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1 Keyse Mirelle – 6° Período Endocrinoped – 13/11/2021 DISLIPIDEMIA É uma doença que merece uma atenção especial, pois muita das vezes ela é silenciosa e as vezes perdemos uma janela de oportunidade para atuar e para evitar que ela leve as suas consequências. CONCEITO Qualquer alteração no metabolismo dos lipídios, ou seja, qualquer alteração no metabolismo da gordura, seja ele colesterol, triglicerídeos, frações. Lipídios: colesterol e triglicerídeos Colesterol: importante componente das membranas celulares, necessário para esteroidogênese (=hormônios) e a síntese dos ácidos biliares. Obs: O colesterol é um fator de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular, podendo causar tontura, mas mesmo assintomático tem uma grande importância. Triglicerídeos: transporta energia dos alimentos para as células corporais. Vemos que o colesterol e os triglicerídeos são importantes para o nosso organismo. Os lipídios são insolúveis em água e seu transporte ocorre pela ligação com as apolipoproteínas, após se ligarem tem a formação de lipoproteínas (complexos solúveis). E assim desenvolvem sua função. Temos dezenas de apolipoproteínas descritas, com nomenclatura com uma letra e um número (ex: Apo A1) LIPOPROTEÍNA FORMA ESFÉRICA A Apolipoproteína vai se ligar ao colesterol, triglicerídeos e isso vai fazer com que essa lipoproteína seja transportada pelo organismo. CLASSIFICAÇÃO De acordo com a densidade: As lipoproteínas menos densas são as maiores e com maior proporção de lipídeos (=gordura). Na imagem acima, vamos da maior lipoproteína para a menor. Então, a maior são os quilomícrons, depois VLDL, IDL, LDL (=colesterol ruim), HDL (=colesterol bom). QUILOMICRONS Os quilomícrons são as maiores lipoproteínas e menos densas, com predomínio de triglicerídeos provenientes da dieta. Os triglicerídeos da dieta são hidrolizados na luz intestinal, absorvidos na forma de ácidos graxos (=gordura) e reesterificados, com posterior ligação as proteínas de ligação dos quilomícrons. Os quilomícrons são transportados para os órgãos que precisam de energia. Ou seja, eles vão levar a energia para o tecido adiposo, músculo. Então, dificilmente dosamos os quilomícrons. LDL COLESTEROL Os LDL colesterol (=ruim) tem predomínio de ésteres de colesterol (=triglicerídeos), Apo B100 e Apo E, sendo os principais carreadores do colesterol plasmático para o fígado e tecidos periféricos. Então, ele leva a gordura para os órgãos. HDL COLESTEROL A lipoproteína HDL (=bom) contém ésteres de colesterol e Apo A1. É responsável pelo transporte reverso do colesterol, quando o colesterol em excesso é removido dos tecidos periféricos e transportado ao fígado. Também tem 2 Keyse Mirelle – 6° Período Endocrinoped – 13/11/2021 capacidade antitrombótica e anti-inflamatória, protegendo o leito vascular contra aterogenese. OBS: Ainda precisamos conhecer mais o HDL, quando formos falar em tratamento iremos ver que eles podem reduzir LDL ou triglicerídeos. Existem drogas que aumentam, mas como o colesterol aumenta risco cardiovascular, ao utilizar esses medicamentos não tinha melhora de HDL, sendo assim continuava com a mesma frequência de antes. Logo, HDL bom é o que é produzido naturalmente. O efeito reverso ele traz a gordura do órgão para o fígado para ser metabolizado, então enquanto o LDL leva do fígado para ser armazenado nos vasos sanguíneo, coração e outros, já o HDL ele traz esses para serem metabolizados no fígado, funcionando como se fosse um ‘’limpador’’. OBS: O colesterol total não é um bom parâmetro para observar risco cardiovascular. Devemos entender como isso está distribuído, devemos ver o que tem mais a ver com aterogenicidade em desenvolver as placas gordurosas. OBS: O triglicerídeos não tem tanto o papel de desenvolver,então hoje o tratamento do excesso do triglicerídeos é muito menos usado do que era antigamente. CLASSIFICAÇÃO CLASSES DE DISLIPIDEMIA NA INFÂNCIA 1. Dislipidemias de causas genéticas (primária) Estão muito presentes no nosso dia a dia, mas subestimamos. 