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Joëlle Moreira - Medicina UFPE Nefrologia NEFROTOXICIDADE É definido como algum dano funcional ou estrutural aos rins, que ocorre quando estes são expostos a um xenobiótico (qualquer substância estranha ao corpo - drogas, fármacos, toxinas). 25% dos casos de nefrotoxicidade são decorrentes do uso de medicamentos. Este percentual aumenta para > 60% na população idosa. Fatores de risco: ● Idade avançada ● Doença renal crônica subjacente ● Exposição a múltiplas drogas ● DM ● Insuficiência cardíaca ● Hipovolemia ● Sepse FATORES ASSOCIADOS COM A NEFROTOXICIDADE Quando pensamos em nefrotoxicidade, precisamos pensar em três pontos estruturantes: 1. Rins 2. Paciente 3. Medicamento FATORES ASSOCIADOS ÀS DROGAS Aumento da exposição dos rins a droga: Aminoglicosídeos, Anfotericina B, cisplatina - Dose: ⇡dose ~ ⇡chance de nefrotoxicidade por uma droga que já é nefrotóxica - Tempo de uso - ATB > 7 dias - Via de administração - EV é a pior (sem metabolização hepática) Estimulam reação imune e inflamação: Beta-lactâmicos, AINEs, inibidores da bomba de prótons - Resultam na formação de fatores de transcrição e na formação de substâncias pró-inflamatórias - Causam dano ao interstício renal Combinação de drogas altamente nefrotóxicas: Ex. uso de radiocontraste em paciente já em uso de AINE; pct em uso do cisplatina com necessidade de uso de AMGs Formação de cristais na urina: metotrexato, aciclovir, sulfadiazina e vitamina C - Drogas insolúveis na urina ou que se tornam pela alteração do pH ⤍ precipitação de cristais ⤍ destruição dos túbulos renais Aumento da concentração intracelular das drogas (competição por transportador): cisplatina, tenofovir - Células que competem com substâncias endógenas ou entre si pelo mesmo transportador - Se o transportador estiver ocupado, a droga não consegue ser eliminada para urina ou não consegue ser reabsorvida para a circulação sistêmica ⤍ fica concentrada no interior das células tubulares ⤍ dano mitocondrial, ⇡espécies reativas de oxigênio e morte celular. Acúmulo intracelular de drogas que não conseguem ser metabolizadas: sacarose, hidroxietilamido - Endocitados para as células tubulares, onde se juntam com os lisossomos e inativam as enzimas lisossomais. Não existem enzimas capazes de metabolizar essas substâncias ⤍ disfunção das organelas ⤍ morte celular Formação agregados não cristalinos com a uromodulina⤍ apenas a vancomicina - Estes agregados obstruem as células, promovem disfunção das organelas e morte celular Nefrotoxicidade direta: AMGs, AfB - A estrutura químicas dessas drogas têm um perfil de se acumular nos rins, promovendo um dano nas células renais Joëlle Moreira - Medicina UFPE Nefrologia FATORES ASSOCIADOS AO PACIENTE Idade: > 65 anos Sexo: mulheres - Ambos apresentam menor massa magra e menor quantidade de águas, que favorecem o acúmulo da droga. - Também apresentam uma menor quantidade de albumina, que faz com que tenha mais droga ativa circulando pela corrente sanguínea. Farmacogenética: - Maior resposta imune - alergia - Maior ou menor predisposição a expressão de transportadores - Presença de mutações que acabam alterando a funcionalidade de transportadores ou proteínas/enzimas responsáveis pelo metabolismo - Mutações nas enzimas metabolizadoras (citocromo P) - Ausência de transportador adequado - Sd. de Fanconi em pacientes que têm HIV e estão em uso de tenofovir - mutação no MDR-2 Comorbidades: - LRA - DRC - Sd. nefrótica - Cirrose avançada - Sd. cardiorrenais - Icterícia obstrutiva - sais biliares são nefrotóxicos - Equilíbrio acidobásico - Hipocalemia, hipocalcemia ⤍ favorecem o aumento da nefrotoxicidade dos aminoglicosídeos - Urina ácida ⤍ favorece a precipitação da sulfadiazina e do metotrexato (cristais) - Urina básica ⤍ favorece a precipitação do indinavir e ciprofloxacino FATORES ASSOCIADOS AOS RINS: Os rins possuem um fluxo sanguíneo elevado porque 25% do débito cardíaco chega diretamente ai. Isso significa que os rins são expostos a essas substâncias⤍ são mais expostos a toxicidade direta. Alguns segmentos tubulares renais possuem alta taxa metabólica (ex. ramo ascendente da alça de Henle), nas quais as células podem acabar trabalhando