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- -1
FUNDAMENTOS SÓCIO-
ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS: 
CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1 - Entender o lugar da ciência e do pensamento científico;
2 - Conhecer os determinantes sócio-históricos para o surgimento das Ciências Sociais;
3 - Avaliar possíveis relações entre as Ciências Sociais e as demais ciências;
4 - Relacionar os achados das Ciências Sociais com os eventos de natureza física e de saúde.
1 No início era a ciência...
Como sabemos, a ciência (ou o pensamento científico) nada mais é que uma das maneiras de conhecermos o
mundo do qual participamos. Não é a única forma de conhecer o mundo, nem a primeira. O homem sempre
produziu saber sobre suas experiências. Este saber reflete crenças e valores que se tem sobre os eventos. O
senso comum, a religião e a filosofia são fontes de produção de conhecimento e procuram compreender os
eventos humanos (ou supra-humanos) a partir de uma lógica que lhe é própria. Cada um do seu jeito, os diversos
tipos de conhecimento têm por finalidade explicar determinados conjuntos de eventos.
Mas estamos em uma Universidade. Ainda que o senso comum, a religião e a filosofia nos forneçam respostas e
explicações sobre os problemas humanos, é para o conhecimento científico que devemos focalizar nossa atenção.
Temos claro, entretanto, que esta é uma forma possível de conceber a realidade e que estabelece relações com as
demais formas de pensamento.
Sabemos que a lógica científica é resultado de um longo processo de transformação do pensamento humano.
Baseada em metodologias específicas (científicas), e orientada por diretrizes racionais e com pretensões à
universalização dos achados, a ciência objetiva superar outras formas de compreensão da realidade,
investigando e construindo teorias e leis que explicam o funcionamento do mundo.
2 O homem e o conhecimento do homem
Podemos observar que o mundo animal apresenta regularidades. Quando atentamos para a forma de
organização de um formigueiro, por exemplo, podemos ver que existem padrões de comportamentos (sociais)
que se repetem e permitem o bom funcionamento do grupo.
- -3
O ser humano também é parte do reino animal e, como tal, seu mundo também deve possuir regularidades:
respiramos, andamos de forma bípede, nos comunicamos com outros humanos, vivemos em grupo, dividimos o
trabalho etc. Parece que estas regularidades têm como objetivo aprimorar e preservar a espécie.
Se homens e animais têm em comum um repertório de regularidades que objetivam garantir sua própria
sobrevivência, por que nos tornamos tão diferentes de outras espécies? O que há de diferente em nós, ou o que
nos torna diferentes de outras espécies animais?
Ora, diferentemente de outros animais, nosso arsenal genético, nossa bagagem hereditária não nos garante a
sobrevivência. As formas “instintivas” dos seres humanos não são suficientes para lhes garantir a humanidade.
Outras habilidades, além daquelas herdadas, têm de ser desenvolvidas. Mais do que da genética, dependemos de
aprendizado.
3 Aprendendo a ser humano
Vimos então que, diferentemente de outras espécies animais, os seres humanos não nascem prontos; dizemos
que os seres humanos nascem prematuramente, em termos de habilidades e disposição para a sobrevivência .
Para sobreviver nos ambientes físicos e sociais, os indivíduos da espécie humana precisam aprender a ser
.humanos
Embora algumas lendas – Rômulo e Remo, heróis míticos fundadores de Roma; Mogli etc. – falem de indivíduos
que sobreviveram em condições adversas (Rômulo e Remo teriam sido, segundo a lenda, alimentados por uma
loba) e se tornaram figuras especiais, sabemos da impossibilidade de tais feitos, salvo no âmbito da fantasia e da
ficção.
Saiba mais
Aprender a ser humano significa entrar em contato, a partir de outros humanos, com os
elementos que nos distingue de todos os outros animais: os conhecimentos desenvolvidos por
nossos semelhantes. Através de um processo constante de aprendizado, tendo a linguagem
como elemento intermediário entre o sujeito e o mundo; vamos tomando posse dos sentidos
atribuídos às experiências cotidianas. Como principal sistema simbólico, a linguagem permite
que as experiências vividas sejam transmitidas aos outros homens de forma ordenada. “Por
isso, dizemos que o Homo sapiens é a única espécie que pensa, isto é, que é capaz de
transformar a sua experiência vivida em um discurso com significado e transmiti-la aos demais
seres de sua espécie e a seus descendentes” (COSTA, 1997, p. 2-3).
- -4
Assim, como você viu, podemos dizer que o que distingue homem do animal é menos a organização social (que
nos animais também pode estar vinculada a sexo, faixa de idade, divisão de trabalho etc.), a sociabilidade ou
mesmo um pensamento ou a comunicação do que a troca de símbolos. O homem é o único capaz de criar
símbolos!
4 Os símbolos e as culturas
“Da mesma forma que existe um pensamento e uma linguagem nos animais (isso não é mais sequer discutido
hoje), existem sociedades animais e até formas de sociabilidade animal que podem ser regidas por modos de
interação antagônicas ou comunitárias, bem como de modos de organização complexos (em função das faixas de
idade, dos grupos sexuais, da divisão hierarquizada do trabalho etc.).
Indo até mais adiante, existe o que hoje não se hesita mais em chamar de sociologia celular. Assim, o que
distingue a sociedade humana da sociedade animal, e até da sociedade celular, não é de forma alguma a
transmissão das informações, a divisão do trabalho, a especialização hierárquica das tarefas (tudo isso existe não
apenas entre os animais, mas dentro de uma única célula!), e sim essa forma de comunicação propriamente
cultural que se dá através da troca não mais de signos e sim de símbolos, e por elaboração das atividades rituais
aferentes a estes.
Pois, pelo que se sabe, se os animais são capazes de muitas coisas, nunca se viu algum soprar as velas de seu bolo
de aniversário. É a razão pela qual, se pode haver uma sociologia animal (e até, repetimo-lo, celular), a
Antropologia é por sua vez especificamente humana” (LAPLANTINE, 2003, p. 96).
O homem projeta, ordena, prevê e interpreta, vive em grupo e estabelece com o mundo relações dotadas de
significado e avaliação. O conhecimento advindo desta relação (organizado, comunicado e compartilhado)
transforma-se em cultura.
Saiba mais
Este longo texto de Laplantine nos faz compreender a importância da construção simbólica na
“invenção da humanidade”. São os símbolos - e a linguagem é o principal sistema - que
permitem a um representante da espécie humana tornar-se homem! E através dos hábitos,
costumes, instrumentos, ideias, isto é, através da cultura nos tornamos portadores destes
símbolos e membros efetivos de uma coletividade de homens.
- -5
– “Uma vez que cada cultura tem suas próprias raízes, seus próprios significados e características, todas elas são
qualitativamente comparáveis. Enquanto culturas, todas são igualmente simbólicas, fruto da capacidade criadora
do homem e adaptadas a uma vida comum em determinado espaço e tempo nesse contínuo recriar, compartilhar
e transmitir a experiência vivida e aprendida” (COSTA, 1997, p. 3).
“Todas as culturas apresentam padrões igualmente abstratos e significativos” (COSTA, 1977, p. 4): as culturas
humanas estão diretamente relacionadas à especificidade das condições de vida de cada grupo; assim, as
diferenças entre as culturas não são de qualidade nem de nível, mas estão relacionadas às condições particulares
que a geraram.
"E as sociedades ágrafas , elas têm cultura? Sim! Todas as sociedades humanas produzem cultura. “A capacidade
simbólica e os padrões de todas as culturas humanas são igualmente abstratos e significativos e dão respostas
úteis aos problemas de compreensão do mundo” (COSTA, 1977, p. 5).
5 A ciência e as ciências sociais
Fruto da evolução do pensamento humano, a invenção da ciência marca a passagemde uma relação imediata
com a realidade – no encontro de soluções para problemas cotidianos – para o entendimento do conhecimento
como um fim em si mesmo.
Desde a Antiguidade o homem produz saberes sobre o mundo, formulando conhecimentos sobre geometria e
filosofia. Entretanto, neste momento o conhecimento ainda está vinculado a explicações religiosas ou
sobrenaturais.
• 1
Você sabe por que as culturas ao redor do planeta apresentam formas tão diferentes?
Como explicar as diferenças entre as culturas?
Por que um grupo humano se alimenta exclusivamente de frutos e é politeísta (acredita em
várias divindades), enquanto outro se alimenta de animais e é monoteísta?
Estamos frente a diferenças de qualidade entre os diferentes grupos?
NÃO
As formas culturais diversas não são frutos de uma estrutura genética da espécie, mas
da experiência particular de um grupo de homens.
Saiba mais
•
- -6
Com os gregos, através da filosofia, o conhecimento humano se distancia do pensamento mítico-
religioso e passa a ser concebido por meio da abstração dirigida pela razão: temos aí o chamado milagre
grego.
Ao longo do tempo, temos o fortalecimento do pensamento racional, do crescimento da consciência
individual e da percepção do homem como indivíduo dotado de razão e capaz de realizações próprias.
Também temos expansão comercial e colonizadora que permite o contato com outras culturas, o
estabelecimento da escravidão, criação de leis etc.
• 2
Com o florescer do , permanece uma sociedade comercial e manufatureiraImpério Romano
desenvolvida pelos gregos: a razão está a serviço do homem e da sociedade.
