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Aula 7 - O Reino do Congo e os povos da África Oriental


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História da África Pré-colonização
Aula 7: O Reino do Congo e os povos da África Oriental
Apresentação
Estudante, como estamos no aprendizado? Tem feito os exercícios? Nesta aula teremos uma continuação da aula
anterior. Você já deve ter ouvido falar do Rio Congo, de um país chamado Congo ou até de um �lme de 1995 com esse
mesmo nome. Pois é, esse nome deve ser relacionado a algo muito importante na África. Então, você estudará um pouco
da história do terceiro grupo dos bantos, os bacongos, que deram origem ao Reino do Congo, que começou no século XIII
e só terminou no século XIX.
Além do Congo, vamos para o “outro lado” da África. Você já estudou o norte da África, já leu muito sobre o Saara, também
já conhece os povos subsaarianos banhados pelo Atlântico (como o Congo). Está na hora de estudarmos alguns povos da
outra costa africana, aquela banhada pelo Oceano Pací�co, em especial Moçambique, por motivos ligados à formação do
Brasil. Vamos continuar nossa jornada!
Objetivo
Identi�car a estrutura organizacional do Reino do Congo e de povos da África Oriental subsaariana;
Analisar as características políticas, econômicas e sociais do Reino do Congo e da África Oriental;
Relacionar a presença portuguesa com o trá�co negreiro no início da Idade Moderna.
Introdução
Você estudou na aula anterior a expansão dos povos bantos. A palavra “banto” tem um signi�cado importante. O termo nto
signi�ca “ser humano”, o pre�xo ba de�ne o plural. Logo, bantos signi�cam “seres humanos”. Assim, temos uma grande
diversidade de pessoas com estruturas políticas, econômicas e religiosas diversas, mas, como você já estudou, com uma
ancestralidade comum.
Já vimos os povos iorubás (yorubás ou iorubas) e os hauçás. Veremos agora a constituição do Reino do Congo, um dos mais
importantes representantes dos povos bantos na África.
Reino do Congo
O território do Reino do Congo localizava-se entre o oceano Atlântico a oeste e ao norte, leste e sul era cortado por três rios: os
rios Congo, Zambeze e Cunene. Portanto, uma região fértil, onde os rios foram usados para a circulação de pessoas e de
mercadorias. Essa região atualmente é parte dos atuais territórios de Angola, da República do Congo, da República
Democrática do Congo e do Gabão.
 Fonte: Wikipedia.
A etnia que predominou nessa região foi a dos bacongos, mas eles não foram os únicos de origem banta a ocupar o território.
A tradição oral de�nia que os bacongos sobrepuseram-se a outros grupos menores, como os umbundos e quicongos, a partir
do de um herói lendário, Nimi-a-Lukeni.
Esse herói, por meio de alianças e guerras conseguiu sobrepor-se às demais etnias e assim assumiu a liderança política, que
foi consolidada com a criação de seu palácio em M’Banza Congo, distribuindo os territórios que dominou para os descendentes
de sua linhagem.
A língua predominante dos bacongos era o quicongo, o que ajudou muito na conexão entre províncias e na relação entre
governantes e súditos.
Houve uma liderança que conseguiu uni�car as aldeias e centralizar o poder
no século XIII, Ntinu Wene, que dividiu o Reino do Congo em nove províncias
e três regiões, que seriam equivalentes às grandes metrópoles atuais.
Portanto, esse mito de origem foi construído depois da centralização dos
bacongos.
O poder do Reino do Congo cresceu a ponto de in�uenciar as tomadas de decisões políticas de reinos vizinhos que eram
independentes — algo parecido como a Alemanha na atual União Europeia ou os EUA no continente americano. É bom lembrar
que in�uência não é submissão. O Reino do Congo tinha uma capital, M’Banza Kongo, que signi�ca, literalmente, “Cidade do
Congo”. Você voltará a ler sobre ela nesta aula.
Saiba mais
O Reino do Congo tinha o per�l de um governo centralizado e com hierarquização. Havia o líder, batizado pelos europeus como
Manicongo (senhor do Congo). Sob sua responsabilidade estava a nomeação de chefes de províncias, responsáveis diretos pela
ordem interna, tributação, garantia do desenvolvimento da economia interna e o que era necessário produzir ou agir para o
comércio exterior.
