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Os Caminhos e Desafios para Governança Global

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OS CAMINHOS E DESAFIOS PARA GOVERNANÇA GLOBAL E A 
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO FERRAMENTA À 
SUSTENTABILIDADE 
 
Natalia Karabolad 
RESUMO: 
 
 O trabalho a seguir examina o processo de globalização e os desdobramentos que 
levarão à consolidação de movimentos e projetos globais, visando caminhos para a 
sustentabilidade socioambiental no cenário internacional. 
 Para isso, será analisada a emergência de movimentos, convenções e projetos globais, 
como a proposta do Pacto Global, que tem como objetivo unir atores transnacionais num 
fórum de aprendizado para práticas de responsabilidade socioambiental e assim, estabelecer 
uma discussão sobre o potencial para resultados que tais propostas possuem. 
 Por fim, examinam-se mais profundamente o conceito de responsabilidade 
socioambiental corporativa e os meios pelos quais o setor privado vem adequando-se às novas 
tendências e práticas sustentáveis no cenário internacional. 
 
 3 
SUMÁRIO: 
 
 
INTRODUÇÃO 1 
 
1 DA GLOBALIZAÇÃO À GOVERNANÇA 
 
1.1 Contexto da globalização, suas implicações e variáveis 2 
1.2 O reconhecimento de uma consciência cidadã e a emergência de novos 7 
movimentos sociais globais 
1.3 A construção da identidade global 9 
1.4 O movimento ambiental 10 
1.5 Caminhos e desafios para a governança global 12 
 
 
 
2 ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS, ESTRUTURA E RESULTADOS DO PACTO GLOBAL
 
2.1 Revolução nos valores da sociedade: panorama da emergência dos novos temas 14 
 na agenda internacional até a criação do Pacto Global 
2.2 A estrutura do Pacto Global e a formação de uma rede global de 17 
relacionamentos, aprendizado e ação. 
2.3 A posição das organizações não-governamentais frente ao Pacto Global 21 
 
3 A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO FERRAMENTA NO 
CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 
 
3.1 Responsabilidade socioambiental e a formação de uma sociedade de risco 24 
3.2 Abordagem conceitual da responsabilidade socioambiental e formação de 25 
padrões de gestão no setor privado 
 
 
CONCLUSÃO 28 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
INTRODUÇÃO 
 
O tema sobre governança global vem ganhando importância na atualidade, pois, 
apresenta-se intimamente ligado aos desdobramentos provenientes do processo acelerado de 
globalização, suas variáveis e conseqüências no cenários tanto locais como internacional. 
 A globalização apresenta perspectivas distintas, quanto a seu contexto histórico, 
econômico, social e cultural, dando margem para a emergência de correntes de pensamentos, 
visões e análise plurais e muitas vezes contraditórias, bem como abre margem para a ação de 
novos atores que influenciam e ganham responsabilidade no contexto global. 
 O desenvolvimento acelerado de tal processo, gera complexas dialéticas entre aquilo 
que é de responsabilidade global e local, entre a sociedade e a própria natureza, em função das 
disparidades e impactos ambientais gerados por um crescimento desmedido e que até pouco 
tempo, não se consideravam os riscos e conseqüências para a sustentabilidade da sociedade 
global. 
 Nesse contexto, o setor privado, agente de significativa influência nos desdobramentos 
referentes ao cenário internacional, emerge como uma importante ferramenta para resolução 
de problemas sociais e ambientais, em função de uma mudança na sua forma de gestão que 
passa a considerar os riscos de suas ações de forma responsável. 
 Assim, o trabalho a seguir propõe-se analisar, de forma mais profunda, o processo de 
globalização, através dos seus mais variados contextos, pontos de vista e correntes de 
pensamento, abrindo uma discussão sobre a emergência de movimentos de caráter global, 
influenciando a consciência dos cidadãos e os temas dentro da agenda internacional no 
caminho para a governança global. 
O desenvolvimento desses temas visa analisar o conceito de responsabilidade 
socioambiental, os projetos que emergem no cenário internacional como forma de incluir a 
responsabilidade do setor privado nos temas sobre o desenvolvimento sustentável, bem como 
descrever os cenários e movimentos da sociedade civil que levaram as empresas a mudar sua 
estratégia de ação, passando a considerar a sociedade, seus riscos ambientais e sociais como 
uma importante variável para sua gestão. 
Tal discussão visa abordar a análise de autores com visões abrangentes sobre esse 
processo e perspectivas críticas no sentido de entender, de forma mais ampla e profunda, a 
pluralidade de processos e interesses que configuram o cenário internacional, bem como suas 
contradições e dialéticas. 
Desse modo, o primeiro capítulo desse trabalho tem como objetivo analisar o 
panorama das variáveis presentes no sistema internacional que apresentam influência direta 
no processo de governança global. 
Será analisado, no segundo capítulo, a proposta da ONU (Organizações das Nações 
Unidas) com relação à criação de uma rede integrada de relacionamentos para o 
desenvolvimento sustentável, num cenário internacional que vem percebendo, de maneira 
mais intensa, a fragilidade da globalização e a necessidade da realização do ajuste da 
sociedade, bem como de seus sistemas políticos às novas realidades que se apresentam. 
Através da constatação da divergência de opiniões entre os integrantes do Pacto 
Global, sobre a estrutura mais adequada, para que o projeto gere resultados positivos para o 
cenário global, será inserida, no terceiro capítulo, a discussão sobre as visões distintas 
referentes ao conceito de responsabilidade socioambiental. 
A partir de um maior entendimento sobre o conceito de responsabilidade corporativa 
serão ilustrados alguns cenários que levaram as empresas a mudar sua visão de gestão, 
adequando-se às pressões e novas exigências sociais com estratégias mais responsáveis 
ambiental e socialmente. 
 5 
1 DA GLOBALIZAÇÃO À GOVERNANÇA 
 
O capítulo, a seguir, analisa o panorama das variáveis presentes no sistema 
internacional que apresentam influência direta no processo de governança global. 
A partir de um maior entendimento do processo de globalização, seu contexto, 
antagonismos e conseqüências, será possível identificar quais as mudanças que vêm 
ocorrendo, como resposta às pressões provenientes de movimentos e correntes de 
pensamento, através de uma maior adequação na ação dos atores do sistema, à atual 
conjuntura internacional. 
Dessa forma, será tangível a obtenção de ações mais eficazes e produtivas para o 
desenvolvimento e fortalecimento da sociedade global 
 
1.1 Contexto da globalização, suas implicações e variáveis 
 
As mudanças vêm ocorrendo rapidamente, em grande escala e com tamanha 
visibilidade global como nunca antes visto (COMISSÃO SOBRE 
GOVERNANÇA GLOBAL, 1996, p. 5). 
 