: A Europa retorna a uma estrutura de sociedade agrária e teocrática: aQueda do Império Romano
razão e a filosofia são submetidas à teologia.
• 3
Idade Média (da queda do Império Romano, no séc. V, até a queda de Constantinopla em 1453):
- Grande poder da Igreja Católica: a razão é um instrumento auxiliar da fé; ela é usada pela Igreja como
forma de manter seu poder e divulgar a fé;
- A fé passa a condicionar e explicar o comportamento do homem e da sociedade;
- O conhecimento de textos de filosofia, geometria e astronomia é propriedade exclusiva de ordens
religiosas e mosteiros;
- A população laica (os não religiosos) não tem mais acesso a este saber.”
• 4
Renascimento: Movimento intelectual que no séc. XV buscou recuperar os valores e modelos da
Antiguidade greco-romana, contrapondo-os à tradição medieval ou adaptando-os a ela. Renovação das
artes, da arquitetura e das letras. Reorganização política e econômica da sociedade: retomada dos textos
antigos e da forma “grega” de pensar.
A partir daí, e especialmente a partir do século XVII, há um grande progresso do conhecimento científico,
que objetiva descobrir as relações entre as coisas, as leis que regem o mundo natural etc.
A sociologia nasce em meio às grandes transformações e ideias do século XIX, significando o
“aparecimento da preocupação do homem com o seu mundo e a sua vida em grupo, numa nova
•
•
•
- -7
perspectiva, livre das tradições morais e religiosas” (COSTA, 1977, p. 7). Como ciência, busca descobrir
as regras que organizam a vida social. Estas regras podem ser descobertas através de observações e
medidas, capazes de dar explicações plausíveis, e a razão humana é a única forma capaz de alcançar a
verdade.”
Fruto da Revolução Industrial e das Revoluções Burguesas, o pensamento sociológico científico
procurará então responder como e por que a vida em sociedade é possível, buscando prever e controlar
os fenômenos sociais.
6 Positivismo: primeira corrente do pensamento 
sociológico moderno
O positivismo foi um sistema de pensamento (filosófico) desenvolvido por Auguste Comte (1798-1857),
discípulo de Saint-Simon, e continuado por diversos seguidores. Comte acreditava que, através do método
característico das ciências naturais (biologia, física, química, astronomia), seria possível ordenar as ciências
experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das
especulações metafísicas ou teológicas.
Ele pretende aplicar o mesmo rigor das ciências naturais experimentais aos eventos sociais. Considerado o
fundador da sociologia, Comte nomeia a nova disciplina de ; somente mais tarde ela seria rebatizadafísica social
com o nome atual.
Contemporaneamente, a sociologia compõe as chamadas ciências sociais, juntamente com a antropologia e a
ciência política.
7 As ciências sociais e as demais ciências
Você viu que a preocupação das ciências sociais é explicar a estrutura e o funcionamento das sociedades. Assim,
como disciplina voltada para a compreensão dos inúmeros fenômenos presentes na vida em sociedade, as
ciências sociais estabelecem relações importantes com outras ciências humanas e naturais.
Na verdade, senão a totalidade, a maioria dos fenômenos humanos é de natureza social ou, pelo menos, são
direta ou indiretamente influenciados por determinantes sociais.
- -8
Como veremos ao longo de nossa disciplina, sociedade e cultura estão presentes em todos os momentos de nossa
vida, e mesmo antes de nascermos. Nascemos em uma sociedade organizada de uma determinada forma, com
crenças, hábitos, costumes e valores específicos. Aprendemos a entender o mundo que os rodeia a partir do que
nos é disponibilizado pelos grupos dos quais fazemos parte.
Saúde, cultura e sociedade estão intimamente relacionadas. Não podemos desconsiderar estas relações, ou não
conseguiremos compreender claramente nosso universo acadêmico e profissional.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Alguns dos principais conceitos da sociologia e da antropologia;
• A estreita relação entre natureza e cultura.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu o lugar da ciência e do pensamento científico;
• Conheceu os determinantes sócio-históricos para o surgimento das ciências sociais;
• Avaliou possíveis relações entre as ciências sociais e as demais ciências;
• Relacionou os achados das ciências sociais com os eventos de natureza física e de saúde.
•
•
•
•
•
•
- -1
FUNDAMENTOS SÓCIO-
ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
PRINCIPAIS CONCEITOS EM SOCIOLOGIA E 
ANTROPOLOGIA
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1 - Aprender o significado de alguns dos principais conceitos em sociologia e antropologia;
2 - Reconhecer nos eventos sociais os enunciados conceituais das ciências sociais;
3 - Entender a relação complementar entre Natureza e cultura.
1 Principais conceitos das ciências sociais
Agora vamos tentar compreender alguns dos principais conceitos das ciências sociais.
Toda ciência possui um conjunto de termos, ideias e expressões que permitem compreender seus principais
enunciados.
Várias ciências podem compartilhar um mesmo termo, mas, de maneira geral, cada disciplina costuma ter uma
forma própria para empregá-lo em suas organizações teóricas. Assim é com as ciências sociais, com as ciências
humanas, com as ciências naturais etc.
A clarificação dos conceitos de uma ciência permite que se compreenda boa parte de seus achados e explicações.
Os conceitos devem ser definidos de forma simples e clara, a fim de facilitar a compreensão e aplicação.
Vejamos, então, que conceitos são fundamentais para que possamos entender algumas das principais discussões
em ciências sociais.
Sem dúvida, a maioria dos conceitos você já ouviu falar, e mesmo se utiliza deles em seu dia a dia. Mas, como
disse, precisamos saber como são concebidos e empregados pela ciência.
Vamos apresentar alguns dos conceitos fundamentais da sociologia e da antropologia e procurar “descobri-los”
no mundo real.
Se estamos falando de ciências sociais e, como vimos, as disciplinas que a compõem (sociologia, antropologia e
ciência política) têm como ponto de partida as sociedades humanas, nada mais natural que comecemos pelo
conceito de sociedade.
1.1 Definições de sociedade
Responda rapidamente: o que caracteriza uma sociedade?
Inicialmente, podemos pensar a sociedadecomo:
- -3
- Um conjunto de indivíduos . A característica de organização é fundamental para que se defina oorganizados
grupo como social;
- Conjunto ou rede de instituições sociais.
Será que existe diferença entre a primeira e a segunda definição?
Primeira definição: A primeira definição diz que sociedade é um conjunto organizado de indivíduos. 
Será individuo sinônimo de pessoa? Não! Indivíduo é qualquer representante de uma dada espécie viva.
O dicionário Houaiss Eletrônico apresenta como uma das acepções possíveis para indivíduo “organismo único,
distinguível dos demais do grupo”. Será que esta definição nos permite pensar em sociedades não humanas? A
resposta é: sim! Sociedade não é uma característica exclusivamente humana.
Segunda definição: A segunda definição fala de conjunto ou rede de instituições sociais. Se a primeira definição
não se refere exclusivamente ao mundo humano, a segunda tem características exclusivamente humanas.
De qualquer forma, o que nos interessa no momento é pensar as sociedades humanas e a sociologia humana
(poderíamos pensar em uma sociologia animal também). Então, podemos dizer que sociedade (humana) é um
conjunto de indivíduos organizados em grupos, formando as instituições sociais.
É a partir da definição de sociedade que as ciências sociais constituem seus demais conceitos. A sociologia, assim,
será a ciência que estuda a estrutura das sociedades, ou dos homens organizados em grupo.
1.2 Conceito de instituição social
Mas se a sociedade é formada por instituições sociais, o que vêm a ser estas instituições?
Definir instituição social não é simples. Na verdade, trata-se de um conceito dos mais abstratos, que remete a um
conjunto de regras e valores padronizados, reconhecidos e adotados por uma sociedade. Assim, instituição social
é ideia, lei, regra. E é através das organizações sociais que as instituições sociais se expressam.
Para ilustrar o conceito, vamos tomar o ambiente acadêmico. A instituição que sustenta a Universidade é a
educação. Na nossa sociedade, esta instituição possui uma série de princípios, valores etc., que serão executados
pelas organizações que compõem o sistema educacional (por exemplo, o Ministério da Educação) e pelos
diversos estabelecimentos e grupos que difundem os valores institucionais (universidades, escolas e outros
dispositivos formais ou informais de transmissão dos saberes).
Portanto, as instituições podem ser consideradas como a “alma” da sociedade, assim como as organizações e os
grupos sociais, o “corpo”.
1.3 Outros conceitos importantes
Vejamos agora os demais conceitos, de forma mais sucinta:
- -4
• Grupo social
Refere-se a um “conjunto de indivíduos que agem de maneira coordenada, autorreferida ou recíproca,
isto é, numa situação na qual cada membro leva em consideração a existência dos demais membros do
grupo e em que o objetivo de suas ações é, na maior parte das vezes, dirigido aos outros” (COSTA, 2005,
p. 394).
Vemos que a definição de grupo social permite pensar em outros grupos além do humano. Entretanto, a
capacidade que o homem tem de ter consciência de pertencimento a um grupo faz com que se diferencie
das demais espécies. Os grupos sociais são classificados em:
Primários (família, vizinhança), onde há forte vínculo emocional;
Secundários (trabalho, exército etc.), mais formais e menos íntimos;
De referência, que servem de modelo para ações individuais.
