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CURSO UNASUS Avaliação Multidimensional da Saúde da Pessoa Idosa. Tema 1- Avaliação Multidimensional da Saúde da Pessoa Idosa. A avaliação do estado geral de saúde da pessoa idosa deve ser compreendida a partir de uma avaliação multidimensional, que permite a compreensão ampliada e integral, buscando identificar e intervir nas áreas mais comprometidas e que podem afetar sua funcionalidade (BRASIL, 2018). 1.1. DIMENSÃO CLÍNICA A avaliação da dimensão clínica considera o histórico de saúde-doença por meio de uma anamnese ampliada e centrada no idoso, e o exame físico tradicional, para identificar agravos (quedas, hematomas, fraturas etc.), doenças crônicas e agudas, intervenções médicas já sofridas ao longo da vida, hábitos, antecedentes familiares, quantidade e tipos de medicamentos utilizados (BRASIL, 2018). Uma vez que a relação saúde/doença na pessoa idosa é complexa, na avaliação clínica, deve-se atentar aos seguintes fatores: Multimorbidade: Multimorbidade: presença de duas ou mais morbidades, doenças crônicas físicas ou mentais, de forma simultânea em um indivíduo; Polifarmácia: Polifarmácia: uso de múltiplos medicamentos; Enfermidade inaparente: Enfermidade inaparente: problemas que não geram queixas durante um longo período de sua evolução; Perda funcional: Perda funcional: dificuldade em desempenhar atividades cotidianas em algum domínio da vida, em função de um problema de saúde; Síndromes geriátricas: Síndromes geriátricas: condições frequentes em idosos que não se encaixam facilmente em doenças/condições bem estabelecidas, mas que apresentam características comuns. Também conhecidas como os “cinco Is da geriatria”, são elas: instabilidade postural, insuficiência cognitiva, imobilidade, incontinência e iatrogenia; Apresentações atípicas: Apresentações atípicas: sinais e sintomas que não são clássicos de uma doença. 1.2. DIMENSÃO PSICOSSOCIAL A avaliação da dimensão psicossocial deve ser focada nos aspectos relacionados à cognição, à memória, ao humor, aos comportamentos e à saúde mental de forma geral, atentando tanto para situações de sofrimento psíquico quanto de transtornos mentais estabelecidos. Compreende também o entendimento da dinâmica familiar, do suporte familiar e social, de questões econômicas, culturais, ambientais, étnico-raciais, de gênero, por tratar de aspectos que frequentemente interferem nas condições de saúde das pessoas (BRASIL, 2018). Considerados um dos “ cinco Is da geriatria” Instabilidade postural Insuficiência cognitiva Imobilidade Incontinência Iatrogenia 1.3. DIMENSÃO FUNCIONAL A avaliação da dimensão funcional foca, de forma objetiva, na capacidade de uma pessoa realizar atividades da vida diária, utilizando diferentes habilidades, de modo a identificar se consegue desempenhar as atividades necessárias para cuidar de si (como tomar banho, alimentar-se, vestir-se etc.), interagir com sua família, com seu ambiente físico, com as pessoas de sua comunidade e transitar por seu território (BRASIL, 2018). Tema 2- Avaliação Psicossocial. A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa traz um campo para registro de respostas a algumas perguntas que podem triar alterações cognitivas e de humor na página 23, em informações complementares. As perguntas são as seguintes: 1. Alguém da família ou algum(a) amigo(a) falou que você está ficando esquecido(a)? 2. O esquecimento está piorando nos últimos meses? 3. O esquecimento está impedindo a realização de alguma atividade do cotidiano? 4. No último mês, você ficou com desânimo, tristeza ou desesperança? 