O conceito de globalização indica um processo de reestruturação econômica, em que 
as relações entre seus agentes adquirem um alcance planetário, produzindo mudanças 
significativas no sistema produtivo, nas interações tanto comerciais como políticas, 
ultrapassando as fronteiras nacionais. 
Tal processo, entretanto, abrange transformações muito mais profundas e desafiadoras, 
gerando dilemas e abrindo novos horizontes no que tange a modos de vidas, correntes de 
pensamento e relações sociais. Apresenta-se, desse modo, um novo fenômeno social, 
denominado por Ianni (1999), como globalista. 
Para Ianni, o globalismo representaria o produto e condição de múltiplos processos 
sociais, econômicos, políticos e culturais sintetizados no conceito da globalização, 
configurando assim, como resultado, um complexo jogo de forças atuando em diferentes 
níveis de realidade, sejam estes em âmbito local, nacional, regional ou mundial. 
Na base do conceito de globalismo, encontra-se o capitalismo, sistema que se insere 
em um novo ciclo a partir da emergência das forças e movimentos de globalização, 
principalmente a partir do fim da GuerraFria, em 1989. 
O encerramento do sistema bipolar apresentou-se em moldes distintos do que 
configurou o final da Segunda Guerra Mundial, pois o cenário praticamente não apresentava 
mais países, vivendo fechados em si mesmos, o que intensificou formas de relações cada vez 
mais complexas. 
A consolidação de movimentos em prol da democratização, bem como transformações 
econômicas, colocaram em pauta questões de objetivos comuns, através do multilateralismo, 
antes adormecidas, em função da divisão ideológica, entre comunismo e capitalismo, 
representada pela forças da URSS e dos EUA. 
Com o rompimento de tal equilíbrio sutil, antigos conflitos foram alimentados por um 
sentimento de anomia, como destaca Ianni (1999), ganhando, assim, maior intensidade e 
visibilidade na conjuntura internacional. 
Assim, entende-se esse novo período, não somente como um processo de continuidade 
histórica, mas como margem ao surgimento de novos pólos de poder que apresentam um 
desenho geopolítico transformado, na medida em que nascem alianças, blocos econômicos e, 
em contrapartida, acompanham-se as rupturas e desagregações entre Estados-nações. 
No livro a Era do Globalismo, Ianni (1999) deixa explícitos os processos dialéticos 
contraditórios que a globalização produz, considerando imprescindível o olhar para as 
 6 
perspectivas de descontinuidade, geradas pela história, para que não se perca a perspectiva, 
voltada ao futuro, para aquilo que se mostra diferente, dinâmico, ou seja, tudo que remete ao 
sentimento da vivência de um novo período. 
O novo ciclo do capitalismo, em um cenário globalizado, apresenta, como força 
propulsora, o modelo neoliberal, baseado em um conjunto de princípios que preconizam uma 
intervenção indireta do Estado na economia, tendo papel ativo, porém restrito, nas políticas de 
equilíbrio, combatendo, por exemplo, os excessos da livre concorrência e o controle dos 
mercados através dos grandes monopólios econômicos. 
Milton Friedman1 (1985), considerado um dos maiores defensores do neoliberalismo, , 
explica tal modelo, como sendo o binômio entre o capitalismo e a liberdade, o objetivo das 
organizações sociais seria a liberdade do indivíduo, sendo que qualquer interferência no 
sistema de mercado estaria infringindo essas liberdades individuais. 
De acordo com o modelo neoliberal, os Estados também vêm perdendo seu caráter 
assistencialista, enquanto a sociedade civil passa a apresentar importante responsabilidade na 
busca de soluções de problemas sociais, dando margem para uma maior consciência de poder 
de transformação do espaço no qual interagem. 
Eduardo Viola (1996) explica que tal mudança ocorre em função do avanço de 
ideologias e regimes democráticos e individualistas em detrimento de regimes autoritários e 
socializantes. A discussão, sobre proteção aos direitos humanos, pluripartidarismo e 
competição eleitoral, por exemplo, passa a pertencer aos temas da vida política nacional e 
internacional, entretanto, ainda existe uma ampla distância entre o espaço de discussão que se 
forma e a realidade concreta de transformações. 
Ao Estado caberia apenas a função de garantir o equilíbrio social, porém, 
abandonando o modelo de Welfare State e dando espaço ao chamado Estado Gestor, atuando 
através da cooperação voluntária dos indivíduos, ao invés da coerção exercida pelo aparato do 
Estado. 
É nesse mesmo contexto que um novo ator ganha espaço de ação e influência no 
sistema, amparado pela revolução das capacidades individuais e mudando a concepção sobre 
a ordem social. 
Tal ator é denominado como Terceiro Setor, sendo o exercício de uma nova forma de 
participação da sociedade, bem como na promoção do desenvolvimento de várias áreas 
sociais, contribuindo para a renovação de metodologias e para a abertura de novos canais de 
participação. 
Segundo a visão de autores como Rubens César Fernandes (1996) e Ruth Cardoso 
(1996) esse novo cenário de ação configura um espaço de participação e experimentação de 
novos modos de pensar e agir sobre a realidade social, sendo um contraponto tanto às ações 
governamentais quanto às ações do mercado. 
Em relação às ações governamentais, os bens e serviços públicos resultam não apenas 
da atuação do Estado, mas também de uma formidável multiplicação de iniciativas 
particulares. Quanto às ações do mercado, este estaria emprestando uma nova visibilidade 
para o entendimento da cidadania, enfatizando que o mercado não mais satisfaz a totalidade 
das necessidades e dos interesses dos cidadãos. 
Sendo assim, o Terceiro Setor exerceria uma forma de pressão na própria cultura 
empresarial, no caminho de uma consciência de suas limitações, abrindo uma dimensão de 
atuação que, apesar de ainda configurar algo difuso, mostra-se decisivo no novo contexto 
social que se vem se delineando na atualidade. 
 
1
 Milton Friedman é considerado o principal representante do liberalismo no século XX. Economista americano defensor do 
livre mercado, pai do conceito monetarista que preconizava a quantidade de dinheiro na economia em circulação como fator 
determinante para os níveis de inflação. Foi ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1976 e autor do livro Capitalismo e 
Liberdade, em 1985. 
 7 
Apesar de este ator se apresentar como uma nova e importante ferramenta de 
transformação social, muitas vezes adotando para si e cobrando, nos âmbitos tanto domésticos 
como internacionais, a responsabilidade na resolução de problemas relativos à sociedade 
como um todo, seu conceito e abrangência ainda se mostram pouco consolidados. 
O fenômeno de ascensão do Terceiro Setor no sistema mundial apresenta-se muitas 
vezes como algo perigoso e que deve ser analisado cuidadosamente, visto que ainda não se 
estabeleceram fronteiras entre o poder de ação do Estado e o mercado. O Estado seria aquele 
responsável pela solução das questões ligadas à sociedade e questiona-se, assim, até que ponto 
seria interessante perder o controle das questões que envolvem os cidadãos e suas políticas 
sociais. 
Apesar da existência de uma vasta margem para questionamentos, é inegável a 
emergência, com maior representatividade, das organizações não associadas diretamente a 
governos, as Organizações não Governamentais, que apresentam propósitos específicos 
dentro do cenário internacional, exercendo influência em temas de preocupação comum, bem 
como atividades de manutenção das ações e condutas internacionais. 
Segundo o livro O Poder da Identidade, autoria de Manuel Castells (1999), o controle 
do Estado, sobre o tempo e o espaço, vem sendo ultrapassado pelos fluxos globais de capital, 
produtos, serviços, tecnologia, comunicação e informação e enfrenta o desafio de reconstruir a 
identidade nacional, convergindo às múltiplas identidades, representadas por sujeitos 
autônomos da sociedade global, podendo citar, como exemplo, as próprias Organizações não-
governamentais. 
Assim, entende-se que o processo de globalização, no que tange ao modelo 
econômico, envolve um sistema capitalista neoliberal de caráter hegemônico. Entretanto, o 
fenômeno globalista gera o desenvolvimento de novas realidades sociais, de forma desigual e 
contraditória, porém global, compreendendo diversos segmentos ideológicos, sociais, 
econômicos, políticos e culturais, descrevendo e expressando-se em um palco de relações 
antagônicas e pluralistas. 
Tal cenário apresenta a emergência atores transnacionais de caráter não-estatal, que 
vêm exercendo no sistema considerável relevância, tornando a rede global de relacionamentos 
mais complexa e segmentada por diversas correntes de pensamentos, idéias e interesses, 
interagindo entre si por meio de relações econômicas, comerciais, políticas e culturais. 
 Num contexto de relações entre atores transnacionais, que constituem uma gama 
diversificada de interesses e formas de influência, torna-se indiscutível a necessidade da 
criação e fortalecimento de umgrupo de regras e instituições que transcendam soberanias, 
cidadanias nacionais e regionais, normatizando o espaço das relações internacionais e 
constituindo estruturas globais de poder. 
Assim, seguindo a perspectiva de autores como Thomas Risse-Kappen (1995), 
entende-se que a capacidade de os atores inseridos no sistema internacional se comunicarem e 
cooperarem entre si mostra-se intimamente ligada à construção de instituições de caráter 
supranacional e com habilidade para criação de um conjunto de regras e regimes que 
viabilizem tais relações (SARFATI, 2005). 
As instituições que atuam além das fronteiras e soberanias configuram variáveis 
importantes como intermediárias nas relações entre os agentes internacionais, expondo a 
natureza de seus vínculos, bem como o caráter de suas condutas e interesses individuais. 
Configura-se, assim, um cenário influenciado diretamente por forças antagônicas, 
como pontua Ianni (1999). 
A compreensão do mundo contemporâneo torna-se algo cada vez mais complexo e 
dependente de diversas variáveis e forças, pois não é mais possível limitar-se a uma só forma 
de representação do mundo ou corrente de pensamento, regendo as formas de relações no 
contexto internacional. 
 8 
Torna-se necessária a superação da noção de espaço e fronteiras provenientes do 
processo de globalização, questionando formas de análise do cenário das relações 
internacionais que se atenham somente à organização dos espaços geográficos. 
Emerge, assim, como exposto por Ianni (1999), a produção de um novo espaço, 
baseando-se nos valores, interesses, temas e interação entre os atores preponderantes no 
sistema, na medida em que, debilitam-se as fronteiras reais e imaginárias que se haviam 
desenhado nas épocas do colonialismo e do imperialismo. 
Castells (1999) discute um cenário, onde as relações entre os principais atores do 
cenário internacional contemporâneo se intensificam de forma dinâmica e, em maiores 
proporções, à medida que os avanços tecnológicos nas formas de comunicação, produção e 
interação tornam bens de domínio comum, pois influenciam diretamente a forma como as 
informações e fatos são disseminados e propiciando a desterritorialização de pessoas, idéias e 
relações. 
Tais fatores configuram-se, de forma determinante, no contexto em que se insere o 
fenômeno do globalismo e, simultaneamente a estes processo de interdependência e 
acomodação desenvolvem-se as tensões e antagonismos, implicando tribos e nações, 
coletividades e nacionalidades, grupos e classes sociais, trabalho e capital, etnias e religiões, 
sociedade e natureza, como salienta Ianni (1999). 
Dentre os fatores que implicam diretamente no cenário de globalização e no novo ciclo 
do capitalismo, percebem-se não somente as novas formas de organização e interação entre os 
atores do sistema internacional, mas também as novas formas de produção, divisão do 
trabalho, distribuição, troca e consumo que ganham caráter universal. 
O acelerado processo de globalização traz em seu bojo uma revolução tecnológica, 
bem como no sistema de comunicação, possibilitando maior interação entre os mercados 
globais acompanhada pelas tendências de desregulamentação. 
A partir de tal perspectiva, encontram-se duas tendências influindo diretamente nos 
agentes transformadores do espaço global. 
De um lado, a revolução tecnológica e das comunicações causa impacto nas relações 
econômicas, comerciais e financeiras, trazendo maior dinamismo e transpondo fronteiras de 
tempo e espaço, viabilizando relações em rede e com maior amplitude. 
Da mesma forma, o advento da tecnologia e das comunicações também possibilita o 
avanço de expressões sociais coletivas de maneira fortalecida e veloz, através dos meios de 
comunicação tais como a internet e através da própria mídia, que neste contexto adquire 
caráter onipresente (CASTELLS, 1999). 
Assim, transcendem-se as correntes de pensamentos, idéias e posturas difundidas na 
sociedade de forma ampla e abrangente constituindo, assim, uma forte alavanca no resgate da 
cidadania, movimentos e grupos sociais diversos e segmentados através da informação e da 
maior visibilidade dos acontecimentos. 
As disparidades tornam-se cada vez mais aparentes dentro das nações e regiões, de 
modo que as práticas antiéticas e injustas são mais facilmente reveladas, aumentando, assim, 
um sentimento de insegurança e até mesmo de certa inquietude constante. 
O mercado global e suas tendências de liberalização, descentralização e 
desterritorialização, regidos por um modelo neoliberal, levam seus agentes a repensar suas 
estratégias de atuação, bem como o posicionamento frente ao mundo. 
Nesse contexto, encontram-se as empresas transnacionais que passam a interagir nos 
mais variados mercados e nações de forma autônoma, exercendo significativo impacto na 
ordem tanto econômica, quanto social do mundo e, dando, aos fluxos de capital, conotação 
universal. 
A influência das empresas transnacionais no cenário global apresenta significativa 
importância nos desdobramentos tanto econômicos, como sociais e políticos, de tal forma que, 
 9 
pode-se identificar na atualidade empresas apresentado uma lucratividade superior ao PIB 
(Produto Interno Bruto) de diversos países, citando como exemplo, a General Motors com 
uma lucratividade de U$ 176.558 milhões, enquanto Portugal apresenta um PIB de 
U$107.716 (apud GRAYSON e HODGES, 2002, p. 29). 
Ianni (1999) discute tal tema destacando que o movimento e reprodução ampliada do 
capital, em escala global, torna-se uma determinação predominante no modo pelo qual se 
organizam a produção, distribuição, troca e consumo. 
A diminuição de barreiras e o desaparecimento de fronteiras que diferenciam e 
segmentam políticas de atuação doméstica e internacional inseriram as empresas em um novo 
contexto de gestão, levando-as a um cenário de competitividade mais acirrado, na busca de 
novos e mais amplos mercados, bem como produtividade em escalas globais. Tal contexto 
apresenta variáveis e mudanças importantes, impulsionando a adequação dos atores no 
cenário internacional. 
Desse modo, as empresas transnacionais ampliaram e intensificaram a industrialização 
de forma global, aumentando a interdependência econômica, porém, de forma desigual na 
distribuição de ganhos, aumentando na mesma medida a vulnerabilidade dos mais fracos 
(COMISSÃO SOBRE GOVERNANÇA GLOBAL, 1996). 
Na discussão sobre a globalização e interdependência, através de uma perspectiva 
denominada como pessimista, os autores Strange e Cox, representantes desta corrente, 
apontam a divisão entre os blocos de ganhadores e perdedores, sendo que o bloco de 
perdedores vem aumentando significativamente a cada dia. Tal divisão ocorreria, apesar dos 
movimentos de interdependência, pois a globalização induziria, na mesma medida, 
movimentos de fragmentação, aumentando o número de países miseráveis, enquanto uma 
pequena elite econômica se beneficia do processo de abertura e queda de barreiras nas 
relações internacionais (SARFATI, 2005). 
Segundo Ianni (1999), o modo pelo qual o capitalismo se globaliza, articulando e 
rearticulando suas formas de organização técnica de produção, influencia diretamente a esfera 
de trabalho, orientando e inserindo nesse modelo organizações sociais, familiares, de grupos, 
classes e coletividades em todas as nações e continentes, ilhas e arquipélagos. 
 O modelo de globalização capitalista impulsiona, assim, um processo que vem 
transformando o mundo numa grande “fábrica global” (Idem, ibidem). 
É essencial, todavia, destacar os impactos gerados nas formas de vida e organização 
dos indivíduos e grupos que se inserem nesse novo contexto global, interagindo e 
transformando as correntes de pensamentos nos mais variados segmentos do sistema 
econômico, político, cultural e social. 
Ocorre que, até a década de 70, a teoria social moderna dominante, na descrição das 
relações entre atores internacionais, tratava seus temas a partir de análisesmacrosociais, 
considerando atores como o Estado, por exemplo, em seu contexto internacional, ou tratando 
as relações sociais em níveis de agregação infranacional (COMISSÃO SOBRE 
GOVERNANÇA GLOBAL, 1996). 
Os níveis microsociais eram tratados, portanto, a partir de associações locais, contudo, 
o processo acelerado da globalização, presente no final do século XX e início do século XXI, 
leva as questões macrosociais para um nível planetário e os níveis micro sociais, apesar de 
residirem localmente, penetram nas ações de caráter macrosocial, tornando sua dinâmica algo 
igualmente global. 
Segundo autores como Eduardo Viola (1997) e Rosenau (2000), os atores sociais, as 
arenas político-civilizatórias e as agendas político-econômicas encontram-se sempre 
transnacionalizadas nos mais diversos graus, fazendo com que os cidadãos deixem de exercer 
um papel de constante nas políticas globais e passando a exercer significativa influência nos 
desdobramentos do cenário internacional. 
 10 
A partir das inúmeras visões, interpretações e perspectivas apontadas, até então, pode-
se concluir que o processo de globalização origina, além de um sistema capitalista neoliberal 
de caráter hegemônico, um espaço para múltiplas interpretações da realidade atual que, nem 
sempre, convergem para uma mesma resolução. 
 Leis (1996) descreve esse novo mundo, através de uma perspectiva não determinista, 
como uma comunidade global fragmentada e, nesse momento, tendo como a grande 
prioridade e oportunidade, no cenário internacional, a organização de um espaço público 
transacional, de modo que se viabilize a democratização nas relações entre seus atores, 
construindo bases sólidas para a governança global. 
 Assim, são indispensáveis a análise das formas como os cidadãos vêm interagindo 
nesse novo contexto global e a discussão da necessidade, ou não, de novos conceitos que 
descrevam e posicionem esse novo cidadão, bem como seus direitos e deveres em relação ao 
espaço internacional. 
 
