níveis séricos ou no sistema reticuloendotelial. Cursa com hiperbilirrubi- nemia, hipoprotrombinemia, hipoglicemia e hipoalbulminemia. - Doenças do transporte e conjugação de áci dos biliares: doença de Byler. - Doenças da embriogênese: • Síndrome de Alagile: rarefação dos ductos biliares, fácies típica (fronte ampla, hipertelorismo ocular, nariz reto e longo e hipoplasia de mandíbula), anomalias oculares (embriotoxon posterior), anormalidades cardiovasculares (estenose pulmonar, tetralogia de Fallot), defeitos vertebrais (vértebras em borboleta) e nefropatia tubulointersticial. • Doença de Caroli: cistos dos ductos biliares intra-hepáticos. Causas Extra-Hepáticas - Atresia de Vias Biliares. - Cisto de Colédoco. 4- Estudar a etiologia, complicações e quadro clínico da icterícia neonatal. 4.1- Etiologia O metabolismo da bilirrubina em um RN está em transição do estágio fetal, durante o qual a placenta é a principal via de eliminação da bi- lirrubina lipossolúvel, para o estágio adulto, no qual a forma conjugada (direta) hidrossolúvel é excretada pelos hepatócitos no sistema biliar e depois no trato gastrointestinal. A bilirrubina é um produto da degradação do grupamento heme, que deriva da hemoglobina (75%) e de outras proteínas (25%), como mio- globina, citocromo, catalases e peroxidases. O heme é convertido no sistema reticuloendotelial em basicamente duas reações químicas: a pri- meira mediada pela hemeoxigenase que trans- forma a hemoglobina em biliverdina; e a se- gunda é catalizada pela biliverdina redutase, produzindo a bilirrubina. O ferro liberado desta reação é reaproveitado pelo organismo e armazenado em baço e fígado. A bilirrubina indireta (lipossolúvel) então parte do sistema reticuloendotelial, liga-se a albumina plasmá- tica para poder ser carreada até o fígado; um grama de albumina tem capacidade de ligação de 8,5 mg de bilirrubina; chegando próximo à membrana dos hepatócitos, difunde-se através do meio lipídico, e no citoplasma volta a ligar- se a uma proteína – ligandina – cuja função é carreá-la até o retículo endoplasmático liso; dentro desta organela a BI é convertida à bilir- rubina direta com auxílio da enzima uridilglu- coroniltransferase. As formas de BD mono ou diglicuronídeo estão aptas a serem liberadas na bile. Esses novos pigmentos são hidrossolúveis e suficientemente polares para serem excreta- dos pela bile ou filtrados pelos rins (bilirrubina direta). Com a bile, a bilirrubina direta chega ao intestino delgado onde, no adulto e na crian- ça maior, será reduzida a estercobilina pela presença de bactérias da flora local e uma pe- quena quantidade será desconjugada a bilirru- bina indireta (pela enzima betaglicuronidase) e reabsorvida pela circulação entero-hepática. No RN, a flora intestinal está ausente até mais ou menos o final da primeira semana de vida, com estercobilina praticamente indetectável. Além disso, nessa fase da vida, a betaglicuro- nidase está presente de forma ativa, aumentan- do a quantidade de bilirrubina indireta que será reabsorvida na circulação entero-hepáti- ca. → Sabe-se que 1 g de hemoglobina produz cerca de 34 mg de bilirrubina. No período neonatal existem fatores bioquími- cos que promovem uma maior elevação da bilirrubina indireta, explicando com isso a elevada incidência desta afecção neste período de vida. 1.Aumento da carga de bilirrubina a ser meta- bolizada pelo fígado: as hemácias fetais apresentam menor sobrevida e, além disso, o hematócrito ao nascimento é alto (50-63%). Há maior risco de hemólise e infecção. 2.Diminuição da captação e conjugação he- páticas, por imaturidade dos sistemas enzi- máticos. A enzima glicuroniltransferase pode ter sua ação e potência reduzidas por fatores como hipóxia, infecção, hipotireoi- dismo e hipotermia. 