5. No último mês, você perdeu o interesse ou o prazer em atividades anteriormente prazerosas? https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/caderneta_saude_pessoa_idosa_5ed.pdf Uma resposta positiva a qualquer um dos itens acima indica a necessidade de uma avaliação neuropsicológica mais específica. Para auxiliar nessa avaliação, alguns testes estão disponíveis, todavia eles também servem apenas para rastreio e não para diagnóstico. O diagnóstico propriamente dito é feito de acordo com os critérios: ✥ Do Código Internacional de Doenças (CID10), ✥ Da Organização Mundial da Saúde (OMS), ou do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSMV), ✥ Da American Psychiatric Association (APA). Caso necessário, o paciente deve ser encaminhado para testes neuropsicológicos mais elaborados. A seguir, são apresentados alguns instrumentos que auxiliam na avaliação da capacidade cognitiva e do humor da pessoa idosa, a saber: Escala de depressão geriátrica, 10‐point cognitive screener (10‐CS) e Teste do Desenho do Relógio. Na identificação de anormalidades nos resultados destes testes, avaliações especializadas (com psicólogos, psiquiatras e neurologistas) podem ser necessárias. 2.1.1. ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA A Escala de depressão geriátrica é usada para rastreio de depressão em idosos. É um questionário de 15 perguntas com respostas objetivas (sim ou não) a respeito de como a pessoa idosa tem se sentido durante a última semana. Para analisar os resultados do teste, a cada resposta coincidente com uma conotação negativa, some 1 ponto. As perguntas não podem ser alteradas. Deve-se perguntar exatamente o que consta no instrumento. Suspeita-se de depressão se a pontuação for maior ou igual a 6; sendo que de 6 a 10 pontos sugere depressão leve; de 11 a 15 pontos, depressão grave. 2.1.2. 10‐POINT COGNITIVE SCREENER (10‐CS) https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/escala-de-depressao-geriatrica.pdf Ajustes por efeitos educacionais: - sem ensino formal: somar 2 pontos à pontuação final do teste; - de 1 a 3 anos de ensino formal: somar 1 ponto à pontuação final do teste. Interpretação dos resultados do 10‐POINT COGNITIVE SCREENER (10‐CS): - ≥ 8: normal - 6 a 7: possível comprometimento cognitivo; - 0 a 5: provável comprometimento cognitivo. 2.1.3. TESTE DO DESENHO DO RELÓGIO 2.2. AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL: CONTEXTO FAMILIAR 2.3. AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL: SUPORTE SOCIAL O suporte social que a pessoa idosa recebe pode ser informal ou formal. Deve-se conhecer com quem a pessoa idosa mora e se possui pessoas de referência que possam ajudá-la caso fique doente ou incapacitada. Residir sozinho, em muitos casos, é indicador de vulnerabilidade porque pessoas idosas que não têm relações interpessoais apresentam pior estado geral de saúde. A interação social diminui a probabilidade, mesmo naquelas pessoas que apresentam comprometimento funcional, de apresentarem sintomas depressivos (Hatfield, et al, 2013). Residir em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI), asilos ou casas de repouso também é um forte indicativo de vulnerabilidade social e familiar. No caso de a pessoa morar com familiares, a atenção primária à saúde pode auxiliá-los a negociarem seus papéis e funções de maneira a constituírem um sistema familiar o mais harmônico possível. A compreensão da dinâmica familiar é de grande importância para a elaboração do planejamento do plano de cuidados, pois refletirá no alcance do sucesso terapêutico, e na compreensão das articulações necessárias. Também é preciso estar atento aos indicadores de violência domiciliar, abuso e maus tratos contra a pessoa idosa. 2.4. AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL: ESTRESSE DO CUIDADOR O ato de cuidar é voluntário e complexo, tomado por sentimentos diversos e contraditórios como raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço, estresse, tristeza, nervosismo, irritação e choro. Esses sentimentos podem ser simultâneos e devem ser compreendidos, fazendo parte da relação entre o cuidador e a pessoa cuidada. Um instrumento desenvolvido por Zarit – Avaliação da Sobrecarga dos Cuidadores – tem-se mostrado apropriado para avaliar se os cuidadores de idosos estão sobrecarregados. Deve ser aplicado para o cuidador principal (pessoa que mais ajuda a pessoa idosa),em entrevista realizada sem a presença da pessoa idosa. Tema 3- Avaliação Funcional. A capacidade funcional é definida como a aptidão