2. Dislipidemia secundária a doença crônica Aumenta o risco de dislipidemias e temos alguns medicamentos que contribui para essa dislipidemia. Também temos aquelas que são associadas ao estilo de vida, que geralmente ela tem muito haver com HDL baixo e triglicerídeos elevado. Dislipidemias secundárias a endocrinopatias - Hipotireoidismo ▪ LDL elevado (diminuição da sua depuração provavelmente por menor expressão do receptor hepático de LDL) ▪ Hipertrigliceridemia (menor atividade da lipase lipoproteica) ▪ HDL inalterado ou baixo - Diabetes ▪ LDL elevado (partículas pequenas e densas que são mais aterogênicas) ▪ Hipertrigliceridemia (menor atividade da lipase lipoproteica) ▪ HDL baixo ▪ Obs: buscar LDL <50 Patologias associadas à dislipidemia na infância e adolescência - Síndrome dos ovários policísticos (provavelmente por conta da insulina) - Doenças hepática gordurosa não alcoólica - Doenças renais (síndrome nefrótica, IRC) - Lipodistrofia: A Lipodistrofia generalizada é uma desordem do metabolismo dos lipídios e carboidratos caracterizada clinicamente por graus variáveis de redução de gordura nos tecidos adiposo. As células adiposas são escassas e apresentam volume reduzido devido a sua incapacidade de armazenamento de lipídeos. Há dislipidemia (elevação de triglicérides, redução do HDL, podendo haver elevação do colesterol total e do LDL). - Síndrome de Cushing: Hipercortisolismo. Associado com dislipidemia, as alterações do metabolismo lipídico mais comuns são a elevação do LDL-colesterol, a hipertrigliceridemia e a redução do HDL-colesterol. Este perfil lipídico, extremamente aterogênico, contribui, junto com a intolerância à glicose e a hipertensão arterial sistêmica, para o aumento do risco cardiovascular. 3 Keyse Mirelle – 6° Período Endocrinoped – 13/11/2021 - Doença de Kawasaaki: Trata-se de vasculite aguda e multissistêmica que compromete vasos de médio calibre. É mais frequente em crianças, principalmente com menos de cinco anos, porém há relatos na literatura de casos em adultos. 3. Dislipidemia associada a medicamentos Secundário ao uso de medicações Medicações: ▪ Glicocorticoides ▪ Estrógeno oral ▪ Esteroides anabolizantes ▪ Retinoides (isotretinoína, por isso que muitos quando vão tratar acne pede-se exames) ▪ Álcool (leva principalmente triglicerídeos) ▪ Antipsicóticos (clozapina, olanzapina) 4. Dislipidemia associada ao estilo de vida Como tratar a dislipidemia: - Mudanças do estilo de vida ▪ Atividade física (60 minutos/dia) ▪ Dieta ▪ Fibras OBS: Dieta (hipercolesterolemia): Restrição de gordura deve ser evitada em crianças com menos de 12 meses de idade (crescimento e desenvolvimento intenso e maior necessidade calórica); Colesterol total elevado (Gorduras 25 a 30% do total de calorias, menos 10% saturada e max 300 mg/dia de colesterol); LDL aumentado (menos 7% gordura saturada e menos 200 mg de colesterol). OBS: Devemos ter cuidado principalmente com as crianças, porque está em uma fase de crescimento e desenvolvimento e a gordura nesse caso é importante. CASO CLÍNICO CASO 1 Nosso paciente possui uma dislipidemia por conta do valor do colesterol total, LDL, HDL. Ele tem somente LDL aumentado, então é uma hipercolesterolemia isolada. Ele então só tem colesterol elevado e não tem triglicerídeos, logo esse colesterol elevado é às custas de LDL. É uma dislipidemia primária, pois ele parece ser saudável e não tem nada que fale que