 
1.2 O reconhecimento de uma consciência cidadã e a emergência de novos movimentos 
sociais globais 
 
Admitindo-se a existência de um espaço global, que transcende os espaços soberanos e 
fronteiras nacionais, bem como um conjunto de regras, exercendo influência de forma 
onipresente e diminuindo os limites entre espaços domésticos e externos, emerge um novo 
tema a ser discutido referente à responsabilidade internacional, bem como sobre quais seriam 
os limites de atuação de cada ator inserido dentro do cenário internacional. 
Da mesma forma que as relações, técnicas produtivas, formas de trabalho e 
ferramentas financeiras, econômicas e comerciais globalizam-se, temas de preocupação e 
responsabilidade universais também ganham relevância no cenário contemporâneo, 
transbordando dos âmbitos locais e nacionais para o espaço de responsabilidade mundial. 
Ianni (1999) discute a dualidade das percepções sobre o processo de globalização, suas 
tendências e implicações: se por um lado, a idéia do globalismo remete a um movimento de 
homogeneização, dissolvendo diversidades e identidades e incorporando à sociedade 
conotações universais, por outro, também gera sentimentos contrários aos seus efeitos, no que 
se refere ao aumento das disparidades sociais e desencadeando situações de desemprego 
estrutural, etnocentrismo, racismo, fundamentalismo, configurando manifestações de 
intolerância e preconceito. 
O desenvolvimento acelerado da globalização, em acordo com o novo ciclo do 
capitalismo, implica uma série de situações que antes não eram questionadas, pois, não se 
apresentavam de forma tão aparente para a sociedade, impulsionando, dessa forma, um 
processo de contabilização na sociedade global dos problemas desencadeados neste modelo 
regente. 
 Argumenta-se como a difusão global das políticas econômicas vem esgotando a 
riqueza ecológica do planeta mais rapidamente do que pode ser reposta, colocando em perigo 
os recursos naturais dos quais dependem o crescimento da população mundial. ( Ianni, 1999) 
 Na mesma medida, Viola (1996) destaca o fabuloso crescimento da produtividade 
econômica mundial, decorrente do desenvolvimento tecnológico e gerencial, desencadeando 
um cenário de desemprego estrutural em todo o mundo. 
Estabelece-se assim, um processo de neo-dualização na sociedade entre excluídos e 
incluídos, crescimento e desigualdade, sociedade e natureza. 
Para contextualizar o tema da exclusão, bem como das contradições resultantes dos 
desdobramentos do modelo de globalização hegemônico, pode-se utilizar a abordagem de 
Boaventura de Sousa Santos (2003), referente às condições de produção e á forma como o 
 11 
capitalismo trata tudo como sendo mercadoria, apesar de não ter sido produzido, por exemplo 
a natureza, destacando a forma de apropriação autodestrutiva das forças de trabalho, do 
espaço e do meio ambiente. 
Os processos dialéticos, gerados pela globalização, despertem a consciência de que as 
ações dos agentes sociais interferem e transformam o meio em que habitam e que os recursos 
que o meio ambiente oferece para suas necessidades são moldados e condicionados a partir 
da forma como este meio ambiente é utilizado e conservado. 
Ocorre a construção da cidadania em escala mundial, através da compreensão da 
existência de problemas similares, apesar das condições de vidas aparentemente distintas. 
Contudo, é importante destacar que a possibilidade da construção e da consolidação de 
uma “cidadania em escala global”2 não exclui a ação cidadã no âmbito local, bem como a 
diversidade de percepções, mobilizações e formas de pensamentos específicos de cada nação, 
cultura e formação histórica. Pelo contrário, as decisões em níveis globais são fundamentadas 
e diretamente influenciadas pelas decisões em nível local, nacional e regional, como salienta a 
Comissão sobre Governança Global (1996). 
A consolidação de uma cidadania participativa constitui uma importante variável da 
própria democracia e segundo Bresser Pereira (1999) mostra-se como uma forma de a 
sociedade civil se posicionar, perante os governos, e exigir a prestação de contas de suas 
ações, não somente através do voto direto, adquirido através da chamada democracia 
representativa, mas também, através de um maior engajamento, referente às instituições 
públicas, à cidadania, como sujeito político direto, transcendendo espaços nacionais e 
atingindo o cenário internacional. 
Questões, como as necessidades da população, consumo, tecnologia, desenvolvimento 
e meio ambiente, ganham importância para a sociedade, bem como para a formação de 
valores globais, pois, possuem conexões complexas entre si e refletem diretamente na criação 
de espaço de formação do bem estar da comunidade global, como um todo, independente da 
diversidade, assimetrias e contradições intrínsecas às formações sociais. 
Assim, o planeta deixa de ser um ente meramente astronômico, mas palco da dialética 
entre sociedade e natureza, território da humanidade, pois, à medida que a globalização 
avança, mundializando mercados e formas de vida, o globo terrestre passa a representar um 
nicho ecológico e os recursos naturais passam a ser considerados um bem comum a todos, 
como destaca Ianni (1999). 
As gerações atuais vêem-se obrigadas a refletir sobre as condições que irão moldar o 
futuro pois, problemas referentes à sustentabilidade do meio ambiente, as assimetrias 
existentes no sistema internacional, entre seus atores, classes sociais abandonando as áreas 
das indagações para se tornarem parte da realidade. 
Dentro deste novo contexto, grupos de lutas sociais, que antes se restringiam apenas 
aos seus respectivos locais de origem, passam a interagir tornando-se grupos de pressão 
global impulsionando também, de forma mais intensa, a pluralidade de idéias e formas de 
descrever o cenário global, sendo que tais correntes de pensamento se mostram, muitas vezes, 
contraditórias e divergentes. 
Torna-se relevante a discussão sobre a formação de umaidentidade social global e, 
para isso, é necessário analisar como as diversas construções históricas, ideológicas, culturais 
e sociais dialogam entre si, mobilizam-se e formam movimentos, transbordando os âmbitos 
locais e influenciando, de forma ativa, os temas e atores inseridos do cenário internacional 
 