do idoso para realizar determinada tarefa que lhe permita cuidar de si mesmo e ter uma vida independente. A funcionalidade do idoso é determinada por seu grau de independência e autonomia e pode ser avaliada por instrumentos específicos (FREITAS, 2017). Alterações sensoriais (de visão ou audição), de mobilidade e desnutrição/obesidade podem levar a déficits funcionais. Por isso, neste tema, além de instrumentos específicos de avaliação funcional, serão apresentadas avaliação sensorial, de mobilidade e antropométrica. https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/zarit.pdf 3.1. ESCALAS DE KATZ E LAWTON ESCALA DE KATZ As atividades básicas de vida diária (ABVD) são relacionadas ao autocuidado e, no caso de limitação de desempenho, normalmente requerem a presença de um cuidador para auxiliar a pessoa idosa a desempenhá-las (FREITAS, 2017). Conhecidas também como atividades básicas da vida diária, são as principais: ● banhar-se; ● vestir-se; ● ir ao banheiro (fazer as necessidades fisiológicas sem auxílio); ● transferir-se de uma cama para uma cadeira e vice-versa; ● continência urinária e fecal; ● alimentar-se. Para avaliar a funcionalidade de pessoas idosas para as AVD, a Escala de Katz é o instrumento mais utilizado. Proposta em 1963, a Escala de Katz avalia seis itens, classificando os pacientes em independentes ou dependentes para cada um dos itens. Está disponível em uma adaptação transcultural para o Brasil. ESCALA DE LAWTON As atividades instrumentais da vida diária (AIVD) relacionam-se à participação do idoso em seu entorno social e indicam a capacidade de um indivíduo em levar uma vida autônoma dentro da comunidade (FREITAS, 2017). São elas: ● utilizar meios de transporte; ● manipular medicamentos; ● realizar compras; ● realizar tarefas domésticas leves e pesadas; ● utilizar o telefone; ● preparar refeições; e ● cuidar das próprias finanças. Para avaliar a funcionalidade de pessoas idosas para AIVD, a Escala de Lawton é a escala mais utilizada. Os pacientes que não são capazes de realizar qualquer das AIVD necessitam de apoio em casa, seja de familiar ou de um cuidador. Todavia, a Escala de Lawton tem limitações, especialmente para homens, pois culturalmente não exercem certas tarefas, como arrumar a casa e preparar as próprias refeições, por exemplo. As quedas são um problema de saúde pública, dada a sua prevalência e repercussões para a saúde da população idosa mundial. Para a pessoa idosa, a queda representa um evento particularmente relevante, uma vez que pode ter como desfechos restrição de atividades da vida https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/katz.pdf https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/lawton.pdf diária, medo de cair novamente, fraturas e hospitalizações, levando ao aumento do risco para incapacidades e mortalidade (Khow, Visvanathan; 2017). TESTE DE VELOCIDADE DE MARCHA O teste de velocidade de marcha é um teste simples, de baixo custo, que pode ser reproduzido facilmente na prática clínica (VERGHESE et al., 2009). Ele apresenta boa confiabilidade e reprodutibilidade e é válido para avaliar a mobilidade física em ambiente clínico ou domiciliar (HOLLMAN et al., 2008). Para sua realização, pede-se que o idoso caminhe em sua velocidade habitual em linha reta, em uma superfície plana, por uma distância pré-determinada (geralmente 6 a 15 m). Cronometra-se então o tempo que se levou para percorrer a distância estabelecida e calcula-se a velocidade da marcha [v = distância (m)/ tempo(s)]. A literatura oferece pouco consenso em relação aos valores de referência. O estudo de Pinedo et al. (2010) define como 0,7 m/s o ponto de corte para definição de fragilidade. TESTE GET-UP AND GO O teste Get-up and Go (“levante e ande”) foi proposto por Mathias et al em 1986 e readequado por Podsiadlo e Richardson em 1991. É um teste prático e útil da avaliação do equilíbrio e que pode ser realizado em qualquer ambiente. Com ele, é possível avaliar o equilíbrio do paciente sentado, durante a marcha e na transferência. Para realizar o teste, oriente