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Larissa Cardoso - @fococrmed Trauma torácico As lesões penetrantes acometem, na maior parte das vezes, estruturas na periferia dos pulmões. As lesões transfixantes que atingem o mediastino podem afetar grandes vasos, coração, pericárdio e esôfago = instabilidade hemodinâmica = necessidade de toracotomia. O trauma torácico fechado pode induzir lesão por golpe direto ao tórax, com fraturas de costelas; lesão por desaceleração com ruptura da aorta, contusão pulmonar ou cardíaca, e lesão por esmagamento, com ruptura do coração e diafragma. Consequências das lesões torácicas: hipoxemia decorrente de alterações na relação ventilação/perfusão (contusão pulmonar) ou de desequilíbrios pressóricos intratorácicos (pneumotórax hipertensivo); hipovolemia e choque hemorrágico (lesões do coração, grandes vasos, etc.) com todas as suas consequências (acidose láctica); e insuficiência cardíaca (contusão miocárdica). OBS: O choque nem sempre é decorrente de hemorragia, pode ocorrer também por pneumotórax hipertensivo, lesão miocárdica, tamponamento cardíaco e embolia aérea para artéria coronária com infarto extenso e choque cardiogênico. Indicações de toracotomia: hemotórax maciço (drenagem imediata de 1500ml ou saída de 200 a 300 ml/hora nas primeiras 2 a 3 horas iniciais); lesões penetrantes na parede torácica anterior com tamponamento cardíaco; feridas da caixa torácica de grandes dimensões; lesões a vasos nobres no tórax na presença de instabilidade hemodinâmica; lesões traqueobrônquicas extensas; perfuração esofagiana. ➢ Toracotomia de reanimação: quando parada cardíaca em Atividade Elétrica Sem Pulso sem resposta com massagem convencional e hipovolemia. Realizada no nível do 4º ou 5º EIC em região anterolateral esquerda. Faz-se o clampeamento da aorta torácica descendente para redistribuir o fluxo sanguíneo para cérebro e coração, controla diretamente lesões torácicas exsanguinantes, realiza massagem cardíaca aberta e pode evacuar o saco pericárdico. Traumatismo de parede torácica: fratura de arcos costais, principalmente entre o 4º e o 10º. ➢ Fraturas do 1º ao 3º arcos costais, da escápula e da clavícula devem chamar a atenção para um trauma torácico grave, usualmente com lesão de grandes vasos. Com prováveis lesões associadas, como TCE e trauma raquimedular. ➢ Fraturas dos arcos costais inferiores (10º ao 12º) frequentemente se acompanham de lesões esplênicas ou hepáticas. ➢ Fratura de esterno geralmente é prenúncio de lesões preocupantes como envolvimento da aorta torácica, contusão miocárdica, contusão pulmonar perfuração esofagiana. ➢ Esmagamento torácico ocasionam compressão significativa da veia cava = edema e petéquias na região superior do tronco, membros superiores e face, além de edema cerebral. Com o comprometimento de um a dois arcos costais sem lesão pleural ou pulmonar, o tratamento é ambulatorial, com analgesia para que a dor intensa à inspiração não impeça a adequada expansão torácica (analgesia com opioides oral – intravenosa – bloqueio intercostal – epidural nos mais graves). Geralmente as fraturas estão associadas com lesões de estruturas subjacentes (coração, pericárdio e grandes vasos) e com tórax instável. Larissa Cardoso - @fococrmed Idosos, por possuírem uma complacência torácica reduzida e/ou doença parenquimatosa pulmonar, podem apresentar repercussões mais sérias, como acúmulo de secreções, atelectasia e posterior infecção. Melhora da dor = maior expansibilidade torácica, alinhamento das fraturas (com maior rapidez da consolidação) e evita acúmulo de secreções pulmonares. Tórax instável: fraturas de dois ou mais arcos costais consecutivos, sendo que cada arco costal esteja fraturado em pelo menos dois pontos ou em separação