 
 
2
 O conceito de cidadania apresenta-se intimamente ligado aos conceitos de Estado e soberania. Portanto, não caberia 
contextualizá-lo em âmbito global, porém, posteriormente será apontada a necessidade de novas abordagens conceituais para 
descrição das formas de ação social global, inserindo-se, assim, o tema da governança. 
 12 
1.3 A construção da identidade global 
 
 Segundo Castells (1999), o momento histórico atual, no qual ocorrem a globalização 
intensiva das atividades econômicas e a revolução na tecnologia e nos meios de comunicação, 
gera na sociedade um nova forma de organização em redes, desencadeando nos cidadãos, 
através da difusão de idéias, correntes e posturas, uma nova consciência de sua posição no 
mundo. 
 Em vista do sentimento da emergência de um novo mundo, transformando 
dinamicamente culturas, modos de vida, de divisão do trabalho, colocando, em lentes de 
aumento, as disparidades entre riqueza e pobreza, incluídos e excluídos, nascem formas 
poderosas de expressão da identidade coletiva, sendo que, muitas vezes, passam a contrapor 
os caminhos do processo de globalização. 
 Da mesma forma que ascendem, no sistema internacional, movimentos de resistência à 
globalização, em defesa da religião, da nacionalidade e de etnias, assiste-se à formação de 
coletividades que visam a transformação ativa das relações propriamente humanas, como o 
feminismo e o ambientalismo. 
 Naomi Klein (2004) relata, principalmente a partir da segunda metade da década de 
90, a incidência de uma rede de militantes ambientalistas, trabalhistas e defensores dos 
direitos humanos, determinados a expor, para a comunidade global, os danos gerados pela 
globalização e pelos seus agentes, como por exemplo, as grandes corporações, existentes por 
trás de sua “superfície brilhante”. 
Pode-se citar a Batalha de Seatle, em 1999, como um marco dessa reação contrária aos 
efeitos gerados pelo processo de globalização, bem como da emergência de um amplo 
segmento do público internacional, posicionando-se perante as ações de corporações e 
organismos internacionais, através da coalização de grupos díspares fazendo campanhas com 
plataformas de diversos temas de proteção ambiental a direitos humanos (GRAYSON e 
HODGES, 2003, p. 36). 
 Castells (1999) entende que a identidade se caracteriza pela fonte de significado e 
experiência agregada por um povo ao longo da história de sua formação cultural em um 
contexto marcado pelas relações de poder. 
Os elementos formadores da identidade mostram-se específicos de cada contexto e 
com suas respectivas particularidades, tornando mais complexa a análise da formação de uma 
sociedade global, e, assim, desenrolam-se, neste cenário internacional, as dialéticas entre o 
local e o global. 
Castells (1999), entretanto, argumenta que é dentro dessa dialética que se formam os 
grupos e os projetos que levarão à transformação social. 
Se por um lado, antigamente os sujeitos sociais eram construídos a partir da sociedade 
civil e de suas instituições, como os sindicatos ou organizações hoje, a construção de papéis 
sociais que levam a projetos de transformação, desenrolam-se no cerne dos grupos de 
resistência que atuam, exigindo mudanças. Na sociedade globalizante e constituída por redes, 
essa resistência pode tornar-se forma de pressões não somente locais, mas transpõem barreiras 
para o âmbito mundial. 
O entendimento de um movimento global deve ser amparado por uma análise da 
identidade do movimento, ou seja, que bandeiras e projetos são defendidos e que obstáculos 
serão enfrentados para alcançar os objetivos e, por fim, qual é sua meta societária para o 
futuro, para que, assim se enxerguem de maneira clara as transformações almejadas. 
Segue abaixo uma análise sobre tais características, referentes ao movimento 
ambientalista, que alcança, ao longo de sua história, significativa influência e amplitude no 
cenário internacional, pois agrega especificidades distintas dos demais movimentos sociais, 
apresentando ações pró-ativas, ao invés de reativas em relação à ordem global regente. 
 13 
1.4 O movimento ambiental 
 