• Socialização
Processo pelo qual o indivíduo assimila os valores, as normas e as experiências sociais de um grupo ou
de uma sociedade” (COSTA, 2005, p. 405). Como um processo de aprendizagem, através da socialização,
nos tornamos efetivamente humanos, à medida que aprendemos como nos relacionar com os demais
membros do grupo e da sociedade.
Divide-se em , onde a transmissão dos valores e da cultura é feita pela família; esocialização primária
em , onde a transmissão é assumida por outros grupos, como a escola e ossocialização secundária
grupos de referência.
Em antropologia, um conceito semelhante à socialização é . Por este conceito, entende-endoculturação
se que o comportamento dos indivíduos depende de um processo de aprendizagem. Assim, se um
menino e uma menina agem de forma distinta, isto não acontece em função de seus hormônios, mas é
resultado de maneiras diversas de educação.
• Normas sociais
“São mecanismos que asseguram a regularidade da vida social e a existência de suas instituições...”
(COSTA, 2005, p. 402). As normas sociais são aprendidas (introjetadas) pelos indivíduos ao longo de seu
processo de socialização. Não é possível a existência de uma sociedade sem normas sociais. A ausência
de normas e regras sociais, ou o não reconhecimento delas, chama-se .anomia
•
•
•
- -5
Para que as normas sociais possam ser introjetadas e a socialização ocorra, é necessária certa “pressão”
da sociedade sobre os indivíduos. Esta pressão é exercida por diversos dispositivos sociais e resume-se
no conceito de .coerção social
É importante notar que a coerção social não é, a princípio, algo ruim ou negativo, como poderíamos
pensar, mas a possibilidade de existência e manutenção da sociedade. Através dos vários sistemas
coercitivos, a sociedade se mantém coesa, isto é, unida e funcionando adequadamente. Já pensou se cada
indivíduo resolvesse fazer o que bem lhe viesse à cabeça, sem qualquer regulação ou controle externo
(ou interno)?
• Papel social
"Conjunto de normas, direitos, deveres e expectativas que envolvem uma pessoa no desempenho de uma
função junto a um grupo ou dentro de uma instituição” (COSTA, 2005, p. 403). Assim, através dos papéis
sociais, que podem ser atribuídos, ou seja, designados aos indivíduos independentemente de sua escolha
(filho, por exemplo) ou conquistados (escolhido ou decidido pelo indivíduo), nos localizamos e
desempenhamos ações nos grupos sociais.
Na aprendizagem e exercício dos diversos papéis sociais que desempenhamos na sociedade, vamos
construindo e desenvolvendo valores. Organizando o sentido das ações humanas, os valores “são os
juízos e as avaliações que os indivíduos desenvolvem por si mesmos e em grupos e que lhes permitem
julgar, escolher e orientar seu comportamento. [...] Os valores sociais se traduzem na conduta humana
por preferências, gostos e atitudes pelos quais os agentes sociais manifestam uma apreciação da
realidade. São elementos dos mais importantes no processo de socialização pelo qual um indivíduo é
assimilado a uma cultura” (COSTA, 2005, p. 407-408).
2 Conceitos de cultura
É na dinâmica da vida social que vamos aprendendo a ser humanos, no sentido pleno do termo. Pelo contato com
os diversos dispositivos e sistemas sociais, vamos incorporando e compreendendo o mundo. O conceito de 
 dá conta deste “conjunto de significados partilhados por um grupo” (COSTA, 2005, p. 391).cultura
Inicialmente concebida de forma mais concreta, relaciona-se a hábitos, costumes e formas de vida quecultura
diferenciam um grupo de outro. Também pode referir-se às produções materiais como ferramentas, técnicas,
alimentos etc.
•
- -6
Hoje, pensa-se que a como “um conjunto de interpretações da realidade” (Clifford Geertz apud COSTA,cultura
2005, p. 391). De tudo isto, devemos ter claro que a cultura é fruto do pensamento humano e que ostodos
grupos humanos são produtores de cultura, .nenhuma sendo melhor ou superior a outra
O etnógrafo Edward Tylor (1832-1917) define cultura como “(...) todo complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade” (apud LARAIA, 2003, p. 25).
- -7
3 Etnocentrismo, Evolucionismo cultural (darwinismo 
social) e Relativismo cultural
• Etnocentrismo
Quando entramos em contato com grupos ou pessoas diferentes de nós, tendemos a avaliá-los de acordo
com nossa perspectiva cultural. Assim, o etnocentrismo pode ser definido como uma “visão de mundo na
qual o centro de tudo é o próprio grupoa que o indivíduo pertence; tomando-o por base, são
escalonados e avaliados todos os outros grupos” (SUMMER, 1906, p. 13, apud Dicionário de Ciências
Sociais, 1987. p. 437).
No etnocentrismo, temos a identificação pelo indivíduo com a cultura do seu grupo e a suposição de que
os padrões por ele exibidos são os melhores e os mais corretos. Embora possa ser entendido com uma
atitude “natural” dos sujeitos no processo de relacionamento com o outro, pelo menos em uma primeira
aproximação, traz consequências negativas importantes, quando não permitem que o outro seja
positivamente reconhecido.
Que importância esse conceito adquire na vida real e, especialmente na área da saúde? Já pensou nas
consequências de não considerar positivas as diferenças sociais e culturais? Lembra-se das definições de
cultura? Existe alguma cultura superior ou mais verdadeira do que outra?
• Evolucionismo cultural
O etnocentrismo tem um “primo” muito próximo: o evolucionismo cultural. Consequência de uma
concepção típica do século XIX, o , também chamado de ,evolucionismo cultural darwinismo social
utiliza-se da lógica das ciências naturais, particularmente da biologia, para fazer entender a diversidade
social e cultural. Como entender as evidentes diferenças entre sociedades e culturas espalhadas pelo
mundo?
Inspirado nos achados de Darwin sobre a evolução das espécies, o darwinismo social procurou
compreender as diferenças sociais e culturais dos diversos grupos humanos.
Mas, como afirma Costa (2005, p. 67), “A transposição de conceitos físicos e biológicos pra o estudo das
sociedades e do comportamento humano promoveu desvios interpretativos graves, que acabaram por
•
•
- -8
emprestar uma garantia de cientificismo a ações guiadas por preconceito e interesses particulares. Um
desses desvios ocorreu com a aplicação do conceito de espécie em Darwin para o estudo das diferentes
sociedades e etnias”.
A lógica evolucionista (cultural) supõe que existam grupos humanos mais evoluídos, social e
culturalmente, que outros, “justificando” a intervenção nas culturas e sociedades julgadas inferiores.
Desde muito sabemos que não existem culturas superiores ou inferiores. Cada grupo humano apresenta
padrões que lhes são próprios e que estão em função de sua história e interesses.
Se os conceitos de etnocentrismo e evolucionismo cultural não permitem compreender corretamente as
diferenças entre os grupos humanos, como explicar a diversidade sociocultural?
• Relativismo cultural
O “designa a ideia de que qualquer parte do comportamento deve ser julgadarelativismo cultural
primeiramente em relação ao lugar por ela ocupado na estrutura da cultura em que ocorre e em termos
do sistema de valor específico daquela cultura. Encerra, deste modo, um princípio de contextualismo”
(Dicionário de Ciências Sociais, 1987, p. 1057).
Diferentemente dos conceitos de etnocentrismo e evolucionismo cultural, a perspectiva relativista
procura compreender os eventos socioculturais presentes nos diversos grupos e sociedades a partir do
próprio grupo.
Dito de outra maneira, um olhar relativista permite que se compreenda a realidade social de um grupo
“como se fosse” alguém do próprio grupo. Ao nos colocarmos no lugar do outro, buscamos ver o mundo
como o grupo vê.
Esse descentramento que devemos fazer permite que a diferença (social, cultural, étnica, de gênero etc.)
não seja valorada negativamente. Ao contrário, podemos reconhecer, apesar das diferenças, que o outro
é possível e coerente, como nós.
O que isto tem a ver com saúde?
Sendo parte das produções sociais, as ideias de saúde e doença devem ser compreendidas a partir dos
significados próprios que cada grupo lhes atribui. Que saúde e doença não estão apenasO que isto quer dizer?
referidas a uma dimensão orgânica ou fisiológica. Mais do que isso, estão intimamente relacionadas com a forma
como os grupos humanos e a sociedade significam suas vivências.
Podemos ver com clareza que o que é considerado doença (ou sinal de saúde) em uma sociedade, pode não ser
em outra.
•
- -9
Uma criança gordinha pode representar, para um grupo, sinal de bons cuidados e boa nutrição, ao passo que,
para outro, pode indicar descontrole ou alimentação inadequada.
Outro exemplo poderá esclarecer melhor este pensamento: até muito pouco tempo atrás, o que hoje é chamado
de “síndrome de tensão pré-menstrual” (TPM) não era reconhecido como disfunção ou doença.
As mulheres que tinham seu humor alterado no período que antecedia a menstruação eram vistas como
“nervosinhas”, e suas queixas sobre sintomas somáticos e psicológicos avaliados como “frescura”.
Em dado momento, por conta de um novo olhar sobre este evento, o que não passava de simples queixa
injustificada passa a ser considerado motivo de atenção em saúde, justificando, por exemplo, dispensa médica.
