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DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO Hipocalemia, hipercalemia e as principais alterações do potássio. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO CONCEITOS BÁSICOS → REVISÃO • Valores normais: 3,5-5,5 mEq/L. • Localização: Intracelular! • Função: Excitabilidade neuromuscular. • Distúrbio de potássio é distúrbio de: Fluxo celular (subchefe) e/ou aldosterona (chefe). o Fluxo celular → Pela bomba de Sódio e Potássio, fazem o K+ entrar na célula e tira o sódio, são 3 principais fatores que influenciam a bomba: pH alcalino, adrenalina e insulina. o Aldosterona: Um aumento da aldosterona joga K+ e H+ para fora em troca de Na+ no ENaC (Epitelial Sodium Channel). • Célula-alvo: Células musculares, cardíacas. FLUXO CELULAR • Insulina: O aumento dos níveis de insulina joga o potássio para dentro. (Lembrar que na cetoacidose diabética o tratamento é VIP, volume, insulina e K+. O potássio da dieta estimula a insulina! • Catecolaminas: Estimulam a bomba de sódio e potássio, jogando potássio pra dentro da célula. Por isso, um dos tratamentos da hipercalemia é a inalação de beta2-adrenérgico. • Alcalose: O H+ tende a entrar dentro da célula quando em altas concentrações, jogando K+ fora. Nas alcaloses não tem H+ para entrar na célula e nem para ser secretado nos túbulos, levando à hipocalemia. ALDOSTERONA • Hiperaldosteronismo: A aldosterona e o SRAA estimula a reabsorção de Na+ e excreção de K+ e H+, levando à alcalose metabólica hipocalêmica. • Hipoaldosteronismo: Há uma maior secreção de sódio e uma maior reabsorção de potássio, levando à uma acidose metabólica hipercalêmica (ATR IV). DIURÉTICOS → REVISÃO BÁSICA DIURÉTICOS OSMÓTICOS • Exemplo: Manitol! • Mecanismo de ação: Substância hiperosmolar, aumenta a osmolatidade do túbulo e impede a reabsorção adequada da água (principalmente no túbulo proximal, principal draga do néfron). INIBIDORES DA ANIDRASE CARBÔNICA (AC) • Exemplo: Acetazolamida • Mecanismo de ação: A anidrase carbônica é uma enzima essencial na reabsorção de bicarbonato junto com o sódio, sem ela, o sódio não é reabsorvido no proximal, estimula o ENaC a reabsorver sódio e jogar potássio fora, causando uma acidose (ATR tipo II) e maior diurese. DIURÉTICOS DE ALÇA • Exemplo: Furosemida (Lasix). • Mecanismo de ação: Inibe o co-transportador NaK2Cl, essa enzima não vai conseguir reabsorver sódio e potássio e tornar o interstício hiperosmolar levando a um aumento da diurese (inibição do ADH) e alcalose metabólica hipocalêmica. • Os diuréticos de alça estimulam a calciúria: Por mecanismos idiopáticos. DIURÉTICOS TIAZÍDICOS • Exemplos: Hidroclorotiazida, clortalidona. • Mecanismo: Inibe o trocador Na-Cl, eliminando sódio na urina, junto com potássio e hidrogênio (via ENac), causando também uma alcalose hipocalêmica. • Os tiazídicos aumentam o cálcio no sangue e diminuem o cálcio na urina: Por isso são usados no tratamento da nefrolitíase. O mecanismo ainda é idiopático! DIURÉTICOS POUPADORES DE K+ • Classes: o Antagonistas da Aldosterona: Espirono- lactona e Eplerenone. o Bloqueadores do ENaC: Amilorida e Triantereno. • Mecanismo de ação: Antagonizam a aldosterona ou bloqueiam o canal do ENaC, levando à um aumento da excreção de sódio e maior reabsorção de potássio e hidrogênio (acidose met. Hipercalêmica). HIPOCALEMIA (K < 3,5 mEq/L) ETIOLOGIA 1. Aporte calórico insuficiente: Tal etiologia é importante no pós-operatório de cirurgia abdomi- nal, ele tá em dieta zero e não repomos potássio na reposição basal. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O 2. Perda do TGI: a. Vômitos: O paciente perde muito HCl, estimulando a diurese de potássio em troca de Na+ e o balanço interno de potássio (quem vomita perde K+). b. Ureterosigmoidostomia: Implanta o ure- ter no sigmóide. Nossa urina é rica em Cl-, a mucosa reabsorve Cloreto e elimina potássio e bicarbonato em troca. 3. Absorção de potássios pelas células: Beta-2 agonistas, insulina, distúrbio acidobásico e trata- mento da anemia grave (megaloblástica). 4. Perda renal: Diuréticos (síndrome de Batter/ Furosemida e Gitelman/Hidroclorotiazida), hiper- aldosteronismo, hipertensão renovascular e hipomagnesemia (principal causa de hipocalemia refratária!), acidose tubular renal tipo I e II e síndrome de Liddle (ENaC funciona mesmo sem ter aldosterona). 5. Drogas que causam hipocalemia: CCAA! a. Corticoide b. Cloroquina c. Aminoglicosídeos: Causa NTA! d. Anfoterecina B: Causa NTA! *Paralisia periódica hipocalêmica: Doença hereditária associada à alterações nos canais de cálcio, em que o paciente após exercícios intensos + dieta rica em carbo apresenta ataques de paralisia flácida + hipocalemia. QUADRO CLÍNICO • Metabólicas: Diminuição da liberação de aldoste- rona, diminuição da ação da insulina. • Cardiovasculares: Arritmias, taquicardia. o Alterações eletrocardiográficas: ▪ Aplanamento da onda T ▪ Depressão do segmento ST ▪ Maior intervalo QT ▪ Onda U proeminente ▪ Onda P espiculada. • Neuromusculares: Diminui a excitabilidade neuro- muscular (apatia, fraqueza e tetania), mal estar. • Digestivas: Náusea, distensão abdominal e íleo metabólico. • Renais: Diabetes insupidus nefrogênico e doença renal crônica por lesão tubular, fibrose intersticial e atrofia tubular. HIPOCALEMIA X DIGITÁLICOS (Digoxina) • Os digitálicos impedem a bomba de sódio e potássio: Levam ao aumento do potássio fora (hipercalemia). • Com muito sódio dentro, eu tenho dificuldade em botar o cálcio pra fora e colocar sódio pra dentro • O excesso de cálcio no intracelular aumenta as contrações cardíacas: + Arritmias! • A hipocalemia aumenta o risco de intoxicação por digitálicos: Porque a digoxina se liga no mesmo sítio do potássio, com o potássio baixo, mais digoxina vai atuar e o paciente tem uma virada da hipo pra hipercalemia. DIAGNÓSTICO 1: FLUXOGRAMA – Hipocalemia → Afastar baixa ingestão → Afastar translocação para o intracelular → Dosar potássio urinário: • Potássio urinário < 20 → Perdas extrarrenais Diarreia, vômitos, ureterosigmoidostomia. • Potássio urinário > 20 → Perda renal → Avaliar Pressão arterial: o PA alta → Hiperaldo, hipertensão renovascular, síndrome de Liddle. o Pa baixa → ATR, alcalose metabólica, diuréticos (Batter e Gittelman). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O TRATAMENTO → 3 FATORES: • Gravidade: Hipocalemias < 3 nos chamam atenção para uma gravidade maior, geralmente quadros leves tem pouca repercussão cardiovascular. • Causa: Se a causa for o uso de um diurético, tirar. • Déficit de potássio: Se a reposição vai ser VO, EV. HIPOCALEMIA LEVE → REPOSIÇÃO VIA ORAL • Xarope de KCl 6% (15mL = 12mEq): Fazer 10 a 20 mL após as refeições 3-4x ao dia. • KCl comprimido (1cp = 6mEq): Fazer 2 comprimi- dos após as refeições 3-4 vezes ao dia. HIPOCALEMIA GRAVE (< 3,0 mEq) → Repor EV! • Ampola KCl 10% (10mL) = 13mEq de K+. • Ampola de KCl 19,1% (10mL) = 25 mEq de K+. • Qual a dose máxima? Até 40 mEq/h! o Em acesso periférico: 40 mEq/L. o Em acesso central: 60-120 mEq/L. • Qual a solução: Soro Fisiológico preferencialmente • Se refratariedade: Corrigir hipomagnesemia! O magnésio é invejoso! Se ele estiver baixo, o potássio vai continuar baixo. HIPERCALEMIA (K+ > 5,5 mEq/L) ETIOLOGIA • Aporte calêmico excessivo: Iatrogênico! Seja por aporte venoso em paciente normal ou aporte dietético em paciente com insuficiência renal. • Liberação da carga de potássio do intracelular → Lise celular! Hemólise, rabdomiólise,síndrome de lise tumoral. • Diminuição da captação celular: Cetoacidose diabética, beta-bloqueador, succinilcolina e digitálicos. • Diminuição da eliminação renal de potássio: Insuficiência renal, diuréticos poupadores de potássio, hipoaldosteronismo primário ou secundário (hiporreninêmico), insuficiência adre- nal. • Pseudohipercalemia: Duas causas principais! O uso de torniquete para punção por um tempo maior e leucocitose ou plaquetose muito grande. *Hemotransfusão? Causa hipercalemia, hipocalcemia e alcalose metabólica (a bolsa tem citrato)! QUADRO CLÍNICO → MUITO SEMELHANTE À HIPO Alterações Eletrocardiográficas (Arritmias!) • Ondas T altas e pontiaguda • Prolongamento do intervalo PR • Onda P de amplitude diminuída • Alargamento do QRS • Fusão do complexo QRS com onda t, configurando ritmo sinusoidal: Risco eminente de parada! TRATAMENTO → OBJETIVOS • Antagonizar o efeito do potássio nas células cardíacas → Gluconato de Cálcio: O gluconato é um estabilizador de membrana, não interfere nos níveis de potássio, mas protege o cardiomiócito contra os efeitos pró-arritmicos da hipercalemia. Devemos fazer sempre que há hipercalemia com alteração eletrocardiográfica. • Desviar o potássio pra dentro da célula → Insulinoterapia: É a principal medida, mas pode ser feita também com inalação via B2-agonista e bicarbonato (3 reguladores do fluxo celular). • Remover o potássio do organismo → Diuréticos: O ideal é a furosemida com ou sem hidroclorotiazi- da e associada ao Sorcal, uma resina de troca! ANTAGONIZAR O EFEITO DO POTÁSSIO • Gluconato de Cálcio 10% EV: 1 FA, 2-5 min. Pode repetir em 5-10 min até conseguir estabilizar o potássio desse paciente. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • O gluconato de cálcio é a primeira medida a ser tomada para salvar a vida desse paciente, que pode ter uma parada a qualquer momento! DESVIAR O POTÁSSIO PRA DENTRO DA CÉLULA • Glicoinsulinoterapia: Solução combinada EV de insulina regular 10U + glicose 50g, correr por 20-60 minutos). • Nebulização com Fenoterol: O b2-agonista vai jogar o potássio para dentro da célula (é uma catecolamina). • Bicarbonato EV: Indicado mais se o paciente tem uma acidose metabólica associada. REMOVER O POTÁSSIO DO ORGANISMO • Diurético → Furosemida: Diurético de alça que depura o potássio da corrente. • Resina de Troca → Sorcal: Elimina o potássio pelas excretas. Envelopes de 30g de pós, diluir 1 envelope em água ou suco e tomar a cada 12h.
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