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GESTAÇÕES NÃO PLANEJADAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS Cerca de metade das gestações no mundo não são planejadas (Secura et al., 2010). Gestações não planejadas estão associadas a complicações materno-fetais, como abortos inseguros, mortalidade materna e neonatal/infantil e também a riscos sociais. A redução do número de gravidezes não desejadas poderia evitar 60% das mortes maternas e 57% das mortes infantis. Gravidez não planejada pode terminar em aborto induzido clandestinamente, levando a complicações importantes até morte materna. DEFINIÇÃO DE PLANEJAMENTO FAMILIAR / CONTRACEPÇÃO É o conjunto dos métodos físicos ou químicos que visam evitar, de modo reversível e temporário, a fecundação de um óvulo por um espermatozoide, ou quando há fecundação, evitar que ocorra a nidação do ovo. (Houaiss e Villar, 2001) É a possibilidade do indivíduo ou casal de ter a oportunidade de escolha do número desejado de filhos, do momento que desejam tê-los e do espaçamento das gravidezes, utilizando para isso métodos contraceptivos. (OMS, 2012) CONCEITOS IMPORTANTES NA CONTRACEPÇÃO Eficácia: capacidade do método de proteger contra gravidez não desejada e não programada (taxa de falhas no decorrer de um ano). Segurança: é o potencial de o método contraceptivo causar riscos à saúde de quem o utiliza. Escolha do método: o principal critério para a escolha é a opção feita pelo paciente. Critérios de elegibilidade: indicam se a paciente pode ou não utilizar o método. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE Categoria 1: Uma condição para a qual não há restrição para o uso do método contraceptivo. Categoria 2: Uma condição em que as vantagens de usar o método geralmente superam os riscos teóricos ou comprovados. Categoria 3: Condição em que os riscos teóricos ou comprovados geralmente superam as vantagens de usar o método. Categoria 4: Uma condição que representa um risco de saúde inaceitável se o método contraceptivo for utilizado. Tem como objetivo fornecer orientação na assistência e na prestação de serviços envolvendo anticoncepcionais. Categoria 1 e 2: métodos podem ser utilizados. Categoria 3 e 4: métodos não devem ser usados. Condições especiais: • Idade maior que 35 anos e tabagismo. • Hipertensão arterial sistêmica. • Obesidade (IMC maior ou igual a 30). • Infecção pelo HIV e risco de aquisição. • Uso de antirretroviral. • Diabetes mellitus com e sem doença vascular periférica. • Enxaqueca. • Depressão. • Lúpus eritematoso sistêmico com e sem anticorpofosfolípide. CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS Efetividade: • Muito efetivo. • Efetivo. • Moderadamente efetivo. • Pouco efetivo. Composição: • Hormonais. • Não hormonais. Duração: • Definitivos: o Feminino: laqueadura. o Masculino: vasectomia. • Reversíveis: o Hormonais (regime cíclico, contínuo ou estendido): ▪ Progestagênio: oral, injetável, SIU, implante. ▪ Combinados (estrogênio + progestagênio): oral, injetável, adesivo, anel vaginal. o Não hormonais: ▪ Comportamentais: • Abstenção periódica. • Coito interrompido. ▪ DIU de cobre. ▪ Barreira: • Químicos: o Espermicidas. o Esponja vaginal. • Mecânicos: o Preservativo masculino (condom). o Preservativo feminino. o Diafragma. MÉTODOS COMPORTAMENTAIS Identificação do período fértil durante o qual os casais se abstêm das relações sexuais ou praticam coito interrompido, a fim de diminuir a chance de gravidez. Identificação do período fértil: • Observação da curva de temperatura corporal. • Características do muco cervical. • Cálculos matemáticos baseados na duração, fisiologia do ciclo menstrual e meia vida útil dos gametas. Ciclo de fertilidade feminino: Fase I: primeiro dia do sangramento menstrual até a alguns dias inférteis logo após a menstruação. Fase II: dura em média 12 dias, começando com os primeiros sinais de fertilidade até a alguns dias após a ovulação. Fase III: último terço do ciclo menstrual, período pós- ovulatório, momento de infertilidade. “O espermatozoide pode viver no trato genital por até 7 dias, significando que se ocorrer relação sexual desprotegida nos dias que antecedem a ovulação pode resultar numa gravidez inesperada”. • Calendário: o Dias padrão. o Ritmo. • Observação dos sinais de fertilidade: o Muco cervical. o Dois dias. o Temperatura