Temos aqui não apenas uma questão de compreensão dos processos orgânicos, mas uma forma de significação
social e cultural de um determinado fenômeno.
Apesar de se admitir hoje a TPM como um evento de saúde, ainda é considerada em diversos grupos nada mais
do que “frescura”. Este raciocínio serve para praticamente todos os eventos em saúde. Pense nisso.
- -10
Faça um exercício de reflexão e busque exemplos que demonstrem a relatividade da compreensão dos processos
saúde-doença utilizando grupos sociais diferentes.
4 Natureza e cultura
Nosso estudo até agora permite que se chegue a uma importante conclusão: não existe uma oposição entre
Natureza e cultura. Os determinantes orgânicos, inatos ou hereditários não são os únicos a organizar o
desenvolvimento humano e os eventos de saúde e doença. As disposições fisiológicas, , senecessariamente
relacionam com os elementos sociais e culturais, dando significação e sentido às experiências humanas.
Sobre uma primeira natureza – orgânica, fisiológica – o homem constrói uma segunda natureza, que é social e
cultural.
Você tem cultura?
Esta pergunta, que ouvimos com frequência, subentende que existem pessoas que não têm cultura. Ou – o que é
mais ou menos a mesma coisa – considera que algumas pessoas possuem conhecimentos que são
reconhecidamente marcas da cultura e outras cujos conhecimentos que possuem não são considerados cultura.
Temos aí uma grande confusão sobre o que é cultura.
Como vimos anteriormente, cultura é tudo que se produz socialmente, material e imaterial, fruto do exercício do
convívio social e do pensamento humano. Podemos classificar as produções culturais em eruditas ou populares,
por exemplo, mas isto não implica em valoração, isto é, não significa que uma seja melhor do que a outra ou que
uma seja cultura e a outra não.
Escolarização ou conhecimento acadêmico é uma forma possível de produção cultural, o que não exclui outras
formas de conhecimento. Dona Maria, mesmo sem ter participado um dia sequer das aulas em uma escola,
possui tanta cultura quanto um doutor com diploma universitário.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• A saúde como um fenômeno multideterminado;
• Crítica à concepção de saúde como ausência de enfermidade;
• A saúde como evento social, psicológico e histórico.
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CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Aprendeu o significado de alguns dos principais conceitos em sociologia e antropologia;
• Reconheceu nos eventos sociais os enunciados conceituais das ciências sociais;
• Compreendeu a relação complementar entre natureza e cultura.
Referências
COSTA, Cristina. Conceitos básicos de sociologia. In:______. Sociologia: uma introdução ao estudo da sociedade. 3.
ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2005. p. 385-408.
DICIONÁRIO de ciências sociais. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1987.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 16. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
MATTA, Roberto da. Você tem cultura? Disponível em: // .www.arq.ufsc.br/urbanismoV/artigos/artigos_mr.pdf
Acesso em: 23 abr. 2006. Artigo publicado no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981.•
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www.arq.ufsc.br/urbanismoV/artigos/artigos_mr.pdf
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FUNDAMENTOS SÓCIO-
ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
A SAÚDE COMO FENÔMENO 
MULTIDETERMINADO: 
PROBLEMATIZANDO UM CONCEITO
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1 - Problematizar o conceito de saúde;
2 - Reconhecer a saúde como fenômeno multideterminado;
3 - Identificar os principais determinantes da saúde;
4 - Compreender a saúde como diferente de ausência de enfermidade.
1 Conceito
“Saúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a constante avaliação e
mudança” (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2012, p. 1). O que significa esta afirmação?
Se saúde e doença são conceitos “sujeitos a constante avaliação e mudança”, significa que não são absolutos, isto
é, que são passíveis de alterações.
E o que possibilita tais alterações?
São as transformações nas condições sócio-históricas, tecnológicas, políticas, econômicas etc. que permitirão
lançar novos olhares sobre questões que envolvem os processos de saúde e doença:
“... A presença ou ausência de doença é um problema pessoal e social. É pessoal, porque a capacidade individual
para trabalhar, ser produtivo, amar e divertir-se está relacionada com a saúde física e mental da pessoa. É social,
pois a doença de uma pessoa pode afetar outras pessoas significativas (ex.: família, amigos e colegas)”
(ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002, p. 1).
Cada proposição (historicamente localizada) do que é saúde e doença permite a formulação de modelos
explicativos e estratégias de intervenção.
Falamos, então, de processos de significação da natureza, de funções e de estrutura do corpo e da relação homem
consigo mesmo e com o ambiente.
2 Concepções sobre doença
Para Albuquerque e Oliveira (2002), existem duas concepções fundamentais sobre a doença e,
consequentemente, a saúde: a concepção fisiológica e a ontológica.
- -3
2.1 Concepção fisiológica
Iniciada por Hipócrates, a concepção fisiológica sustenta que as doenças têm origem em um desequilíbrio entre
as forças da natureza. Estas forças estão dentro e fora do indivíduo. Temos aqui uma perspectiva centrada no
paciente.
Considera-se o sujeito como um todo, bem como seu ambiente. A doença é algo que fala de uma totalidade e não
de particularidades, como órgãos corporais específicos.
2.2 Concepção ontológica
Diferente da concepção fisiológica, a concepção ontológica “defende que as doenças são ‘entidades’ exteriores ao
organismo, que o invadem para se localizar em várias (MYERS; BENSON, 1992 apuddas suas partes 
ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002, p. 2)” .
Os significados destas “entidades” não são sempre os mesmos: poderão ser consideradas processos mágico-
religiosos ou castigos divinos (Egito Antigo), ou ainda vírus (na atualidade).
A concepção ontológica busca um diagnóstico preciso, relacionando órgãos corporais e agentes perturbadores.
Para nossa discussão, é importante notar que tal concepção, embora frequentemente utilizada, é reducionista.
Isto porque não considera outras dimensões presentes no processo, tais como personalidade, modo de vida,
constituição física etc. Seu objetivo é identificar os órgãos perturbados.
3 A evolução dos conceitos de saúde e doença
Ribeiro (1993 apud ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002) identifica quatro períodos que permitem entender a
evolução dos conceitos de saúde e doença.
Período pré-cartesiano;
Período científico ou biomédico;
Primeira revolução da saúde;
Segunda revolução da saúde.
Agora veremos de forma mais aprofundada cada período.
3.1 Período pré-cartesiano
Marcado pela insistência no distanciamento das práticas médicas de concepções mágico-religiosas típicas da
Mesopotâmia e do Egito.
- -4
A Grécia Antiga é o berço da ciência médica ocidental. Com (460 – 377 a.C., é considerado o “pai daHipócrates
medicina”), as lógicas do racionalismo e do naturalismo, características dos filósofos da época, são postas a
serviço da compreensão dos processos de saúde e doença. Para ele, os procedimentos terapêuticos têm como
objetivo os efeitos nocivos das forças naturais.
Para compreender os estados de saúde (bem-estar ou mal-estar), deve-se considerar as influências do ar, da
água, do ambiente e da alimentação.
Lembra-se da famosa frase “mente sã em corpo são”?
Pois é, na verdade, não está associada a exercícios físicos ou “malhação”, mas à ideia do equilíbrio necessário
entre o estilo de vida e as leis naturais. A medicina hipocrática apoia-se na concepção de que a natureza é
formativa, construtiva e curativa: “O corpo humano tende a curar a si próprio” (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA,
2002, p. 3).
Assim, não fazer mal (primum non nocere) é o princípio fundamental no tratamento das doenças. Este é um dos
quatro princípios fundamentais (o da não maleficência) da mais conhecida teoria bioética, chamada 
principialismo.
Saiba mais
A saúde era a expressão de um equilíbrio harmonioso entre os humores corporais, que eram
representados pelo sangue, pelas bílis negra e amarela e pela linfa ou fleuma”
(ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002, p. 2).
A comida é a responsável pela renovação destes fluidos primários. A doença é resultante do
desequilíbrio destes quatro humores, influenciados por forças exteriores, como as estações do
ano.
Fique ligado
A importância da relação médico-doente já estava presente no pensamento hipocrático: esta
relação pode ter consequências sobre o bem-estar do doente. “Alguns pacientes, embora
conscientes de que o seu estado de saúde é precário, recuperam devido simplesmente ao seu
contentamento para com a humanidade do médico” (NULAND,1988, p. 59 apud
ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002, p. 3).
- -5
3.2 Período científico ou biomédico
Inspirado em filósofos como Galileu, Descartes, Newton, Bacon, dentre outros, apresenta uma concepção do
mundo, inclusive o mundo humano, como uma máquina, funcionando mecanicamente, a partir de leis próprias
da física.
Características do modelo biomédico
Os seres vivos são constituídos e funcionam de forma semelhante às máquinas, das quais o relógio é o grande
modelo: formados por peças que se encaixam e podem ser decompostas, cada uma delas com uma função
própria e observável.
Para Descartes, sendo o corpo humano uma máquina, o homem doente seria um relógio avariado, assim como
um homem saudável seria um relógio funcionando perfeitamente. Assim, o funcionamento dos homens é regido
por uma natureza que lhe é externa. O modelo cartesiano ou mecanicista concebe o (incluindo aí omundo
homem) como uma grande máquina ou um grande relógio.
O modelo biomédico concebe a doença, a exemplo da lógica cartesiana, como uma avaria, temporária ou
permanente, de um dos componentes da “máquina”. Curar significaria consertar ou reparar esta máquina.