O manicongo tinha sua corte, sua família real, e era sucedido por chefes militares, chefes de aldeias, comerciantes e artesãos;
agricultores e, por último, escravos obtidos em guerras.
 A economia
 Clique no botão acima.
A economia do Reino do Congo tinha atividades muito bem trabalhadas na economia agrícola de subsistência no
território de savana e na pecuária, pois domesticaram plantas (um exemplo é a variedade de árvores frutíferas que
cultivavam: limoeiros, laranjeiras, romãzeiras e �gueiras) e animais (cabras, carneiros, aves).
Destacaram-se também em metalurgia, característica de vários povos bantos e que era muito necessária para as
práticas agrícolas, pois o ferro era fundamental para a criação de ferramentas nessa área. Outras atividades foram a
exploração do mar�m e a criação de objetos a partir dessa matéria-prima e o comércio do sal vindo do litoral.
Ainda sobre o ferro é necessário chamar atenção para um dado importante. Você se recorda de que na primeira aula
dialogamos sobre o eurocentrismo na quali�cação dos povos africanos? Pois bem, registros arqueológicos apontam
que há mais de 6.000 anos os africanos manuseavam o ferro, criavam fornos de altas temperaturas para poder forjar
as mais diversas ferramentas ou materiais para sua arte, a ponto de haver aço de alta qualidade, que foi e ainda é
resgatado por arqueólogos.
Porém, sua técnica sofria limitações em virtude dos fornos serem feitos com acúmulo de troncos de árvores. Por isso,
produziam lingotes pequenos, o que não possibilitava fazer espadas e capacetes para deter os diversos invasores que
enfrentaram ao longo de sua história, mas �zeram machados pás e enxadas. A Europa só dominou essa técnica no
século XIX, ou seja, há menos de 200 anos.
Ao contrário do que você estudou nas aulas anteriores, o sal do Reino do Congo não vinha exclusivamente do Saara,
mas do litoral. Como isso funcionava? As aldeias e cidades pagavam ao rei tributos em espécie por sua proteção
política e religiosa. O rei tinha uma aura sagrada porque era abençoado pelos ancestrais, portanto, uma porta entre os
vivos e os mortos, o presente e o passado.
A forma de pagamento de tributos era em espécie, in natura. Dessa forma, os habitantes do nordeste do Reino do
Congo contribuíam com alimento,; os do litoral, com sal; os da ilha de Luanda com nzimbos, que são uma espécie de
concha marinha que servia como moeda.
O uso da agricultura e da pesca obrigava os bacongos a terem uma visão rápida sobre os sinais da natureza, uma
percepção muito sensível, como no caso de chuvas, estações do ano, cheias dos rios, mudanças de marés e de
ventos; importância da lua para o plantio.
Esses sinais acabaram por ser explicados — fosse em momentos de sucesso ou de fracasso, nas colheitas ou na
pesca — como atributos dos deuses, o que foi marca de vários povos bantos.
A sucessão dos manicongos dava-se por linhagem paterna. A �gura masculina que estava no trono garantia o novo soberano a
partir de sua descendência. O papel das mulheres estava ligado a educação, ao conhecimentos acerca do respeito à autoridade
e aos ritos religiosos.
Comentário
Porém, tal papel era mais fácil de se encontrar entre a elite, pois os mais pobres tinham que preocupar-se com a sobrevivência
cotidiana, como com a caça (muitos homens �cavam um bom tempo distantes da família) e a agricultura, que era comandada
pelas mulheres.
Algo raro de se ver era uma mulher distante de sua casa ou de sua província porque o Reino do Congo estimulava o
crescimento demográ�co. E você já estudou que dominar pessoas era mais importante do que dominar terras ou ouro em
muitas sociedades africanas.
Todo esse cenário mudou com a chegada dos portugueses
como consequência da expansão marítima comercial de
seu país, Portugal. Sem aprofundarmos os detalhes, os
portugueses �zeram o que se chamou de “Périplo Africano”.
Suas caravelas navegaram pela costa africana para chegar
à Ásia, ao local chamadogenericamente de “Índias” pelos
europeus.