seja secundária. Logo, ele tem uma hipercolesterolemia familiar. VALORES DE NORMALIDADE Na imagem abaixo temos os valores aceitáveis do colesterol: 4 Keyse Mirelle – 6° Período Endocrinoped – 13/11/2021FÓRMULA DE FRIEDEWALD Obs: essa formula é para calcular o LDL, mas não pode ser utilizada quando os triglicerídeos estão muito elevados. É pouco calculado na prática, porque normalmente no exame já se vem calculado ou ele já vem dosado. LDL Col= colesterol total -HDL-TG/5 A fórmula não pode ser usada para TG>400 HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR Geralmente ela tem herança dominante e o gene associado é do receptor do LDL, mas também existem outros estudos com Apo B100 defeituosa familiar que vai alterar a Apo B100 e tem também a hiperlipemia combinada familiar que tem o gene desconhecido e é dominante. 1. Hipercolesterolemia familiar: Distúrbio autossômico dominante – mutação no receptor do LDL (principalmente) Aumento do LDL de 2-3 vezes em heterozigotos e 06 vezes em homozigotos CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ▪ Presente desde o nascimento ▪ Hipercolesterolemia com triglicérides normais ▪ DAC (=doença arterial crônica) precoce na família Obs: A hipercolesterolemia familiar aumenta o risco do paciente infartar. ▪ Xantomas tendinosos em até 75% (pode estar presente principalmente em homozigóticos, é como se fosse um carocinho, mas na verdade acontece no tendão e tem predomínio de gordura). ▪ Xantomas tuberosos ▪ Xantelasmas Obs: Não são dolorosos porque são de gordura. E quando melhora o nível de colesterol ele também costuma melhorar. ▪ Arco corneano prematuro (raro de ver, casos avançados) OBS: Devemos tratar o risco e não o colesterol, pois as vezes o paciente vai no medico e faz uso de medicamento só por um período e melhora, depois acontece a mesma coisa. 5 Keyse Mirelle – 6° Período Endocrinoped – 13/11/2021 Então, o que importa mesmo é tratar o risco para evitar o óbito, por isso o uso do medicamento deve ser continuo. FATORES DE RISCO História familiar: pais, avós ou tios com história de angina, IAM, revascularização, ou morte súbita antes dos 55 anos para os homens e 65 em mulheres. Pais com CT acima e 240 mg/dL. Obs: A triagem é muito importante. Porque se o paciente tiver um LDL >190 devemos ficar atento. Fatores de risco: HAS em tratamento, tabagismo, IMC acima do 97 percentil, DM1 ou 2, transplante cardíaco, doença renal crônica e transplante renal. Quando investigar ▪ Crianças com antecedentes familiares de doença cardiovascular (triagem seletiva): 2 a 8 anos ▪ Triagem Universal: 9 a 12 anos - A triagem universal é justificada por ser uma alteração silenciosa, elevada frequência deste distúrbio na população, a evolução com eventos cardiovasculares de alta mortalidade em adultos jovens e as mudanças de estilo de vida e o uso de medicações podem atenuar os riscos. Suspeita diagnóstica CT >230 e LDL>160mg/dL (2=20 anos) CT>260 e LDL>190 mg/dL (<20 anos) OBS: CT (= colesterol total) Há concentrações de TG muito elevados, a hipertrigliceridemia familiar grave tem uma frequência estimada em 1 caso para cada 100.000 indivíduos. Mutação dos gens relacionados à lipase lipoproteica ou Apo C2. Risco de pancreatite aguda deve ser considerado. OBS: Triglicerídeos >600 tem um risco de pancreatite. Obs: acima de 400 de triglicerídeos devemos tratar, não pensando em uma melhora de risco cardiovascular, mas sim pensando em um caso de pancreatite aguda que pode se complicar. OBS: Normalmente o LDL elevado tem mais a ver com a genética do que a dieta. Por exemplo, as vezes pegamos um LDL de 200 e melhoramos a dieta desses, mas geralmente só melhora o LDL >20%, sendo assim com dieta e atividade física vamos conseguir colocar esse LDL menor que 240. O mesmo já não ocorre nos triglicerídeos tem relação direta com dieta e álcool, logo deixar de lado funciona. CASO CLÍNICO 2 Nossa paciente tem um percentil para a idade dela, está com colesterol total e LDL aumentado, HDL bom, triglicerideo um pouco elevado, TSH. Na imagem acima, temos uma hiperlipidemia mista. Logo tem uma dislipidemia secundaria, devido ao hipotireoidismo, sendo esse uma das grandes causas da dislipidemia quando não tratado. 