costocondral, ou seja, há perda de continuidade de um segmento com o restante da caixa torácica, contribuindo para o surgimento da respiração paradoxal (a região lesada “encolhe” durante a inspiração, devido à pressão intrapleural negativa, e sofre um abaulamento durante a expiração = aumento do trabalho em respirar e hipoventilação alveolar). OBS: Frequência respiratória > 40 irpm, hipoxemia, nível de consciência rebaixado, doença pulmonar crônica ou lesões abdominais concomitantes = intubação e ventilação com pressão positiva. Fixação interna das fraturas por cirurgia vem sendo considerada por alguns cirurgiões. Traumatismo pulmonar e pleural: 1. Contusão pulmonar: mais frequente após traumatismos fechados do tórax e muito associada a fraturas dos arcos costais; a mortalidade varia de acordo com a idade (maior em idosos), doença pulmonar crônica, doença renal e lesões associadas (evolução para insuficiência respiratória aguda). Fatores de complicação são: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e pneumonia. Líquido e sangue do interior dos vasos rotos tomam os alvéolos, o interstício e os brônquios, produzindo hipoxemia e um quadro radiológico de consolidações localizadas em regiões do parênquima = resposta inflamatória, que pode levar à inflamação sistêmica e ao comprometimento da função respiratória. Diagnóstico: radiografia simples, tomografia computadorizada. Diagnóstico diferencial: a atelectasia não ultrapassa as fissuras pulmonares, enquanto a CP não é limitada por segmentos ventilatórios. Conduta: O2 (se hipoxemia, intubação e ventilação mecânica), analgesia, monitorização com oximetria de pulso, eletrocardiografia contínua e dosagem dos gases arteriais, correção de anemia. Cautela com administração de grandes volumes, pois pode piorar os infiltrados pulmonares. 2. Pneumotórax: Pneumotórax simples: não apresenta desvio do mediastino, pode ser decorrente tanto do trauma penetrante quanto do fechado. Classificação: pequeno = perda de parênquima é inferior a 1/3 do volume do pulmão; grande = todo ou quase todo o volume pulmonar é colapsado. Pneumotórax grande e pequeno em progressão ou associado a taquipneia ou que será submetido a transporte aéreo ou à ventilação mecânica necessita de drenagem intercostal em selo d’água realizada entre o 4º e o 5º espaços intercostais, anteriormente à linha axilar média. Pneumotórax hipertensivo: a causa mais comum é a ventilação com pressão positiva em pacientes com lesões pleuropulmonares prévias ou lesões no parênquima em traumas fechados Larissa Cardoso - @fococrmed (ruptura súbita do parênquima com escape de ar para o espaço pleural = ruptura alveolar em saco de papel). A lesão que ocasionou a entrada de ar entre as pleuras funciona como uma válvula de direção única, permitindo a entrada de ar e impedindo a sua saída = acúmulo de ar sob pressão no espaço pleural = colapso do pulmão ipsilateral ao pneumotórax = instabilidade hemodinâmica e desvio acentuado do mediastino; angulação dos vasos da base que dificulta o retorno venoso e provoca turgência jugular + queda acentuada no débito cardíaco, ocasionando hipotensão e/ou choque; dispneia importante; redução da expansibilidade do hemitórax envolvido; desvio contralateral da traqueia, ausência ou diminuição do murmúrio vesicular no hemitórax acometido ou enfisema subcutâneo. Tratamento imediato: toracocentese, em adultos, no nível do 5º espaço intercostal, na linha axilar média → drenagem torácica intercostal em selo d’água, com a introdução de um dreno tubular no 5º espaço intercostal, imediatamente anterior a linha axilar média, na linha mamilar, na borda superior da costela inferior. Se persistência de pneumotórax hipertensivo, suspeitar de lesão de via aérea de grosso calibre = toracotomia