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MARC 13 Gemelaridad� S: Alexandra, 30 anos, casada, G1P0A0, 35 semanas, gemelar, gestação planejada, pré-natal adequado, recebeu corticoide com 33 semanas de gestação, para amadurecimento dos pulmões dos bebês. Hoje refere sensação de peso e dor intermitentes na vagina. Dor intensa ao toque vaginal, dores mais fortes e mais frequentes. O: Ao exame físico: 2 dedos de dilatação. Duas contrações de 30 seg em 10 min. Objetivos: ● Diferenciar os tipos de gestação gemelar e como ocorre o desenvolvimento embrionário e verificar se há hereditariedade na gravidez gemelar. ● Estudar as especificidades do pré-natal da gestação gemelar (riscos, nº de consultas, manejo, orientações importantes à gestante e família). ● Pesquisar a conduta em partos prematuros e gemelares, observando as indicações de intervenções/cesárea em gestações gemelares. GESTAÇÃO GEMELAR Presença simultânea de dois ou mais conceptos no útero ou fora dele. Incidência: Entre 1 a 3% das gestações - estão cada vez maiores pelo aumento da utilização de técnicas de reprodução assistida. É uma gestação de alto risco, tem alta morbimortalidade. É responsável por 15% de toda a prematuridade extrema (antes das 32 semanas) e 25% dos recém-nascidos que nascem com peso abaixo de 1500g. Apresenta um risco de óbito infantil no primeiro ano sete vezes maior que a gestação única. Fatores demográficos que interferem na frequência de gestações dizigóticas: Sua ocorrência é mais comum quando há história familiar materna e com o aumento da idade materna e da paridade. O uso cada vez mais frequente de medicações para a indução da ovulação e a transferência de múltiplos embriões por ciclo de reprodução assistida são os principais responsáveis pelo aumento acentuado observado ao longo das últimas décadas. Incidência gestações gemelares dizigóticas: aproximadamente 1:80/ monozigóticas 1:250 Fatores de risco Gêmeos dizigóticos (70 a 75% das gestações gemelares) - aproximadamente ⅔ das gestações gemelares naturalmente concebidas. ● utilização de técnicas de reprodução assistida ● indução de ovulação ● aumento da idade materna: a incidência de gêmeos dizigóticos aumenta com o aumento da idade materna até os 37 anos, após essa idade a taxa decresce devido a diminuição da produção hormonal ● multiparidade (1,5% em primigestas e 3% em quartigestas) ● maior incidência em mulheres negras quando comparadas a caucasianas e asiáticas (1:155) ● demora da passagem do ovo fecundado nas trompas ● ocorrência de microtraumas no blastocisto durante a manipulação realizada nos procedimentos de reprodução assistida ● hereditariedade - principalmente lado materno ● parara de utilização de anticoncepcional oral que pode desencadear um aumento do FSH e levar a superovulação Gêmeos monozigóticos: Parece não haver relação com hereditariedade, etnia, idade ou paridade e tem discreto aumento na fertilização in vitro. Sofre influência por indutores da ovulação e por técnicas de reprodução assistida. ZIGOTICIDADE E CORIONICIDADE Classificação da gravidez gemelar: Número de fetos: dupla, tripla, quádrupla Número de ovo fetilizados: zigotia Quantidade de placentas: corionia Quantidade de cavidades amnióticas: amnionia As gestações dizigóticas resultam da fecundação de mais de um óvulo, e os embriões apresentam códigos genéticos diferentes. Cada embrião desenvolve seus próprios cório (placenta) e âmnio (bolsa) , são sempre dicoriônicos e diamnióticos. As gestações monozigóticas resultam da divisão de massa embrionária inicial única, e os embriões apresentam o mesmo código genético. Têm corionicidade e amnionicidade variáveis, conforme o momento em que ocorre a divisão da massa embrionária. Em cerca de 30% dos casos, quando a divisão do blastocisto ocorre em até 72 horas, podem ser encontrados duas