que o idoso, após o examinador dizer “vá”: ● levante sem usar as mãos de uma cadeira (sem braços); ● caminhe 3 metros em direção a uma parede; ● retorne sem tocar na parede; ● caminhe de volta para a cadeira; ● dê a volta no corpo; e ● sente na cadeira. Deve-se cronometrar o tempo que o idoso leva para realizar as instruções. Interpretação do teste Get-up and Go ≤ 10 segundos 11 a 19 segundos ≥ 20 segundos Independente Independente em transferências básicas, com baixo risco de quedas. Dependente em várias atividades de vida diária e na mobilidade, com alto risco de quedas. ESCALA DE AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO E DA MARCHA DE TINNETI A escala de avaliação do equilíbrio e da marcha de Tinnetti é realizada através de protocolo de Mary Tinneti, proposto em 1986. Em 2003, esse teste foi adaptado para ser utilizado na população brasileira recebendo o nome de POMA-Brasil (BRASIL, 2006). Para o teste de equilíbrio, a pessoa idosa deve estar sentada em uma cadeira sem braços. Devem ser executados alguns movimentos para se avaliar o equilíbrio: sentado, ao levantar-se, em pé, após leve empurrão, em pé de olhos fechados, girando 360º e, finalmente, ao sentar-se. A forma como os movimentos são executados tem uma pontuação específica. Quanto menor a pontuação maior o problema. Para o teste da marcha, a pessoa idosa deve estar em pé, caminhar no passo normal, depois voltar com passos rápidos, mas com segurança, usando o suporte habitual, se for o caso (bengala, andador). Da mesma forma, quanto menor a pontuação maior o problema. QUANDO ENCAMINHAR PARA ATENÇÃO ESPECIALIZADA? A atenção especializada também pode ser necessária para uma pessoa com (OPAS, 2020): ● dor persistente que afeta o humor ou outras áreas da funcionalidade; ● deficiência significativa da função osteoarticular; ● fratura óssea após um traumatismo mínimo; ● riscos de segurança; ● necessidade de ajuda para escolher um dispositivo assistivo adequado para auxílio à mobilidade. 3.3. AVALIAÇÃO FUNCIONAL: DEFICIÊNCIAS SENSORIAIS A diminuição da acuidade da visão e da audição, em conjunto ou isoladamente, impactam na cognição e na estabilidade postural e, quase invariavelmente, levam ao isolamento social da pessoa idosa. Por isso, a necessidade de se avaliar esses sistemas. Tema 4- Segurança no domicílio. A avaliação da segurança do domicílio envolve inspecionar a residência para encontrar possíveis perigos e oferecer sugestões. As limitações de mobilidade específicas de cada indivíduo devem guiar quais adaptações do entorno são mais importantes (OPAS, 2020). Se uma visita domiciliar não for possível, um profissional de saúde da atenção primária poderá dar instruções gerais à pessoa ou a um cuidador sobre como criar um ambiente doméstico mais seguro. Entretanto, avaliação completa e manejo do risco de queda exigem conhecimento especializado (OPAS, 2020). Devem ser priorizados para visitas aqueles idosos que sabidamente têm déficit funcional, sensorial e/ou de mobilidade. https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/tinneti.pdf Vale lembrar que as quedas são um problema de saúde pública, dada a sua prevalência e repercussões para a saúde da população idosa mundial. Para a pessoa idosa, a queda representa um evento particularmente relevante, uma vez que pode ter como desfechos restrição de atividades da vida diária, medo de cair novamente, fraturas e hospitalizações, levando ao aumento do risco para incapacidades e mortalidade (KHOW, VISVANATHAN; 2017).A adaptação do ambiente domiciliar é de extrema importância para prevenir quedas dos idosos, especialmente aqueles que têm maior risco de acordo com os testes mencionados. A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, na página 23, traz um check-list de itens que devem ser avaliados no ambiente para promover a segurança em relação a quedas. https://app4.unasus.gov.br/ppuplayer4_idoso/uploads/recursos/SE_UNASUS_0003_IDOSO_AVALIACAO_MULTIDIMENSIONAL/12/assets/lib/docs/caderneta_saude_pessoa_idosa_5ed.pdf
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