basal. o Dosagem LH/estriol. • Coito interrompido. Método de Ogino-Knaus (ritmo, calendário ou tabelinha): Consiste no casal se abster do coito vaginal entre o primeiro e o último dia fértil. Ovulação ocorre 12 a 16 dias antes da menstruação. Regra para os ciclos regulares: • Primeiro dia fértil é calculado subtraindo-se 18 do número de dias de duração do ciclo. • Último dia do período fértil é calculado subtraindo-se 11 do número de dias de duração do ciclo. Método do Muco Cervical (Billings): Consiste no casal se abster do coito vaginal durante o período em que o muco cervical permaneça filante. Devido à estimulação estrogênica, o muco cervical se aproxima do período ovulatório abundante, aquoso, semelhante à clara de ovo, e filante. Temperatura basal: identifica a fase lútea do ciclo menstrual por aumento da temperatura basal. Avaliação: Verificar temperatura a partir do primeiro dia do ciclo, antes de qualquer atividade ou após 5 horas de repouso. Via oral por 5 min, via retal ou vaginal por 3 min. Verificar a ocorrência de um aumento de no mínimo 0,20C por 3 dias. Amenorréia lactacional: O método age dificultando a ovulação. A sucção frequente por parte do lactente envia impulsos nervosos ao hipotálamo, alterando a produção hormonal, o que leva à anovulação. Método Sintotérmico: O método combina os cálculos do calendário, da ascensão da temperatura basal na fase lútea e do monitoramento do muco cervical. São opções alternativas de planejamento familiar para as pacientes que motivadas por uma opção religiosa, sociocultural ou filosófica se interessam por um método mais “natural” de anticoncepção, independentemente das maiores taxas de falhas. MÉTODOS DE BARREIRA • Preservativo masculino. • Preservativo feminino. • Diafragma. • Espermicidas. • Esponjas. • Capuz cervical. Preservativo Masculino (camisinha): Sem lubrificantes Lubrificados com compostos hidrossolúveis (glicerina, propilenoglicol, parabenos) ou não hidrossolúveis (silicone). A lubrificação vaginal durante a penetração com “camisinha” diminui o risco de rotura por atrito quando usado lubrificantes hidrossolúveis à base de glicerina, porém quando usado lubrificantes oleosos (vaselina) podem provocar microrroturas. Orientações para a inserção: Deve ser colocado com o pênis ereto e seco, antes da penetração vaginal. Ao desenrolar o preservativo, face enrolada com a borda para cima, comprimindo o reservatório com os dedos, para evitar a entrada de ar, facilitando a rotura por trauma. Preservativo Feminino: Dispositivo que é inserido na vagina antes do coito com a finalidade de impedir que o pênis e o sêmen entrem em contato direto com a mucosa genital feminina. Orientações para inserção: O anel externo cobre a área ao redor da abertura da vagina, recobrindo a vulva. O anel interno deve ser comprimido e inserido completamente na vagina. Certificar-se de que o pênis não penetrou por fora do preservativo. Diafragma: Consiste em um capuz macio de borracha, com borda flexível, que cobre parte da parede vaginal anterior e do colo uterino. Orientações para inserção: Deve ser inserido antes da ejaculação vaginal e ser retirado após 6 horas. Coloque um pouco de geleia espermicida dentro diafragma. Não protege contra HIV, HPV, herpes genital e Trichomonas, porque não recobre a parede vaginal e a vulva. Espermicidas: São substâncias introduzidasna vagina antes da penetração (com no máximo 1 hora de antecedência da ejaculação vaginal). Funciona como método de barreira químico à ascensão do espermatozoide para a cavidade uterina. Pouco utilizados de forma isolada. Esponjas: • Não estão disponíveis no mercado brasileiro. • São dispositivos colocados no fundo da vagina. • Funciona como uma barreira cervical. Capuz Cervical: É um dispositivo menor que o diafragma, que recobre e adere o colo uterino, impedindo à ascensão dos espermatozoides. Pode permanecer até 48 ou 72 horas. MÉTODOS CIRÚRGICOS Esterilização Cirúrgica: I – Homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico. II – Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos. III – É proibida durante os períodos de parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores, e que ela não deve ser feita por meio de histerectomia e ooforectomia. Lei n0 9263, artigo 226 Constituição Federal (Brasil, 1996). Laqueadura tubária: Laparotômica: incisão transversal suprapúbica de 3 cm. Técnicas: Pomeroy, Parkland, Madllener, Uchida, Irving. Laparoscópica. Salpingectomia laparoscópica. Via vaginal. Via histeroscópica: Essure (não liberado pela Anvisa), dispositivo inserido nas tubas bilateralmente. Vasectomia: Consiste na secção e ligadura ou oclusão dos ductos deferentes. Pode ser realizada em ambiente ambulatorial com anestesia local. Não causa diminuição da libido, não interfere na atividade sexual ou ereção. Espermograma de controle 8 a 12 semanas pós- procedimento. MÉTODOS HORMONAIS DE CONTRACEPÇÃO (ASSOCIAÇÃO DE ESTROGÊNIO E PROGESTAGÊNIO) • Injetável. • Vaginal. • Transdérmico. • Oral. Injetável: Composição: I – 5mg de valerato de estradiol e 50 mg de enantato de noretisterona. II – 5mg de cipionato de estradiol e 25mg de acetato de medroxiprogesterona. Administração realizada a cada 30 dias. Anel Vaginal: Tamanho 54 a 58mm de diâmetro Formulação: etonogestrel 120 mcg e etinilestradiol 15 mcg por dia. Mantido por 3 semanas e após removido por 1 semana. Via trandérmica: Formulação: norelgestromina 150 mcg e etinilestradiol 20 mcg por dia. Aplicado uma vez por semana, seguido de uma semana livre de hormônios (em pele sadia, seca, sem pelos e limpa). Via oral (COCs): Regime: com pausa, de uso contínuo ou estendido Doses: Etinilestradiol 35, 30, 20 e 15 mcg ou estrógeno natural + 1 progestagênio: 1. Progestagênios de primeira geração: noretindrona, noretisterona. 2. Progestagênios de segunda geração: levonorgestrel. 3. Progestagênios de terceira geração: gestodeno, desogestrel, norgestimato. 4. Progestagênios sem classificação: drospirenona*, clomardinona* e ciproterona. Os COCs com estrogênio natural entram no grupo sem classificação. *Há autores que classificam os COCs contendo esses progestagênios, em quarta geração. Anticoncepcional hormonal combinado (COCs): Classificação dos progestagênios. Classificação pela dose de estrogênio: • Alta dose > 35 microgramas de etinilestradiol. • Baixa dose 35 <= 20 microgramas de etinilestradiol. • Ultra baixa dose 15 microgramas de etinilestradiol. ANTICONCEPCIONAL HORMONAL COMBINADO Classificação pela dose diária de hormônios: Monofásico: mesma dose diária de hormônios Bifásico: uma formulação no mercado à base de etinilestradiol e desogestrel com duas doses diferentes dos hormônios. Trifásico: três doses diferentes de hormônios ao longo de 21 dias. Multifásico: variação das doses hormonais ao longo de 26 dias em pílula com valerato de estradiol. Mecanismo de ação: Componente progestagênio: • Inibição do pico pré-ovulatório do hormônio luteinizante (LH). • Espessamento do muco cervical. • Efeito anti-proliferativo no endométrio. • Alteração da secreção e peristalse das trompas de Falópio. Componente estrogênico: • Inibição do pico do hormônio folículoestimulante (FSH). • Potencializa a ação do componente progestagênio. Efeitos adversos: Gerais: Efeitos estrogênicos: náuseas, vômitos, mastalgia, cefaleia, irritabilidade, edema, alteração da resposta sexual. Efeitos progestagênios: tontura, fadiga, aumento de apetite, acne e oleosidade da pele, alteração do padrão de sangramento, aumento de peso. Metabólicos: efeito pró-coagulante, redução da sensibilidade à insulina. O etinilestradiol aumenta a síntese hepática de angiotensinogênio com elevação da pressão arterial e aumento da síntese hepática de triglicérides. Benefícios não contraceptivo: • Regulação dos ciclos menstruais. • Melhora da dismenorreia. • Melhora da tensão pré-menstrual. • Melhora do volume da perda sanguínea. • Ajuda na redução dos cistos ovarianos. • Melhora da acne e oleosidade da pele. • Melhora da lubrificação vaginal. • Melhora da sexualidade (compostos com estradiol natural interferem menos no SHBG). • Menor risco de câncer de ovário e endométrio. Interação medicamentosa: Critérios de elegibilidade 3: Anticonvulsionantes (carbamazepina, fenitoína, barbitúricos, topiramato, lamotrigina, primidona, oxcarbazepina, rifampicina). Antibióticos, antifúngicos e antiparasitários não tem interação medicamentosa com os contraceptivos combinados hormonais. ANTICONCEPCIONAL HORMONAL SÓ DE PROGESTAGÊNIO Mecanismo de ação: • Inibição do pico préovulatório de LH. • Espessamento do muco cervical. • Diminuição da motilidade tubária. Regime: Oral: Pode ser usado em qualquer faixa etária No pós-parto