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APLICAÇÕES ESPECIAIS DAS RADIAÇÕES - 2 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 INTRODUÇÃO Radiação: O que é – De onde vem – Aplicação – Propagação – Medição – Proteção. A interação de raios gama com a matéria pode ocorrer por meio de três processos: efeito fotoelétrico; espalhamento Compton; formação de par. A predominância de um processo sobre os demais depende da energia da radiação gama (E) e do número atômico do elemento (Z) com que ocorre a interação. As radiações Alfa, Beta e Gama possuem diferentes poderes de penetração, isto é, diferentes capacidades para atravessar os materiais. (figura 01) As partículas Beta são capazes de penetrar cerca de um centímetro nos tecidos (veja a figura a seguir), ocasionando danos à pele, mas não aos órgãos internos, a não ser que sejam ingeridas ou aspiradas. Têm alta velocidade, aproximadamente 270 000 km/s. A aplicação das radiações ionizantes está difundida nos mais diversos setores da atividade humana, como saúde, indústria, agricultura, pesquisa e outras. (figura 02) As radiações gama são as mais energéticas (104 eV até 1019 eV) e com menor comprimento de onda. Possuem elevado poder penetrante, podendo mesmo atravessar a Terra de um lado ao outro. Assim como os raios-X os raios gama são extremamente penetrantes, sendo detido somente por uma parede de concreto ou metal. Todas as atividades que envolvam o uso das radiações devem ser monitoradas. Figura 01: Radiações Alfa, Beta e Gama - 3 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Os equipamentos utilizados para a realização destes controles precisam estar devidamente calibrados e rastreados, sendo esta uma exigência da Comissão Nacional de Energia Nuclear-CNEN (CNEN, 1988). CLASSIFICAÇÃO DAS RADIAÇÕES As radiações constituem uma forma de energia que, de acordo com a sua capacidade de interagir com a matéria, podem se dividir em: Radiações ionizantes Radiações não ionizantes IONIZANTES - São aquelas com energia suficiente para ionizar a matéria, ou seja, arrancar elétrons dos átomos. Como exemplos: radiações alfa, beta, gama, x e nêutrons. NÃO IONIZANTES - correspondem àquelas com menor energia, portanto, incapazes de ionizar átomos, entre as quais podemos citar as ondas eletromagnéticas de luz, rádio (AM ou FM), tv, microondas, etc. (figura 03). Figura 02: Aplicação das radiações ionizantes nos mais diversos setores da atividade humana - 4 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 FONTES NATURAIS E FONTES ARTIFICIAIS DE RADIAÇÃO As radiações de origem natural - são aquelas que não foram originadas por ações antropogênicas (produzidas por humanos). Essas fontes podem ser observadas em alguns elementos químicos que se encontram instáveis e pode ser definida como a busca deste elemento químico pela sua estabilidade. Na categoria de fontes naturais encontram-se os produtos de decaimento do urânio e tório, que são o radônio e o polônio. Outra fonte de origem natural é a radiação cósmica, proveniente do espaço sideral, como resultante de explosões solares e estelares. (figura 04) As radiações artificiais - são provenientes de equipamentos elétricos (tubos de raios-x) ou de equipamentos (irradiadores ou bombas) que possuem em seu interior uma fonte natural que foi reativada, como por exemplo, a fonte de Co-60, usada em radioterapia. A reativação de materiais radioativos ocorre num processo conhecido como neutro ativação, que corresponde ao bombardeio do núcleo do material por meio de uma fonte de nêutrons. Figura 03: Radiação não ionizante e Radiação ionizante Figura04: Texto explicativo - 5 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 O ÁTOMO E A RADIOATIVIDADE As radiações são produzidas por processos de ajustes que ocorrem no núcleo dos átomos ou nas camadas eletrônicas, pela interação de outras radiações ou partículas com o mesmo. Sabemos que toda matéria é formada por átomos (Figura 05) e que o átomo é sua unidade fundamental, sendo a menor fração capaz de identificar um elemento químico. É formado por um núcleo, que contém nêutrons e prótons, e por elétrons que circundam o núcleo. Uma forma razoável de imaginarmos o átomo por dentro é a seguinte: uma região central, o núcleo, com grande concentração de massa, onde estão os prótons e os nêutrons, também chamados núcleos; e uma região mais externa composta de uma “nuvem de elétrons”, chamada eletrosfera. Para termos uma ideia do vazio existente entre o núcleo e a eletrosfera, podemos pensar que, se o núcleo fosse uma bolinha de pingue-pongue colocada no centro de um estádio de futebol, os elétrons seriam do tamanho de cabeças de alfinetes e estariam movimentando-se nas últimas fileiras da arquibancada. E entre eles haveria o “nada”. Os prótons e os nêutrons têm quase a mesma massa. Já os elétrons são bem leves, possuindo uma massa cerca de 2.000 vezes menor que a de um próton ou a de um nêutron. Os prótons apresentam carga elétrica positiva, os elétrons carga negativa e os nêutrons possuem carga nula. Figura 05: Modelo atômico - 6 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 NÚCLEO ATÔMICO - O número de prótons no núcleo, chamado número atômico (símbolo Z), é o número que identifica o elemento químico ou define as propriedades químicas do átomo. Para átomos eletricamente neutros, o número de elétrons na eletrosfera é igual ao número de prótons no núcleo. Sendo assim, a soma do número de prótons e do número de nêutrons (símbolo N) é chamada número de massa (símbolo A). A = Z + N As várias espécies de átomos, cujos núcleos contêm um número particular de prótons e nêutrons são chamados de nuclídeos. Cada nuclídeo é representado pelas seguintes notações: QuímicoSímbolo A Z ou Nome do Elemento - A Exemplo: O cloro (Z = 17) possui 18 nêutrons e pode ser representado da seguinte forma: Cl A Z Sabendo que: Z = 17 Pode-se achar nº de massa (A): N = 18 Cl A Z Cl3517 ou cloro - 35 A quantidade de nêutrons no núcleo pode variar para átomos de um mesmo elemento químico. Assim, é possível encontrar na natureza, átomos de carbono cujo número atômico é 6 (6 prótons) e que pode possuir até 7 ou 8 nêutrons em seu núcleo. Exemplo: Qual o número de nêutrons do C 14 6 ? E do H 1 1 ? C 14 6 N = A – Z N = 14 – 6 N = 8 nêutrons A = Z + N A = 17 + 18 A = 35 H11 N = A – Z N = 1 – 1 N = 0 nêutrons - 7 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 O número de nêutrons no núcleo pode ser variável, pois eles não têm carga elétrica. Com isso, um mesmo elemento químico pode ter massas diferentes. Átomos de um mesmo elemento químico com massas diferentes são denominados isótopos. O hidrogênio tem 3 isótopos: o hidrogênio, o deutério e o trício (ou trítio) . Exemplo: 1. Qual o número de nêutrons do urânio-235 (Z = 92)? 