placentas e dois sacos amnióticos (gestação dicoriônica diamniótica). Em 70% dos casos, a divisão acontece entre o quarto e o oitavo dia após a fertilização, quando já ocorreu a diferenciação das células que não origem ao cório, resultando em uma placenta e duas cavidades amnióticas (gestação monocoriônica diamniótica). Em aproximadamente 1% dos casos, a divisão do blastocisto ocorre entre o 9º e o 12º dia após a fertilização, isto é, quando já se formaram a placa coriônica e o saco amniótico, dando origem às gestações monocoriônicas monoamnióticas. Os gêneros unidos são resultantes da falha da separação completa dos embriões e isso acontece quando o processo de divisão é tardio, a partir do 13º dia. DIAGNÓSTICO Dados clínicos e principalmente pela ultrassonografia. Anamnese: ● hereditariedade ● náuseas e vômitos precoces e intensos ● crescimento rápido e desproporcionado do útero ● Beta-hCG > 50.000 mUI/ml USG: ● Datar a gestação (determinar a idade gestacional correta), determinar a corionicidade e a amniocidade, além de rastrear aneuploidias e malformações fetais, bem como diagnosticar as possíveis complicações e discordância entre os fetos. ● Zigosidade: sexo, número de placentas, número de âmnios ● Corionicidade é o que tem maior impacto no desfecho obstétrico: As complicações fetais são mais frequentes nas gestações monocoriônicas em comparação com as dicoriônicas. Portanto, na prática, a determinação da corionicidade, em vez da zigoticidade, é o fator mais importante para a conduta pré-natal e o principal determinante do prognóstico gestacional → pode ser identificada no US do 1º trimestre Sinais Ultrassonográficos - Diagnóstico da Corionia/ Placentação A melhor fase para diagnóstico ultrassonográfico da corionia é entre 6 e 9 semanas. Dicoriônica-Sinal do lambda - final do 1º trimestre: 9 e 12 semanas (melhor período para observar) Monocoriônica-Sinal do T Datação da idade gestacional Deve ser realizada em USG de primeiro trimestre e, mediante discordância de tamanho entre fetos, deve-se considerar a idade gestacional do maior deles, uma discrepância de mais de 10% entre o tamanho dos fetos (entre os CNN - comprimento cabeça nádega) é um marcador de mau prognóstico tanto em gestação dizigótico quanto monozigótica. Para idade superior a 14 semanas na primeira ultrassonografia utilizamos a medida da maior circunferência cefálica para datar a gestação. Rotina de USG na gestação gemelar: Monocoriônica: USG a partir de 16 semanas a cada 2 a 3 semanas, geralmente 2 Dicoriônica: USG a partir da USG morfológica de segundo trimestre a cada três a quatro semanas; a partir de 28ª semana até 36ª semana a cada 2 a 3 semanas e semanalmente após 36ª semana USG morfológica entre 20 e 24 semanas de gestação Se RCIU seletivo: intensificar acompanhamento ultrassonográfico em conjunto com Doppler de artéria umbilical Maior bolsão vertical: normal entre 2 e 8 cm, oligodramnia abaixo de 2 cm e polidramnia acima de 8 cm Ecocardiograma em gestação monocoriônica, trigemelares ou com mais fetos pelo risco aumentado de malformação. PRÉ-NATAL Consultas: o que determina a frequência é a corionicidade Monocoriônica: quinzenal até 32ª semana (monitoramento da sd. de transfusão feto-fetal) Dicoriônica: mesma frequência da gestação única Ganho de peso: esperado de 15 a 18 kg Folato: 300 mg por dia depois das 12 semanas Prevenção com AAS: antes da 16ª semana até 36ª sem COMPLICAÇÕES MATERNO-FETAIS Fetais: a gemelaridade aumenta a chance de complicações como óbito fetal, malformações, acidentes de cordão e apresentação fetal anômala durante o trabalho de parto. O diagnóstico de baixo peso ao nascer é frequente devido à maior incidência de prematuridade e restrição de crescimento. Intercorrências exclusivas de gestações múltiplas: síndrome da transfusão feto fetal e discordância entre