Outra característica importante do modelo biomédico é a admissão de (organismoagentes específicos
patogênico) interferindo em partes específicas.
Abre-se caminho, via teoria do germe, para o combate às epidemias.
Para Ribeiro (1993 apud ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002), o modelo biomédico permitiu grande progresso na
teoria e na prática médica, apresentando três características principais:
• 1 – PROBLEMA / DIVISÃO DO PROBLEMA EM PARTES MENORES
“Tendência a reduzir os sistemas a pequenas partes, podendo cada uma delas ser considerada
separadamente” (p. 4). Esta perspectiva se opõe ao caráter totalizante do modelo pré-cartesiano;
• 2 – OFTALMOLOGIA, CARDIOLOGIA, GASTROENTEROLOGIA, ORTOPEDIA
“O indivíduo, com as suas características particulares e idiossincráticas (peculiar e pessoa), deixou de ser
o centro da atenção médica, sendo substituído pelas características universais de cada doença” (p. 4);
• 3 – GASTRITE
“Um forte materialismo substitui a tendência anterior de considerar significativos os fatores não
ambientais (morais, sociais, comportamentais)” (p. 4). Trabalha-se com uma perspectiva objetiva na
busca de “consertar” a “máquina defeituosa”.
•
•
•
- -6
4 Primeira revolução da saúde
É um desdobramento do modelo biomédico marcadopelo início da atenção à saúde pública.
Desde a Revolução Industrial, no século XVIII, que o mundo moderno passou por inúmeras transformações no
âmbito da saúde, precipitadas por desequilíbrios ecológicos e sociais: epidemias, insalubridade, alterações no
sistema de produção, êxodo do campo para as cidades.
Para Ribeiro, o modelo biomédico aplicado à saúde pública, que se estende até a década de 1970, é marcado pelo
reconhecimento de que:
1 - ...as doenças infecciosas eram difíceis, senão impossíveis de curar e, uma vez instaladas no adulto, o seu
tratamento e a sua cura eram dispendiosos;
2 - ...os indivíduos contraíam doenças infecciosas em contato com o meio ambiente físico e social que continha o
agente patogênico;
3 - ...as doenças infecciosas não se contraíam, a não ser que o organismo hospedeiro fornecesse um meio
favorável ao desenvolvimento do agente infeccioso”.
A evolução da compreensão dos processos saúde-doença, neste momento, permite o desenvolvimento de
estratégias capazes de barrar o avanço e disseminação de agentes patogênicos.
Por exemplo, através de medidas sanitárias como esgotamento e distribuição de água potável, bem como, já em
pleno século XX, na utilização de vacinas ou a utilização de antibióticos.
Podemos ver que, aos poucos, os conceitos de saúde e doença vão se encaminhando rumo à consideração de
fenômenos multicausais, isto é, deles participando uma série de agentes e determinantes.
Termo utilizado em 1979 por Julius Richmond, sublinha as mudanças necessárias para responder às novas
exigências no campo da saúde.
São estas as questões das quais nos ocuparemos na próxima aula!
Saiba mais
REFLEXÃO
Conforme ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002, p. 5
“Globalmente, pode afirmar-se que o desenvolvimento do modelo biomédico se centrara na
doença, que a primeira revolução da saúde se centrara na prevenção da doença, e que a
segunda revolução da saúde se centra na saúde”.
- -7
Os principais conceitos presentes na segunda revolução da saúde estão contidos em importantes documentos,
como os produzidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS); a Declaração de Alma-Ata, de 1978; a Carta de
Ottawa, (1986) e, especificamente para o Brasil, a Constituição Federal de 1988.
Todas estas iniciativas apontam para uma desconsideração da saúde como sendo ausência de doença e inovam
ao centrar a atenção nos processos de promoção e prevenção.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• O conceito ampliado de saúde;
• A OMS e o conceito de saúde;
• A 8ª Conferência Nacional de Saúde e a Constituição Federal de 1988.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu a necessidade de problematizar o conceito de saúde;
• Reconheceu a saúde como fenômeno multideterminado;
• Identificou os principais determinantes da saúde;
• Concebeu a saúde como fenômeno diferente de ausência de enfermidade.
Referências
ALBUQUERQUE, Carlos Manuel de Sousa; OLIVEIRA, Cristina Paula Ferreira de. : significações eSaúde e doença
perspectivas em mudança. Millenium. n. 25, jan./2002. Revista online do ISPV (Instituto Superior Politécnico de
Viseu). Disponível em: //www.ipv.pt/millenium/Millenium25/25_27.htm. Acesso em: 25 mar. 2012.
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FUNDAMENTOS SÓCIO-
ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
O CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE: A OMS 
E O CONCEITO DE SAÚDE
- -2
Olá!
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1 - Problematizar o conceito de saúde;
2 - Entender a importância das discussões da OMS;
3 - Compreender os objetivos e consequências da 8ª Conferência Nacional de Saúde e da Constituição Federal de
1988.
1 Introdução
Vimos, na aula anterior, que a compreensão humana se modifica a partir das transformações sociais e culturais, e
que o conceito de saúde não pode mais ser considerado sinônimo de ausência de enfermidade.
As diversas revoluções (socioculturais e tecnológicas) promovem novas formas de compreender os fenômenos
no âmbito dos processos saúde-doença. Assim, temos que pensar os eventos que envolvem saúde e doença como
multideterminados ou multicausais.
Devemos, portanto, ampliar o sentido e incorporar novas dimensões à leitura destes fenômenos.
2 O conceito ampliado de saúde
Ampliar o sentido dos processos de saúde e doença é passar a considerá-los algo mais complexo e diretamente
relacionado a fatores sociais, políticos, econômicos, ideológicos e de representação social.
Ao fazer isso, a saúde deixa de ser compreendida a partir de uma perspectiva médica curativa, e passa a ser
concebida como um processo que envolve promoção e prevenção.
Assim, entende-se que “processo saúde-doença é um processo social caracterizado pelas relações dos homens
com a (meio ambiente, espaço, território) e com (através do trabalho e das relaçõesnatureza outros homens
sociais, culturais e políticas) num determinado espaço geográfico e num determinado tempo histórico” (SAÚDE E
CIDADANIA, 2011).
Esta “nova” compreensão de saúde está fundamentada em um modelo ampliado que, ao mesmo tempo em que
orienta novos olhares sobre os fenômenos, também reorganiza ações e serviços. “A garantia à saúde transcende,
portanto, a esfera das atividades clínico-assistenciais, suscitando a necessidade de um novo paradigma que dê
conta da abrangência do processo saúde-doença. Nesse sentido, a promoção à saúde aglutina o consenso político
- -3
em todo o mundo e em diferentes sociedades como paradigma válido e alternativo aos enormes problemas de
saúde e do sistema de saúde dos países.” (SAÚDE E CIDADANIA, 2011).
3 A OMS e o conceito de saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi fundada em abril de 1948, com a finalidade de desenvolver o nível de
saúde da população mundial, através do planejamento e patrocínio de programas e ações em saúde.
Hoje a OMS conta com 192 Estados membros e dois membros associados. O Brasil faz parte dos Estados
membros.
Sabe como a OMS define saúde?
Como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausências de enfermidade ou
doença” (OMS/WHO).
A definição de saúde da OMS tem sido considerada problemática por alguns pensadores, à medida que é vista
como utópica. Afinal, que indivíduo ou grupo humano apresenta “completo bem-estar” físico, mental ou social?
Assim, a definição apresenta a saúde como algo mais ideal do real; sua proposta é, na realidade, inatingível.
Uma posição mais favorável à definição da OMS permite tomá-la como um indicador para compreender a saúde
como um fenômeno complexo que não se esgota na dimensão física ou fisiológica.
Ao reconhecer a saúde como algo mais do que ausência de doença, a definição da OMS amplia os determinantes
e, consequentemente, a responsabilidade pelo bem-estar individual e coletivo.
A consideração da dimensão social nos estados de saúde-doença será fundamental para a compreensão de
sentidos particulares e para a elaboração de políticas públicas capazes de fomentar vidas mais saudáveis.
Por outro lado, ao colocar lado a lado as dimensões mental, social e física, admite a necessidade de trabalhos
intersetoriais e multidisciplinares.
Fique ligado
Para melhor compreendermos o processo de ampliação do conceito de saúde, vamos analisar
brevemente três importantes documentos: a Declaração de Alma-Ata, a Carta de Ottawa e, para
o Brasil, a Constituição Federal de 1988.
- -4
3.1 A Declaração de Alma-Ata
A OMS promove uma série de encontros e discussões que têm como objetivo discutir e propor acordos e ações
na área da saúde em âmbito mundial.
Em 1978, como resultado da , realizada emConferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde
Alma-Ata, no Cazaquistão, a Declaração de Alma-Ata expressa as necessidades dos governos e das organizações
que trabalham no campo da saúde que centrem seus esforços no sentido de promoção da saúde para todos os
povos do mundo.
O item I reafirma a definição de saúde elaborada pela OMS e reafirma ser a saúde um direito humano
fundamental.
Item IV: “É direito e dever dos povos participar individuale coletivamente no planejamento e na execução de
seus cuidados de saúde”.