2. Qual o número de elétrons de um átomo neutro de urânio-238? Nêutrons do urânio-235: N = A – Z N = 235 – 92 N = 143 nêutrons. No de elétrons do urânio-238: DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA A estabilidade de um núcleo atômico é determinada, basicamente, pela quantidade de prótons e nêutrons de um átomo, isto é, pelo número de massa. Átomos com número de massa muito grande são instáveis. Núcleos instáveis, que também são chamados radioativos, tendem a se estabilizar emitindo o excesso de energia que ele possui na forma de radiaçõesionizantes (partículas ou ondas eletromagnéticas). Esse processo de ajuste dos núcleos radioativos é chamado de desintegração ou decaimento radioativo. Como o átomo é neutro, ele deve possuir o mesmo número de prótons que de elétrons. Logo, o número de elétrons do urânio-238 que tem Z = 92 é 92. Os núcleos instáveis que emitem partículas e/ou ondas eletromagnética são chamados radionuclídeos ou radioisótopos. - 8 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 A partir do polônio, elemento cujo número atômico é 84, todos os elementos naturais ou artificiais, tem núcleos instáveis. São pouquíssimos os isótopos radioativos de elementos mais leves do que o polônio. Por exemplo: o trítio ( H 3 1 ), o carbono-14 ( C 14 6 ), o potássio-40 ( K 40 19 ), o rubídio-87 ( Rb 87 37 ) e mais alguns poucos. Existe, também, a possibilidade de se produzir artificialmente núcleos instáveis de elementos com número atômico inferior ao do polônio. Exemplos: césio-137, cobalto-60, irídio-192 entre outros. Portanto, podemos resumir da seguinte forma: as radiações naturais são decorrentes de um processo denominado de radioatividade. A radioatividade é observada em alguns elementos químicos que se encontram instáveis e pode ser definida como a busca do elemento químico pela sua estabilidade. Um núcleo muito energético tende a estabilizar-se, emitindo radiação, ou seja, o núcleo atômico se encontra instável (com excesso de energia) e através de processos nucleares elimina este excesso de energia através da emissão de: partículas alfa, partícula beta e radiação gama(Figura 06). Figura 06: Núcleo atômico - 9 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 CARACTERÍSTICAS DAS RADIAÇÕES NUCLEARES a) Partícula alfa (α) - A partícula alfa é emitida por núcleos instáveis de elevada massa atômica (Figura 07). Esta partícula é formada por dois prótons e dois nêutrons, sendo caracterizada por sua carga positiva (+2), devido às cargas dos dois prótons presentes nesta partícula; e número de massa 4, sendo considerada uma partícula pesada, pois nêutrons e prótons constituem as partículas atômicas de maior massa em um átomo. Podemos dar como exemplo o decaimento radioativo do Rádio, elemento químico de símbolo Ra. Exemplo: alfaRnRa 222 86 226 88 b) Radiação beta () - Esta partícula possui massa igual a do elétron e pode ser negativa (-) ou positiva (+). A partícula negativa é o beta menos, ou simplesmente beta, e a positiva deve ser chamada de beta mais ou pósitron, conforme ilustra a figura abaixo (Figura 08). Figura 07: Emissão da partícula alfa. Figura 08: Emissão das partículas β- e β+ - 10 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 A partícula beta menos é emitida pelo núcleo radioativo quando o número de nêutrons é superior ao de prótons. A emissão da partícula beta menos ocorre devido à transformação de um nêutron num próton dentro do núcleo. Exemplo: menosbetaPaTh _ 234 91 234 90 Já a partícula beta mais é emitida pelo núcleo radioativo quando o número de prótons é superior ao de nêutrons. Neste caso, é o próton que se transforma em um nêutron dentro do núcleo. Exemplo: maisbetaSiP _ 30 14 30 15 c) Radiação gama () - Quando o núcleo atômico emite uma partícula alfa ou uma beta ele sai de um estado de maior energia para um estado de menor energia, mas se mesmo após a emissão destas partículas o núcleo ainda se encontrar em um estado “excitado”, ocorre emissão de uma radiação gama (Figura 09). Esta radiação não possui nem massa nem carga, pois consiste em uma onda eletromagnética de alta energia, semelhante aos raios-X. Exemplo da emissão de radiação gama acompanhada de desintegração: alfaRnRa *222 86 226 88 em seguida, gamaRnRn 222 86 *222 86 Figura 09: Radiação Gama - 11 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 LEI DA DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA As diferentes espécies radioativas (átomos) não se desintegram ou se transformam no mesmo instante. Elas demoram um determinado tempo. Assim, podemos ter espécies radioativas que se transformam mais rapidamente e espécies radioativas que demoram mais para se transformar. O tempo necessário para que o número de átomos radioativos presentes em uma substância se reduza à metade é chamada de meia vida física (T1/2) da substância radioativa. Valores de meia-vida física podem variar de frações de segundo a milhões de anos, mas cada substância radioativa tem uma meia-vida característica. Exemplo: a meia-vida física do urânio-238 é 4,5 bilhões de anos, a do césio-137 é de 30 anos e a do gálio-67 é de 78 horas. A velocidade com que os átomos radioativos presentes na substância se desintegram é chamada de Atividade (A) da substância radioativa. Ou seja, a atividade de uma substância radioativa é o número de desintegrações que ocorrem nessa substância por unidade de tempo. A unidade de atividade (A) no Sistema Internacional é o Becquerel (Bq), que corresponde ao número de desintegrações por segundo (dps). A unidade antiga é o Curie (Ci) que, por sua definição inicial, equivale ao número de transformações por segundo em um grama de rádio-226 que é 3,7.1010 transformações por segundo. Portanto: 1 Ci = 3,7.1010 Bq = 37 GBq. - 12 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 APLICAÇÕES DAS RADIAÇÕES As radiações podem ser emitidas por elementos químicos com núcleos atômicos instáveis (radioisótopos) ou por equipamentos construídos pelo homem como, por exemplo, os equipamentos de raios-X, os aceleradores de partículas e os reatores nucleares. Elementos químicos radioativos podem ser encontrados na natureza (como o urânio natural (Figura 10) ou o tório das areias monazíticas em Guarapari) ou produzidos pelo homem através de reações nucleares em aceleradores de partículas ou reatores nucleares. As radiações podem ser empregadas na medicina, na agricultura e na indústria. APLICAÇÕES DAS RADIAÇÕES NA MEDICINA: Na Medicina, as aplicações da radiação são feitas em um campo genericamente denominado Radiologia, que por sua vez compreende a radioterapia, a radiologia diagnostica e a Medicina nuclear. Na medicina, é comum introduzir no organismo de alguns pacientes radioisótopos artificiais, denominados radiotraçadores. (figura 11 e 12) Eles recebem esse nome porque, ao serem transportados pelo corpo da pessoa, emitem radiações que permitem seu monitoramento, sabendo por onde passaram e onde se depositaram. Figura 10: Urânio em sua forma natural. Aplicações em medicina Figura 11: Cintilografia - 13 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Isso permite que o radiologista faça um mapeamento de órgãos. RADIODIAGNÓSTICO Chamamos de radiodiagnóstico a especialidade médica que utiliza uma fonte de radiação eletromagnética para fazer uma imagem do corpo com a finalidade de se diagnosticar alguma patologia ou anormalidade. As modalidades do radiodiagnóstico são as seguintes: radiografia, fluoroscopia, mamografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e medicina nuclear. (A) Radiografia A radiografia é uma modalidade de radiodiagnóstico que utiliza uma fonte de raios-X de um lado do paciente e um detector do outro lado (Figura 13). Assim, um pulso de curta duração (normalmente menor que 0,5 s) de raios-X é emitido pelo tubo. Uma fração desses raios interage com o paciente e outra consegue atravessá-lo, alcançando o chassi que contémExemplo de radiodiagnóstico da tireóide usando I-131. Área mais brilhante indica maior concentração do I-131. Figura 12: cintilografia tireóide Figura 13: Exemplo de um exame de raios X convencional - 14 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 um filme radiográfico. Como os raios-X são atenuados (absorvidos ou espalhados) de formas diferentes pelas diversas partes do corpo (tecido mole, osso e ar), a distribuição dos raios-X que atravessa o paciente e chega ao chassi será heterogênea, ou seja, de diferentes intensidades. A imagem radiográfica é nada mais que uma fotografia desta