O Périplo Africano deu certo após a passagem de Vasco da
Gama pelo antigo Cabo das Tormentas, atual Cabo da Boa
Esperança. Ao longo da navegação, os portugueses — que
levaram cerca de três quartos de século para atingir a meta,
chegar à Ásia sem ser pelo Mediterrâneo, mar dominado
pelos turcos e por comerciantes italianos — instalaram
feitorias pelo litoral africano.  
Fonte: Brainly.
Assim, a partir de negociação com líderes africanos conseguiram ouro, mar�m, pedras preciosas e escravos. Desse modo, a
África “muda de lado”. Seu comércio, que era mais voltado para o leste por conta da Península Arábica, voltou-se para o oeste,
para o Atlântico.
O navegador Diogo Cão chegou ao Reino do Congo em 1493. O contato a princípio foi amistoso, a ponto de oito anos depois
Portugal instalar uma embaixada no Reino. A in�uência portuguesa começou a tornar-se muito in�uente a ponto de começar a
interferir na sucessão da realeza, uma vez que queriam colocar no trono um rei que atendesse aos seus interesses
econômicos.
Saiba mais
Assim, o manicongo Nzinga Mbemba foi colocado no poder após uma luta contra seu irmão. Mbemba tinha recebido dos
portugueses armas de fogo, pólvora e cavalos para derrotar as tropas de seu rival. Mbemba acabou por converter-se ao
cristianismo católico e foi rebatizado como Afonso I.
Ao ver os lucros obtidos com a guerra sucessória no Reino de Congo, os comerciantes portugueses avisaram à Coroa lusitana
que o envolvimento luso em con�itos poderia ser um bom negócio. Assim, a presença portuguesa no Reino do Congo tornou
mais agudas as razões para que os povos que viviam em estabilidade começassem a se rebelar. Os portugueses vendiam
armas para os dois lados dos con�itos, estimulados pela sua diplomacia.
 A religião
 Clique no botão acima.
É importante destacar que os missionários católicos �zeram no Congo algo muito semelhante ao que houve com os
povos nativos no Brasil: o diálogo de termos, conceitos e rituais locais com equivalentes católicos. Em vez de proibir
todas as manifestações religiosas nativas, os missionários sobrepuseram sua tradição sobre a do outro em forma de
sincretismo, que foi muito bem recebido pelos recém-convertidos.
Prova disso é que Afonso I estava tão envolvido com a nova vida, com a religiosidade cristã, que enviou seu �lho para a
Europa e o rei de Portugal — que chamava-o de “irmão” nas cartas trocadas no início da presença portuguesa — teve
in�uência para que o �lho de Afonso I se tornasse bispo em Roma e voltasse como líder da Igreja Católica no Congo.
Outro fato que mostra a força dessa conversão foi a mudança do nome da capital para São Salvador do Congo, além
de ter enviado vários de seus parentes para Portugal no intuito de garantir uma conversão mais sólida ou que
voltassem como missionários. Ao longo da história, alianças são feitas, desfeitas e refeitas. Não seria diferente na
África.
Os portugueses aproveitaram-se de cisões entre etnias e do aprofundamento da divisão entre os macongos — elite
cristianizada e letrada de um lado; população de lavradores, iletrados, cultuadores de ritos tradicionais e explorados de
outro.
Outra divisão percebida pelos portugueses: enquanto a nobreza apropriava-se da produção feita por seus escravos
(prisioneiros de guerra ou criminosos), os membros das aldeias pagavam impostos, tinham um trabalho baseado em
sua estrutura familiar e divisão sexual do trabalho.
Dessa forma, os portugueses começaram a �xar-se no Reino de Congo, estabelecendo moradias e casando-se com as
congolesas de linhagem nobre. Gradativamente, começaram a capturar membros das aldeias camponesas. Enquanto
isso, a igreja tirou o �lho de Afonso I da liderança da Igreja e indicou membros do clero português em seu lugar.
O trá�co de escravizados intensi�cou-se e atraía mais comerciantes portugueses. Um grupo que recebia lucros com o
trá�co negreiro era o de vários membros da própria nobreza do Reino do Congo.
Afonso I percebeu que Portugal era muito menos interessado em intercâmbio e religiosidade e muito mais em metais
e escravos. A decepção de Afonso I chegou ao seu momento maior quando seus próprios parentes começaram a ser
capturados para virarem escravos.
