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INTERPRETAÇÃO DO DIREITO À LUZ DA TEORIA DE RONALD DWORKIN SUMÁRIO: Introdução; 1 Tipos de interpretação sob a explanação de Ronald Dworkin; 2 O conceito interpretativo do direito como Romance em cadeia; 3 Interpretação do direito versus invenção do direito; 4 A interpretação do direito à luz da teoria de Ronald Dworkin; Conclusão; Referências. RESUMO Abordagem analítica acerca do conceito de interpretação do direito segundo os fundamentos de Ronald Dworkin, diferentes concepções de interpretação aludidas pelo mesmo autor e como o caráter de integridade do direito através de uma interpretação construtiva vai constituir uma teoria que melhor justifica o conceito de direito. PALAVRAS-CHAVE Dworkin. Interpretação. Integridade. ABSTRACT Approach analytical about the concept of interpretation of the law on the grounds of Ronald Dworkin, different conceptions of interpretation by the same author and as the character integrity of the law through a constructive interpretation will be the best theory that explains the concept of law. KEY-WORDS Dworkin. Interpretation. Integrity. Introdução O objeto de estudo deste artigo é a teoria desenvolvida por Ronald Dworkin acerca de seu conceito de interpretação, esta teoria propõe aos operadores do direito encontrarem uma resposta correta mesmo para os casos complexos. A teoria do aludido autor refuta a teoria da discricionariedade do juiz e defende a interpretação construtiva como forma de dar continuidade a um conceito interpretativo de direito, fazendo uma alusão do direito à literatura, um romance em série ou Romance em cadeia, e não uma elaboração de um novo direito. 1 Tipos de interpretação sob a explanação de Ronald Dworkin Dworkin apresenta diferentes concepções interpretativas para atingir sua teoria geral de interpretação, atingindo, inclusive, campos teóricos distintos do direito . O primeiro tipo de interpretação, a mais conhecida, segundo o referido autor, é a conversação, que se concebe quando se interpreta os sons ou sinais emanados por uma ou mais pessoas; a segunda concepção é a científica, cuja interpretação é adquirida a partir da coleta de informações, o conteúdo do objeto estudado se restringe apenas ao que consta nos dados; a próxima interpretação é a artística, considerada por Dworkin “algo criado pelas pessoas como uma entidade distinta delas”; por conseguinte, a interpretação criativa, a qual Ronald Dworkin entende englobar a interpretação artística e que consiste na pretensão de decifrar a intenção do autor; finalmente, tem-se a interpretação construtiva, teoria que deriva da interpretação criativa e que objetiva tornar o objeto analisado em melhor conceito possível da forma ou gênero a qual pertence . 2 O conceito interpretativo do direito como Romance em cadeia Dworkin edifica um modelo interpretativo intitulado Romance em cadeia , tal modelo implica na idéia que diferentes escritores têm a tarefa de elaborar um roteiro. Nesse ínterim, é responsabilidade de cada um deles compor uma parte de um roteiro inacabado, prevalecendo a idéia de conjunto, objetivando um resultado integrado. Acerca deste modelo, dar-se-á o seguinte enfoque: Na interpretação desse material em cadeia, Dworkin pressupõe que devam existir dois níveis de exigência: o primeiro referente à adequação, e, o segundo, voltado para a interpretação. Ambos são dimensões de avaliação do texto. No primeiro avalia-se a integração do escritor à elaboração da trama, o seu grau de envolvimento, o poder explicativo geral da obra e a verificação se, como romancista, cumpriu sua missão. A segunda, num sentido mais amplo, demandará do roteirista a escolha da interpretação que melhor reflita a intenção do texto. Como diz Dworkin, as duas fases não apresentam distinções profundas; apenas se procura oferecer estruturação à teoria funcional ou ao estilo de qualquer intérprete. Se, como método, o romance em cadeia pretende demonstrar como se dá a participação do escritor (juiz) em contínuo processo de elaboração literária com outros escritores, como finalidade, atentando-se para o âmbito jurídico, essa concepção em forma de romance pretende demonstrar o produto final, a decisão em si . Torna-se indispensável uma instância interpretativa, assegurando possibilidades além de uma norma jurídica que norteia um caso concreto, concluindo-se que a decisão judicial será mais segura e adequada quanto mais se obter informações fáticas e conceitos interpretativos. 