distribuição. O contraste na imagem radiográfica se deve às diferenças na densidade média e composição atômica dos tecidos biológicos, ou seja, as regiões de maior transmissão dos raios-X pelo corpo do paciente aparecerão na imagem como regiões escuras, enquanto que as de menor transmissão aparecerão na imagem como regiões claras. As imagens radiográficas são úteis em uma série de indicações médicas como: Diagnóstico de fraturas, câncer de pulmão, desordens cardiovasculares, etc. (B) Fluoroscopia Outra aplicação é a chamada fluoroscopia digital (Figura 14), surgida quase na mesma época que a tomografia computadorizada, entre as décadas de 1970 e 1980. Nesta técnica a imagem radiográfica é obtida por meio de um detector chamado intensificador de imagem, conforme a figura abaixo. O tubo de raios X fica, geralmente, por baixo da mesa e a imagem visível (analógica) da saída do intensificador de imagem é então registrada por uma câmera de vídeo de alta resolução e convertida em formato digital. Figura 14: Equipamento de fluoroscopia - 15 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 As imagens da fluoroscopia digital são exibidas em um monitor durante e após o procedimento. Essas imagens podem ser ajustadas e manipuladas conforme a vontade e podem também ser vistas de outros locais, durante e após o exame. Elas podem ser impressas em um filme com uma impressora a laser ou arquivadas digitalmente. NOVAS TECNOLOGIAS Uma nova aplicação das imagens fluoroscópicas digitais envolve a captura/conversão diretas por um detector digital. Com esse sistema, o detector digital retira o intensificador de imagem, a câmera de vídeo e o sistema de conversão digital, convertendo a imagem visível (analógica) em formato digital diretamente. A fluoroscopia pode ser usada para posicionar cateteres em artérias, visualizar agentes de contraste no trato gastrointestinal, em procedimentos terapêuticos invasivos (onde se é necessário obter uma resposta rápida), para fazer filmes do movimento do coração ou do esôfago, entre outros. (C) Mamografia A mamografia é a radiografia da mama (Figura 15 e 16), que requer um equipamento de raios-X e um mecanismo específico para a compressão da mama. A energia dos raios-X utilizados nessa modalidade é bem menor. É uma modalidade de imagem usada no diagnóstico do câncer de mama. Figura 15: Mamógrafo - 16 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Figura 16: Imagem Mamográfica A compressão da mama é necessária durante a mamografia para: Não haver tecido sobreposto e melhorar a visualização da anatomia mamária; Permitir o uso de baixa dose de raios x; Imobilizar a mama para a radiografia não ficar tremida; Reduzir a radiação secundária a qual também piora a qualidade da imagem da radiografia. (D) Tomografia Computadorizada A Tomografia Computadorizada (TC) é uma modalidade em que a imagem é produzida através de um tubo de raios-X que se move ao redor do paciente durante o exame, fazendo múltiplas exposições em diferentes ângulos com um feixe colimado (fino) de raios-X (Figura 17 e 18). As imagens dos cortes, então processadas em um computador, permitem mostrar o corte do tecido sem a superposição de outras estruturas. A principal vantagem da TC é que permite o estudo de "fatias" ou secções transversais do corpo humano vivo, ao contrário do que é Figura 17: Tomógrafo - 17 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 dado pela radiologia convencional, que consiste na representação de todas as estruturas do corpo sobrepostas. É assim obtida uma imagem em que a percepção espacial é mais nítida. Outra vantagem consiste na maior distinção entre dois tecidos. A TC permite distinguir diferenças de densidade da ordem 0,5% entre tecidos, ao passo que na radiologia convencional este limiar situa-se nos 5%. Desta forma, é possível a detecção ou o estudo de anomalias que não seria possível senão através de métodos invasivos, sendo assim um exame complementar de diagnóstico de grande valor. (E) Ressonância Magnética A ressonância magnética (RM) é uma modalidade que usa campos magnéticos e ondas de rádio para obter uma imagem matematicamente reconstruída. Quando certos núcleos do corpo estão sob a influência de um forte campo magnético são excitados por ondas de rádio de frequências específicas, conseguindo absorver e reemitir essas ondas. Figura 19: Esquema de um equipamento de RM Figura 18: Tomografia do crânio - 18 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Esses sinais de rádio reemitidos são capturados por antenas e tratados matematicamente em um computador gerando a imagens (Figura 19 e 20). (E) Medicina Nuclear A medicina nuclear (MN) é uma especialidade médica que utiliza radioisótopos para a realização de imagens para fins diagnósticos ou terapêuticos. Este segmento da radiologia não utiliza contrastes para a obtenção de imagens, mas sim, uma substância (chamada fármaco) marcada com um radioisótopo, que chamamos de radiofármaco (Figura 21). Os Radiofármacos (também chamados radiotraçadores) são moléculas radioativas que apresentam afinidades químicas por determinados órgãos do corpo e, assim, ao serem administrados no paciente (via oral ou endovenosa) são transportados para esse órgão que se deseja estudar. Eles agem da mesma forma que a substância natural, ou Figura 20: RM da cabeça Figura 21: Câmara de cintilação - 19 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 seja, podem ser captados, produzidos ou secretados pelo órgão, não interferindo na fisiologia normal do mesmo. Por exemplo: O mapeamento da tireóide (cintilografia de tireóide) pode ser feito injetando uma substância ligada ao iodo radioativo no paciente. Esse iodo é capturado pela glândula tireóide. “Passando” um detector de radiação (gama câmara) na frente do pescoço do paciente, ele irá detectar a radiação gama emitida pelo radioisótopo. Dessa forma, pode-se observar se o radiofármaco foi muito ou pouco absorvido em relação ao normal (padrão) e como se distribui na glândula. O detector é associado a um mecanismo que permite obter um “desenho” ou mapeamento, em preto e branco ou colorido, da tireóide. Assim, por meio da medicina nuclear é possível observar a biodistribuição do radiofármaco e determinar a morfologia tireoidiana, sua localização, além de identificar o comportamento funcional das células tireoidianas. A mesma técnica é usada para mapeamento de fígado e de pulmão. A principal vantagem da MN é que a imagem gerada mostra não só a anatomia do órgão como, também, é capaz de mostrar o seu funcionamento, evitando a utilização de técnicas invasivas como biópsias e cateterismos. A principal desvantagem da MN é a resolução baixa comparada à tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) (Figura 22). Figura 22: Cintilografia óssea. - 20 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 EXAMES MAIS COMUNS EM MN: Cintilografia óssea:utilizada para o diagnóstico de fraturas e traumas ortopédicos, estudos de dores osteo-articulares inexplicáveis e pesquisa de tumores e metástases ósseas. Cintilografia de coração: tem a finalidade de visualizar a perfusão do miocárdio e servir para o diagnóstico da doença isquêmica coronariana (método não invasivo). Cintilografia de tireóide: serve para o estudo da anatomia e da função da glândula tireóide (estudo de captação). Cintilografia de fígado e baço: visa o estudo anátomo-funcional do fígado e do baço (principalmente no diagnóstico diferencial de nódulos hepáticos). São realizados ainda exames para o diagnóstico de hemangiomas hepáticos. Cintilografia de vias biliares: utilizado para demonstrar a função do fígado e das vias biliares, útil