Afonso I escreveu várias cartas para “seu irmão” português, o soberano de Portugal, pedindo que coibisse seus
comerciantes no trá�co. Porém, não houve mais respostas, pois a Coroa e a Igreja eram aliadas dos comerciantes
ligados ao trá�co negreiro.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Houve várias reações do Reino do Congo contra Portugal, sendo a batalha de Mbwila (1665) a mais importante e a última
forma de resistência contra os portugueses. Após essa batalha houve uma crise crônica no reino, que levou ao declínio devido
ao trá�co por conta do despovoamento do território, o que gerou escassez de mão de obra.
Logo, a produção da economia local agravou-se com as batalhas entre portugueses e holandeses pelo controle das rotas do
trá�co negreiro e dos portos na região.
Á
A África Oriental
A formação dessa parte do continente, que é banhado em sua maior parte pelo Oceano Índico, foi povoada, segundo vestígios
arqueológicos e a tradição oral, pela expansão banta. Os habitantes originais procuraram regiões que tivessem maior
pluviosidade por conta do cultivo de alimentos como sorgo, amendoim, feijão e índigo.
A domesticação de animais também é desse período, cerca de nove séculos atrás. Era uma combinação entre agricultura e
extrativismo de raízes com uso de pecuária extensiva, marca dos povos da região que hoje compreende Tanzânia, Quênia,
Moçambique, entre outros países.
Os povos bantos não foram os primeiros a povoar o território, mas
consolidaram-se em sociedades ou reinos na região do litoral do Índico. Nos
primeiros séculos de nossa era já existia comércio entre povos locais com
árabes e persas, que criaram ou ajudaram a criar portos para transações de
trocas de mercadorias, como machados, adagas, algodão por incenso,
mar�m, peles de animais, cerâmica e o produto que mais tarde denominou-
se popularmente de açúcar.
O povoamento banto seguiu ao que os povos anteriores �zeram: maior concentração no litoral do que na faixa que seguia para
o interior devido a dois inconvenientes: aridez e a mosca tsé-tsé, que se alimenta de sangue e transmite a “doença do sono”,
que tem como sintomas febres, dores na cabeça, insônia, tudo isso causado por um parasita.
No século III surgiu um império na Ásia, o Império
Sassânida, que abriga os atuais Irã, Iraque, Afeganistão e
parte da Turquia. Esse império surgiu no século VII,
participando das rotas comerciais entre o continente
africano e os mercados asiáticos, chegando à China.
Os sassânidas acabaram por comprar ou capturar escravos
da costa oriental para servir como criados domésticos em
seu império ou como moeda de troca com outros territórios,
como Índia e China.  Império Sassânida. Fonte: Cola da Web.
Internamente, houve assimilação da cultura banta com os povos nativos, provavelmente de origem cuxita. Sua economia era
autossu�ciente e, aproveitando a costa, criou vários entrepostos comerciais que eram interligados por uma rede de
embarcações que navegavam pelos rios locais.
 Os bantos. Fonte: Webquest Cultura Africana.
A presença de estrangeiros intensi�cou-se na região a partir dos séculos VII e VIII, com predominância de pessoas de origem
asiática. Persas, árabes e até indonésios faziam parte desse comércio intercontinental, sendo que esses últimos foram os
primeiros moradores da Ilha de Madagascar.
Dessa forma, as relações culturais tornaram-se cada vez mais híbridas, assim como a miscigenação foi mais constante. Era
muito comum, por exemplo, árabes islamizados tomarem como esposas mulheres africanas, aprenderem seus idiomas e
mudarem parte de sua tradição ou de sua fé.
Saiba mais
Por isso, havia um sincretismo entre os comerciantes que �xavam-se no continente na região oriental, sendo o Islã, já vitorioso
contra os sassânidas, pouco difundidose comparado com a região norte da África. Assim, predominava a tradição banta e sua
cosmovisão de vários deuses, suas conexões com a natureza e seus antepassados.
Essa situação muda quando os califas começam a criar cidades costeiras para a difusão da sua religião, o islamismo, e o
comércio. Além de islâmicos ortodoxos, a África oriental recebeu também islâmicos considerados hereges, sendo por isso
perseguidos na Península Arábica.