em mulheres que não estejam amamentando e após 6 semanas para as que amamentam Em pacientes com contraindicações para uso de estrógeno: HAS, diabetes, doenças vasculares, lúpus eritematoso, cardiopatia, enxaqueca. Implante (68 mg de etonogestrel): Alta eficácia (taxas de falha 0,05%). Duração 3 anos. Inibição da ovulação e alteração no muco cervical. Inserido em membro superior não dominante. Pode ser usado no pós-parto, abortamento ou amamentação. Eventos adversos: alteração no padrão de sangramento (principal), cefaleia, ganho de peso, mastalgia, acne, mudança de humor. Sistema intrauterino com levonorgestrel: Pequeno dispositivo em forma de T que é inserido dentro do útero, contendo um reservatório de 52mg de levonorgestrel (DIU Mirena) ou um reservatório de 19,5mg (DIU Kyleena). Mecanismo de ação: atrofia endometrial, ação no muco cervical. Duração: 5 anos Indicações: da menarca à menopausa Contraindicações: câncer do colo uterino, endometrial e mama, mioma submucoso ou alguma malformação uterina, estenose cervical, doença inflamatória pélvica e infecção puerperal. Inserção: no período de sangramento Benefícios: redução do sangramento uterino, melhora da dismenorreia, redução da dor em mulheres com endometriose e adenomiose. Eventos adversos: alteração no padrão de sangramento, acne, mastalgia, cefaleia e alteração de humor. Injetável trimestral (acetato de medroxiprogesterona): Efeitos adversos: alterações no padrão de sangramento, ganho de peso, alteração de humor. Na adolescência não deve ser a primeira escolha. Está associado a pequena perda de massa óssea, principalmente quando usado por tempo prolongado (mais de 2 anos). Via intramuscular/subcutânea. Inibição da ovulação e efeito no muco cervical. Contraindicações: gravidez e câncer de mama. Situações especiais: • Pós gastroplastia. • Histórico prévio de trombose. • HAS. • Lupus. • Tabagismo. • Obesidade (risco de tromboembolismo de 2 a 4 vezes maior). CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA É definida como um método que oferece às mulheres umamaneira não arriscada de prevenir gravidez não planejada até 120 horas da relação sexual. Métodos: Método Yuzpe: 2doses com intervalo de 12 horas (etinilestradiol 100mcg + levonorgestrel 0,5mg), liberado no Brasil. Levonorgestrel: dose única (1,5 mg), liberado no Brasil. Acetato de ulipristal (30mg). Mifepristona (25 a 50mg). DIU de cobre. Podem ser usados até 120 horas, porém a eficácia é maior até 72 horas da relação sexual. Mecanismos de ação: Agem impedindo ou atrasando a ovulação DIU de cobre: induz resposta inflamatória crônica, causando efeito inibitório da implantação. Segurança e recomendações: Redução da eficácia quando usado com drogas indutoras de enzimas CYP3A4 (carbamazepina, fenitoína, barbitúricos...). Não protegem contra as DSTs. Indicações: • Relações desprotegidas. • Violência sexual, estupro. • Coito interrompido. • Rotura de preservativo. • Deslocamento de diafragma. • Uso isolado de espermicida. • Esquecimento de duas ou mais pílulas COCs (contraceptivos orais combinados). • Atraso maior de 12 horas se for desogestrel. • Atraso de mais de duas semanas na aplicação do injetável trimestral. MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS REVERSÍVEIS DE LONGA DURAÇÃO LARCS: • Implante. • Dispositivos intrauterinos (DIU de cobre/prata, DIU levonorgestrel). DISPOSITIVO INTRAUTERINO DE COBRE Mecanismo de ação: Desencadeamento pelos sais de cobre de reação corpo estranho pelo endométrio. Estimula a produção de prostaglandinas e citocinas no útero, produzindo um efeito tóxico ao óvulo e aos espermatozóides, alterando a viabilidade, transporte e capacidade de fertilização. Contraindicações absolutas: • Gravidez. • DIP ou DST atual, recorrente ou persistente. • Sepse puerperal. • Cavidade uterina severamente deturpada. • Hemorragia vaginal inexplicada. • Câncer cervical ou endometrial. • Doença trofoblástica maligna. Pode ser inserido em até 48 horas do parto, evitar entre 48h e quatro semanas após parto pelo risco de perfuração. CONCLUSÃO Fornecer informações claras e adequadas a respeito de cada método: • Vantagens. • Desvantagens. • Custos. • Eficácia. • Riscos. • Efeitos adversos. • Retorno à fertilidade. A paciente deve participar ativamente no processo de escolha.
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