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Apostila_saude ambiental e Epidemiologia
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estudos atuais sobre a influência do aqueci- mento global sobre a vida no planeta nos faz lembrar o que os pesquisadores do século XVII diziam sobre estranhas alterações nas entranhas da terra que con- taminavam a atmosfera fazendo as pessoas adoecer. Epidemiologia e Saúde Ambiental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 regular das atividades cotidianas, isto é, o surgimento da doença. Um exemplo da aplicação dessa teoria é dado por Martins et al. (1987), que demonstrou o vínculo entre as baixas condições sociais e eco- nômicas (que privam os indivíduos do acesso a bens fundamentais de consumo, como alimentos e moradia digna) e o maior risco de ocorrência de anemia ferropriva em gestantes. A condição bio- lógica da gestação isoladamente não determina a ocorrência desse tipo de anemia, cabendo ao desgaste social a condição favorecedora de seu desenvolvimento. O entendimento da determinação social do processo saúde e doença está expresso na defi- nição de saúde no art. 196 da Constituição Fede- ral do Brasil, que afirma: “A saúde é um direito de todos e um dever do estado garantido mediante políticas sociais que visem a redução do risco de doenças e agravos e ao acesso universal e iguali- tário às ações e serviços de proteção promoção e recuperação”. Além da convicção da razão pela qual as pessoas adoecem, a explicação desse processo passo a passo também ocupou e ainda ocupa os estudiosos. Desses estudos, emergem as estraté- gias para o enfrentamento das causas do adoeci- mento ou de intervenção sobre o processo pro- priamente dito. Para explicar a ocorrência da doença, são utilizados modelos que representam as relações e os fatores envolvidos na sua produção. A seguir, você conhecerá os principais modelos explicati- vos do processo saúde e doença. Modelo Biológico ou Biomédico é aque- le que está centrado no processo fisiopatológico estrito, portanto nas alterações das estruturas e funcionamento do corpo. No Modelo Biomédico, a doença é entendida como falha nos mecanis- mos de adaptação do organismo, então se aplica a todas as espécies e deve ser analisado exclusi- vamente em termos biológicos. Utilizando como exemplo a anemia ferropriva em gestantes citada no item anterior, o Modelo Biológico restringe a explicação de sua ocorrência nos passos da fisio- patologia da anemia, mostrando que o risco fica sobremaneira aumentado durante a gestação, porque ocorre a redução drástica das reservas de ferro da mulher devido não somente ao cresci- mento fetal e placentário, como também ao au- 1.2 Os Modelos de Explicação do Processo Saúde e Doença mento do volume sanguíneo corporal, próprio da gravidez. No Modelo Biológico, algumas definições e classificações são bastante importantes, como, por exemplo, a natureza do determinante da doença, o seu tempo de evolução, a manifestação de seus sinais e sintomas. Assim, se uma doença é causada pela pe- netração, instalação e reprodução de um agente etiológico vivo (bactéria, vírus ou fungo), ela re- sulta em uma infecção e, ao apresentar sinais e sintomas no organismo infectado, estamos dian- te de uma doença infecciosa. Em uma doença in- fecciosa, o agente vivo causador dela pode ser ou não transmitido a outra pessoa não infectada an- teriormente, a quem chamamos suscetível. Se o agente for transmitido a outra pessoa, a doença será classificada como infecciosa e transmissível. Se a transmissão for direta, pessoa-pessoa, por via respiratória, por fluidos corporais, como sangue, saliva ou outros, chamamos a doença infecciosa, transmissível e contagiosa. Quando a transmissão do agente etiológi- co vivo acontece com a mediação do ambiente, dizemos que a doença é infecciosa, transmissível e não contagiosa. Para ficar mais claro, vamos exemplificar: o sarampo, a caxumba e a rubéola são doenças Hogla Cardozo Murai Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 infecciosas, transmissíveis e contagiosas, porque em cada uma delas o vírus responsável passa de uma pessoa doente para outra suscetível pela res- piração ou por gotículas de saliva. Já na dengue, o vírus causador só é transmitido de um doente para um suscetível com a participação do mosqui- to Aedes aegypti, que recolhe o vírus de um doen- te ao sugar-lhe o sangue e o injeta no suscetível, na continuidade de sua prática alimentar. Nesse caso, a transmissão não ocorreu diretamente de um doente para um suscetível; eles nem precisam se conhecer ou ter estado juntos. O mosquito é o responsável pela intermediação. Nesse processo de transmissão, o mosquito tem a função de vetor do agente etiológico. Em outras situações, o agente infeccioso pode ser transmitido por um elemento inani- mado da natureza. Um exemplo é o tétano. A bactéria causadora está disponível no ambiente, principalmente em metais enferrujados ou na terra úmida. Quando colocado em contato com a pele rompida de um suscetível, o agente etio- lógico se instala, se reproduz e passa a produzir toxinas responsáveis pelo desencadeamento da doença. Nesse caso, a in- termediação da infecção foi realizada pelo solo ou pelo metal oxidado, que representam o veículo na transmissão indireta. Só para lembrar: os vetores são intermediários vivos e os veículos são interme- diários inanimados. Em relação ao período de evolução da doença no Modelo Biológico ou Biomédico, é denominado período de incubação o tempo de- corrido entre a infecção e o aparecimento dos sintomas. Período de transmissibilidade é definido como o tempo em que o agente etiológico vivo é transmitido. Tanto o período de incubação quan- to o de transmissão são variáveis entre os diferen- tes agentes etiológicos. Outras características dos agentes etiológicos vivos e dos suscetíveis que podem influenciar e ou modificar a apresentação das doenças são descritas detalhadamente nos li- vros de Epidemiologia. Ainda de acordo com o Modelo Biomédi- co, as doenças podem variar dependendo das características do agente etiológico (agente vivo causador da doença). Os agentes podem ter: ca- pacidade maior ou menor de penetração e mul- tiplicação no organismo suscetível, denominada infectividade; diferentes capacidades de, uma vez instalados no organismo, produzir sintomas, denominadas patogenicidades; a capacidade de produzir casos graves ou fatais, chamada de vi- rulência; e a capacidade de induzir imunidade no indivíduo após o adoecimento, denominada imunogenicidade. Essas características do agente etiológico somadas às características dos indiví- duos, incluindo seu status de suscetibilidade ao agravo, determinam diferentes comportamentos das doenças e agravos no meio ambiente. Se a doença não tem a participação de um agente etiológico vivo, mas da ação de um ou mais fatores determinantes, individuais ou am- bientais, dizemos que se trata de uma doença não infecciosa. São exemplos de doenças não infeccio- sas as alergias, a artrose, o tabagismo, entre outras. No que diz respeito à duração, as doenças são classificadas em agudas, quando em curto espaço de tempo evoluem para um desfecho final (cura ou óbito), e crônicas, quando têm longa duração, podendo ou não ter cura. Modelo Processual é aquele que conside- ra as relações mais amplas com o meio ambiente, incluindo as relações sociais. O exemplo mais co- nhecido desse modelo é o da história natural das doenças, de Leavell e Clark (1950), definido como o “conjunto de processos interativos que cria o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte.” AtençãoAtenção Os modelos explicativos do processo saúde e doença têm a virtude de apresentar os elemen- tos de