Seja na ortodoxia ou na heresia, em ambos os casos houve maior difusão do islamismo na região, fenômeno que começa a
aparecer em crônicas de viajantes a partir do século XI.
Entre os séculos X e XII três tipos de comércio intensi�caram-se na região.
Clique nos botões para ver as informações.
O primeiro, antigo, o de trá�co de escravos. A China recebeu escravos africanos, mesmo que em pequena quantidade. Ter
escravos negros signi�cava no Império Chinês uma forma de distinção social, um status diferenciado, o que também
ocorreu na Europa do século XVI e XVII.
Escravos 
O segundo comércio estava ligado ao extrativismo do ouro da região chamada Sofala, no interior de Moçambique. Nesses
séculos o ouro difundiu-se como moeda na Europa e no mundo árabe. Havia, por parte dos nativos, a intenção de que
Sofala se tornasse algo semelhante ao que fora o Sudão.
Ouro 
Além disso, crescia a procura por mar�m, não apenas na Índia e na China, mas também na Europa, onde a presa do
elefante tornara-se a mais nobre matéria-prima de escultura religiosa.
Mar�m 
Nos séculos que precedem à chegada dos europeus a organização das sociedades desse território, em sua maioria, teve um
per�l de sociedades tradicionais, já estudadas anteriormente.
Atenção
A família era o centro de organização do poder, pois dela saíam as linhagens reais; a importância do conselho de anciãos para
decisões acerca da aldeia, a relação de reverência com os antepassados por meio de rituais ligados a elementos da natureza,
assim como suas divindades.
Exceção era a Somália, que foi islamizada de forma
semelhante ao que ocorreu na África setentrional. Destaca-
se ainda a cidade de Mogadixo, com mesquitas cilíndricas
de grande porte quando comparadas com as habitações de
seu entorno. Mogadixo tornou-se o porto mais importante
da África Oriental no século XIII em virtude da presença
árabe ou de islamizados.
 Mogadixo. Fonte: Wikipedia.
O africanista Alberto da Costa e Silva (2011) nos diz que, segundo Ibn Batuta, a base do sustento dos habitantes de Mogadixo
era o arroz. Coziam-no com manteiga, acompanhado de carne de galinha, carneiro, camelo ou peixe, bem como de legumes.
Cozinhavam bananas verdes no leite, para fazer uma espécie de purê.
Outro prato local era uma coalhada com limões em forma de picles, pimenta em molho de vinagre e sal, gengibre e mangas,
frutas. O autor (2011) explica “que parecem maçãs, mas possuem um grande caroço. Comiam em excesso, e eram gordos e
corpulentos.” Essa descrição mostra a variedade da agricultura e sua autossu�ciência.
A partir dos séculos XIII e XIV começam a ser fundadas cidades com um núcleo de poder baseado no islamismo na África
Oriental. Mogadixo, Quíloa, Manda, Melinde, Mombaça, Zanzibar, Ma�a são exemplos de cidades-estado comandadas por
sultões ou xeques que tinham o apoio de uma ampla burocracia administrativa nos moldes do mundo árabe.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Comentário
Como não foram encontrados vestígios de muros ou de cercas nessas cidades, presume-se que não havia guerras com povos
vizinhos que não eram convertidos. Ao contrário, possíveis pactos políticos podem ter sido feitos para não se interromper o �uxo
de comércio de cidades menores para essas cidades maiores, que tinham portos mais bem preparados para o comércio ligado à
Ásia.
Outro ponto que contava a favor para um cenário de poucos con�itos era a quantidade de casamentos de árabes com
mulheres bantas, que geraram descendentes mestiços. Dessa forma seria difícil imaginar brigas que pudessem afetar famílias
que, mesmo oriundas de religiões diferentes — islâmica e tradicionais — pertenciam à mesma linhagem.
 O comércio
 Clique no botão acima.
O brilho do comércio transoceânico não deve obscurecer o fato de que todas essas cidades foram, além de empórios,
centros de importantes atividades de pesca, agrícola e manufatureira. Cultivavam-se numerosos cereais, frutas e
legumes. Plantava-se e tecia-se algodão.