O movimento ambientalista vem conquistando, principalmente a partir do último 
quarto do século XX, uma posição de destaque no cenário internacional. Emergiu com maior 
consistência na década de 60, inicialmente nos EUA e no norte da Europa, induzindo as 
sociedades globais e seus atores mais influentes à uma revisão sobre as formas de relação 
entre economia, sociedade e natureza, impulsionando o desenvolvimento de uma nova 
cultura, voltada para os valores ambientais e sustentáveis da civilização em geral. 
 Na década de 70, a preocupação com os desdobramentos da globalização e dos 
impactos ao meio ambiente expande-se de forma significativa para outras localidades do 
globo, como o Canadá, Japão, Nova Zelândia, Austrália e, posteriormente, na década de 80, 
atinge a América Latina, Europa Oriental e Ásia. 
 Contudo, é na década de 90 que se percebe uma substancial expansão do movimento, 
até mesmo, nos países considerados retardatários na preocupação com temas ambientais, 
como a China, alguns países africanos e árabes. 
Esse movimento crescente de conscientização gera a quebra de um paradigma, 
evidenciando a problemática ambiental para opinião pública e incentivando tal discussão de 
forma abrangente nos campos universitários e de pesquisa. Entretanto, como pontua Viola 
(1996), o movimento ambiental não configura um movimento integrado e homogêneo. 
Apresenta caráter multifacetado, em função da pluralidade de visões, valores e 
objetivos que o incorporam na formação de um movimento global, contudo em função da sua 
pluralidade, acaba gerando a sensação de um projeto social não acabado e incompleto, que 
exige ainda perspectivas de construção, sendo obrigado a constantemente repensar as relações 
entre o homem contemporâneo e a natureza e, ao mesmo tempo, a relação entre os vários 
movimentos que descreve este movimento na vida em sociedade (FERREIRA, 1996). 
A divisão entre as propostas inerentes ao movimento ambiental é algo complexo. 
Entretanto, autores, como Castells (1999) e Viola (1996), propõem-se a analisar essa 
diversidade de valores e visões, estruturando a tipologia dos movimentos ambientais no 
cenário internacional, bem como definir as principais clivagens na dinâmica da política 
internacional. 
 Castells (1999) destaca a diversidade existente nas ações coletivas, políticas e nos 
discursos agrupados do movimento ambientalista como um fator que impossibilita a criação 
de uma unidade no movimento. Aponta, também, que tal dissonância, entre teorias e práticas 
inerentes ao movimento de caráter essencialmente descentralizado e multiforme, representa 
uma ferramenta eficaz de influência e penetração no cenário global. Para descrever tal 
contexto, o autor expõe alguns dos principais grupos globais de influência do movimento 
ambiental de acordo com sua tipologia: 
 O segmento do movimento ambientalista de preservação da natureza, tendo como 
representante mais influente o chamado Grupo dos Dez, fundado a partir de organizações 
como o Sierra Club, nos EUA, apresenta formas pragmáticas de ação voltada 
para a defesa da vida selvagem, dentro de parâmetros considerados razoáveis, sobre o que 
pode ser conquistado, mediante o atual sistema econômico e institucional. 
 Atuam em nome e por meio de instituições, formando lobbies com significativa 
habilidade e força política, praticando movimentos de coalizões e não acordando com 
ideologias que se configurem demasiadamente radicais ou sensacionalistas, preferindo 
caminhar em compasso coma opinião pública internacional. 
 Já o segmento que visa a mobilização das comunidades locais em defesa de seu espaço 
preocupa-se fundamentalmente com as questões mais imediatas sobre a degradação 
ambiental, como o lixo tóxico, por exemplo. Em função dessa abordagem, configura um dos 
 14 
segmentos do movimento ambiental de maior expressão e que obteve expansão mais rápida 
nos últimos anos. 
 Apesar de representar movimentos de caráter local, não configura um movimento 
localista, prega a qualidade de vida, posicionando-se de forma contrária a interesses 
burocráticos ou corporativos, defendendo a democracia local, o planejamento urbano 
responsável e o senso de justiça em relação à distribuição do ônus gerado pelo 
desenvolvimento urbano e industrial. 
 Os movimentos de contracultura, datados das décadas de 60 e 70, inspiraram-se no 
ambientalismo como tentativa de estabelecer um padrão de vida, segundo normas diversas e 
contrárias às normas instituídas pela sociedade. Seguem os princípios de obediência única e 
exclusiva às leis da natureza acima de qualquer instituição criada pelo homem. 
 Tal perspectiva deu origem, na década de 70, ao Earth First! , organização fundada no 
Novo México por ecologistas de vertentes radicais e extremistas, que pregam a 
insubordinação civil e a chamada sabotagem ecológica contra as formas de agressão à 
natureza. Os movimentos de contracultura são considerados como uma das vertentes de maior 
militância, através de grupos e tribos de ação de caráter descentralizado, como por exemplo, 
organizações de proteção aos animais utilizados em pesquisas. 
 O ecofeminismo caracteriza-se pelo princípio do respeito absoluto pela natureza, como 
fundamento para libertação tanto do patriarcalismo como do industrialismo, acreditando que 
as mulheres sofrem da mesma violência patriarcal infligida à natureza. 
 Os movimentos descritos, até então, apresentam formas diversas de atuação, passando 
da guerrilha ao espiritualismo, da ecologia profunda ao ecofeminismo e aos ecologistas 
radicais, estabelecendo um elo de ligação entre ações ambientais, através da revolução 
cultural, criando, assim, um escopo abrangente de influência no cenário global. 
 No que tange a movimentos de influência internacional, orientados para a salvação do 
planeta, o Geenpeace se apresenta como seu maior representante, tornando as questões 
ambientais populares, atingindo níveis globais por meio de ações diretas e difundidas pela 
poder da mídia. 
 Apresenta um caráter fortemente pragmático; identifica as principais questões relativas 
à sustentabilidade do meio ambiente, através da investigação, informação e ferramentas 
técnicas, visando desenvolver um conjunto de metas palpáveis; age de maneira a chamar a 
atenção da mídia, disseminando seus valores para as grandes massas, de forma a exercer 
pressão em empresas, governos e instituições internacionais para tomarem medidas cabíveis; 
e evita publicidade negativa. 
 Possui uma organização fortemente centralizada, entretanto corresponde a uma rede 
mundialmente descentralizada, presente em mais de 30 países, que se encarrega da 
coordenação de campanhas globais. 
 Por fim, a política verde representa essencialmente uma estratégica específica no 
universo político em prol do ambientalismo, formando frentes partidárias em diversos países 
do mundo e, tendo a Alemanha como um país pioneiro na inserção das questões ambientais 
em seu sistema político. 
 O movimento ambientalista apresenta-se, no cenário mundial, de forma altamente 
heterogênea, como foi pontuado acima, disseminando correntes de pensamento e projetos, 
muitas vezes antagônicos e, em função dessa diversidade de visões, consegue atingir os mais 
variados segmentos da sociedade. 
 Contudo, entre essa grande variedade de correntes de pensamento e de formas de ação, 
podem-se identificar movimentos e partidos inseridos no contexto global que defendem a 
instituição de caminhos voltados para a governança global, como forma de garantir que o 
crescimento econômico e o acelerado processo da globalização estejam de acordo com as 
formas socioambientais de sustentabilidade no cenário internacional. 
 15 
1.5 Caminhos e desafios para a Governança Global 
 
A partir das perspectivas expostas até o momento, a grande pluralidade de atores, 
ações e interesses no cenário internacional exige a necessidade de um novo tema para 
discussão, referente à governança global. 
O grande marco, para emergência de um pensamento e preocupação voltados para as 
formas de governança e cooperação internacional, foi a assinatura da Carta das Nações 
Unidas, em 1945, e vem ganhando força e influência, à medida que o desenvolvimento da 
globalização e interdependência se intensificam. 
Governança configura um conceito de maior abrangência do que o conceito de 
governo e, segundo Rosenau (2000), remete a ações e responsabilidades que transcendem às 
ações de Estados no cenário mundial, envolvendo atores transnacionais como instituições 
internacionais, empresas, ONGs e a própria sociedade civil. 
Consiste na totalidade de maneiras diversas, pelas quais os indivíduos e instituições 
formais e não formais administram seus problemas e responsabilidades comuns, bem como 
acomodam interesses conflitantes no intuito de realizar ações de cooperação. 
A proposta da criação de uma Comissão sobre Governança Global, em 1996, 
apresentada em Estocolmo e endossada por líderes mundiais, apresenta-se como exemplo da 
preocupação com a consolidação de uma comunidade global que fomente a necessidade de 
assumir maior responsabilidade na área de segurança, não somente militar, mas também 
econômica e social, através de ações sustentáveis, promovendo a democracia participativa, a 
equidade, os direitos humanos e ações humanitárias. 
De acordo com a Comissão sobre Governança Global (1996), da qual se originou o 
livro Nossa Comunidade Global, a visão de governança, integrando uma grande variedade de 
atores, provém do reconhecimento de que, na atual conjuntura amparada por um modelo 
neoliberal, os governos não são mais capazes de arcar isoladamente com ônus da 
governabilidade global, mesmo que se configurem como atores principais no sistema, para 
lidar de forma construtiva com questões que desrespeitem os povos e a comunidade global. 
O grande desafio da governança global reside exatamente na pluralidade de agentes e 
ações que não necessariamente convergem para os mesmos fins no contexto de globalização, 
em que se inserem, sendo necessário o desenvolvimento de estratégias que aliem setores da 
sociedade nos seus mais variados níveis, atingindo assim, a complementariedade de forças 
como forma de alcançar a sustentabilidade sanando deficiências e desigualdade geradas pelo 
acelerado processo da globalização. 
Bresser Pereira (1999) exemplifica, de forma objetiva, a necessidade dessa 
complementaridade de ações entre atores distintos no cenário de globalização, quando 
descreve a relação entre o mercado, Estado e o Terceiro Setor, fazendo uma alusão retórica a 
Adam Smith, defendendo uma economia de mercado participativa e um desenvolvimento 
integral do novo capitalismo pós-moderno, como mão invisível do mercado, para alocação 
eficiente de recursos; a mão solidária da sociedade para equidade e bem-estar social e, por 
fim, a mão promotora do Estado para o crescimento sustentado e emprego. 
A partir desse raciocínio, entende-se se por um lado, a efetividade no processo de 
governança global permanece condicionada, em um primeiro momento, ao mercado e a seus 
instrumentos, capazes de promover a produção e crescimento econômico, tal processo 
depende, essencialmente, de esforços coordenados de organizações civis e entidades estatais, 
para, assim, conseguir atingir os mais variados níveis de atuação e influência. 
O princípio da governança deve ser o atendimento às exigências específicas de 
diferentes áreas de ação, desse modo, torna-se essencial a formação de parcerias, redes de 
instituições e processos,possibilitando, aos atores globais, a somatização de informações, 
 16 
conhecimento e aptidões para o desenvolvimento de políticas e práticas conjuntas, visando o 
bem comum (COMISSÃO SOBRE GOVERNANÇA GLOBAL, 1996). 
A ONU (Organização das Nações Unidas), como organização de caráter universal, 
apresenta papel central nesse processo, pois constitui uma ferramenta de governança, não 
necessariamente com ações originadas em governos estabelecidos que consegue aliar as mais 
variadas fontes de ação e agentes do cenário internacional. 
Porém, seu sistema vem constantemente sendo criticado por atores que estão ganhando 
maior poder de influência no sistema, como por exemplo as ONGs, pela falta de ações 
efetivas que organizem, regulem e exerçam formas de manutenção relativas ao 
desenvolvimento sustentado, em resposta aos projetos e movimentos sociais de projeção 
global. 
Em função da necessidade de reformulação e revitalização que acompanhe o contexto 
de um novo mundo emergente, assiste-se à formação de novos projetos na tentativa de 
estabelecer padrões, princípios e valores que integrem as ações dos diversos atores do cenário 
e alcance transformação social sustentável para a globalização. 
 O Pacto Global, que será analisado a seguir é um exemplo dessa tentativa. 
 17 
 
2 ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS, ESTRUTURA E RESULTADOS DO PACTO 
GLOBAL 
 
Neste capítulo, analisa-se a proposta da ONU (Organizações da Nações Unidas) com 
relação à criação de uma rede integrada de relacionamentos para o desenvolvimento 
sustentável, num cenário internacional que vem percebendo, de maneira mais intensa, a 
fragilidade da globalização e a necessidade da realização do ajuste da sociedade, bem como 
de seus sistemas políticos diante das novas realidades que se apresentam. 
 A proposta do Pacto Global consiste numa forma de a ONU se adequar às novas 
exigências da comunidade global, perante os riscos ambientais, trabalhistas e relacionados aos 
direitos humanos, construindo, assim, práticas sustentáveis de ação frente aos desdobramentos 
da globalização. 
 Tal rede de relacionamentos, aliada às ações governamentais, visa integrar as ONGs e 
instituições internacionais, às ações sustentáveis de atores com características transnacionais, 
como o setor privado. 
 Desse modo, é essencial o maior entendimento do contexto da emergência dos novos 
temas que ganharam importância, principalmente a partir da década de 90, na agenda 
internacional até a implementação do Pacto Global. 
 Em seguida, será analisada a estrutura do Pacto Global, destacando a formação da 
dinâmica da rede de relacionamento entre os signatários do projeto, bem como o 
posicionamento de tais agentes, frente ao desenvolvimento e aos resultados alcançados, até o 
momento, no caminhos da consolidação de uma maior sustentabilidade no sistema 
internacional. 
 