em centro cirúrgico. Pneumotórax aberto: ferida torácica com diâmetro igual ou superior a 2/3 do diâmetro da traqueia que promova uma solução de continuidade entre o ar atmosférico e a cavidade pleural, com a tendência a equilíbrio entre as pressões. Causas: penetrações por objetos contusos e lesões por projéteis de arma de fogo de alta velocidade. Tratamento:pré-hospitalar = curativo com aspecto quadrangular fixado em apenas três pontos (permite a saída de ar da cavidade pleural com a expiração e impede a entrada de ar com a inspiração); hospitalar = drenagem intercostal em selo d’água + fechamento cirúrgico da ferida. 3. Hemotórax: sangramento, geralmente autolimitado, na cavidade pleural. Causas lacerações pulmonares (circulação de baixa pressão), o envolvimento de vasos intercostais ou o comprometimento da artéria mamária interna. Diagnóstico: radiografia em ortostase em perfil (até 300 ml) ou frontal (a partir de 300 ml). Tratamento: toracostomia com drenagem torácica em selo d’água no nível do 5º espaço intercostal em posição imediatamente anterior à linha axilar média, na altura do mamilo. O sangue coletado deve ser preparado para a autotransfusão. Manejo inicial: infusão imediata de cristaloides e sangue compatível. Cirurgia quando instabilidade hemodinâmica, necessidade contínua de hemotransfusões, hemotórax maciço ou <1500ml com sangramento contínuo. Hemotórax maciço: acúmulo rápido de mais de 1500 ml ou de um terço ou mais do volume sanguíneo do paciente na cavidade torácica ou saída de 200 ml/h nas primeiras 2 a 4 horas; geralmente em lesão de vaso por traumas penetrantes. Diagnóstico clínico: choque, murmúrio vesicular ausente e macicez à percussão do hemitórax + jugulares colabadas por hipovolemia. 4. Quilotórax: presença de linfa (aspecto branco leitoso) na cavidade pleural por lesão ou obstrução do ducto torácico em qualquer ponto de seu trajeto (complicação de cirurgias como esofagectomia, ressecções pulmonares com dissecção de linfonodos e correções de cardiopatias congênitas ou traumas acidentais ou linfoma avançado). Diagnóstico: derrame pleural na radiografia, necessitando de análise laboratorial do líquido drenado. Tratamento: drenagem intercostal sob selo d’água + nutrição parenteral total ou de dieta com alto teor proteico, suplementada com Triglicerídios de Cadeia Média + reposição agressiva de Larissa Cardoso - @fococrmed líquidos, eletrólitos e nutrientes. Pleurodese se a drenagem for <500 ml/dia ou pleurodese + ligadura do ducto torácico quando >1L/dia. 5. Traqueia e brônquios: no trauma fechado, geralmente a lesão ocorre próxima à carina, e a maior parte das vítimas morre no local do acidente. Estão presentes enfisema subcutâneo, hemoptise ou pneumotórax hipertensivo; expansão incompleta do pulmão após drenagem intercostal. Tratamento: intubação seletiva do brônquio não afetado + cirurgia após a resolução do edema e da inflamação no sítio da lesão traqueal (ou imediata quando não se conseguir a intubação). Traumatismo cardíaco: deve ser suspeitada qualquer ferida no espaço compreendido entre a linha hemiclavicular direita e a linha axilar média esquerda, verticalmente, e entre a fúrcula esternal e as extremidades anteriores dos arcos costais (até o décimo), horizontalmente. A câmara mais acometida é o VD por sua localização anterior e proximidade com o esterno 1. Contusão miocárdica: em traumas torácicos fechados intensos, geralmente associado com fraturas de esterno ou de arcos costais superiores.. Presença de hemorragia subepicárdica, miocárdica e endocárdica, ruptura de fibras musculares, edema, necrose celular e migração leucocitária. O miocárdio contundido pode entrar em falência, gerando insuficiência cardíaca e arritmia pela instabilidade elétrica. Diagnóstico: anatomopatológico. Mas manifestações clínicas são: hipotensão, aumento da PVC; alterações de motilidade na parede miocárdica observadas no ecocardiograma; ou alterações no eletrocardiograma como extrassístoles ventriculares múltiplas, taquicardia sinusal inexplicada, fibrilação atrial, bloqueio de ramo ou alterações no segmento ST. Elevação das troponinas sugere infarto que pode ser causa ou consequência do trauma. Tratamento: uso de antiarrítmicos, pois o comprometimento miocárdico geralmente é transitório. 