Item V: (...) “todos os povos do mundo, até o ano 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma
vida social e economicamente produtiva. Os cuidados primários de saúde constituem a chave para que essa meta
seja atingida, como parte do desenvolvimento, no espírito da justiça social”.
Item VII: “Os cuidados primários da saúde:
1 - Refletem, e a partir delas evoluem, as condições econômicas e as características socioculturais e políticas do
país e de suas comunidades, e se baseiam na aplicação dos resultados relevantes da pesquisa social, biomédica e
de serviços de saúde e da experiência em saúde pública.
4 - Envolvem, além do setor de saúde, todos os setores e aspectos correlatos do desenvolvimento nacional e
comunitário, mormente a agricultura, a pecuária, a produção de alimentos, a indústria, a educação, a habitação,
as obras públicas, as comunicações e outros setores.
7 - Baseiam-se, nos níveis locais e de encaminhamento, nos que trabalham no campo da saúde, inclusive
médicos, enfermeiros, parteiras, auxiliares e agentes comunitários, conforme seja aplicável, assim como em
praticantes tradicionais, conforme seja necessário, convenientemente treinados para trabalhar, social e
tecnicamente, ao lado da equipe de saúde e responder às necessidades expressas de saúde da comunidade.”
Vemos claramente que a Declaração de Alma-Ata recoloca a questão da saúde, considerando diversos aspectos
que vão além das ações curativas ou resumidas a estados de enfermidade ou doença. O documento engloba todas
as áreas da vida em sociedade para fazer compreender os eventos em saúde.
3.2 A Carta de Ottawa
Outro importante documento relacionado à ampliação do conceito de saúde é a .Carta de Ottawa
- -5
Resultado da , realizada em novembro de 1986, em Ottawa,I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde
Canadá, baseia-se nos progressos das discussões de Alma-Ata.
É uma carta de intenções que tem por objetivo contribuir com as políticas de saúde desenvolvidas pelos países
envolvidos na Conferência.
Na Carta de Ottawa, o ponto central é a ideia de . Aqui também vemos o sentido ampliadopromoção da saúde
do conceito de saúde.
São condições e recursos para a saúde: paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável,
recursos sustentáveis, justiça social e equidade (OPAS, 1986).
Considerando as discussões internacionais, já estamos longe de um modelo puramente organicista dos processos
saúde-doença ou da concepção de saúde como ausência de enfermidade. Documentos como a Declaração de
Alma-Ata e a Carta de Ottawa reorganizam a compreensão do campo da saúde, destacando a importância de
outras esferas da vida.
No Brasil, as orientações internacionais irão se consolidar na Carta Magna de 1988. É na Constituição Federal de
1988 que o conceito de saúde expressará claramente as principais diretrizes das conferências internacionais.
REFLEXÃO
O ano de 2000 é estabelecido como limite para o desenvolvimento de estratégias para a promoção da saúde.
Assim, pode-se ler no último parágrafo do documento: “A Conferência está firmemente convencida de que se as
pessoas, as ONGs e organizações voluntárias, os governos, a OMS e demais organismos interessados, juntarem
seus esforços na introdução e implementação de estratégias para a promoção da saúde, de acordo com os
valores morais e sociais que formam a base desta Carta, a Saúde Para Todos no Ano 2000 será uma realidade”
(OPAS, 1986).
Saiba mais
Promoção da saúde: “Processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua
qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para
atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem
saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio
ambiente” (OPAS, 1986).
- -6
4 A 8ª Conferência Nacional de Saúde e da Constituição 
Federal de 1988
O Brasil teve, ao longo de sua história, oito Constituições, sendo a primeira em 1824 e a última, em 1988. Cada
um desses documentos expressa transformações e avanços na estrutura da sociedade brasileira e na
consolidação da cidadania.
Direitos civis, políticos e sociais vão, aos poucos, sendo conquistados, não sem muita luta e sacrifício. Podemos
dizer que ainda estamos longe da pretendida cidadania plena. Entretanto, inegáveis mudanças podem ser
observadas.
No campo da saúde, uma série de transformações vai sendo operada desde o final do século XIX e início do
século XX. Assim como ocorreu em outros países, o Brasil adotou modelos de saúde semelhantes aos
desenvolvidos internacionalmente.
Embora na virada do século já houvesse alguma discussão sobre a necessidade de uma concepção mais ampliada
de saúde – por exemplo, a adoção de políticas sanitárias –, a ênfase ainda recaía nas ações curativas e
individualistas.
O modelo predominante de atenção à saúde é o modelo hospitalocêntrico, no qual o hospital figura como
personagem principal. Este modelo, que ainda não foi totalmente superado, privilegia as ações curativas e
reabilitadoras em detrimento da atenção básica, da prevenção e da promoção da saúde.
Curiosamente, ainda que não tenhamos superado no exercício da prática esta lógica biologizante, fizemos
consideráveis avanços no campo da reflexão e na definição jurídico-política.
4.1 A 8ª Conferência Nacional de Saúde
Em 1986, em Brasília (DF), foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Esta Conferência foi um marco na
história das conferências de saúde no Brasil, à medida que, pela primeira vez, houve participação da população.
Este importante evento é o resultado de movimentos populares e de profissionais da saúde, que exigiam
mudanças estruturais na concepção e gerenciamento das ações e serviços de saúde no Brasil.
Da 8ª Conferência, participaram mais de quatro mil delegados. Como consequência do chamado Movimento da
Reforma, os participantes propuseram alterações nas instituições de saúde que correspondessem ao conceito
ampliado de saúde, isto é, que contemplassem a promoção, a proteção e a recuperação.
O relatório final da 8ª Conferência reafirma que “em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
- -7
liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de
organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis da vida” (BRASIL, 1986,
p. 4).
As propostas da 8ª Conferência serão consideradas pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Orgânicas da
Saúde, que darão sustentação ao Sistema Único da Saúde (SUS).
4.2 A Constituição Federal de 1988
Também chamada de “Constituição Cidadã”, foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Esta Carta representa um
avanço importante em direção à democracia, e contou com a participação da sociedade, que contribuiu para sua
elaboração por meio de propostas, formuladas por cidadãos organizados em sindicatos e associações.
O espírito das discussões da 8ª Conferência Nacional de Saúde é incorporado ao texto da nova Constituição. Os
artigos 196 a 200 encerram as principais diretrizes sobre a saúde.
No Título VII, Capítulo II, Seção II - DA SAÚDE, Artigo 196, lemos: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” (BRASIL,
1988). Os demais artigos, até o 200, detalham a estruturação das ações e serviços de saúde a serem
implementados pelo Estado.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• A importância do planejamento de políticas públicas em saúde;
• Implantação de programas e ações em saúde no âmbito daatenção curativa, de promoção e de 
prevenção;
• Efetivação e abrangência das políticas públicas em saúde no Brasil.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Percebeu a importância da problematização do conceito saúde;
• Entendeu a importância das discussões da OMS;
• Analisou os objetivos e consequências da 8ª Conferência Nacional de Saúde e da Constituição Federal de 
1988.
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Referências
ALBUQUERQUE, Carlos Manuel de Sousa; OLIVEIRA, Cristina Paula Ferreira de. Saúde e doença: significações e
perspectivas em mudança. Millenium. n. 25, jan. de 2002. Revista online do ISPV (Instituto Superior Politécnico
de Viseu). Disponível em: // . Acesso em: 25 mar. 2012.www.ipv.pt/millenium/Millenium25/25_27.htm
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. Artigos
196 a 200.
BRASIL. Ministério da Saúde. 8ª Conferência Nacional de Saúde: relatório final. 1986. Disponível em: conselho.
saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS / WHO). // .www.who.int
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Carta de Ottawa. Primeira Conferência Internacional sobre
Promoção da Saúde. Ottawa, 1986. Disponível em: . Acessowww.opas.org.br/promocao/uploadArq/Ottawa.pdf
em: 25 mar. 2012.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Declaração de Alma-Ata. Conferência Internacional sobre
Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata, 1978. Disponível em: www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.
. Acesso em: 25 mar. 2012.pdf
SAÚDE E CIDADANIA. Um conceito ampliado de saúde. Disponível em: //www.saude.sc.gov.br/gestores
. Acesso em: 24 set. 2011./sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_02/03_01.html
www.ipv.pt/millenium/Millenium25/25_27.htm
www.who.int
www.opas.org.br/promocao/uploadArq/Ottawa.pdf
www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.pdf
www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.pdf
www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_02/03_01.html
www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_02/03_01.html
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FUNDAMENTOS SÓCIO-
ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
ASPECTOS SOCIOLÓGICOS NO MUNDO 
CONTEMPORÂNEO: POLÍTICAS PÚBLICAS 
EM SAÚDE
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Olá!
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1 - Entender a importância do planejamento de políticas públicas em saúde;
2 - Entender os processos de implantação de programas e ações em saúde;
3 - Analisar criticamente a efetivação e abrangência das políticas públicas em saúde;
4 - Identificar a importância e abrangência das políticas públicas de assistência social.
Especial RIO+20: O Ministério da Saúde (MS) trouxe para a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, diferentes exemplos de políticas públicas para promover o bem-estar do
cidadão.
1 Até agora
Até agora, estudamos a trajetória das ideias e conceitos que envolvem o campo da saúde e da doença.
Procuramos compreender como a concepção do binômio saúde-doença vai se transformando, impulsionada por
mudanças sociais e históricas.