no diagnóstico de patologias obstrutivas das vias biliares. Cintilografia de inalação e perfusão pulmonar: utilizada para o diagnóstico de embolia pulmonar e de doenças obstrutivas crônicas, entre outras. Cintilografias de rins: tem a finalidade de avaliar obstrução, infecção e hipertensão arterial de origem renovascular. Cintilografia de perfusão cerebral: visa o diagnóstico de demências, depressão e focos de epilepsia. Outras cintilografias que são realizadas rotineiramente: cintilografias com Gálio-67 para avaliar processos infecciosos em atividade. Cintilografia com Tálio-201 para avaliação de viabilidade do miocárdio e alguns tipos de tumores; pesquisas de hemorragias gastrointestinais; estudos do fluxo arterial, venoso e linfático; cintilografia testicular; etc. Nem todos os elementos radioativos podem ser utilizados na medicina nuclear. Os radionuclídeos para serem utilizados na MN devem possuir algumas características desejáveis: 1. meia-vida física curta; 2. decair num núcleo estável ou de meia-vida muito longa; - 21 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 3. não emitir radiação alfa ou beta, uma vez que essas partículas por serem pouco penetrantes não seriam capazes de sair do corpo e ser detectado pela gama câmara, ocasionando apenas um aumento na dose dada ao paciente sem contribuir com a formação da imagem; 4. emitir gamas de energias únicas; 5. a energia dos fótons deve estar preferencialmente entre 100 a 300 keV, idealmente em torno de 150 keV (alta o suficiente para sair do paciente, mas baixa o suficiente para ser colimada facilmente e absorvida no cristal detector); 6. ligar-se facilmente ao fármaco e não afetar o seu metabolismo; 7. serem de fácil obtenção e economicamente viáveis; Os fármacos utilizados na MN devem possuir as seguintes propriedades: 1. Localizar-se rapidamente e em grande concentração na região de interesse; 2. Não ser tóxico; 3. Formar produtos estáveis; 4. Ter baixo custo; 5. Mimetizar processos fisiológicos naturais; 6. Possuir uma meia-vida biológica curta; A meia-vida biológica do radiofármaco é definida como o tempo necessário para que metade do radiofármaco seja eliminado do organismo pelas vias normais (urina, suor, fezes, etc.). A dose de radiação recebida por um órgão quando nele existe um material radioativo agregado, depende da meia-vida física, isto é, das características do decaimento radioativo do elemento, e da meia-vida biológica. A combinação de ambas dá à meia-vida efetiva, que é o tempo em que a dose de radiação em um determinado órgão fica reduzida à metade. Os isótopos radioativos utilizados nos radiofármacos devem possuir meia-vida física curta. Claro, ao ser administrado no paciente os radioisótopos devem rapidamente se desintegrar, para que o paciente não fique emitindo radiação por um tempo longo. - 22 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Além disso, é importante ressaltar que uma boa parte dos radioisótopos sofre decaimento no momento do exame, para que a gama câmara consiga obter uma imagem adequada com uma mínima quantidade de radiofármaco. Porém, se a meia-vida física é muito curta cria-se o inconveniente do radioisótopo ter que ser produzido bem próximo ao local que será utilizado. Os radionuclídeos utilizados pela medicina nuclear incluem: iodo-131, iodo-123, índio-111, gálio-67, tecnécio-99m, tálio-201, samário-157, flúor-18, etc. de todos, o mais utilizado é o tecnécio-99m. a) TECNÉCIO-99m - possui uma meia-vida física de 6 horas (ou seja, ele diminui de um fator 16 por dia). Por possuir uma meia-vida física muito curta, quando os hospitais desejam utilizar o tecnécio-99m, eles compram o molibidênio-99, que é o pai do tecnécio-99m. Ou seja, o molibidênio-99, que tem uma meia-vida de 66 horas decai emitindo uma partícula beta menos se transformando em tecnécio-99m, que irá se desintegrar emitindo radiação gama (Figura 23): TcMo m9943 99 42 TcTc 99m99 As características que fazem do tecnécio-99m o radioisótopo mais popular em MN são: (a) é fácil de ser obtido; (b) possui meia-vida física de 6 h; (c) emite somente um raio gama de energia ideal (140 keV); (d) pode ser combinado quimicamente com diversos complexos orgânicos, os quais avaliam disfunções hepáticas, ósseas e cerebrais, entre outras. Figura 23: Gerador de 99mTc - 23 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 b) IODO - apresenta dois isótopos que são utilizados na medicina nuclear: o iodo-123 e o iodo-131 (Figura 24). O iodo-131, apresenta o inconveniente de possuir uma meia-vida relativamente longa (8 dias), emitir partícula beta e emitir uma radiação gama de energia não ideal (364 keV). O iodo-123 apresenta uma meia-vida curta (13 horas), nenhuma emissão beta e radiação gama com energia ideal (159 keV). O iodo-123 pode ser produzido utilizando um equipamento chamado ciclotron. Alguns grandes centros médicos têm comprado ciclotrons para a produção do 123I e outros radionuclídeos de meia-vida curta, tais como o 11C, 13N, 15O, 19O, 18F, 52Fe, 68Ga, etc. c) GÁLIO-67 - possui uma meia vida de 78 horas e emite três radiações gama com as respectivas energias: 93, 185 e 300 keV, sendo a principal radiação gama de energia 93 keV. d) ÍNDIO-111 - possui uma meia vida de 2,8 dias e emite duas radiações gama de energias de 172 e 245 keV. e) TÁLIO-201 - possui uma meia-vida de 73 horas, não emite partícula beta e emite duas radiações gama de energias de 135 e 167 keV. Ele é empregado na cintilografia do miocárdio, considerado um exame de importância fundamental para identificação de doença coronariana em suas diversas fases de atuação: diagnóstico, acompanhamento, avaliação de resposta terapêutica e da evolução pós-cirúrgica. Quando os exames mostram grande comprometimento da função cardíaca, a ponto de indicar a necessidade de um transplante, pode ser utilizado o 18-fluor-desoxi- Figura 24: Blindagem do 131I - 24 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 glicose (flúor-18), comumente representado por FDG, que informa com muita precisão, se a disfunção do músculo cardíaco é reversível ou não. Se a área afetada estiver consumindo glicose, significa que o músculo está ativo e pode retornar a funcionar, após uma terapia adequada, sem necessitar obrigatoriamente de um transplante. O FDG é considerado como avanço da medicina nuclear, pois permite a realização de diagnósticos de alta precisão em cardiologia, neurologia e oncologia. Uma das aplicações mais avançadas é o mapeamento da função cerebral, possibilitando executar o mapeamento da função cerebral, possibilitando fazer o diagnóstico precoce dos males de Alzheimer e de Parkinson. Como na medicina nuclear a radiação é emitida de dentro do paciente, o estudo não é aconselhável nas gestantes. Nos estudos com raios-X, o feto pode ser protegido da radiação colocando-se blindagens de chumbo sobre o abdome da gestante. Isto não é possível na medicina nuclear, pois nãose pode controlar o radiofármaco na corrente sanguínea. Portanto, o exame deve ser protelado para após o término da gestação. Lactentes apresentam problema semelhante, pois alguns tipos de radiofármacos apresentam excreção no leite materno. É aconselhável, nesses casos, suspender a lactação por certo tempo, após a realização do exame. O tempo é determinado pela meia- vida do elemento radiativo. TOMOGRAFIA NA MEDICINA NUCLEAR (PET e SPECT) Na MN podemos formar imagens gama de projeção (como nas radiografias) ou imagens de cortes ou seções transversais (como nas tomografias). A tomografia convencional realizada com um tubo de raios-X que gira em torno do paciente é chamada tomografia de transmissão e a tomografia