O cenário da região muda com a expansão portuguesa, muito semelhante ao que aconteceu com o Reino do Congo.
Após a vitória sobre os árabes, os portugueses tomaram para si, no �nal do século XV e início do XVI, o domínio de
cidades costeiras e portos.
Uma região que foi dominada em virtude da atividade extrativa do ouro — em escala reduzida quando comparada ao
que houve no Reino de Gana — foi Sofala, o que explica a presença lusitana em Moçambique.
Assim como os árabes, muitos comerciantes portugueses instalaram-se em Moçambique para comerciar ouro,
mar�m e escravos.
Casamentos e miscigenação foram características de sua presença, da mesma forma que se inicia a cristianização e o
combate à religião islâmica nas cidades citadas.
Os portugueses conquistaram territórios, mas não tiveram sucesso em tudo. Um exemplo disso é a resistência e a vitória árabe
em Monbaça, atual Quênia, em 1693. Com a Coroa portuguesa mais voltada para o Atlântico e para o Brasil no século XVI, os
portugueses e seus descendentes �caram em regiões mais limitadas do que o planejamento original, contentando-se com
incursões ao interior em busca de ouro.
Da mesma forma que ocorrera no Congo, os europeus — com destaque para os portugueses — estimularam divisões internas,
tomaram posição ao lado de uma nação que consideravam mais apta militarmente e a armava em troca de escravos
capturados de comunidades tradicionais (muitas não tinham experiência com guerras) que eram vendidos a esses tra�cantes.
Comentário
É bom sempre lembrar que não havia a criação de uma identidade moçambicana ou africana. Por isso, é uma visão vazia de
sentido a�rmar que africano vendia africano, pois tal ideia não fazia parte, como já foi dito, da visão de mundo dos nativos.
O que funcionava? Comunidades com maior número de homens e com lideranças que fechavam acordos com europeus
acabavam por vender prisioneiros vizinhos em troca de mercadorias, para evitar a perda de sua própria população, algo que
veremos melhor em aulas posteriores.
Atividade
1. O Reino do Congo não pode ser caracterizado como uma sociedade tradicional. Com poder centralizado e dominando nove
províncias e com in�uência sobre vizinhos, explique as divisões internas na organização de tributos para o soberano e como a
conversão ao catolicismo criou um fosso social no reino.
2. Você viu que o Reino do Congo era rico, centralizado, e que houve grande modi�cação em seu interior a partir da presença
portuguesa em decorrência da expansão marítima do século XV. Identi�que os mecanismos e interesses dos portugueses em
desarticular a estrutura daquele grande reino.
3. Acerca dos reinos africanos pré-coloniais assinale a opção correta.
a) Os dilemas decorrentes dos achados arqueológicos das ruínas do grande Zimbábue foram esclarecidos com a descoberta de fontes
escritas que permitiram desvendar a história desse reino e, principalmente, as razões de seu declínio.
b) Os portugueses desconsideravam as organizações africanas, por isso o uso de força era sua única estratégia de dominação sobre os
africanos.
c) A África Oriental encontrava-se ainda inexplorada no momento em que os europeus ali chegaram, ao final do século XV.
d) O Reino do Congo, cuja economia incluía atividades rurais e um rico comércio de tecidos, metais e animais, entrou em decadência no
século XV, momento em que alguns territórios foram perdidos para os portugueses.
e) A segurança experimentada ao sul do Saara durante o Império Malinês facilitou a expansão do Islã para a região. Nesse contexto, a
cidade de Tombuctu tornou-se uma importante referência de erudiçãomuçulmana.
NotasReferências
LOURENÇO, V. Moçambique: memórias sociais de ontem, dilemas políticos de hoje, Lisboa: CEA/Gerpress, 2009.
NEWITT, M História de Moçambique, Lisboa: Europa-América, 1997
NEWITT, M. História de Moçambique, Lisboa: Europa América, 1997.
SILVA, A. C. A enxada e a lança : a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2011.
TINHORÃO, J. R. Rei do Congo: a mentira histórica que virou folclore. Lisboa: Editora 34, 2016.
Próxima aula
Analisar a estrutura organizacional do Reino de Angola e suas origens; 
Identi�car os tipos de escravidão ocorridas na África antes do trá�co negreiro para as Américas.
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