3 Interpretação do direito versus invenção do direito Ronald Dworkin constrói a concepção do direito como forma de arte equivalente ao romance, enfatizando seu caráter interpretativo e não inventivo, os operadores jurídicos como romancistas podem dar prosseguimento ao caso contido em mãos, atentos a atuação anterior sobre o caso abordado, sem estabelecerem novos direitos. Abordando a filosofia de Dworkin, taxativa sobre a questão da discricionariedade do juiz diante de casos difíceis, entende-se: Ao permitir a escolha, pelo juiz, entre critérios que um homem razoável poderia interpretar de diferentes maneiras, propondo, ao mesmo tempo, a existência de um dever legal do juiz de analisar de modo mais abrangente as fontes da lei, inclusive no que toca a princípios não convencionais; torna a lei capaz de alcançar mesmo casos difíceis, fornecendo a esses casos critérios mais objetivos do que o mero recurso à discricionariedade em sentido forte. Torna, ainda, a lei capaz de alcançar casos difíceis, sem retirar do juiz a discricionariedade em sentido fraco . Tomando o direito como integridade como solução para obter respostas no ordenamento jurídico, Dworkin discorre sobre a negatividade do juiz pragmático que deve considerar a legislação vigente assim como os princípios, se abstendo de inventar o direito . 4 A interpretação do direito à luz da teoria de Ronald Dworkin É entendimento de Dworkin a construção da prática jurídica como a elaboração de um romance em série. Tal perspectiva aduz um direito como integridade, o qual vai atingir afirmações jurídicas como conceitos interpretativos voltados para o passado e ao futuro simultaneamente. Os operadores jurídicos, ao interpretarem o direito como integridade, fixam e identificam direitos como se estes consistissem em criações de um único autor. Essa exigência torna-se necessária uma vez que as proposições jurídicas têm validade quando advêm dos princípios de justiça, equidade e devido processo legal, oferecendo a melhor interpretação do direito . Partindo do pressuposto que o direito se torna mais eficiente ao interpretá-lo da melhor forma possível, Dworkin entende que o objetivo da prática jurídica não tem o mesmo caráter explanatório de uma interpretação histórica, vejamos: O Direito que interpretamos não é o fazer de nenhum grupo determinado de pessoas. É o fazer de toda uma sociedade ou civilização num longo período de tempo, por séculos até. Então, fazer o melhor de nossa tradição jurídica significa algo muito diferente de fazer o melhor da interpretação histórica. Significa, acredito eu, fazer o Direito tão justo quanto possamos. Isso é o que significa acuidade em interpretação jurídica. Eu disse que nós temos por objetivo fazer do objeto da interpretação o melhor que ele puder ser. Mas isso é apenas um mote, um slogan, que resume o estudo mais longo que acabei de apresentar. Significa fazer o melhor dele, tendo em vista aquilo que acreditamos ser a visão correta da finalidade desse empreendimento em questão. É claro que, como eu disse, os advogados discordarão a respeito do que significa, em detalhes, fazer do Direito, torná-lo, o mais justo possível. A própria visão de vocês se refletirá sobre sua visão mais concreta acerca do propósito, da finalidade, do Direito, e também sobre o que é justiça. Então, para retomar o que disse antes, se vocês acham que a finalidade do Direito é a certeza, então vocês fazem o melhor do Direito fazendo dele, tomando-o,o mais certo possível. Se vocês pensam, como eu, que a finalidade do Direito é fazer do nosso governo um governo de princípios, então vocês acharão que fazer o melhor do Direito é assegurar a ele um caráter mais substantivo. Isso significa fazer o melhor do ponto de vista da integridade do Direito, torná-lo o mais íntegro possível . O intérprete, principalmente o juiz, deve fazer prevalecer o ideal de integridade do Direito, para Dworkin, o direito não é apenas uma questão de fato, mas é principalmente uma questão interpretativa. Dessa