realizada a partir da - 25 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 emissão gama dos radioisótopos dentro do paciente são chamadas de tomografia de emissão. Existem duas modalidades de tomografia de emissão: O SPECT (Tomografia por Emissão de Fóton Único) e o PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons). O SPECT é uma técnica de imageamento em que os dados são adquiridos com uma gama câmara, comumente com um colimador de aberturas paralelas, que se move em torno do paciente para coletar um arranjo de imagens em vários ângulos. Neste caso, é chamada de tomografia por emissão de único fóton porque a gama câmara detecta um fóton de cada vez (Figura 25). O PET é uma técnica de imageamento, similar ao SPECT, que utiliza a emissão gama proveniente da aniquilação das partículas beta mais, emitidas por radionuclídeos administrados ao paciente (Figura 26 e 27). A partícula beta mais (ou pósitron), após ser emitida pelo radionuclídeo, percorre uma distância curta (3 a 5 mm) dentro do paciente até que, quando está quase parando é atraída por um elétron do meio, se unindo a ele. Ao fazer isso o elétron e o pósitron se aniquilam gerando dois raios gama de energias iguais a 511 keV que saem em direções opostas. Figura 25: Equipamento de medicina nuclear de três e duas cabeças - 26 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Os nuclídeos emissores + utilizados na MN são: O 11C, 13N, 15O, 18F. Por possuírem meia-vida física muito curta, a fabricação artificial desses radionuclídeos deve ser realizada nas próprias instalações ou bem próximo delas. PRODUÇÃO FORMAÇÃO DA IMAGEM Figura 26: Produção e realização do exame Figura 27: PET/CT - 27 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 IMPORTÂNCIA E PRINCIPAIS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS Adicionalmente à capacidade de diagnóstico de anormalidades, a Medicina Nuclear pode ser utilizado na terapia de certas doenças. As indicações mais comuns são as disfunções benignas da tireóide, como doença de Graves/Plummer ou mesmo, mais recentemente, o bócio multinodular atóxico de grande volume, câncer de tireóide e alívio da dor óssea de origem metastática. Assim como no diagnóstico, a terapia baseia-se na utilização de radiofármacos/radiotraçadores. Os radiotraçadores utilizados para terapia tendem a se concentrar numa determinada parte e não se difundir pelo corpo. Por exemplo, iodo- radioativo na tireóide e o fosfato nos ossos. Isto é importante, pois é o órgão alvo que deve ser tratado e não o resto do corpo (Figura 28). Quando se avalia elementos radioativos para uso terapêutico devem ser selecionados os elementos que emitem partículas beta. Uma vez que essas partículas não são capazes de atravessar grandes distâncias (no tecido humano atravessam poucos centímetros de tecido). Essa propriedade de produzir uma dose elevada sobre uma área confinada e de curto alcance torna a partícula Beta extremamente útil na medicina nuclear. Várias condições , incluindo a doença de Grave, adenoma tóxico , doença de Plummer, e tiroidite , pode evoluir para hipertireoidismo. Figura 28: Iodo radioativo na tireóide - 28 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 RADIOTERAPIA A radioterapia é o tratamento de tumores cancerígenos utilizando fontes de radiação ionizante. Ela tem por objetivo provocar a destruição completa do tumor, conservando a possibilidade de cicatrização dos tecidos sadios, vizinhos ao tumor (Figura 29). Essa destruição é devido à absorção da energia da radiação pelas células. Como as células tumorais são mais sensíveis à irradiação que as sadias e, normalmente, as células sadias tendem a se recuperar mais rapidamente, a radioterapia é considerada uma técnica muito eficaz no combate ao câncer. NOÇÕES SOBRE CÂNCER As células dos diversos órgãos do nosso corpo estão constantemente se reproduzindo, isto é, uma célula adulta divide-se em duas, e por este processo, chamado mitose, vai havendo o crescimento e a renovação das células (Figura 30). A mitose é realizada de acordo com as necessidades do organismo. No entanto, em determinadas ocasiões e por razões ainda não muito conhecidas, certas células se reproduzem com uma Figura 29: Sala de Radioterapia Figura 30: Divisão celular - 29 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 velocidade maior, desencadeando o aparecimento de massas celulares denominadas neoplasias ou, mais comumente, tumores. Nas neoplasias malignas o crescimento é mais rápido, desordenado e infiltrante, as células não guardam semelhança com as que lhes deram origem e têm capacidade de se desenvolver em outras partes do corpo, disseminando-se na maioria das vezes por meio do sistema linfático, fenômeno este denominado metástase, que é a característica principal dos tumores malignos. É desta forma, por exemplo, que um tumor primário de mama pode disseminar-se para os linfonodos da axila e daí para o restante do corpo. São três as possibilidades de tratamento para remover ou destruir células cancerosas: a) Cirurgia b) Quimioterapia c) Radioterapia MODALIDADES DA RADIOTERAPIA A radioterapia é dividida em duas modalidades: TELETERAPIA e BRAQUITERAPIA. A Teleterapia é uma modalidade de radioterapia em que a fonte de radiação é externa ao paciente, posicionada a no mínimo 20 cm de sua superfície. Os equipamentos utilizados em teleterapia são os aceleradores lineares (AL), máquinas de raios-X e os equipamentos com fontes radioativas. Estes últimos utilizam normalmente fontes de Observação: Essas três técnicas podem ser usadas em conjunto ou isoladamente. - 30 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 cobalto-60 que emite raios gama de energia próxima a 1,2 MeV e são chamados de telecobalto ou bombas de cobalto. Os equipamentos de raios-X geram feixes de até 0,250 MeV aproximadamente (tensões de até 250 kV) e os aceleradores lineares geram raios-X de energias de 4 a 20 MeV (Figura 31 e 32). É importante destacar que os tubos de raios-X e os aceleradores de partículas são fontes de radiação que não utilizam elementos químicos radioativos. Dessa forma, eles só produzem radiação quando estão ligados. Outro fato importante é que um objeto ou o próprio corpo, quando irradiado (exposto à radiação) por uma fonte radioativa, NÃO FICA RADIOATIVO. É muito comum confundir-se irradiação com contaminação. A contaminação se caracteriza pela presença de um material indesejável em determinado local. A irradiação é a exposição de um objeto ou de um corpo à radiação. Portanto, pode haver irradiação sem existir contaminação, ou seja, sem contato entre a fonte radiativa e o objeto ou corpo irradiado. No entanto, havendo contaminação Figura 32: Esquema computacional de teleterapia Figura 31: Esquema de um equipamento acelerador de elétrons - 31 - Aplicações Especiais das RadiaçõesAtualização/2015 radioativa (presença de material radioativo), é claro que haverá· irradiação do meio contaminado. A braquiterapia é uma modalidade da radioterapia em que a fonte fica em contato ou dentro do paciente. A grande vantagem da braquiterapia em relação à teleterapia é que ela irradia o tumor com altas doses e os tecidos vizinhos com doses mínimas (Figura 33). Existem diversos tipos de braquiterapia, realizadas com uma grande variedade de fontes radioativas (Exs. 226 Ra, 60 Co, 137 Cs, 192 Ir, 198 Au e 90 Sr). Estas fontes são em geral acondicionadas em cápsulas de metal cujas dimensões variam de alguns milímetros a poucos centímetros. A introdução das fontes no paciente é feita por meio de punção de agulhas contendo o material radioativo, implantes cirúrgicos ou por cavidades do corpo. Durante