fetos. ● aumento de 5x da natimortalidade ● aumento de 7x na mortalidade neonatal ● aumento de 6x na prematuridade ● paralisia cerebral ● malformação fetal: cardíaca, defeito do tubo neural, gastrintestinais e defeitos da parede abdominal anterior (mais comuns em gestações monocoriônicas) ● abortamento ● aumento de 10x de polidramnia ● ruptura prematura de membranas ● baixo peso ao nascer;a média de peso para gêmeos: 2,5 kg; para trigêmeos: 2 kg. ● crescimento intrauterino restrito ● descolamento prematuro de placenta ● óbito fetal A duração média da gestação gemelar é de cerca de 36 semanas, para as gestações trigemelares é de 32 semanas e para quadrigemelares de 31 semanas. O parto prematuro ocorre em 30 a 50% dos casos e é maior o risco nas gestações monocoriônicas. Devido à alta frequência, a prematuridade é o principal fator determinante das elevadas taxas de morbidade e mortalidade associadas a esse tipo de gestação. Maternas: aumenta em seis vezes o risco de internação por complicações como pré-eclâmpsia, parto prematuro, rotura prematura das membranas ovulares. ● alterações fisiológicas potencializadas ● hiperêmese gravídica ● aumento de três vezes de pré-eclâmpsia ● aumento do risco de placenta prévia, DPP ● diabetes gestacional ● anemia ● hemorragia pós-parto ● cesárea ● depressão pós-parto ● dispneia ● doença tromboembólica venosa ● aborto ● infecção urinária ● colestase ● fígado gorduroso agudo da gravidez ● edema agudo de pulmão ● polidrâmnio ● amniorrexe ● Parto: aumenta chance de apresentações anômalas, aumenta a chance de cesariana e aumenta os índices de hemorragia pós-parto (lembrar que as fibras do útero ficam sobre distendidas e por isso irão sofrer para se contrair depois) Parto prematuro: é a principal complicação da gravidez gemelar. O rastreamento é feito através da medida do colo uterino por via transvaginal. Em colos ≤ 25 mm pode-se introduzir a progesterona por via transvaginal. Pode-se inibir um trabalho de parto prematuro entre 22 e 34 semanas se não houver alteração na vitalidade fetal para corticoterapia ou transferência. Métodos de escolha nifedipina ou atosibana. MORTE DE UM FETO 1º trimestre: reabsorção (ou não) - conduta expectante,monitorar provas de coagulação 2º e 3º trimestre: conduta expectante, monitorar provas de coagulação Transfusão feto-fetal: 10 a 15% das gestações monocoriônicas shunts arteriovenosos profundos na placenta ● feto doador: anêmico, oligodrâmnio, bexiga vazia, RCIU ● feto receptor: policitemia, sobrecarga hídrica, polidrâmnio, distensão vesical, IC e hidropsia ● tratamento: coagulação dos shunts por fetoscopia Acompanhamento quando ocorre óbito de um dos fetos: Complicações: - morte do outro gêmeo: 15% (monocoriônica) e 3% (dicoriônica) - parto pré termo: 68% (monocoriônica) e 54% (dicoriônica) - alteração ecográfica craniana pós-natal do gêmeo sobrevivente: 34% (monocoriônica) e 16% (dicoriônica) - atraso no neurodesenvolvimento do gêmeo sobrevivente: 34% (monocoriônica) e 16% (dicoriônica) RESOLUÇÃO DE GESTAÇÃO E PARTO A idade gestacional ideal para a resolução das gestações gemelares é controversa. De acordo com o ACOG recomenda-se a resolução das gestações monocoriônicas diamnióticas entre 36ª e 36 6/7ª e das dicoriônicas entre 38ª e 38 e a 38 6/7ª semanas. Gestações monoamnióticas ou trigemelares devem ser interrompidas entre 32ª e a 34ª semana de gestação, com aplicação de corticóide de 48 a 72 horas antes da cesariana. ● Complicações mais comuns do parto na gestação múltipla: distocias funcionais, apresentação fetal anômala, prolapso de cordão, descolamento prematuro de placenta e hemorragia pós-parto. ● Via de parto: é discutível. Alguns estudos sugerem que a cesárea eletiva poderia reduzir em até 75% o risco de óbito perinatal em gestações a termo. As complicações relacionadas ao parto