forma, quando as pessoas divergem sobre o sentido do direito, normalmente não estão divergindo sobre os fatos, mas sobre o que o direito deve ser, tornando pertinente a idéia de que o direito é um projeto político para uma determinada comunidade que se vê como uma associação de homens livres e iguais. Os aplicadores devem agir de forma coerente sobre as decisões passadas e as decisões presentes, a partir dos princípios da igualdade e liberdade, como se os juízes prosseguissem uma obra coletiva . Acerca de interpretação construtiva, pelas palavras de Carlos Alberto Menezes, vale ressaltar: Na oportunidade, divergindo da argumentação da maioria, anotei ser sempre fascinante acompanhar a vitalidade da interpretação construtiva dos Tribunais. A hermenêutica ganha hoje sempre mais vigor diante da rapidez com que a realidade social se transforma, mas, afirmei que o trabalho de interpretação, por maior amplitude que possa ter, não tem, na minha avaliação, condições de ultrapassar a lei. A lei impede que o Juiz julgue como se fosse livre o direito ou como se estivéssemos sob o regime da equity. É claro que poderá haver em muitas ocasiões necessidade de compatibilizar a realidade com a lei, particularmente quando a lei está envelhecida no tempo. E, nesse momento, o limite da lei deve ser aferido com a presença do princípio da razoabilidade. E, ainda, considerei que, no caso, não era possível interpretar além do limite da lei, que é expressa e tem motivação certa. Nesse caso, a Corte fez uma interpretação construtiva, socorrendo-se da força da realidade, da modificação da sociedade, do avanço da ciência repercutindo na organização jurídica da sociedade . Dworkin refina o conceito de interpretação construtiva alterando sua natureza para um instrumento apropriado ao estudo do direito enquanto prática social. Estabelece-se uma distinção analítica entre as fases de interpretação apresentadas pelo referido autor, quais sejam, as três etapas de interpretação observando os diferentes graus de consenso necessários para cada fase de interpretação. São as etapas: pré-interpretativa, onde são identificados regras e padrões já utilizados; uma etapa interpretativa, onde se busca uma justificação geral para as regras e padrões identificados na etapa pré-interpretativa; e uma etapa pós-interpretativa, onde ajusta a prática identificada na etapa pré-interpretativa com a justificação da etapa interpretativa . Sobre discricionariedade na pratica jurídica e conceitos de interpretação, Emília Simeão Albino Sako analisa que o juiz possui certo grau de liberdade para interpretar, para qualificar a prova, para decidir sobre a lei aplicável e, a decisão que profere não se contrapõe a outra como sendo a melhor, como sendo a mais correta. Isso não significa que tenha ampla e irrestrita liberdade de ação. Liberdade para interpretar não pressupõe o exercício de um poder discricionário, fora do controle da lei ou das partes. Até mesmo nos casos trágicos em que o juiz tem plena autonomia para decidir em favor de um ou outro interesse em conflito, sua decisão não é discricionária . A liberdade de interpretação não vai significar discricionariedade, porque a decisão deve, necessariamente, graduar-se na moldura legal, ou seja, tem de estar fundamentada nos elementos que compõem o sistema jurídico. Além disso, tem de ser adequada, justa e racional, segundo padrões razoáveis exigidos pela sociedade; deve atender as finalidades do direito, com vistas a obter uma uniformidade, e estará sempre sujeita a controle, pelas partes do processo e pela sociedade . Conclusão Acerca da teoria jus filosófica de Dworkin extrai-se o pensamento que diante de questões interpretativas, a concepção de interpretação construtiva dworkiniana é a que melhor define o que seja o direito, qual seja, o direito como integridade. Afirmando que o direito é um conceito interpretativo , os juízes devem decidir lançando mão do modo usual como os outros juízes decidiram o que é direito, visto que as teorias gerais do direito representam interpretações gerais da prática jurídica existente , vigorando, dessa forma, um caráter construtivo do direito, pressupondo continuidade e conjunto.
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