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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 Hemorragia DISTÚRBIOS HEMORRÁGICOS: - Ocorrem inevitavelmente devido a defeitos primários ou secundários das paredes dos vasos, das plaquetas ou dos fatores da coagulação, todos os quais devem funcionar de maneira apropriada para garantir a hemostasia - As hemorragias maciça são associadas à ruptura de grandes vasos como a aorta ou do coração; esses eventos catastróficos superam os mecanismos hemostáticos e são, geralmente, fatais As doenças associadas a hemorragias maciças e súbitas incluem a dissecção aórtica no contexto da síndrome de Marfan ou os aneurismas da aorta abdominal e o infarto do miocárdio complicados pela ruptura da aorta ou do coração, respectivamente - Na outra extremidade do espectro, estão os defeitos sutis na coagulação que são evidenciados apenas sob condições de estresse hemostático, como cirurgias, parturição, procedimentos odontológicos, menstruação ou traumas - Entre as causas mais comuns de tendências a hemorragias leves estão os defeitos hereditários do fator de von Willebrand, o uso de aspirina, e uremia (insuficiência renal), sendo que essa última altera a função plaquetária por meio de mecanismos ainda incertos - Entre esses extremos, estão as deficiências dos fatores da coagulação (as hemofilias), que geralmente são hereditárias e levam a distúrbios hemorrágicos graves se não forem tratadas - A significância clínica da hemorragia depende do volume do sangramento, da velocidade com que ocorre e de sua localização - A perda rápida de até 20% do volume sanguíneo pode ter pouco impacto em adultos saudáveis; contudo, perdas maiores podem causar choque hemorrágico (hipovolêmico) - O sangramento que seria trivial nos tecidos subcutâneos pode levar a óbito se localizado no cérebro, pois o crânio é inflexível e a hemorragia intracraniana pode resultar em um aumento de pressão que compromete o suprimento sanguíneo ou causa uma herniação que comprime o tronco cerebral - Por fim, a perda sanguínea externa, recorrente ou crônica (p. ex., úlcera péptica ou sangramento menstrual), provoca uma perda de ferro e pode levar a uma anemia por deficiência de ferro. Em contrapartida, quando as hemácias são retidas (p. ex., hemorragia em cavidades corporais ou tecidos), o ferro é recuperado e reutilizado para a síntese de hemoglobina HEMORRAGIA: - É o distúrbio da circulação caracterizado pela saída de sangue do compartimento vascular ou das câmaras cardíacas para o meio externo, para o interstício ou para as cavidades pré-formadas - Podem ser classificadas inicialmente em interna ou externa - A extensão do sangramento na superfície corpórea ou na intimidade dos órgãos define a terminologia para a sua identificação e, em geral, o nome sugere o mecanismo envolvido na hemorragia HEMORRAGIAS PUNTIFORMES OU PETÉQUIAS: - São diminutas áreas hemorrágicas (até 3 mm de diâmetro), geralmente múltiplas - Na maioria das vezes, resultam de defeitos qualitativos ou quantitativos de plaquetas PÚRPURA: - É a lesão superficial um pouco maior que as petéquias, geralmente na pele, múltipla, plana ou discretamente elevada, podendo atingir até 1 cm de diâmetro EQUIMOSE: - É a hemorragia que aparece como mancha azulada ou arroxeada, mais extensa do que a púrpura e que pode provocar aumento discreto de volume local - Equimoses são frequentes em traumatismos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 HEMATOMA: - Consiste em hemorragia em que o sangue se acumula formando uma tumoração - Como a equimose, hematoma é frequente após ação de agentes mecânicos Melena eliminação de sangue digerido pelo ânus, que confere cor escura às fezes Hematoquezia eliminação se sangue não digerido pelo ânus, de cor vermelha Otorragia perda de sangue pelo meato acústico externo Hematúria eliminação de sangue com a urina, podendo ser micro ou macroscópica Metrorragia perda de sangue originado do útero fora da menstruação, se há perda excessiva de sangue na menstruação, tem- se a menorragia ou hipermenorreia; se a frequência e/ou o tempo de duração da menstruação aumenta, trata-se de polimenorreia ETIOPATOGÊNESE: - As hemorragias podem ser causadas pelos seguintes mecanismos: 1. Alteração na integridade da parede vascular 2. Alterações dos mecanismos de coagulação