vaginal devem-se principalmente, ao risco de óbito do segundo gemelar por anoxia. ● Alguns protocolos optam por via vaginal sempre que os fetos tiverem peso abaixo de 750g não se importando a apresentação Indicação de parto cesárea em gestações gemelares: ● gestação monocoriônico-monoamniótica ● gestação multifetal (mais que dois gemelares) ● gêmeos acoplados após 26 semanas em união lateral ● primeiro gêmeo em apresentação não-cefálica ● segundo feto com peso abaixo de 1,5 kg ● segundo gemelar com peso maior que 20% a 25% em relação ao primeiro gêmeo, especialmente, em apresentação não cefálica ● suspeita de alteração da vitalidade fetal, impossibilidade de uma correta monitorização de um ou de ambos os fetos durante o parto ● patologia materna, fetal ou placentária ● segundo a FEBRASGO, caso primeiro gêmeo cefálico e segundo gêmeo não-cefálico, a indicação é de parto vaginal com extração pélvica segundo gêmeo a depender da experiência da equipe e se a paciente fornecer consentimento informado, caso contrário, a indicação é de parto cesárea. ● Algoritmo Rezende: Obstetrícia fundamental (2017): ○ Protocolo de via parto de acordo como Ministério da Saúde: ● cefálico/ cefálico - é o mais comum de acontecer → parto vaginal (ou indicação obstétrica) ● cefálico/ pélvico - se o 2º feto tiver peso estimado: ○ abaixo de 1500g = cesariana ○ acima de 1500g = parto vaginal (ou indicação obstétrica) - vai muito da experiência do obstétra ● cefálico/ transverso - se o 2º feto tiver peso estimado: ○ abaixo de 1500g = cesariana ○ acima de 1500g = versão e extração ● G1 não cefálico: G1 é o feto que se apresenta, aquele que poderíamos sentir no toque, o não não irão se apresentar ao mesmo tempo ○ via de parto recomendada é cesárea Conduta durante o parto: ● realizar ultrassonografia na admissão para avaliar a posição dos fetos e o peso fetal ● monitorização contínua e simultânea de ambos os fetos ● acesso venoso calibroso pois há maior risco de hemorragias ● em caso de hipodinamia, o uso de ocitocina como indutora parece ser efetivo em gestações gemelares ● analgesia de escolha: epidural. No caso de ser necessário realizar uma versão interna e extração pélvica do 2º gêmeo, é preciso o relaxamento uterino correto. Após o nascimento do primeiro gemelar, é importante clampear cordão precocemente para evitar a exsanguinação do outro feto. Após o nascimento e clampeamento do cordão do primeiro gemelar, reavalia-se a frequência cardíaca fetal e a apresentação do segundo gemelar. O intervalo entre os partos, antigamente relacionado a piores resultados para o segundo feto quando maior que 25 a 20 minutos, hoje já transcorre sem período de tempo-limite, desde que o traçado cardiotocográfico seja tranquilizador. Entretanto, a recomendação ainda é de conduta ativa após o nascimento do primeiro gemelar. Caso o segundo gemelar esteja em apresentação cefálica, aguarda-se a evolução com monitorização fetal contínua, usando ocitocina e amniotomia da segunda bolsa, se necessário. Ocorrendo insinuação e boa evolução nesse período, procede-se à assistência ao parto vaginal. Se a apresentação do segundo gemelar não for cefálica ou não ocorrer boa insinuação, a ultrassonografia pode ser útil para auxiliar versão cefálica externa, extração pélvica, ou versão interna do segundo gemelar. Após o nascimento do primeiro gemelar caso o segundo feto apresente sofrimento fetal, DPP ou prolapso de cordão as opções são: cesaria ou versão interna com extração podal. Parto combinado: parto vaginal do 1º feto seguido de cesariana no segundo feto. Ocorre mais quando a posição do segundo feto é não cefálica ou quando há um intervalo muito grande entre os nascimentos. Referências: ● Livro e Aula Medcel “Gestação gemelar” ● Apostila Medcurso Obstetrícia Vol 4
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