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VULVOSCOPIA Conceito: Exame magnificado da vulva e regiões adjacentes com uso de colposcópio e reagentes especiais: ácido acético a 3% em região não pilificada e a 5% em região pilificada. Indicações e técnica: • Sintomas crônicos vulvares, como o prurido • Lesões na vulva, como tumores benignos, úlceras, dermatoses e distúrbios de pigmentação. • Indícios da presença de HPV. • Lesões pré malignas ou malignas do trato genital inferior. • Imunoincompetência. Contraindicações: vulvovaginites graves. Preparo: pelos aparados e abstinência sexual por 2 dias. Biópsia dirigida sob anestesia local. DERMATOSES VULVARES - DOENÇAS EPITELIAIS VULVARES NÃO NEOPLÁSICAS Líquen escleroso: Dermatose vulvar mais comum. Caracterizada por prurido e lesões discrômicas: lesões genitais e extragenitais 11%. Faixa etária: crianças até menopausa Etiologia: desconhecida – associada a doença autoimune; genética, infecciosa, hormonal. • Menopausa: aparecimento de sintomatologia mais exuberante. • Doenças autoimunes como: tireoidite de Hashimoto, vitiligo, anemia perniciosa. Associação em 60%. Sintomas: prurido, dor, ardor, dispareunia, fissuras e sangramento Histologia: epitélio atrófico, hiperceratose, hialinizaçao da derme superficial, presença de células basais com vacuolização citoplasmática e infiltração inflamatória por linfócitos. Os melanócitos são diminuídos e há desaparecimento de fibras elásticas. Risco aumentado de 5-10 % de carcinoma espinocelular (CEC) e concomitância com CEC em 60%. • Lesão inicial: placa única focal que pode evoluir para outras placas confluentes e tomando toda vulva e região perianal. A pele adquire aspecto endurecido, a vulva perde seu formato e os pequenos lábios podem desaparecer. A genitália perde sua arquitetura. O introito sofre estreitamento, o que pode ser causa frequente de dispareunia. Pode haver acolamento de clitóris. Tratamento: Objetivo: alívio dos sintomas, evitar atrofia, prevenir transformações malignas. 1ª etapa: corticosteróides de alta potência em creme ou pomada – propionato de clobetasol 0,5 mg por longo prazo. 2ª etapa: propionato de testosterona 1-2%. Outras opções: anti-histamínicos, sedativos, antidepressivos, imunomoduladores, terapia fotodinâmica e retinóicos. • Propionato de testosterona 1-2%: efeitos sistêmicos: aumento da libido, virilizaçao e aumento do clitóris. Tem ação trófica no epitélio vulvar. Hiperplasia de células escamosas (HCE): 40-45% das doenças não neoplásicas da vulva. Resulta de trauma repetitivo devido a substâncias irritantes. Diagnóstico de exclusão: líquen simples, CEC in situ, condiloma e psoríase. Faixa etária: < 50 anos. Patogênese: fatores intrínsecos (psicológicos, prurido psicogênico, doenças sistêmicas) e fatores extrínsecos (químicos, mecânicos e físicos). • Deve-se afastar outras dermatoses vulvares especificas como: líquen crônico simples, líquen plano, infecção por cândida, condiloma, psoríase... Pode ser encontrada junto ao CEC, porém com mínimo potencial carcinogênico; 20% das lesões são mistas (LE + HCE) com maior potencial oncogênico. Sinais clínicos: prurido e irritação crônica e inflamação, hiperemia e fissuras, placas brancas, placas brancas espessas e assimétricas de cor branca a cinza. Histologia: “hiperplasia epitelial com acantose, graus variáveis de hiperceratose, paraqueratose e infiltrado inflamatório crônico” (ISSVD). Tratamento: corticosteroides de media ou alta potência (clobetasol ou betametasona) 2x/dia por 15 dias. • Qualquer condição irritativa pode levar a hiperplasia. Não é uma entidade distinta e sim uma descrição morfológica de alteração da pele da vulva. OUTRAS DERMATOSES Dermatite de contato por agentes irritantes ou de contato: Irritação vulvar (eczema), queimação e prurido por agente irritativo primário. Agentes irritativos mais comuns: sabonete, perfume e desodorante, fricção (roupas sintéticas, andar de bicicleta, andar a cavalo). Sintomas: hiperemia, escoriações e ulcerações. Infecção secundária e liquenificação em processos crônicos. Tratamento: retirar agente irritante, corticoides tópicos 2x/dia, 7 dias. • Eczema por irritante primário: causado por exposição a agentes capazes de provocar dano tecidual por ação caustica. A