sanguínea, incluindo fatores plasmáticos e teciduais 3. Alterações qualitativas ou quantitativas das plaquetas 4. Mecanismos complexos e ainda mal definidos HEMORRAGIA POR LESÃO DA PAREDE VASCULAR: - Sangramento por comprometimento da parede do vaso ocorre por ruptura ou por diapedese - A causa mais comum de hemorragia por lesão da parede vascular é traumatismo mecânico que provoca ruptura do vaso (hemorragia por rexe) - De acordo com a sua intensidade, o agente mecânico pode ser o fator isolado para a hemorragia, mas em muitos casos está associado a defeitos na resistência vascular ou na coagulação do sangue - Nos casos de fragilidade da parede vascular, traumatismos mecânicos mínimos podem romper os vasos, como acontece na ruptura de aneurismas arteriais congênitos ou adquiridos durante elevações da pressão arterial sistêmica - Lesões vasculares de pequenas artérias (arteriolosclerose) associadas à hipertensão arterial sistêmica resultam nos chamados microaneurismas cerebrais (aneurismas de Charcot-Bouchard), que muitas vezes se rompem e causam hemorragia cerebral - Traumatismo mecânico (p. ex., bolo alimentar ou fecal) também pode estar associado a ruptura de veias varicosas no esôfago e em hemorroidas - Gengivorragia durante a escovação de dentes pode ser o primeiro sinal de uma trombocitopenia; neste caso, traumatismo pequeno, habitual, é capaz de provocar hemorragia devido à associação com a redução do número de plaquetas - Em vasculites, a púrpura é geralmente palpável, e o sangramento pode ser atribuído à destruição segmentar da parede vascular pelo exsudato inflamatório - Inflamações parenquimatosas com supuração (necrose liquefativa de inflamação purulenta), granulomatosas ou necrosantes (p. ex., necrose caseosa na tuberculose) podem corroer e perfurar a parede vascular (hemorragia é frequente em cavernas da tuberculose pulmonar) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 - Mecanismo semelhante acontece na luz de órgãos ocos cujas mucosas podem sofrer ulcerações, como na úlcera péptica do esôfago, do estômago ou do duodeno, em tumores do trato digestivo e em ulcerações do sistema urinário por cálculos, tumores ou inflamações ulcerativas; nesses casos, a necrose que provoca úlceras atinge também a parede de vasos e causa seu rompimento - Hemorragia por diapedese é a que ocorre pela saída de sangue através de espaços entre as células endoteliais por causa de: (1) Alteração local nas junções intercelulares (diapedese paracelular) (2) Formação de poros nas células endoteliais (diapedese transcelular), possivelmente em locais com citoplasma mais delgado - Hemorragia por diapedese ocorre em vênulas ou capilares quando existe hiperemia passiva e resulta de aumento da pressão intravascular HEMORRAGIA POR ALTERAÇÃO NA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA: - Manifesta-se como hemorragia espontânea - Quase sempre, é provocada por traumatismos pequenos, sendo o sangramento desproporcional à intensidade da lesão - Em mulheres, podem manifestar-se espontaneamente durante os períodos menstruais (menorragias) - As principais hemorragias por alterações nos mecanismos da coagulação sanguínea estão relacionadas com: (1) deficiência congênita ou adquirida de fatores plasmáticos da coagulação (2) excesso de anticoagulantes, endógenos ou exógenos As deficiências congênitas de fatores da coagulação mais importantes são a hemofiliaA (deficiência de fator VIII), a hemofilia B ou doença de Christmas (deficiência de fator IX) e a doença de von Willebrand (deficiência do fator von Willebrand), esta a mais frequente entre as hemorragias hereditárias - Tais hemorragias manifestam-se em geral por sangramento frente a pequenos traumatismos - Exemplos clássicos são pequenos cortes que sangram por muito tempo, sangramento menstrual prolongado, hemorragia excessiva durante extrações dentárias ou formação de hematoma desproporcional a um traumatismo mecânico - Nesses casos, os testes para avaliar a hemostasia que medem a via plasmática da coagulação estão alterados (tempo de tromboplastina parcial), embora o tempo de sangramento possa ser normal. Isso se explica porque o tampão plaquetário se forma e promove hemostasia em tempo normal no teste de sangramento. No entanto, apesar da formação do tampão plaquetário, a hemostasia está comprometida, porque o tampão