o tratamento o paciente deve ficar internado no hospital, pois se torna ele mesmo uma fonte radioativa, sendo liberado apenas depois das fontes serem retiradas. Figura 33: Implantes de sementes radioativas de I125 na próstata de um paciente guiado por USG - 32 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 APLICAÇÕES DAS RADIAÇÕES NA AGRICULTURA Na agricultura, podemos empregar as radiações para tratar os alimentos (irradiação de alimentos), eliminar pragas nas plantações e acompanhar o desenvolvimento de plantas. USO DE TRAÇADORES RADIOATIVOS Podemos usar os radioisótopos como traçadores ou marcadores, para acompanhar o metabolismo das plantas, verificando o que elas precisam para crescer e o que é absorvido pelas raízes e pelas folhas e onde um determinado elemento químico fica retido. Uma planta que absorveu um traçador radioativo pode, também, ser radiografada, permitindo localizar o radioisótopo. Para isso, basta colocar um filme, semelhante ao usado em radiografias, sobre a região da planta durante alguns dias e revelá-lo. Obtém-se o que se chama de auto-radiografia da planta (Figura 34). A técnica do uso de traçadores radioativos também possibilita o estudo do comportamento de insetos, como abelhas e formigas. Ao ingerirem radioisótopos, os insetos ficam marcados, porque passam a emitir radiação, e seu raio de ação pode ser acompanhado. Figura 34: Desenho esquemático de traçadores radioativos em plantas. - 33 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 No caso de formigas, descobre-se onde fica o formigueiro e, no caso de abelhas, até as flores de sua preferência (Figura 35 e 36). A marcação de insetos com radioisótopos também é muito útil para eliminação de pragas, identificando qual predador se alimenta de determinado inseto indesejável. Neste caso o predador é usado em vez de inseticidas nocivos à saúde. Outra forma de eliminar pragas é esterilizar os respectivos machos por radiação gama e depois soltá-los no ambiente para competirem com os normais, reduzindo sua reprodução sucessivamente, até a eliminação da praga, sem qualquer poluição com produtos químicos. Em defesa da alimentação e do meio ambiente, pode-se, também, determinar se um agrotóxico fica retido nos alimentos ou quanto vai para o solo, para a água e para a atmosfera. Figura 35: Desenho esquemático de traçadores radioativos em insetos Figura 36: Desenho esquemático de traçadores radioativos em insetos - 34 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS Desde os primeiros tempos, as pessoas procuram cuidar melhor de seus alimentos utilizando variados métodos de preservação, de modo a controlar a sua deterioração, a transmissão de doenças e a infestação de insetos. Os métodos atualmente utilizados para conservar os alimentos incluem o congelamento, a secagem, o enlatamento, a preparação de conservas, a pasteurização, a fermentação, o resfriamento, o armazenamento em atmosfera controlada, a fumigação química e a aplicação de aditivos preservantes. A irradiação é o método mais recentemente utilizado para conservar alimentos (Figura 37). Estima-se que um quarto a um terço da produção mundial de alimentos é perdida devido a pragas, insetos, bactérias, fungos e enzimas que comem, estragam ou destroem as colheitas. É incalculável a magnitude da perda econômica associada a doenças originárias de alimentos e à rejeição de alimentos contaminados por parasitas e micro-organismos patogênicos. Métodos novos e eletivos são necessários para aumentar a oferta de alimentos sadios e seguros, para uma população mundial em expansão. A irradiação de vários alimentos, particularmente frango, mariscos e carne de porco em combinação com os métodos mais limpos de processamento de alimentos poderão reduzir, significativamente, a incidência de doenças causadas por micro-organismos. Irradiação de alimentos é um processo físico de tratamento comparável à pasteurização térmica, ao congelamento ou enlatamento. Este processo envolve a exposição do alimento, embalado ou não, a um dos três tipos de energia ionizante: raios gama, raios-X ou feixe de elétrons (~ 5 MeV). Isto é feito em uma sala ou câmara especial de processamento por um tempo determinado. Podemos utilizar para irradiar os Figura 37: Símbolo internacional “Radura”. - 35 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 alimentos dois tipos de equipamentos: os aceleradores lineares de elétrons e os irradiadores gama. A fonte mais comum de raios gama, utilizada para processamento de alimentos é a que utilizam o radioisótopo Cobalto-60. O alimento é tratado por raios gama, originados do Cobalto-60 em uma instalação conhecida como irradiador. A energia gama emitida pelo Cobalto-60 pode penetrar no alimento causando pequenas e inofensivas mudanças moleculares que também ocorrem no ato de cozinhar, enlatar ou congelar. De fato, a energia simplesmente passa através do alimento que está sendo tratado e, diferentemente dos tratamentos químicos, não deixam resíduos. A irradiação é chamada de “processo frio” porque a variação de temperatura dos alimentos processados é insignificante (Figura 38 e 39). Os produtos que foram irradiados podem ser transportados, armazenados ou consumidos imediatamente após o tratamento. Figura 38: Maquete do processo de irradiação de alimentos - 36 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Figura 39: Desenho esquemático do irradiador de alimentos A irradiação funciona pela interrupção dos processos orgânicos que levam o alimento ao apodrecimento. Raios gama, raios-X ou elétrons são absorvidos pela água ou outras moléculas constituintes dos alimentos, com as quais entram em contato. No processo, são rompidas células microbianas, tais como bactérias, leveduras e fungos. Além disso, parasitas, insetos e seus ovos e larvas são mortos ou se tornam estéreis. A irradiação não é um “milagre” técnico capaz de resolver todos os problemas de preservação de alimentos. Ela não pode transformar alimento deteriorado em alimento de alta qualidade. Como também não é adequada para todos os tipos de alimentos, mas podem resolver problemas específicos importantes e complementares outras tecnologias. Ela representa uma grande promessa no controle de doenças originárias de alimentos, tais como a salmonelose, que é um problema mundial. Também é efetiva na desinfestação, particularmente em climas quentes, em que os insetos consomem uma grande porcentagem da safra colhida. A irradiação de alimentos pode aumentar o tempo de prateleira - estocagem - de muitos alimentos a custos competitivos, ao mesmo tempo em que fornece uma alternativa ao uso de fumigantes e substâncias químicas, muita das- 37 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 quais deixam resíduos. Em muitos casos, alimentos irradiados em sua temperatura de armazenamento ideal e em embalagens a vácuo durarão mais e manterão por mais tempo sua textura original, sabor e valor nutritivo se comparadas com aqueles termicamente pasteurizados, esterilizados ou enlatados. A irradiação de alimentos tem sido objeto de pesquisas intensas por mais de quarenta anos. Organizações internacionais concluíram destas pesquisas que a irradiação de alimentos é segura e benéfica. Similarmente, o valor nutricional de alimentos irradiados foi comparado com o de alimentos tratados por outros métodos, com resultados favoráveis. Em 1983, a Comissão do Codex Alimentarius, um grupo das Nações Unidas que desenvolve normas internacionais para alimentos, concluiu que alimentos irradiados abaixo de 10 kGy não apresentam risco toxicológico. Atualmente, níveis de tratamento dentro desta faixa, estão sendo mundialmente