dermatite se restringe a região de contato. Mulheres com habito de limpeza exagerada com sabonetes, contato com fezes e urina. Dermatite alérgica: Reação de hipersensibilidade a determinados alérgenos (haptenos) mediados por linfócitos T. Eczema local e /ou a distância. Alérgenos mais comuns: pólen, alimentação, sêmen, látex e medicação tópica (anti-inflamatórios, antimicóticos tópicos e antibióticos). Hiperemia com pele seca, escoriações e ulcerações descamativas. • Antibiótico: neomicina e sulfa. • Tecidos: náilon, seda e poliéster. • Outros produtos: amaciante. Diagnóstico: história clínica e anatomopatológico, teste de contato. Histologia: espongiose, vesiculação na epiderme, exocitose de linfócitos, infiltrado linfo-histiocitário ao redor dos vasos e eosinófilos. Diagnóstico diferencial: psoríase, eczema seborréico, líquen simples, candidíase, tinha. Tratamento: retirada do agente irritante, secativos para formas secretantes (permanganato de potássio), corticóides em creme (aguda), pomada (crônicos), corticoides sistêmicos, antibióticos sistêmicos, anti- histamínicos, imunusupressor tópico (tacrolimo). Dermatite seborreica: Dermatose crônica, recorrente, não contagiosa, com predileção por regiões cutâneas ricas em glândulas sebáceas. Faixa etária: adultos 18-40 anos; homens. Etiopatogenia multifatorial: alterações na quantidade e qualidade do sebo. Fatores agravantes: stress emocional, depressão, doenças neurológicas (Parkinson e epilepsia); colonização fúngica (Malassezia furfur). Sintomas: placas eritemo-descamativas, fissuras, infecções secundárias, liquenificação. Tratamento: corticoide local e cetoconazol. • Grande lábio e púbis. • Acredita-se na influência hormonal androgênica. • Descamação fina. • Liquenificação em casos crônicos. Histopatolgia: dermatite crônica com áreas de paraqueratose, discreta a moderada acantose e espongiose. Exocitose e infiltrado mononuclear na derme. Diagnóstico diferencial: eczema de contato, psoríase, síndrome de Reiter, candidíase e dermatofitose. Tratamento: evitar aquecimento com excesso de roupas, preferir algodão, secativos, corticoide tópico em creme associado a antifúngico. Psoríase: Dermatose inflamatória crônica, recorrente, caracterizada por placas eritematosas bem demarcadas, pruriginosas e não descamativas na região vulvo-perineal. Fenômeno de Koebner: trauma cutâneo pode predispor novas lesões. Lesões mais frequentes em couro cabeludo, cotovelos, joelhos, face extensora dos membros e região sacral – auxilia diagnóstico. Outras manifestações: artrite psoriática e psoríase pustulosa. Etiopatogenia: fatores genéticos. Fatores agravantes: stress emocional, infecções, drogas (lítio, cloroquina, AINES, β-bloqueadores, variações climáticas, alcoolismo, alt endocrinológicas, AIDS). Histologia na derme: vasodilatação com infiltrado perivascular, discreta espongiose e invasão de neutrófilos. Histologia na epiderme: acantose, paraqueratose, desparecimento da camada granulosa e agrupamentos de neutrófilos. Diagnóstico diferencial: eczema seborréico, eczema de contato, Síndrome de Reiter, candidíase e dermatofitose. Tratamento: corticoide tópico, calcitriol, imusupressores e imunomodulador tópico (tacrolimo); orientar não coçar. Líquen plano: Dermatose inflamatória pruriginosa aguda ou crônica que envolve pele, mucosas, cabelos e unhas. Etiologia: pode estar relacionada a doença autoimune, induzidas por drogas, infecções virais, neurológicae psicogênica. Fenômeno de Koebner. Faixa etária: 50-60 anos Histologia: hiperceratose, aumento focal da camada granulosa, acantose em dentes de serra, degeneração hidrópica da camada basal e infiltrado linfocitário em faixa na derme papilar. Presença de queratinócitos degenerados (corpos coloides). Manifestações clínicas: Doença pápulo-escamosa: placas violáceas, eritematosas, envolvendo grandes e pequenos lábios e o púbis. Sintoma mais frequente é o prurido. Doença de mucosa: erosões na vagina e vestíbulo com borda branca associada a atrofia, perda da arquitetura e estenose de vagina e intróito. Sintomas: dor, queimação e dispareunia. Pode evoluir para CEC. Doença hipertrófica: placa branca atrófica em sulco interlabial e lábio menor com ou sem hiperceratose, levando a diminuição do intróito e perda do