não é estabilizado pela formação da fibrina, que depende dos fatores plasmáticos da coagulação - Deficiências adquiridas de fatores de coagulação são mais frequentes do que as congênitas e estão associadas a doenças carenciais (deficiência de vitamina K), a doenças hepáticas (deficiência na síntese dos fatores II, VII, IX e X e das proteínas C e S) ou a depleção desses fatores quando existe ativação sistêmica da coagulação (coagulopatia de consumo) - A vitamina K é cofator na síntese hepática de fatores da coagulação. Diminuição do aporte de vitamina K, associada a deficiência de outras vitaminas lipossolúveis, está relacionada com problemas em sua absorção - Coagulopatia de consumo é o quadro hemorrágico associado à redução dos fatores da coagulação consumidos em excesso. O exemplo mais conhecido é o da coagulação intravascular disseminada (CID), pois a ativação sistêmica da coagulação sanguínea leva ao consumo de seus fatores. Nesses casos, há redução do fibrinogênio circulante e aumento da quantidade de produtos de degradação de fibrina na circulação, estes últimos potentes inibidores de fatores da coagulação. A CID aumenta a atividade fibrinolítica que atua sobre a fibrina recém-formada e sobre o fibrinogênio, razão pela qual os seus produtos de degradação aumentam na circulação - No grupo de hemorragias por excesso de anticoagulantes endógenos ou exógenos estão incluídas as hemorragias por ação de inibidores dos fatores da coagulação, por fibrinólise exagerada resultante de ativação excessiva do NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 plasminogênio ou por inibição de inativadores naturais deste - Hemorragias por ação de anticoagulantes exógenos são comuns em pacientes em tratamento com anticoagulante (heparinização) ou em intoxicações com substâncias com ação anticoagulante (p. ex., warfarin, usado como medicamento ou raticida) HEMORRAGIA POR ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS OU QUALITATIVAS DE PLAQUETAS: - Redução do número (trombocitopenia) e alterações funcionais de plaquetas (trombocitopatia) acompanham-se frequentemente de hemorragia, especialmente como petéquias ou púrpuras - O tempo de sangramento começa a ficar alterado quando as plaquetas caem abaixo de 100.000 por mm3 de sangue, embora hemorragias espontâneas tornem-se evidentes quando o número de plaquetas é inferior a 20.000/mm3 ; hemorragias graves acontecem quando esse número está abaixo de 10.000 plaquetas/mm3 - Causas mais comuns de trombocitopenia são: Aplasia e infiltração neoplásica da medula óssea Síndrome mielodisplásica Hiperesplenismo Medicamentos (α-metildopa, sulfadiazínicos) e autoanticorpos, estes especialmente na púrpura trombocitopênica idiopática - Na trombocitopenia causada por medicamentos, a substância fica adsorvida à plaqueta e induz a síntese de anticorpos, os quais causam lise plaquetária por ativação do complemento - O melhor exemplo é o que acontece com fármacos que interferem na agregação plaquetária. Ácido acetilsalicílico e AINEs têm em comum o fato de inibirem a ciclo-oxigenase (COX), diminuindo a produção de tromboxano, o que reduz a agregação e a ativação de plaquetas. Os usuários desses medicamentos apresentam frequentemente micro hemorragias (hematúria microscópica, sangue oculto nas fezes), mas podem também apresentar episódios mais graves de hemorragia digestiva. A maior gravidade da hemorragia digestiva provocada por esses medicamentos deve-se à redução também na síntese de prostaglandina E2, o que reduz a ação protetora desses autacoides na mucosa gástrica - A ativação e a agregação plaquetárias podem ser inibidas também por bloqueadores de receptores de ADP plaquetários (p. ex., clopidogrel, prasugrel), utilizados na prevenção de trombose arterial. Por ter ação independente da via do tromboxano, tais fármacos atuam de forma sinérgica quando combinados com o ácido acetilsalicílico - Disfunção plaquetária é também observada na uremia, na cirrose hepática e em pacientes submetidos a circulação extracorpórea. Nessas condições, o número de plaquetas circulantes é pouco reduzido, mas o tempo de sangramento é alterado por causa de defeitos mal conhecidos nos mecanismos de ativação de plaquetas - Causa menos frequente de disfunção plaquetária é a adsorção de substâncias sobre as plaquetas, como ocorre em algumas