realizados. É importante destacar que o processamento por radiação não torna o alimento radioativo da mesma forma que os raios-X usados para a segurança em aeroportos não tornam as bagagens radioativas. Níveis de tratamento e seus efeitos A irradiação de alimentos pode produzir uma variedade de resultados, dependendo do tipo do alimento e da quantidade de energia ionizante absorvida pelo mesmo. Esta energia é usualmente medida por uma unidade conhecida como “o gray” (Gy) ou “o rad”, sendo que: 1 Gy = 100 rads Quando um quilograma de matéria absorve a energia de 1 joule, diz-se que ela recebeu a dose de um Gray. - 38 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 TIPO DE ALIMENTO DOSE EM KGy EFEITO CARNE, FRANGO, PEIXE, MARISCO, ALGUNS VEGETAIS, ALIMENTOS PREPARADOS 20 - 70 Esterilização. Os produtos tratados podem ser armazenados à temperatura ambiente. ESPECIARIAS E OUTRAS FRUTAS 8 - 30 Reduz o número de micro-organismos e destrói insetos: substitui produtos químicos CARNE, FRANGO, PEIXE 1 - 10 Retarda a deterioração, mata alguns tipos de bactérias patogênicas (Salmonela). MORANGOS E OUTRAS FRUTAS 1 - 4 Aumenta o tempo de prateleira, retarda o aparecimento de mofo. GRÃOS, FRUTAS E VEGETAIS 0,1 - 1 Mata insetos ou evita sua reprodução. Pode substituir parcialmente os fumigantes BANANA, ABACATE, MANGA, MAMÃO E OUTRAS FRUTAS NÃO CÍTRICAS 0,25 - 0,35 Retarda a maturação. CARNE DE PORCO 0,08 - 0,15 Inativa a Trinchinela. BATATA, CEBOLA, ALHO 0,05 - 0,15 Inibe o brotamento * kGy (quilogray) = 1000 Gy Alimentos irradiados já foram aprovados em dezenas de países ao redor do mundo. Uma vez liberados para o consumo, esses devem ser rotulados com o símbolo internacional denominado “Radura”. O símbolo deve ser acompanhado pelas palavras “tratado por irradiação” ou “tratado com radiação” (figura 40). Esta rotulagem é exigida por lei, para informar aos consumidores que eles estão comprando um alimento que foi processado. Este aviso é necessário porque a radiação não deixa nenhum vestígio indicando que o alimento foi irradiado seja pela aparência, cheiro ou toque. Isto contrasta com outras técnicas de processamento, tais como cozinhar, enlatar ou congelar, processos em que se percebe o tratamento. Figura 40: rotulagem exigida - 39 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 Produtos irradiados estão à disposição dos consumidores em certos mercados dos Estados Unidos, desde 1992. Estes produtos são irradiados para a extensão do seu tempo de prateleira, e têm sido bem recebidos pelos consumidores. Carne de frango tem sido irradiada para controlar a Salmonela e colocada à disposição de mercados, limitados dos EUA desde 1993. Mais recentemente, o mercado de alimentos tem utilizado frango irradiado em quantidades crescentes. Estabelecimentos tais como hospitais e restaurantes têm utilizado este produto visando à redução de bactérias patogênicas, e reduzindo o risco de contaminação cruzada de outros alimentos, durante a sua preparação. A irradiação custa nos Estados Unidos entre US$0,01 a US$ 0,10 por quilograma de alimento irradiado. APLICAÇÕES DAS RADIAÇÕES NA INDÚSTRIA Podemos utilizar as radiações ionizantes para realizar testes de controle de qualidade de produtos industriais, ou mesmo, tornar um produto mais confiável para o consumo. No Brasil, de acordo com os dados obtidos junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, as aplicações das radiações ionizantes na indústria são realizadas em cerca de 900 instalações radiativas, as quais manuseiam aproximadamente 3.000 fontes de radiação em diversas aplicações durante o processo industrial, tanto em linhas de produção como no controle da qualidade dos produtos finais. Essas fontes são empregadas nos mais diversos setores industriais, tais como siderurgia, mineração, bebidas, automobilístico, aeroviário, naval e petrolífero, papel e celulose, entre outros. - 40 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 A RADIOGRAFIA INDUSTRIAL A radiografia industrial pode ser descrita como um ensaio não destrutivo (END) de materiais, que utiliza fontes de radiação para fazer imagens de peças, estruturas ou equipamentos, visando assegurar a integridade desses produtos (Figura 41 e 42). Assim, podemos realizar radiografias de peças automotivas importantes para a segurança de veículos, tal como partes constituintes do freio; radiografias de vasos de contenção, caldeiras e tubulações de gás ou petróleo para verificar rachaduras, vazamentos ou defeitos; inspeções de soldas realizadas em turbinas de aviões, estruturas metálicas de edifícios e pontes; etc. A radiografia industrial pode ser realizada através de equipamentos geradores de raios-X ou de irradiadores de gamagrafia. Os irradiadores de gamagrafia são equipamentos que utilizam fontes radioativas de Irídio-192, Selênio-75, Térbio-169, Césio-137 ou Cobalto-60. No Brasil, 90% dos irradiadores de gamagrafia utilizam fontes de 192 Ir, seguidos dos irradiadores de 60 Co e 75 Se, com 5% cada (Figura 43). Por serem portáteis, os irradiadores de 192 Ir são os mais Figura 42: Radiografia de uma junta soldada numa tubulação de gás. Figura 41: Radiografia de uma turbina. - 41 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 utilizados pelas empresas prestadoras de serviços em gamagrafia industrial, as quais executam tarefas em diversas localidades do País. Irradiadores de 60 Co têm sido muito pouco utilizados pelas empresas de radiografias industrial do país. O uso deles geralmente é restrito ao recinto blindado (bunker) da própria instalação. As instalações onde são realizadas as radiografias industriais podem ser classificadas como instalações fechadas ou abertas. Instalação fechada é uma instalação de radiografia industrial onde o armazenamento e o uso de fontes de radiação é realizado em recintos especiais fechados, com blindagem permanente, cuja construção é adaptada ao tipo e à atividade da fonte radioativa que será utilizada. Tais recintos blindados são normalmente denominados bunkers. Instalação aberta é aquela onde o armazenamento e o uso de fontes de radiação é realizado em espaços isolados ou cercados. Caracteriza-se como um local temporário, onde são executadas as radiografias, e para onde os irradiadores precisam ser deslocados. Como exemplo de áreas industriais caracterizadas como instalações abertas, podemos citar os pólos petroquímicos, refinarias de petróleo, fábricas de papel e celulose, plataformas continentais, estaleiros e hangares de aviação (figura 44). Os trabalhos em instalações abertas são realizados em locais fisicamente delimitados, nos quais a fonte de radiação é exposta, e cujo acesso é controlado.Figura 43: Aparelho gamagrafia Figura 44: Pólos Petroquímicos - 42 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 MEDIDORES DE NÍVEIS Para saber o nível de um líquido em um tanque, podemos utilizar as radiações. Coloca-se uma fonte radiativa em um dos lados e, no lado oposto, um detector ligado a um dispositivo (aparelho) de indicação ou de medição (Figura 45). Quando o líquido alcança a altura da fonte, a maior parte da radiação emitida pela fonte é absorvida por ele e deixa de chegar ao detector, significando que o líquido atingiu aquele nível. O mesmo artifício serve para indicar um nível mínimo de líquido desejado em um tanque. Nesse caso, a fonte e o detector devem ser colocados na posição adequada e, quando o líquido atingir esse ponto, deixará de absorver a radiação, que chegará ao detector com maior intensidade. Em geral, acrescenta-se um sistema de alarme, para soar ao ser atingido esse nível. No caso de indicação de nível máximo ocorrerá o