em hipóxia, precisam de transportadores ativos. Se esses locais forem expostos a um fármaco que precisará ficar dentro da célula, ele vai aumentar as chances de nefrotoxicidade. Os rins também são responsáveis pela biotransformação de drogas ⤍ forma fármacos ativos, inativos e metabólitos tóxicos. Assim, eles podem ser expostos a uma maior quantidade de toxinas, que vão resultar em dano renal. Ex.: AMGs e cisplatina ⤍ na sua metabolização renal, promovem uma grande quantidade de espécies reativas de oxigênio, dos quais os compostos antioxidantes renais não dão conta de eliminar a alta quantidade de radicais livres (dano oxidativo renal). Além disso, os rins são locais de alta concentração de algumas drogas, tanto na medula, quanto no interstício. Ex. cisplatina se concentra 5x mais nos rins do que na circulação sistêmica. São também locais de captura de substâncias, de forma que suas células interiorizam essas toxinas e podem acabar não conseguindo eliminá-las ou estas têm uma ação muito rápida e, mesmo que haja eliminação, o dano já ocorreu. MECANISMOS ENVOLVIDOS NA NEFROTOXICIDADE ALTERAÇÕES NA HEMODINÂMICA GLOMERULAR As prostaglandinas têm um papel fundamental na manutenção da vasodilatação das arteríolas aferentes. Quando um paciente usa AINE, estes, que impedem a formação de prostaglandinas, resultam em uma vasoconstrição da arteríola aferente, acarretando em uma redução do fluxo sanguíneo do glomérulo. Além disso, a angiotensina exerce papel de vasoconstrição da arteríola eferente. Assim, se um paciente utiliza um IECA (pril), teremos uma vasodilatação dessa arteríola. Dessa forma, mudanças na dilatação dessa arteríolas permitem tenham uma redução na pressão glomerular, o que induz que tenhamos uma mudança no fluxo urinário e a nefrotoxicidade. TOXICIDADE TUBULAR: Joëlle Moreira - Medicina UFPE Nefrologia Toda a citotoxicidade causa aumento no estresse oxidativo, promovendo dano à membrana e a outras organelas, causando apoptose e necrose. A lesão por toxicidade de célula tubular é dose dependente, o que significa que quando aumentamos a dose, maior é a chance de desenvolvermos nefrotoxicidade do tipo tubular. INFLAMAÇÃO: Na nefrite túbulo-intersticial, o dano causado a essas células decorre da ativação do sistema imune, de forma que essas drogas se comportam como imunogênicos e ativam os linfócitos T, eosinófilos e a liberação de IgE. Daí, a apresentação clínica dessa nefrite é pouco sintomática (febre, artralgia), mas nos exames temos a presença de leucócitos na urina, hematúria, eosinófilos e redução da TFG. NEFROPATIA CRISTALINA: Esta nefropatia depende muito do pH da urina. Se tivermos distúrbio ou utilização de algum fármaco (inibidores da anidrase carbônica) que alteram o pH, os medicamentos que são insolúveis a determinadas variações do pH acabam causando a nefrotoxicidade. RABDOMIÓLISE: MICROANGIOPATIA TROMBÓTICA: Fármacos que são antiangiogênicos acabam por impedir a produção do hormônio de crescimento endotelial vascular, alterando a saúde normal do endotélio fenestrado. A partir dessa alteração estrutural, vai acontecer uma alteração na lâmina basal, caracterizando um processo de formação de microtrombos. DIAGNÓSTICO DE NEFROTOXICIDADE Muitas vezes, quando já temos sintomas, significa que o paciente está com uma grande lesão (diagnóstico tardio). PRINCIPAIS CLASSES DE FÁRMACOS NEFROTÓXICOS AINES: Nos pacientes normais, esses medicamentos não são tão favoráveis à instituição da nefrotoxicidade (pct em uso esporádico). Tanto os AINEs não seletivos, quanto os inibidores da COX-2 são causadores de nefrotoxicidade. Joëlle Moreira - Medicina UFPE Nefrologia CONTRASTES RADIOLÓGICOS: ANTIMICROBIANOS: Uso contínuo: > 7 dias O que indica a capacidade de nefrotoxicidade desses medicamentos é a carga da moléculas ⤍ eles são policatiônicos.Devido às cargas opostas, eles se atraem mais facilmente e interagem com o receptor, sendo endocitados e aí são englobados em lisossomos, formando um complexo lisossomal, que inativam as enzimas lisossomais e promovem disfunção lisossomal e mitocondrial. ANTIVIRAIS: IMUNOSSUPRESSORES: Joëlle Moreira - Medicina UFPE Nefrologia QUIMIOTERÁPICOS: RESUMO
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