6 Keyse Mirelle – 6° Período Endocrinoped – 13/11/2021 LEMBRETE !!! TODAS AS VEZES QUE TIVERMOS UM PACIENTE ADULTO COM COLESTEROL ALTO É MUITO IMPORTANTE DOSAR O TSH, POIS ELE FAZ PARTE DO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL. AS VEZES ACONTECE DE TRATAR O PACIENTE E NÃO SE DESCOBRE QUE ELE TEM HIPOTIREOIDISMO. E AO TRATAR O HIPOTIREOIDISMO JÁ IREMOS TRATAR O COLESTEROL TAMBÉM. TRATAMENTO Tratamento não medicamentoso para tratar hipertrigliceridemia Diminuição da ingesta e carboidratos simples Aumento da ingestão de ômega 3 (peixes e suplementos de ômega 3) Redução da ingestão de gorduras - Remoção dos agentes causais - Tratamento das doenças subjacentes (exemplo as doenças citadas anteriormente) - Em casos graves, medicamentos específicos Tratamento medicamentoso da hipercolesterolemia Após um período de terapêutica não medicamentosa sem sucesso, o uso da medicação deve ser avaliada nos seguintes casos: 1. Crianças >02 anos com LDL>190 mg/dL 2. Crianças >02 anos com LDL>160 mg/dL + FR (fator de risco para doença cardiovascular) 3. Crianças >02 anos com LDL>130 mg/dL + DM (diabetes mellitus) Tratamento medicamentoso da hipercolesterolemia 1. Mudanças do estilo de vida ▪ Crianças >02 anos e <06 anos: colestiramina ▪ Crianças >02 anos e <06 anos: colestiramina e ezetimiba ▪ Crianças >10 anos: colestiramina e estatinas Como tratar (Hipercolesterolemia) Estatinas: Inibição da hidroximetilglutaril-CoA redutase, as estatinas diminuem a síntese endógena do colesterol com consequente elevação do LDLc, aumento da captação de colesterol circulante e diminuição da resposta inflamatória. OBS: Existem várias estatinas e elas variam entre si no grau de potência, mas tem o mesmo mecanismo de ação. Ela diminuiu a mortalidade por causas cardiovasculares de forma importante. OBS: Nas pessoas que tem intolerância deve ter um pouco mais de dores musculares. Vamos então dosar CCK, se tiver realmente doendo muito devemos pensar em mudar os tipos de estatinas e se não for possível pensaremos em uma outra medicação. Sequestradores de ácidos biliares: ligam-se aos ácidos no intestino delgado diminuindo sua absorção, com consequente redução dos sais biliares no fígado. O uso maior do colesterol celular idiopático para manter a produção destes sais leva a um aumento dos receptores de LDL e à utilização do LDL circulante. Ezetimiba: Age na proteína Niemann-Pick C 1-like (NPC1L1) na membrana apical do enterócito, inibindo seletivamente a absorção do colesterol no intestino delgado, em especial o colesterol biliar. Ela é uma medicação mais nova, se não conseguir bom resultado pode associar com outro medicamento. Fibratos: promovem aumento da atividade da enzima lipase lipoproteica e redução da síntese da Apo CII, o que em conjunto, aumenta o clearence de lipoproteínas ricas em triglicérides na circulação. Eles melhoram os triglicerídeos, então ele é a primeira opção quando se tiver um triglicerídeos > 500, 600, 900, com finalidade de diminuir o risco de pancreatite. Os ácidos ômega 3 são poli-insaturados derivados do óleo de peixe, de algumas plantas e de nozes. Em altas doeses (4 – 10 gramas ao dia), reduzem os triglicerídeos e aumentam de forma discreta o HDL colesterol.
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