2. Tamponamento cardíaco: a ferida pericárdica pode ser bloqueada por coágulos que se formam por hematoma mediastinal ou pelo próprio parênquima pulmonar = acúmulo progressivo de sangue (proveniente das câmaras cardíacas) entre os folhetos pericárdicos = consequências hemodinâmicas graves por efeito compressivo sobre as câmaras do coração e restrição do enchimento diastólico. Causas: traumas cardíacos fechados com ruptura miocárdica, dissecções traumáticas da aorta ascendente, lesões das porções intrapericárdicas da veia cava inferior e superior e lesão de segmentos de artéria e veias pulmonares envoltos pelo pericárdio. Diagnóstico: congestão pulmonar com elevação da pressão capilar pulmonar, redução do débito cardíaco, choque, cianose, pulso paradoxal, sinal de Kussmaul (aumento da pressão venosa na inspiração, durante respiração espontânea), tríade de Beck (turgência de jugulares, hipofonese das bulhas cardíacas e hipotensão). Ecocardiograma e FAST. Tratamento: pericardiocentese subxifoidiana com agulha de ponta romba, retirando 15-20 ml para alívio; toracotomia cirúrgica. Traumatismo da aorta: em acidentes automobilísticos, quedas de grande altura (politraumatizados). Mais comum em aorta descendente no nível do ligamento arterioso e, portanto, distal à artéria subclávia esquerda. A maioria das vítimas morre imediatamente. No Larissa Cardoso - @fococrmed entanto, o sangramento pode ser contido pelos tecidos periaórticos pleurais ou por uma túnica adventícia ainda íntegra = aneurisma traumático do vaso. Poucos achados clínicos. Diagnóstico: sinais na radiografia de tórax são alargamento do mediastino, perda do contorno aórtico, densidade retrocardíaca, desvio do tubo orotraqueal e traqueia para a direita, fratura do primeiro e segundo arcos costais, depressão do brônquio fonte esquerdo, obliteração do espaço entre artéria pulmonar e aorta, desvio da sonda nasogástrica para a direita, elevação e desvio para a direita do brônquio principal direito. Se suspeita, indica-se a Tomografia Computadorizada Helicoidal de Tórax Contrastada (TCHTC) que possui 100% de especificidade e sensibilidade. Para complementar: angiografia por TC ou com aortografia. Tratamento: reparo cirúrgico, colocação de stents e tratamento farmacológico (anti- hipertensivo) para pacientes de alto risco; também se admite o tratamento conservador quando há estabilidade e necessidade do tratamento de outras lesões que ameacem a vida. Traumatismo do diafragma: lesões penetrantes abaixo dos mamilos e acima da margem costal ou traumas fechados com desacelerações rápidas ou forças intensas de compressão que provocam o aumento súbito da pressão intra-abdominal (associadas a fraturas de arcos costais). Geralmente ocorre no lado esquerdo, pois o direito encontra-se protegido pelo fígado. Ruptura do diafragma = herniação de vísceras para o tórax = hipoxemia e insuficiência respiratória. Diagnóstico: câmara gástrica em hemitórax esquerdo na radiografia. Tratamento: laparotomia com redução da hérnia, seguida de rafia do diafragma. Quando o diagnóstico é tardio pode haver aderências entre os órgãos; abordada pelas vias transtorácica, abdominal ou através de procedimento combinado.
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