2.1 Revolução nos valores da sociedade: panorama da emergência dos novos temas na 
agenda internacional até a criação do Pacto Global 
 
No capítulo anterior, destacou-se a revolução ocorrida nas últimas três décadas do 
século XX, em relação aos temas críticos à sustentabilidade do acelerado processo de 
globalização, bem como uma significativa tomada de consciência da comunidade global, 
desencadeando a formação de diversos movimentos sociais, que exercem pressões no sistema 
internacional, sobre as responsabilidades com o meio ambiente, desenvolvimento social, 
direitos trabalhistas e direitos humanos. 
 Dando continuidade ao exemplo citado anteriormente, relacionado com o movimento 
ambientalista global, serão destacadas algumas mudanças no sistema de valores da sociedade 
global e nos temas da agenda internacional, em conseqüência da ascensão e maior visibilidade 
que tais movimentos atingiram no cenário mundial. 
 Viola (1996) aponta, como produto destas três décadas de maior preocupação pública 
com a crescente exaustão dos recursos naturais e degradação do meio ambiente, alguns pontos 
de considerável desenvolvimento. 
Entre esses pontos, pode-se destacar o significativo crescimento de organizações não-
governamentais e de grupos comunitários que estão lutando pela proteção ambiental em 
escalas locais, regionais e internacionais. Tais ONGs emergem na nova ordem mundial como 
instituições que transmitem confiança à sociedade civil. 
Grayson e Hodges (2003) exemplificam, no livro Compromisso Social e Gestão 
Empresarial, esse novo fenômeno social, através de uma pesquisa realizada em 2000, um ano 
após ao episódio da Batalha de Seatle, pela Edelman PR, sobre atitudes entre formadores de 
opinião na Austrália, França, Alemanha, Reino Unido e EUA. A pesquisa diagnosticou que, 
entre os entrevistados, cerca de dois terços acreditavam que as empresas se importavam 
 18 
apenas com o lucro, enquanto as ONGs representavam princípios semelhantes aos da 
sociedade em geral, realizando seu papel de maneira mais efetiva, em comparação aos 
governos, aos veículos de comunicação e às próprias empresas. 
Outro importante ponto evidenciado na pesquisa relaciona-se à credibilidade 
conquistada por ONGs internacionais, como Anistia Internacional, Greenpeace, Sierra Club e 
World Wildfire Fund que se destacam mais perante a sociedade, do que a credibilidade de 
empresas consolidadas no mercado internacional, como Exxon, Ford, Microsoft, Monsanto e 
Nike. 
Tal mudança, na forma como a comunidade global recebe a imagem corporativa, bem 
como o efeito de suas ações no cenário social, abre margem para o nascimento de um novo 
setor administrativo, para a gestão de processos produtivos dentro das empresas, voltados para 
a eficiência no uso de recursos, na conservação de energias, na redução da poluição, no 
ecodesign e na maximização da qualidade, fazendo inclusive com que as empresas adotem 
normas de padronização, como os chamados “selos verdes” e as ISOS 14000 E 14001. 
As ISOS 14000 e 14001, por exemplo, configuram normas, provenientes da 
Organização Internacional de Padronização (ISO), que agregam aos produtos a certificação de 
que foram desenvolvidos de acordo com práticas e políticas de gestão ambiental. 
Os padrões ISOS já foram adotados por cerca de 610 mil organizações, em 160 países, 
como forma de agregar melhorias nas áreas de desenvolvimento, produção e suprimento de 
empresas, tornando os processos além de mais eficientes, mais seguros e sustentáveis. No 
Brasil, a ISO é representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) 
(URSINI e SEKIGUCHI, 2005). 
Segundo Grayson e Hodges (2003), a adoção de tais certificações dão margem ao 
aumento da consciência das empresas e de seus funcionários, fazendo com que as mesmas se 
estruturem perante a gestão de aspectos ambientais importantes, aumentando não somente a 
eficiência, mas também diminuindo os impactos sobre a natureza. 
Desse modo, a adoção de certificações nesse sentido vem crescendo vertiginosamente, 
podendo citar a General Motors que exige de todos os seus fornecedores a obtenção da ISO 
14001. 
O crescimento desse modelo abrange uma nova demanda de consumidores, formando 
o denominado mercado consumidor verde e pode originar uma nova geração de ISOS, 
relativas à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável, sendo que a crescente 
expansão da certificação de empresas, apresentam significativos benefícios no cenário global, 
os quais são destacados por Ulsini e Sekigushi, em artigo publicado no livro Inovação, 
Legislação e Inserção Social, disponível no site da Ethos, em 2005. 
Em primeiro lugar, a ISO representa uma organização normativa, inserida amplamente 
no cenário internacional, portanto, podendo configurar um ideal fórum de discussão de tais 
temas, além de possuir reconhecimento e credibilidade de organizações, como a OMC 
(Organização Mundial de Comércio), por exemplo, podendo, assim, inserir no sistema a 
temática ambiental e a responsabilidade social com maior legitimidade e eficácia. 
Além da ascensão da credibilidade das ONGs no sistema, observa-se o aumentodo 
número de agências estatais encarregadas da proteção ambiental. Viola (1996) destaca que, 
em 1970, existiam 12 agências ambientais nacionais, enquanto, em 1995, esse número subiu 
para mais de 180 agências, configurando, assim, uma maior orientação governamental para 
questões ambientais e de sustentabilidade. 
Da mesma forma, observa-se a criação de instituições e grupos científicos que visam a 
pesquisa sobre questões ambientais, podendo-se destacar a importante posição adquirida pela 
Global Enviromental Change, nos EUA (VIOLA,1996). 
A mudança significativa na percepção dos problemas gerados pelo crescimento 
desenfreado e pelos desdobramentos da globalização como um todo, e a diversidade de 
 19 
opiniões, condutas e normas que a sociedade vem agregando para si; como forma de sanar tais 
riscos à sustentabilidade do sistema, cria-se a necessidade do estabelecimento de acordos e 
tratados internacionais que viabilizem ações nesse sentido. 
Viola (1996) aponta algumas das principais agências e Tratados Internacionais que 
despontaram no cenário, principalmente a partir do início da década de 90, como o Programa 
das Nações Unidas para o Meio Ambiente, estabelecido em 1972; a Convenção de Viena-
Montreal (1985), Protocolo de Montreal (1987), Emenda de Londres (1990), para proteção da 
camada de ozônio; o Global Environment Facility (1991), organização financeira 
independente para projetos de sustentanbilidade ambiental global; a Convenção de Basel 
(1989), sobre o comércio de lixo tóxico; o Acordo de Madri (1992), visando a proteção da 
Antártida frente as fortes ofensivas de empresas transnacionais para exploração; as 
Convenções do Rio (1992) e a Convenção de desenvolvimento sustentável da ONU (1993), 
sobre mudança climática e biodiversidade. 
As Convenções realizadas no Rio de Janeiro, em 1992, bem como a Convenção sobre 
desenvolvimento sustentável da ONU, realizada em 1993, em particular, impulsionaram 
significativamente o conceito de desenvolvimento sustentável, agregando recursos e projetos 
que envolvem os diversos atores internacionais, através do multilateralismo de forma ativa e 
em função de tais fatores, serão descritas de forma mais aprofundada a seguir: 
 
- Convenção do Rio3: denominada Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e 
o Desenvolvimento (CNUMAD), porém, popularmente conhecida através dos nomes ECO-92 
e Cúpula da Terra, foi realizada entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro, e 
tinha, como objetivo primordial, buscar meios e propostas que conciliassem a continuidade do 
desenvolvimento sócio-econômico e industrial com a conservação e proteção dos 
ecossistemas da Terra. O encontro tornou-se um marco sem precedentes, germinando uma 
semente de união e esperança para a comunidade internacional e para a ONU em particular, 
representando o início de sua atuação mais efetiva em conjunto com as Organizações-não-
governamentais e com o setor privado no caminho para o desenvolvimento sustentável. 
Nestas datas, estavam reunidos não somente diplomatas da ONU, mas organizações 
governamentais e não-governamentais, dando início a uma série de conferências e 
negociações na busca de idéias e soluções para a proteção e desenvolvimento da Terra e seus 
habitantes. A partir da Carta da Terra, documento oficial do Rio-92, estabeleceram-se duas 
importantes convenções, uma referente à prevenção e atenuação da mudança climática e outra 
para garantia da proteção da biodiversidade, bem como uma declaração de princípios, 
denominada Agenda 21, para promoção e financiamento do desenvolvimento sustentável em 
escala planetária. 
- Comissão de desenvolvimento sustentável da ONU: instalada em 1993, a partir de sua 
criação pela Assembléia Geral, em 1992, contudo o seu sucesso apresenta-se atrelado à 
necessidade de a ONU realizar reformas estruturais, assumindo a passagem de um sistema 
internacional-intergovernamental para um sistema transnacional-transgovernamental 
(VIOLA, 1996). 
 As diversas Convenções, Fóruns, Tratados e agências que se formaram para discussão 
de temas não somente ambientais, mas relacionados à preocupação de buscar soluções que 
garantam o desenvolvimento social, também relacionados à ética e à transparência nas 
relações trabalhistas e aos princípios dos direitos humanos, de modo convergente sobre o 
crescimento econômico, sobre a dinâmica do mercado e ações das grandes corporações, 
representando a evolução da questão do desenvolvimento sustentável no cenário 
 