3.Competição ou bloqueio da enzima glicuro- niltransferase por substâncias que necessitem de conjugação com o ácido glicurônico para excreção e drogas. 4.Presença de defeitos genéticos que acarretem ausência de glicuronil transferase ou sua di- minuição e defeitos de captação da bilirrubi- na pelo hepatócito. 5.Exacerbação da circulação entero-hepática por jejum e demora na eliminação do mecônio. Além disso, o período neonatal é particular- mente vulnerável à lesão neurotóxica mediada pela BI em decorrência de fatores como: ● Hipoproteinemia, levando a uma menor concentração de albumina e, portanto, maior teor de bilirrubina livre. Devemos lembrar que a bilirrubina indireta encontra-se na sua maior parte ligada à albumina, e que, sob condições normais, somente a fração livre atravessa a barreira hematoencefálica. ● Deslocamento, por uso de determinadas drogas, da bilirrubina de seus sítios de ligação na albumina. Poderíamos citar drogas como as sulfas e a ceftriaxona (cefalosporina de terceira geração). ● Deslocamento da bilirrubina de seus sítios de ligação na albumina, na presença de determinadas condições como acidose, aumento dos ácidos graxos livres no soro (secundário a hipoglicemia e hipotermia). ● Aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica por imaturidade (prematuros), asfixia e infecção. 4.2- Quadro clínico A época de surgimento da icterícia vai depen- der do distúrbio patológico que a originou. Mas também devemos lembrar que o aumento do nível de bilirrubina pode ser um evento fisio- lógico ou decorrente de amamentação. Existe uma regra (não muito precisa, mas bas- tante difundida na prática clínica pediátrica) que relaciona os níveis de bilirrubina com a topogra- fia da icterícia no RN (zonas de Kramer). Sabemos que a progressão da icterícia se faz de maneira “craniocaudal”, com nível de 5 mg/dl de- terminando icterícia notada apenas na face. Valor de 15 mg/dl está associado à tonalidade caracte- rística alcançando a parte média do abdome, enquanto um teor de 20 mg/dl está associado com coloração amarelada das mãos e pés e, ob- viamente, de todo o corpo. Mas esta regra é apenas uma estimativa gros- seira,e devemos saber que o exame físico não é um método preciso e confiável para determi- nação do nível sérico de bilirrubina. Portanto, mesmo os bebês a termo, assintomáticos e de baixo risco deverão colher sangue para deter- minação sérica dos níveis de bilirrubina. Os casos de icterícia neonatal que sugerem origem não fisiológica deverão ser avaliados através de exames laboratoriais complementares, como por exemplo: hemograma completo com con- tagem de reticulócitos, tipagem sanguínea, teste de Coombs, esfregaço de sangue perifé- rico e avaliação para deficiência de glicose-6-fosfato. As principais indicações para cole- ta de testes bioquímicos são: ● Icterícia de início nas primeiras 24 horas de vida; ● Icterícia em recém-nascido aparentemente doente; ● Sinais de hemólise: palidez e hepatoesplenomegalia. Os exames revelarão anemia, reticulocitose e aumento progressivo da bilirrubina (> 0,5 mg/dl/h); ● Icterícia evidente até a metade do abdome; ● Incompatibilidade Rh ou ABO; ● Irmão que tenha necessitado de fototerapia; ● Céfalo-hematoma ou sangramento significativo. O kernicterus ou encefalopatia bilirrubíni- ca, uma síndrome neurológica decorrente da neurotoxicidade da bilirrubina para o sistema nervoso central, raramente ocorre no primeiro dia de icterícia e seus sintomas/sinais clínicos serão vistos adiante. 4.3- Complicações 5- Estudar o Diagnóstico, manejo e tratamento da icterícia neonatal. 5.1- Diagnóstico 5.2- Manejo e Tratamento
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