Assim, definitivamente, não podemos mais descolar as ações em saúde de determinantes sociais, políticos,
culturais e afetivos.
Se não considerarmos os diversos fatores que compõem os eventos em saúde, não entenderemos seus sentidos e
complexidade e, portanto, construiremos modelos de atuação que não atendem às reais necessidades dos
sujeitos.
Estamos, assim, mergulhados nas significações sociais, históricas e culturais que ajudam a compreender formas
particulares de gerenciamento dos eventos em saúde.
Estas formas particulares de gerenciamento dos eventos em saúde estão representadas, por exemplo, pelas
políticas implementadas pelos diversos países.
O conceito de promoção da saúde estará na base dos principais projetos e ações em saúde, particularmente da
saúde pública.
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2 Estilo de vida
Vemos que o novo modelo de saúde incorpora valores e concepções para além de uma perspectiva orgânica ou
fisiológica, da mesma forma que não se restringe às evidências de doença ou enfermidade. Falamos agora de algo
mais abrangente, que pode ser chamado de .estilo de vida
A Organização Mundial de Saúde define estilo de vida como “conjunto de estruturas mediadoras que refletem
uma totalidade de atividades, atitudes e valores sociais", ou como: “um aglomerado de padrões
comportamentais, intimamente relacionados, que dependem das condições econômicas e sociais, da educação,
da idade e de muitos outros fatores'” (OMS / WHO, 1986, 1988 apud ALBUQUERQUE, 2002, p. 6).
Por este conceito, o indivíduo, o ator social, passa a ser o centro das considerações sobre a saúde, já que é o
principal agente no gerenciamento das atividades sociais.
Através de decisões individuais que afetam sua vida e sobre as quais tem algum controle, o indivíduo torna-se
mais ou menos saudável.
As considerações sobre o estilo de vida são importantes na construção de respostas aos problemas que
envolvem promoção, prevenção e atenção, influenciando a formulação das políticas públicas em saúde.
3 Políticas públicas e políticas públicas em saúde
As políticas públicas são formuladas levando em conta o interesse da coletividade.
No caso específico das políticas públicas em saúde, a ênfase recai sobre seus principais determinantes:
promoção, prevenção e recuperação.
• Políticas públicas
“As políticas públicas podem ser definidas como conjuntos de disposições, medidas e procedimentos que
traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas às
tarefas de interesse público. São também definidas como todas as ações de governo, divididas em
atividades diretas de produção de serviços pelo próprio Estado e em atividades de regulação de outros
agentes econômicos” (LUCCHESE, 2004).
• Políticas públicas em saúde
“As políticas públicas em saúde integram o campo de ação social do Estado orientado para a melhoria
das condições de saúde da população e dos ambientes natural, social e do trabalho. Sua tarefa específica
•
•
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em relação às outras políticas públicas da área social consiste em organizar as funções públicas
governamentais para a promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade”
(LUCCHESE, 2004).
3.1 Políticas públicas de saúde no Brasil
A história das políticas públicas no Brasil permite localizar a Constituição Federal de 1988 como marco
fundamental.
Vimos que, na Carta Magna do nosso país, saúde é definida como “ ”.direito de todos e dever do Estado
A responsabilidade do Estado pelas condições de saúde de sua população é materializada nos princípios de 
.universalidade, equidade e integralidade
“As políticas públicas se materializam através da ação concreta de sujeitos sociais e de atividades institucionais
que as realizam em cada contexto e condicionam seus resultados.
Por isso, o acompanhamento dos processos pelos quais elas são implementadas, e a avaliação de seu impacto
sobre a situação existente, devem ser permanentes” (LUCCHESE, 2004).
4 O Sistema Único de Saúde (SUS)
O SUS foi criado pela Constituição Federal de 1988 e implementado pela Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90
(http://www.saude.gov.br/), de 19 de setembro de 1990, e dispõe sobre as condições para a promoção, proteção
e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.
Além desta, a (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm), de 28 de dezembro deLei nº 8.142/90
1990, acresce uma característica fundamental do Sistema: a participação dos usuários (população) na gestão dos
serviços, isto é, o controle social.
Três princípios organizam o SUS e têm relação direta com a compreensão ampliada de saúde, bem como com as
preocupações sociais.
São eles: .universalidade, integralidade e equidade
Cada um destes princípios reafirma o caráter holístico, isto é, busca uma compreensão integral dos eventos e a
dimensão social dos processos de saúde.
O SUS admite ainda diretrizes que permitem organizar e gerenciar o sistema,tais como a descentralização
político-administrativa, resolutividade, direito à informação, regionalização e hierarquização da rede de serviços
de saúde e participação da população, dentre outras.
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4.1 Princípio da universalidade
O princípio da universalidade compreende a saúde como um direito de cidadania. Como vimos, a Constituição
Federal define saúde como um direito de todos e um dever do Estado.
Assim, considerando que o Estado tem o dever de prestar atendimento a toda população brasileira, este
princípio garante acesso e atendimento nos serviços do SUS, independentemente de contribuição à previdência.
4.2 Princípio da integralidade
O princípio da integralidade garante o direito de atendimento de forma plena, através de um conjunto articulado
e contínuo de ações preventivas e curativas, individuais e coletivas, nos três níveis de atenção ou complexidade:
• Atenção primária ou , relativa à promoção e aos cuidados preventivos à saúde e agravos em básica
doenças preexistentes;
• Atenção secundária, voltada aos programas, sistemas e serviços de tratamento de média complexidade, 
como ambulatórios e consultórios;
• Atenção terciária, composta por ações de alta complexidade que objetivam reabilitar e promover a 
cura por meio de tratamentos, geralmente de custo mais elevado.
4.3 Princípio da equidade
O terceiro princípio do SUS é a equidade. Este é um princípio de justiça social que objetiva diminuir as
desigualdades.
Pode ser enunciado pela fórmula: tratar os iguais de forma igual e desigualmente os desiguais.
Isto significa que, na distribuição de bens e serviços, deve-se levar em conta as necessidades, investindo mais
onde a carência é maior.
5 O Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
De estrutura bastante semelhante ao SUS, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi concebido pela Lei
Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993 (http://www.planalto.gov.br
), e teve suas bases de implantação consolidadas em 2005, por meio da sua Norma/ccivil_03/leis/l8742.htm
Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS).
O artigo 1º da LOAS diz que a assistência social é “direito do cidadão e dever do Estado, é política de seguridade
social não contributiva, que prove os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de
iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas” (BRASIL, 1993).
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm
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Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o Sistema é composto e gerido
pelo poder público e pela sociedade civil, e objetiva garantir ao indivíduo seus direitos sociais que, juntamente
com os direitos civis e políticos, constituem a cidadania.
Historicamente, os direitos sociais são os últimos a serem conquistados no Brasil e, ainda assim, apenas por uma
parcela da sociedade.
Para Couto (2009, p. 41) a LOAS garantiu o direito à assistência social como política pública e possibilitou a
construção de parâmetros civilizatórios sobre o campo da emancipação de parte significativa da população
brasileira, retirando-a da indigência e da submissão ao assistencialismo e a caridade.
Assentada nas diretrizes de descentralização político-administrativa, participação da população na formulação
das políticas e controle das ações e na primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de
assistência social, permite a formulação de uma Política Nacional de Assistência Social – PNAS, 2004 - e de um
Sistema Único de Assistência Social, em 2005.
O atua com dois serviços estatais fundamentais: os ,SUAS CRAS (Centros de Referência da Assistência Social)
vinculados à proteção social básica; e , voltados àos CREAS (Centros Especializados de Assistência Social)
proteção social especial.
A proteção social básica, oferecida pelos CRAS, busca o “fortalecimento dos vínculos familiares e da
convivência comunitária” (COUTO, 2009, p. 49).
Tem por objetivo prevenir situações de risco pelo desenvolvimento de potencialidades e novas habilidades,
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Está voltada à população que vive em situação de vulnerabilidade social em decorrência da pobreza, pouco
acesso aos serviços públicos e enfraquecimento dos vínculos afetivos.
Prevê estratégias de acolhimento, convivência e socialização das famílias e de indivíduos em função do estado de
vulnerabilidade.
Os CREAS se destinam à . Estão dirigidos a “indivíduos que se encontram em situaçãoproteção social especial
de alta vulnerabilidade pessoal e social, bem como a crianças e adolescentes, jovens, idosos e pessoas com
deficiência nas várias situações caracterizadas como de risco pessoal” (COUTO, 2009, p. 50).
Sua atenção está voltada para situações de maus tratos físicos e/ou psicológicos, abuso sexual, cumprimento de
medidas socioeducativas, trabalho infantil e demais situações que fragilizam o indivíduo e sua relação com o
grupo familiar.
O Sistema Único de Assistência Social parte do pressuposto de que o acesso à política se dará na condição de
sujeito de direito, direitos esses que se constroem e se garantem na coletividade, tendo como centralidade a
família, tentando romper com a lógica individualista de prestação de serviços assistenciais” (COUTO, 2009, p. 53).
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Isto significa considerar as peculiaridades sociais, históricas, políticas, econômicas etc. que determinam as
condições de vida da população.
6 As políticas públicas e suas consequências: os programas 
de saúde e de assistência social
Para concluir nossa aula, vamos enumerar alguns dos principais programas desenvolvidos na área das políticas
públicas em saúde e assistência social.