3
 As informações sobre a Eco-92 foram retiradas de fontes variadas, incluindo os sites oficiais das Convenções 
decorrentes do encontro, bem como de artigos de Organizações-não-governamentais, como a CorpWacht e estão 
devidamente apontados na bibliografia no final do trabalho. 
 20 
internacional, fazendo com que tais temas ganhem preeminência perante organizações e 
grupos da sociedade global e influenciem nas políticas internacionais. 
 Entretanto, as visões sobre as práticas e responsabilidades sobre os temas são motivos 
de polêmicas e controvérsias, principalmente no que tange ao papel das corporações privadas, 
que perduram até hoje. 
 A divergência de opiniões consiste no fato de que, a partir do encontro do Rio de 
Janeiro, os temas sobre desenvolvimento sustentável ganharam maior abrangência. O 
desenvolvimento sustentável foi definido com base na integração de três pilares fundamentais: 
o econômico, o social e o ambiental, contudo tais pilares não apresentam-se de forma estável, 
impulsionando, através das pressões sociais, ciclos e conflitos que se desenrolam no processo 
de globalização (MELO NETO e FROES, 2001). 
É nesse contexto de mudanças e instabilidades, que o Pacto Global emerge como uma 
proposta para a continuidade do desenvolvimento de forma viável e compatível com a 
sustentabilidade social e ambiental, bem como com padrões éticos e de transparência, 
trazendo um caminho alternativo para enfrentar os desafios impostos pela globalização. 
 
 
2.2 A estrutura do Pacto Global e a formação de uma rede global de relacionamentos, 
aprendizado e ação 
 
 Em janeiro de 1999, Kofi Annan, então secretário geral da ONU, chamava a atenção 
dos líderes do mercado global para a necessidade da adoção de valores universais nas áreas de 
direitos humanos, normas trabalhistas e práticas ambientais na gestão de suas corporações. 
A adoção de tais valores ocorreria através de nove princípios, dando origem a uma 
rede de relacionamentos e práticas, nas quais consiste o Pacto Global. 
O objetivo da inserção de tais valores nas práticas corporativas, reside no entendimento 
de que o mercado global apresenta significativa instabilidade, em conseqüência da 
despreocupação dos pilares sociais e ambientais, como forma de fornecer o equilíbrio entre 
desenvolvimento econômico e sustentabilidade global. A estrutura de governança global vem 
se mostrando eficaz no estabelecimento de regras e normas para os temas econômicos e 
comerciais, contudo, vem deixando de lado temas críticos como os direitos humanos e os 
impactos ao meio ambiente. 
Desse modo, o comprometimento da comunidade empresarial internacional, com os 
valores e princípios pregados pela iniciativa do Pacto Global, visa a construção de um 
mercado global que gere oportunidades e crescimento de forma eqüitativa e inclusive dentro 
do processo de globalização. 
 Através dessa perspectiva, a proposta de Kofi Anan foi imediatamente bem recebida e 
disseminada rapidamente pela opinião pública internacional, criando uma dinâmica que 
abrange corporações privadas, Organizações-não-governamentais, instituições internacionais 
e agências da ONU, envidando esforços para transformar esses nove princípios em parte 
integrante das práticas empresariais. 
Para descrever como se estrutura a rede de relacionamentos do Pacto Global e de seus 
nove princípios, será utilizado como base o artigo The Global Compact Network: An HistoricExperiment in Learning and Action, desenvolvido por Georg Kell e David Levin, em 2003. 
 Kell e Levin (2003) salientam primeiramente, nesse artigo, que o propósito do Pacto 
Global não consiste na resolução total de todas as deficiências inerentes ao modelo capitalista 
que rege o mercado global. Contudo, representa um importante alicerce para a promoção de 
esforços conjuntos, estabelecendo a cooperação e o aprendizado de práticas sustentáveis, 
através do poder de mobilização de recursos e significativo alcance do setor privado no 
cenário global. Tampouco, pretende substituir, de forma mais eficaz, a ação governamental, 
 21 
mas simplesmente desenvolver o aprendizado institucional e através de estruturas 
minimamente burocráticas. 
 Assim, essa seria a forma mais relevante que a ONU encontrou para registrar seu 
poder de influência e autoridade, no sentido de produzir mudanças sociais positivas, seguindo 
o pensamento de Clausewitz4 do século XIX, que prega não a extensão de um plano de ação, 
mas a evolução de uma idéia central, que permanece através das constantes mudanças de 
circunstâncias. 
 Os dez princípios do Pacto Global constituem uma base de ação para seus integrantes, 
nos temas relativos a promoção de práticas que apoiem e respeitem a proteção aos direitos 
humanos, assegurando que as empresas não atuem como cúmplices em qualquer tipo de 
abuso. 
 Na área relativa ao trabalho visa assegurar que as empresas garantam a liberdade de 
associação e reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva, a eliminação de 
qualquer forma de trabalho forçado ou infantil, bem como da discriminação a respeito do 
emprego ou ocupação. 
 Em relação ao meio ambiente, possui princípios que pregam o apoio empresarial na 
adoção de abordagens preventivas aos desafios ambientais, de modo que, as mesmas 
assumam iniciativas na promoção da responsabilidade ambiental, bem como no 
desenvolvimento e difusão de tecnologias sustentáveis. 
 Apresenta ainda, como décimo princípio5 a formação de uma frente contra todas as 
formas de corrupção, incluindo extorsão e suborno. (Globalcompact, 2006). 
 Os dez princípios do Pacto Global, em conjunto com os objetivos da ONU e com as 
Metas do Milênio, formam a frente de ação que visa a sustentabilidade e desenvolvimento do 
cenário internacional. 
As Metas do Milênio, em particular, foram estabelecidas em 2000 e aprovadas por 191 
países integrantes da ONU, em Nova Iorque, numa das maiores reuniões de dirigentes 
mundiais dos últimos anos. Na reunião, estavam presentes 124 Chefes de estado e de Governo 
e nela seus integrantes entraram em consenso, quanto ao comprometimento de que os oito 
objetivos propostos seriam concretizados até o ano de 2015 (UN MILLENNIUM PROJECT, 
2005). 
Segundo o relatório do projeto para o Milênio, Investing in Development: A Practical 
Plan to Achieve the Millennium Development Goals , de 2005, o comprometimento dos países 
com as Metas do Milênio, visando uma parceria global na redução da pobreza, melhorar as 
condições de vida e saúde da população mundial, promoção da paz, direitos humanos e 
sustentabilidade ambiental, apresenta-se como um sustentáculo para o desenvolvimento da 
política internacional. Como forma de exemplificar sua consistência, o relatório cita 
conferências como a Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável de Johannesburgo, 
ocorrida em 2002, na África do Sul, no qual os países reafirmaram o comprometimento e a 
visão de que tais objetivos configuravam uma importante ferramenta de integração mundial 
no caminho para o desenvolvimento. 
O Pacto Global e a proposta dos dez princípios para a sustentabilidade do mercado 
global, incluindo o setor privado, através de práticas corporativas positivas e visando o 
desenvolvimento eqüitativo, torna-se uma importante ferramenta da ONU para tornar 
realidade as metas do milênio. 
 