lábio menor. Rara. Doença da mucosa Doença pápulo-escamosa • Com a involução do quadro, permanecem maculas hipercrômicas residuais. Tratamento: Corticoide tópico (clobetasol). Envolvimento da vagina: corticoide via oral ou vaginal. Forma erosiva hipertrófica: retinóide oral (isotretinoína). Líquen simples crônico: Caracterizado por placa liquenificada, delimitada, pruriginosa de evolução crônica. Etiopatogenia: processo inflamatório ou irritativo inicial que levam ao ato de coçar e persiste mesmo após a retirada do agente irritativo. Agravados pelo estresse emocional. Histologia: hiperceratose, paraceratose, acantose com alongamento irregular das cristas epidérmicas, hipergranulose e alargamento das papilas dérmicas. Leve espongiose. Diagnóstico diferencial: psoríase e líquen escleroso. Tratamento: orientar a não coçar, corticóides tópicos de alta potência (as vezes intralesional); anti-histamínicos (hidroxizine); psicoterapia, ansiolíticos e antidepressivos. Síndrome de Behcet: Síndrome rara, multisistêmica e de causa desconhecida. Tríade: uveíte, ulcerações orais e genitais. Sexo masculino. 10-30 anos. Origem: imunológica (auto-anticorpos), genética ou infecciosa (herpes vírus) ou bacteriana (Streptococos). Úlceras vulvares profundas e dolorosas, ulceras orais (95%); manifestações dermatológicas, manifestações sistêmicas (alterações cardíacas, artrite, gastrointestinais e neurológicas). Tratamento: corticoide tópico ou intralesional, anestésicos tópicos. Vitiligo: Leucodermia adquirida, idiopática, caracterizada por máculas despigmentadas circunscritas. Faixa etária: qualquer idade. Frequente < 20 anos. Etiopatogenia: teoria autoimune; teoria neuronal (mediadores químicos tóxicos); teoria da auto-destruição (precursores tóxicos da melanina). • Teoria autoimune: associação com doenças auto imunes e com auto anticorpos antimelanociticos. • Teoria neuronal: terminações nervosas dérmicas liberariam mediadores químicos tóxicos aos melanócitos. • Teoria da autodestruição: defeito no mecanismo de proteção que remove substancias toxicas de melanina levaria a destruição dos melanócitos. Clínica: mácula hipocrômica e depois acrômica, bem delimitadas, assintomáticas com distribuição bilateral e simétrica (vitiligo vulgar) ou assimétrica (vitiligo segmentar). Histologia: diminuição da melanina; diminuição ou ausência de melanócitos na camada basal. Tratamento: Depende da extensão, localização e se o quadro está estável ou em progressão. Corticóides tópicos. Análogos da vitamina D. Imunosupressores tópicos. Fototerapia para áreas mais extensas. Outras opções: corticóides sistêmicos, despigmentação, camuflagem cosmética e técnicas cirúrgicas (áreas pequenas e estáveis). LESÕES BENIGNAS DA VULVA Foliculite superficial: Piodermite caracterizada por lesões pápulo-pustulosas centradas por um pelo. Agente infeccioso habitual: S. aureus. Tratamento: terapia tópica eritromicina ou clindamicina ou peróxido de benzoíla. Hidradenite supurativa: Doença inflamatória supurativa crônica e recorrente das glândulas sudoríparas decorrente da oclusão dos dutos foliculares. Ocorre mais no sexo feminino e após a puberdade. Etiopatogenia: oclusão por rolhas de queratina – infecção bacteriana e ruptura glandular. Clínica: pápulas, nódulos e abcessos que eliminam material purulento com formação de fístula, cordões fibrosos e cicatrizes. Casos extremos: linfedema e CEC. Tratamento: antibioticoterapia; corticoterapia, drogas antiandrogênicas, isotretinoína. NEOPLASIAS INTRAEPITELIAIS VULVARES (NIV) Caraterizada por distúrbios de maturação e anormalidades nucleares nos vários níveis do epitélio. Aumento da incidência. NIV I: atipias celulares no terço inferior da espessura epitelial. Rara. Atipia reativa, não neoplásica. NIV II: acomete 2/3 inferiores. NIV III: acomete mais de 2/3. NIV indiferenciada: HPV positivo. NIV diferenciada: HPV negativo. • Aumento da incidência se deve ao aumento da incidência de infecção por HPV, facilidade de realizar biopsia de vulva e tabagismo. • NIV indiferenciada e diferenciada: classificação de acordo com natureza biológica. Classificação: Origem escamosa: • NIV I. • NIV II. • NIV III. Não escamosa: • Doença de Paget. • Melanoma in situ. Não considerar a classificação NIV 1, 2 e 3 como