contrário, isto é, a radiação chegará ao detector com menor intensidade. IRRADIADORES DE GRANDE PORTE Podemos utilizar irradiadores de grande porte, normalmente de Cobalto-60, em inúmeras aplicações industriais, tais como: esterilização de material médico-cirúrgico, Figura 45: Desenho esquemático de um medidor de nível - 43 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 odontológico, de laboratório, frascos, embalagens, fármacos, descontaminação de produtos, cosméticos, matérias primas, fitoterápicos, chás, processamento de alimentos, especiarias, condimentos, corantes, coloração de vidros, pedras preciosas, melhoria de fibras sintéticas e de polímeros, etc. (figura 46). A Indústria Farmacêutica utiliza fontes radioativas de grande porte para esterilizar seringas, luvas cirúrgicas, gaze e material farmacêutico descartável, em geral. Seria praticamente impossível esterilizar, pelos métodos convencionais que necessitam de altas temperaturas, tais materiais, que se deformariam ou se danificariam de tal forma que não poderiam ser mais utilizados. APLICAÇÕES DIVERSAS NA INDÚSTRIA Na indústria automobilística é útil o uso de isótopos radioativos para estabelecer o tipo de liga ferrosa mais duradoura para a fabricação de cilindros. Colocam- se no motor experimental, cilindros da liga desejada, contendo ferro radioativo (Fe-59). Basta depois medir, com a ajuda de um detector, a radioatividade do óleo utilizado, para saber quanto de ferro foi gasto pelo atrito nas paredes do cilindro. Podemos utilizar isótopos radioativos para medir o desgaste de pneus. Adicionando elementos radioativos (como o fósforo-32) no material do pneu e depois andando com o carro na estrada por um pequeno trecho, pode-se determinar a quantidade de borracha perdida pelo atrito com a estrada. Figura 46: Agulhas esterelizadas com fontes radioativas de grande porte - 44 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 A indústria de detergentes pode testar seus produtos utilizando isótopos radioativos. Isto é feito manchando-se tecidos com materiais que contenham isótopos radioativos. Após a lavagem, é possível medir a quantidade de material radioativo que permanece no tecido. Testes parecidos podem determinar a eficiência de máquinas de lavar e até de aspiradores de pó. APLICAÇÕES DAS RADIAÇÕES NO MEIO AMBIENTE No meio ambiente, podemos utilizar as radiações para várias finalidades. Por exemplo: (a) Uso de traçadores radioativos para estudar a poluição de águas subterrâneas e propagação de contaminantes nos rios; (b) Uso de traçadores radioativos para determinar o transporte de sedimentos em rios, com vista a quantificar o assoreamento dos reservatórios ao longo do tempo e propor medidas de prevenção; (c) Uso de irradiadores para tratamento de água e esgoto; (d) Uso de técnicas nucleares para determinar contaminação de alimentos, animais, pessoas, solo, ar, vegetais, rios, etc., com metais tóxicos. A técnica utilizada para esse propósito é denominada análise por ativação neutrônica e consiste de irradiar amostras desses materiais com nêutrons, em um reator nuclear de pesquisas, fazendo com que os elementos presentes nessa amostra se tornem radioativo. Em seguida, mede- se com a ajuda de detectores sofisticados, a radioatividade induzida. Essa técnica permite identificar com bastante exatidão impurezas da ordem de ppb (partes por bilhão). - 45 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 APLICAÇÕES DAS RADIAÇÕES NA GERAÇÃO DE ENERGIA Os nêutrons, assim como as radiações eletromagnéticas, não possuem carga. Por isso, eles são muito penetrantes. Os nêutrons podem viajar vários centímetros através da matéria sem que ocorra qualquer tipo de interação. Quando ele sofre interação, essa ocorre com o núcleo do material absorvedor, podendo arrancar núcleos (prótons ou nêutrons) dos átomos desse material. Os nêutrons podem, também, ser capturados pelos núcleos atômicos dos átomos sendo retidos no mesmo, tornando-os radioativos. Nesse caso, o excesso de energia é liberado via decaimento radioativo ou emissão espontânea de raios gama. Alguns nuclídeos como o Urânio-235 (natural) e o Plutônio-239 (artificial), podem dividir-se em duas partes aproximadamente iguais quando são atingidos por um nêutron (Figura 47). Esta reação é chamada de Fissão Nuclear. Quando ela ocorre há uma liberação enorme de energia e, em geral, dois ou três novos nêutrons. MeV195n2BrLanU 10 87 35 147 57 1 0 235 92 Os nêutrons liberados podem colidir com outros núcleos das vizinhanças, liberando ainda mais energia e mais nêutrons, dando prosseguimento ao processo, que é chamado reação em cadeia (Figura 48). Figura 47: Desenho esquemático de uma fissão nuclear - 46 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 As explosões nucleares utilizam reações em cadeia, ocorrendo de forma descontrolada, como mecanismo básico. Entretanto, as reações em cadeia não precisam necessariamente resultar numa grande explosão. Se inserirmos no combustível (material físsil) barra de material absorvedor de nêutrons, como por exemplo, boro ou cádmio poderá controlar a quantidade de nêutrons disponíveis para provocar fissões, simplesmente introduzindo ou retirando parcialmente às barras absorvedoras. Este arranjo constitui-se num reator nuclear, que pode ser usado, entre outros fins, para produzir energia elétrica. Numa usina nuclear, a energia liberada nas fissões, sob forma de calor, é empregada para gerar vapor d’água, que será então utilizado para impulsionar as turbinas, de modo análogo ao que ocorre em uma central térmica e a carvão. Além da energia e dos nêutrons, as fissões dão origem a elementos químicos, geralmente radioativos, conhecidos como produtos de fissão, que virão a constituir a maior parte do chamado rejeito radioativo. Figura 48: Desenho esquemático de uma reação em cadeia - 47 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 CONCLUSÃO A radiação ionizante, devido as suas características e aos efeitos que produz ao interagir com a matéria, pode ser aplicada a processos industriais de grande relevância econômica. Esta tecnologia apresenta um futuro promissor devido a continua e crescente utilização dos processos já estabelecidos e as permanentes atividades de pesquisa e desenvolvimento nesta área. Podemos observar que as radiações ionizantes podem ser usadas em diversas áreas possibilitando explorar segmentos, que não envolvem apenas o setor médico. Dessa forma, pode-se dizer que a radiologia está em constante expansão se desenvolvendo cada vez mais parao bem comum. Isto inclusive nos mostra que as possibilidades nesta área são infinitas. - 48 - Aplicações Especiais das Radiações Atualização/2015 BIBLIOGRAFIA CNEN-COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Serviços de Radioproteção, NE-3.02. Resolução CNEN 12/88, agosto de 1988 (CNEN NE 3.02); AIEA – AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA. Irradiação de alimentos: ficção e realidade. Trad. Comissão Nacional de Energia Nuclear – Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear & Governo do Estado de Minas Gerais – Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Minas Gerais: 1991. Tradução de: Facts About Food Irradiation; CNEN-COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Requisitos de Segurança e Proteção Radiológica para Serviços de Radiografia Industrial, NN-6.04. Resolução CNEN 145/13, março de 2013 (CNEN NN 6.04); BUSHONG, Stewart Carlyle. Ciência Radiológica para tecnólogos: física, biologia e proteção. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier. NAVARRO, M.V.T., LEITE, H. J. 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