paraproteinemias e após o uso de penicilina - Trombocitopatias congênitas são raras HEMORRAGIA POR MECANISMOS COMPLEXOS: - A dengue hemorrágica (febre hemorrágica da dengue) pode ser muito grave e levar ao estado de choque - Os mecanismos da hemorragia e do choque na dengue são complexos e ainda mal esclarecidos - Além da trombocitopenia que acompanha a doença, existem alterações funcionais na parede vascular induzidas por anticorpos contra antígenos do vírus que dão reação cruzada com células endoteliais - A disfunção endotelial na dengue é responsável não só pela fuga de plasma como também por fenômenos hemorrágicos PRINCÍPIOS GERAIS RELACIONADOS COM HEMORRAGIAS ANORMAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS: NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 DEFEITOS DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA (DEFEITOS PLAQUETÁRIOS OU DOENÇA DE VON WILLEBRAND): - Se apresentam como pequenos sangramentos na pele ou nas membranas mucosas - Essas hemorragias tipicamente assumem a forma de petéquias, hemorragias diminutas (1 a 2 mm), ou púrpuras, que são um pouco maiores (>3 mm) que as petéquias - Acredita-se que os capilares das mucosas e da pele sejam particularmente propensos a rupturas que se seguem a traumas discretos e que, sob circunstâncias normais, as plaquetas vedem esses defeitos quase que imediatamente - Os sangramentos das mucosas que estão associados aos defeitos na hemostasia primária também podem tomar a forma de epistaxe (sangramento pelo nariz), hemorragias GI ou menstruação excessiva (menorragia) - Uma complicação temida decorrente da contagem plaquetária muito baixa (trombocitopenia) é a hemorragia intracerebral, que pode ser fatal DEFEITOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA (DEFEITOS DOS FATORES DA COAGULAÇÃO) - Estão geralmente presentes como sangramentos nos tecidos das partes moles, como músculos ou articulações - Hemorragia nas articulações (hemartrose) consequente a um trauma mínimo é particularmente característica da hemofilia - Não se sabe porque defeitos graves na hemostasia secundária se apresentam com esse padrão peculiar de hemorragia - Assim como nos defeitos plaquetários graves, a hemorragia intracraniana, às vezes fatal, também pode ocorrer DEFEITOS GENERALIZADOS ENVOLVENDO PEQUENOS VASOS: - Se apresentam como “púrpura palpável” e equimoses - Equimoses (muitas vezes chamadas simplesmente de manchas roxas) são hemorragias com tamanho entre 1 e 2 cm - Tanto na púrpura quanto na equimose, o volume de sangueextravasado é suficiente para criar uma massa palpável de sangue, conhecida como hematoma - A púrpura e a equimose são particularmente características de distúrbios sistêmicos que rompem os vasos sanguíneos pequenos (p. ex., vasculites) ou que levam à fragilidade dos vasos sanguíneos (p. ex., amiloidose, escorbuto) CONSEQUÊNCIAS DA HEMORRAGIA: - As consequências são muito variadas, dependendo do volume de sangue perdido, do local do sangramento e da velocidade da perda - Perdas pequenas, mas contínuas, podem causar espoliação de ferro e, consequentemente, anemia - Sangramentos digestivos crônicos por úlceras benignas ou neoplasias manifestam-se por anemia geralmente hipocrômica - Perdas volumosas de sangue causam anemia aguda e, nos casos mais graves, choque hipovolêmico - Hemorragia nos ventrículos cerebrais ou hemorragia no tecido nervoso encefálico aumenta a pressão intracraniana e pode causar morte encefálica; pelo processo de reabsorção e reparo, hemorragia subaracnóidea pode levar a bloqueio da reabsorção liquórica e, consequentemente, hidrocefalia - Sangue no espaço subaracnóideo pode também induzir espasmos arteriais e causar isquemia do tecido nervoso - Hemorragia cerebral hipertensiva acomete frequentemente a cápsula interna e deixa sequelas motoras. Quando ocorre em centros nervosos vitais (p. ex., centro cardiorrespiratório), hemorragia mesmo pequena pode ser fatal. Quando súbito, sangramento no espaço NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 pericárdico (hemopericárdio) impede a movimentação cardíaca (tamponamento cardíaco) por compressão extrínseca do coração, podendo levar ao óbito - Hemorragia intraocular pode produzir cegueira por turvação do corpo vítreo, descolamento da retina ou glaucoma
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