4
 Citação retirada do artigo “The return of von Clausewitz”, The Economist, Londres, 9 de março de 2002 apud KELL e 
LEVIN, “The Global Compact Network: An Historic Experiment in Learning and Action”, publicado pelo Business and 
Society Review, 2003. (tradução nossa). 
5
 É importante destacar que o princípio referente ao tema anti-corrupção foi adicionado entre os nove princípios 
originais, durante o primeiro encontro de líderes do Pacto Global, que foi estabelecido em junho de 2004. 
 22 
Dentro desse contexto, a ONU aponta a sociedade civil como um ator imprescindível, 
contribuindo ativamente no delineamento de políticas, na prestação de serviços para a 
sociedade e no monitoramento dos progressos dos projetos propostos. 
Na mesma medida, o setor privado e as corporações transnacionais apresentam-se no 
cenário global, com a responsabilidade de promover iniciativas transparentes, aliando 
recursos através de parcerias entre os âmbitos públicos e privados. 
Sem a colaboração ativa do setor privado na consolidação de uma economia 
sustentável não existe real viabilidade para se alcançarem as metas estabelecidas pela ONU e 
seus países signatários. A participação de empresas nos âmbitos domésticos, também é 
essencial para os investimentos que resultem no aumento da produtividade, através de padrões 
que induzam à qualidade de vida e a oportunidades no mercado de trabalho justo e eqüitativo 
(MILLENNIUM PROJECT, 2005). 
Além dos dez princípios explicitados acima, o Pacto Global oferece uma estrutura, em 
que todos seus integrantes constituem uma extensa rede de relacionamentos com atores 
desempenhando papéis específicos (KELL e LEVIN, 2003). 
 O escritório oficial do Pacto Global, em conjunto com as Agências das Nações 
Unidas, corresponde ao núcleo da rede de relacionamentos, tendo as instituições acadêmicas, 
empresas do setor privado, instituições trabalhistas e organizações da sociedade civil 
trabalhando de forma periférica. 
 Os governos inserem-se nesse contexto com um papel auxiliar, dando suporte às 
ações, entretanto, não participam diretamente da rede de relacionamento. 
 A formação de um Conselho Consultivo do Pacto Global apresenta significativa 
responsabilidade na manutenção da rede de relacionamentos, através da formação de 
estratégias viáveis, estabelecendo o diálogo constante com os participantes sobre as 
expectativas e posicionamentos, frente ao projeto e seus resultados, assegurando que a rede de 
relacionamentos se expanda por mais países e regiões de forma coordenada, bem como 
assegurando que a integridade da credibilidade do projeto, na medida em que surgem novos 
parceiros e companhias, integrando-se, de forma engajada, às atividades do Pacto Global 
(Idem, ibidem). 
A rede de relacionamentos criada pelo Pacto Global nasce da crença de que, através da 
construção de meios que facilitem a transparência pelo diálogo, se disseminem práticas 
positivas para o desenvolvimento social. O projeto estará encorajando as corporações a 
agregarem padrões de responsabilidade socioambiental na gestão de seus negócios, 
desencadeando resultados efetivos para o cenário internacional, regional e nacional. 
Assim, o proposta reside, essencialmente, em quatro áreas de atuação, constituindo a 
rede internacional de relacionamentos que iniciou suas atividades oficialmente em 2001. 
Em primeiro lugar, o foco do projeto reside na concepção de um fórum de 
aprendizagem que analisa casos de estudo e exemplos de iniciativas sobre boas práticas 
corporativas, as quais são reportadas e compartilhadas pelas empresas como forma de 
demostrar comprometimento aos dez princípios em suas atividades. Seguindo a mesma 
dinâmica, realizam-se anualmente conferências, nos âmbitos nacionais e regionais, para 
discussão sobre a manutenção do projeto, bem como o desenvolvimento de novas práticas 
viáveis, no sentido de fortalecer o princípio de responsabilidade socioambiental no setor 
privado. O Pacto Global disponibiliza um portal na internet para servir de palco do fórum de 
aprendizagem (Idem, ibidem).O diálogo de políticas apresenta, também, como um meio de ação essencial para a 
consolidação do Pacto. Esse diálogo reside na formação de conferências temáticas sobre os 
desafios a serem enfrentados no cenário de globalização, em crescimento acelerado na 
atualidade. A participação nessas atividades apresenta caráter voluntário, estando aberta para 
todos os integrantes do pacto, desde empresas do setor privado, instituições trabalhistas, 
 23 
organizações da sociedade civil, até instituições acadêmicas e comunidades que discutem 
políticas públicas. Segundo o site oficial do Pacto Global, no Brasil, já foram realizados 
discussões sobre temas como “O papel do Setor Privado em Zonas de Conflitos” e “Negócios 
e Desenvolvimento Sustentável”. 
Salienta-se a importância do envolvimento dos stakeholders, ou seja, as partes 
interessadas e diretamente atingidas pela gestão de uma empresa, na implementação de 
projetos desenvolvidos pelos integrantes do Pacto Global (Idem, ibidem). 
A colaboração de múltiplos stakeholders na construção de um relacionamento sólido 
exige a ocorrência de uma vontade genuína, abrindo um amplo canal de comunicação, a 
garantia de integridade nas mensagens passadas, a credibilidade na formação de parcerias e 
continuidade e coerência nos relacionamentos estabelecidos (GRAYSON e HODGES, 2003). 
Como forma de consolidar as ações e objetivos do Pacto Global, a ONU encoraja a 
formação de redes e comitês locais do projeto, facilitados através do apoio do escritório do 
Pacto Global e do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). 
O secretário-geral, Kofi Annan, disponibilizou cinco agências das Nações Unidas para 
apoiar diretamente o projeto do Pacto Global: O escritório do Alto Comissariado dos Direitos 
Humanos (OHCHR), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Programa das Nações 
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento Industrial (UNIDO), lideradas pelo Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (PNUD). 
Assim, a partir desses focos de ação, cada integrante, comprometido com os dez 
princípios do Pacto Global, troca e compartilha visões e propostas para os desafios gerados 
pela globalização, no sentido de transformar cenários de desequilíbrios e injustiças, 
oferecendo oportunidades eqüitativas para os agentes do mercado e do sistema internacional. 
 A partir da análise da estrutura e proposta do Pacto Global, John Gerard Ruggie 
(2001) apresenta um diagnóstico sobre os desafios e pontos críticos a serem enfrentados, a fim 
de que o projeto da ONU atinja real impacto e viabilidade no cenário global. 
 Tal diagnóstico consta no artigo The Theory and Practice of Learning Networks: 
Corporate Social Responsibility and the Global Compact, publicado no Journal of Corpotate 
Citizenship, em 2001. 
 No artigo, Ruggie afirma que a responsabilidade corporativa tornou-se um meio de 
ação que vai além do papel governamental e corresponde, assim, a uma forma efetiva na 
garantia da sustentabilidade global e dos próprios interesses corporativos na formação de 
estratégias eficientes e sustentáveis de gestão, contudo não possui o intuito de substituí-las, 
mas sim configurar um instrumento de complementaridade, trazendo assim, mais dinamismo 
nas iniciativas sustentáveis acompanhando a velocidade do processo de globalização e seus 
desdobramentos. 
 O papel desempenhado pelo setor privado no caminho da responsabilidade 
socioambiental, entretanto, gera diversas contradições entre os agentes do cenário global, 
principalmente no que tange às organizações da sociedade civil. 
 Assim, tanto Ruggie (2001) como Kell e Levin (2003) descrevem a estrutura do Pacto 
Global como rede de relacionamentos interorganizacional formada por organizações 
autônomas da sociedade que combinam recursos e esforços de maneira voluntária, pois não 
conseguem atingir resultados efetivos isoladamente. Através de ações cooperativas, os 
agentes dessa rede podem agregar um maior conjunto de informações que são manejadas no 
sentido de superar as dificuldades sociais e ambientais impostas pelo cenário de globalização, 
muitas vezes de maneira ambígua e extremamente complexa. Evidenciam o caráter 
experimental e inovador da proposta, sem aparatos burocráticos na sua manutenção, como 
forma de facilitar ao máximo a comunicação entre os diversos atores que a compõe, sem que, 
 24 
para isso, sejam necessárias ferramentas de controle ou instituições separadas do contexto da 
própria rede de relacionamentos. 
 Por fim, salienta-se o desenho horizontal formado pela rede de relacionamentos do 
Pacto Global, sem estruturas hierárquicas, dando margem para que seus integrantes se sintam 
livres para discussão de temas que considerem relevantes e sejam responsáveis pela 
regularidade em que os fóruns são estabelecidos. 
 Ruggie (2001) destaca que tais práticas despertam a desconfiança por parte das 
comunidades não-governamentais e principalmente dos ativistas anti-globalização, inseridos 
no sistema internacional e, consequentemente, gera o questionamento sobre os reais interesses 
que residem no setor corporativo privado em realmente desempenhar práticas que levem a 
resultados efetivos na sociedade ou simplesmente encontrar oportunidades legítimas para 
limpar a imagem de suas empresas através da bandeira da ONU. 
 Através desta visão, pode-se constatar que, apesar de o Pacto Global configurar um 
legítimo meio de governança global, que apresenta grande potencial para alcançar resultados 
positivos, a longo prazo, é essencial que sejam analisadas, na mesma medida, suas vantagens 
e limitações. 
 Assim, a grande limitação do projeto, destacada por analistas, como Ruggie (2001), 
reside no fato de não existirem regularidade na formação dos fóruns de aprendizagem e meios 
normativos de exigir, das corporações signatárias do Pacto, a prestação de contas de suas 
ações. 
 De acordo com a perspectiva da ONU e dos responsáveis pela proposta do Pacto 
Global, o aprendizado e compartilhamento, através de experiências, gradualmente levariam a 
um processo que exigiria melhores resultados. Assim, as boas práticas seriam convertidas em 
práticas-modelo, partindo de líderes empresariais, como forma de proteção contra qualquer 
desvantagem competitiva que se apresente, e pressionando para que aqueles que não se 
inserirem dentro deste contexto, exponham suas dificuldades para se adequar ao novo modelo 
de ação que emerge no sistema internacional. 
 Contudo, tal cenário só se apresenta viável, mediante uma profunda revisão dos 
princípios propostos inicialmente pelo Pacto, fazendo com que se transformem em um código 
de conduta com regras precisas, entretanto, Ruggie (2001), não acredita no estabelecimento de 
regras normativas como um possível caminho para resultados efetivos, primando pelos 
caminhos cooperativos e de negociação. 
 
2.3 A posição das Organizações não-governamentais frente ao Pacto Global 
 
O papel das Organizações não-governamentais no Pacto Global reside principalmente 
na sua participação nas discussões e nos temas críticos à sustentabilidade do cenário mundial. 
 Grande parte das ONGs que se engajaram com a iniciativa da ONU, com os seus dez 
princípios e com os objetivos do Milênio a serem alcançados até 2015, apresentavam 
expectativas de obter um papel ativo nas propostas e no acompanhamento das ações 
corporativas no cenário internacional. 
 Tais expectativas, entretanto, converteram-se num sentimento de frustração, motivado 
pelo pouco espaço e instrumentos de manutenção relativos às práticas corporativas, já que o 
Pacto não oferece regras específicas sobre prestação de contas das ações do setor empresarial. 
No artigo Greenwash 10+: The UN´s Global Compact, Corporate Accountability and 
the Johannesburg Earth Summit, em 2002, a CorpWacht destaca as principais críticas ao 
modelo proposto pelo Pacto Global, apontando também as empresas internacionais que, 
apesar de se terem comprometido com os

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