um contínuo biológico e sim apenas com uma descrição histológica. NIV 1 é rara e não deve ser interpretada como lesão com potencial oncogênico e sim apenas como alterações virais ou reativas. NIV 2 e 3 são consideradas em conjunto com lesões de alto grau assim como no colo uterino; sendo que muito raramente se verifica diagnóstico de NIV 2. NIV indiferenciada: NIV III clássica. Associada ao HPV 16. Multifocal e multicêntrica. Associada ao CEC de vulva. Acomete mulheres jovens e fumantes: 30-40 anos. Padrões histológicos: bowenoide, basalóide e verrucosa. NIV diferenciada: NIV III simples. Forma rara: 2 a 10%. Mulheres pós-menopausa. Associada a CEC de vulva: grande potencial carcinogênico. Lesão única e unilateral. Prefere área com pelos. HPV ausente. Originada de um distúrbio não neoplásico da vulva como LE e/ou HCE. Fase intraepitelial breve. Relação entre NIV III e CEC de vulva: NIV III precursora do CEC de vulva: presente em 30%. Tempo estimado de invasão: inferior a 10 anos. Mecanismos carcinogênicos: progressão da NIV persistente; desenvolvimento de “novo” câncer em mulheres já tratadas de NIV (fator de risco). Possibilidade de regressão em < 1 ano: mulheres não brancas, < 30 anos, gestantes, assintomáticas, lesões multifocais, pigmentadas e papulares. Mulheres HIV +: aumento do risco em 4 a 6 vezes. Diagnóstico: Clínica: prurido (40%), queimação, dispareunia, edema, irritação, vermelhidão vulvar. Não há lesão especifica. Ocorre alterações variadas da cor e espessura da pele e mucosa. Obrigatoriedade de biopsia em lesões suspeitas, pigmentadas, ulceradas, que não respondem ao tratamento, em mulheres acima de 55 anos, pacientes imussuprimidas. Tratamento: Deve-se considerar: idade, topografia, extensão, potencial maligno, preservação funcional, fatores psicológicos, recorrência. Tratamentos excisionais: NIV diferenciada em mulheres mais idosas Tratamentos cito-destrutivos: cauterização química e física e vaporização a laser de CO2; imunomodulador (imiquimode). Necessário seguimento semestral ou anual para resto da vida em pacientes com NIV 3: taxa de recidiva em torno de 30-40%. DOENÇA DE PAGET Rara: <1% das NIV. Mulheres brancas na pós- menopausa. Primária: adenocarcinoma originado dentro do epitélio. Doença agressiva. Secundário: originado de metástases de outros adenocarcinomas (retal, anal ou urotelial). Geralmente intraepitelial. Proliferação intrapitelial de células apócrinas na camada basal: células de Paget. Sintomas: prurido,queimação e disúria. Clínica: lesão eczematosa, avermelhada, esbranquiçada, aveludada e descamativa com estrias brancas e bordos pouco definidos. Invasão: 15-25%. Recorrência alta. Deve ser rastreada para outras neoplasias. Tratamento: excisão com margens amplas. • Margens superiores a 2 cm – não regride espontaneamente. • Preservar estruturas nobres: clitóris, uretra e anus no tratamento excisional. • Taxa de recorrência não se correlaciona com margens positivas ou livres. MELANOMA IN SITU VULVAR Ninhos de melanócitos atípicos confluentes na camada basal e células atípicas esparsas até a camada superficial. É precursor do melanoma invasivo. Mulheres brancas entre 60-70 anos. Corresponde ao estádio 0 nas classificações de Clark, Breslow e Chung de melanoma. Clínica: lesão maior que 6mm, com variação de cor na superfície, contornos irregulares, margens mal definidas. Forma papular ou polipóide. Biópsia obrigatória: excisional. NEOPLASIA INTRA-EPITELIAL VAGINAL (NIVA) Doença rara com aumento de incidência. Assintomática. Geralmente associada aos NICs ou NIVs. Classificação: NIVA 1,2 e 3. Clínica: corrimento vaginal, ardor e prurido. Pacientes de risco: portadoras de NIC de alto grau, pós radioterapia para tratamento de câncer de colo uterino, imunossuprimidas. Vaginoscopia com ac acético a 5%. Lesões brancas, elevadas e com bordos nítidos: realizar biópsia. Terço superior da vagina: 80-90% e ângulos da histerorrafia. NIVA 1: pode regredir espontaneamente. NIVA 3: recorrência alta – vaginectomia total ou parcial; laser, radioterapia e imiquimode. Aumento da incidência devido a ao aumento da frequências das infecções por HPV como também maior facilidade na realização de colposcopia com biopsia.
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