Aproveite para pesquisar e aumentar seus conhecimentos sobre estes trabalhos.
• Programas de saúde:
- Estratégia Saúde da Família (Programa Saúde da Família – PSF);
- Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF);
- Farmácia Popular;
- Programa Nacional de Hipertensão e Diabetes;
- Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) – saúde mental;
- Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) – saúde mental;
- Programa de Volta para Casa – saúde mental;
- Programa de Atenção a Álcool e Outras Drogas – saúde mental;
- Programa de Assistência Integral à saúde da Mulher (PAISM);
- Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa;
• Programas de assistência social:
- Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF);
- Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (crianças, adolescentes, jovens e idosos);
- Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas;
- Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI);
- Serviço de Acolhimento Institucional;
- Serviço de Acolhimento em República;
- Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora;
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- Serviço de Proteção em situações de Calamidade Pública e de Emergência;
- Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) – Um salário mínimo vigente ao idoso,
com idade de 65 anos ou mais ou e a pessoa com deficiência ou qualquer outra situação que a impeça de
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, sem
condição de garantir sua própria manutenção, nem tê-la provida por sua família;
- Benefícios Eventuais – têm caráter suplementar e provisório, prestados aos cidadãos e às famílias em
virtude de nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública.
6.1 Políticas públicas de saúde e de assistência social
Se retomarmos agora o conceito de saúde considerando sua perspectiva ampliada, podemos notar que políticas,
programas e ações desenvolvidas pelos setores públicos levam em conta não só os estados de disfunção física ou
fisiológica, como também as variações do mundo social e psicológico.
Temos, portanto, uma conjugação de esforços entre as políticas e programas de saúdee as políticas e programas
de assistência social.
Na verdade, temos uma relação complementar e indissociável entre estas esferas, apontando para a garantia do
chamado Bem-estar social ou Welfare State.
Garantido pelo Estado como agente da promoção social, defendendo e protegendo a sociedade e os cidadãos, o
estado de bem-estar social assegura a todo o indivíduo o direito à educação, assistência médica gratuita, auxílio
em caso de desemprego, renda mínima e recursos adicionais para a criação dos filhos.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• Cidadania;
• Globalização.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu a importância do planejamento de políticas públicas em saúde;
• Entendeu os processos de implantação de programas e ações em saúde no âmbito da atenção curativa, 
de promoção e de prevenção;
• Analisou criticamente a efetivação e abrangência das políticas em saúde no Brasil e conheceu algumas 
ações propostas através dos programas desenvolvidos pelas diversas instâncias públicas;
• Identificou a importância e abrangência das políticas públicas de assistência social e sua relação com as 
•
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• Identificou a importância e abrangência das políticas públicas de assistência social e sua relação com as 
políticas públicas de saúde.
Referências
ALBUQUERQUE, Carlos Manuel de Sousa; OLIVEIRA, Cristina Paula Ferreira de. Saúde e doença: Significações e
perspectivas em mudança. Millenium. n. 25, jan./2002. Revista online do ISPV (Instituto Superior Politécnico de
Viseu). Disponível em: // . Acesso em: 25 de março de 2012.www.ipv.pt/millenium/Millenium25/25_27.htm
BRASIL. Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da assistência social e dá outras
providências. Disponível em: . Acesso em: 29 de abril de 2012.www.fia.rj.gov.br/legislacao/leiorganica.pdf
COUTO, Berenice Rojas. : na consolidação da assistência socialO Sistema Único da Assistência Social – SUAS
enquanto política pública. In: CRUZ, Lílian Rodrigues da; GUARESCHI, Neuza (Orgs.). Políticas públicas e
. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 41-55.assistência social
LUCCHESE, Patrícia. : políticas públicas em saúde. 2004. Disponível em: //www.ppge.ufrgs.br/atsIntrodução
/disciplinas/11/lucchese-2004.pdf. Acesso em 12 de maio de 2008.
•
www.ipv.pt/millenium/Millenium25/25_27.htm
www.fia.rj.gov.br/legislacao/leiorganica.pdf
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FUNDAMENTOS SÓCIO-
ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
CIDADANIA E GLOBALIZAÇÃO
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Olá!
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1 - Entender os conceitos de cidadania e de globalização e suas consequências;
2 - Reconhecer as relações entre saúde e cidadania;
3 - Identificar a importância da globalização para a avaliação dos estados de saúde e doença nas sociedades
contemporâneas e a consolidação da cidadania.
1 A constituição da cidadania no Brasil
Vimos, na aula anterior, que as políticas de assistência social têm por objetivo fundamental garantir os direitos
sociais. Estes, juntamente com os direitos civis e os direitos políticos, constituem os direitos fundamentais do
indivíduo em sociedade.
Estes três direitos organizam o conceito de cidadania; sua conquista faz do indivíduo um cidadão. Direitos civis,
Direitos sociais, Direitos políticos cidadão.à
Para Camargo (2012), “A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da
humanidade, através daqueles que sempre buscam mais direitos, maior liberdade, melhores garantias
individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações, seja do próprio Estado ou de outras
instituições”.
Ser cidadão, portanto, é ter, legalmente e de fato, direitos civis, políticos e sociais, o que permite participar de
forma equivalente do mundo social.
Esses direitos, em geral, não são generosamente concedidos, mas conquistados.
O conceito moderno de cidadania admite duas categorias.
• Cidadania formal
A cidadania formal diz respeito à maneira como a cidadania está descrita formalmente nos documentos e
leis de um país, nas Constituições, e que garante direitos aos indivíduos. Estabelece uma relação de
pertencimento de um indivíduo a um Estado Nação.
• Cidadania substantiva
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A cidadania substantiva (ou cidadania real) diz respeito à maneira como a cidadania é vivida na prática,
no dia a dia. Relaciona-se à posse efetiva de direitos civis, políticos e sociais.
A categoria cidadania substantiva possibilita avaliar se um indivíduo, apesar de ter garantido legalmente
seus direitos, tem de fato os direitos preservados no dia a dia. Podemos notar que nem todos os
indivíduos em uma comunidade são iguais socialmente, apesar das garantias legais. Frequentemente há
uma estruturação da sociedade que disponibiliza de maneira desigual os bens e serviços produzidos,
gerando sofrimento, necessidade e preconceito a diversos segmentos.
1.1 Cidadania e saúde
Se pensarmos nas políticas públicas de saúde, por exemplo, e lembrarmos um dos seus princípios – o da
universalidade –, veremos que há um descompasso entre o que está formalizado e o que é praticado. Em temos
legais, remetendo à cidadania formal, temos que todos os indivíduos têm direito à atenção à saúde, em todos os
níveis de complexidade.
Certamente a cidadania “formal” foi conquistada; a lei garante acesso às ações em saúde a todos que delas
precisarem. Entretanto, a cidadania “real”, “substantiva”, pode estar longe de ser atingida, uma vez que uma
parcela significativa da população brasileira não tem à disposição um mínimo de atenção à saúde.
Ao considerarmos as relações entre cidadania e saúde, afirmamos que a primeira deve estar afinada com a saúde
dos membros componentes da coletividade, isto é, os cidadãos. Não há como desenvolver uma cidadania
positiva, implicada e ativa se o cidadão não estiver assistido de forma adequada em termos de saúde. Assim, uma
sociedade moderna deve colocar a saúde no centro de suas preocupações, considerando seus cidadãos sujeitos
de direitos e as ações votadas a eles, deveres garantidos pelo Estado.
LEITURA
Saiba mais
O termo cidadania deriva do latim , que significa “cidade” e implica no reconhecimentocivitas
de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade organizada – um país, por exemplo –,
que atribui aos indivíduos que dela participam um conjunto de direitos e obrigações, expressos
em uma Constituição.
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Assim, vemos que “No Brasil ainda há muito que fazer em relação à questão da cidadania, apesar das
extraordinárias conquistas dos direitos após o fim do regime militar (1964-1985). Mesmo assim, a cidadania
ainda está distante de muitos brasileiros, pois a conquista dos direitos políticos, sociais e civis não consegue
ocultar o drama de milhões de pessoas em situação de miséria, altos índices de desemprego, da taxa significativa
de analfabetos e semianalfabetos, sem falar do drama nacional das vítimas da violência particular e oficial.”
(CAMARGO, 2012).
2 Globalização
Ao contrário do que muitos pensam, o chamado fenômeno da globalização não é algo novo. Na verdade, ela está
presente há muito tempo nas sociedades ocidentais capitalistas.
Vemos que a vida em sociedade é marcada por uma espécie de “ ” (alimentação, vestuário,mundialização
moradia, transportes, comunicações, divertimentos, sem falar em hábitos, ideias e valores assumem um padrão
comum).
Utilizamos mercadorias produzidas para um mundo globalizado, sustentado pelo capitalismo mundial.
LEITURA
Uma primeira definição de globalização dá conta de ser “um processo ainda em curso de integração de
economias e mercados nacionais” (BRASIL ESCOLA, 2006). Entretanto, não se pode resumir a globalização a um
fenômeno apenas econômico. Na verdade, é um processo de interdependência de países e pessoas em inúmeras
áreas, apontando para uma espécie de uniformização de padrões também sociais e culturais. Assim, pode-se
redefinir globalização como “um processo econômico, social e cultural que se estabeleceu nas duas ou três
últimas décadas

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