Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Profª Anapaula Vinagre SISTEMA SENSORIAL 5.1. Introdução O sistema nervoso sensorial é formado por: receptores sensoriais, fibras nervosas ascendentes (aferentes), neurônios que modulam a informação sensorial e áreas específicas dentro do sistema nervoso central, envolvidas no reconhecimento de cada tipo de estímulo. • Receptor Sensorial: É uma célula ou um grupo de células nervosas altamente especializadas, capazes de detectar estímulos e transformá-los em impulsos nervosos. Este processo é chamado de TRANSDUÇÃO. Cada receptor sensorial é específico para um tipo de estímulo. Por exemplo, os fotoreceptores são sensíveis apenas à luz, não captando outros tipos de estímulos. • Fibras Aferentes: As fibras nervosas aferentes podem ser ou não mielinizadas, o que modifica a velocidade de condução dos impulsos nervosos sensoriais. Um outro fator que influencia na velocidade de condução é o diâmetro da fibra, quanto maior o diâmentro, mais rápido o impulso é conduzido. • Sensação: É o reconhecimento de um estímulo. • Percepção: É a interpretação das sensações. A sensação é um processo primário enquanto a percepção envolve a comparação, discriminação e integração de muitas sensações. Exemplo: quando tomamos conhecimento de que um certo estímulo está sendo aplicado sobre a pele é uma sensação. Quando identificamos que o agente estimulante é uma moeda, é uma percepção. • Modalidade Sensorial Cada tipo de estímulo é detectado por um receptor sensorial específico. De forma que para cada modalidade sensorial existe uma "via" específica encarregada em detectar e analisar o estímulo, produzindo uma resposta ou reação apropriada. 5.2. Classificação dos Receptores Sensoriais - Classificação Pelo Tipo de Estímulo: • Mecanorreceptores: detectam distorções mecânicas. Exemplos: corpúsculo de Paccini, receptores auditivos. • Quimioreceptores: detectam estímulos químicos. Exemplo: papilas gustativas, epitélio olfativo. • Termoreceptores: detectam mudanças na temperatura da pele. Ex.: termoreceptores para o frio, termoreceptores para o calor. • Fotoreceptores: sensíveis aos fótons de luz. Ex.: cones e bastonetes na retina. - Classificação pela Função: • Exteroceptores: respondem a estímulos cutâneos. Ex.: Corpúsculo de Paccini, termoreceptores. • Proprioceptores: detectam a posição de diferentes partes do corpo. Ex.: fuso muscular. • Interoceptores: sensíveis a estímulos dentro do corpo. Ex.: barorecrptores arteriais, quimioreceptores carotídeos. • Teleceptores: respondem a estímulos originados a uma certa distância do corpo. Ex.: fotoreceptores, mecanoreceptores auditivos. - Classificação Clínica: • Superficiais: localizados na pele. Ex.: tato, pressão. • Especiais: localizados na cabeça e órgãos complexos, regulados pelos nervos cranianos. Ex.: visão, audição, equilíbrio, olfato • Profundos: localizados nos músculos esqueléticos, tendões, articulações e ossos. Ex.: propriocepção. • Viscerais: localizados nas vísceras. Ex.: dor visceral. - Classificação pela origem embrionária: • Somáticos: derivados da pleura somática. Ex.: receptores cutâneos e musculares. • Viscerais: derivados da pleura visceral. Ex.: receptores do trato gastrointestinal. 5.3. Regulação dos Receptores Sensoriais • Adaptação dos Receptores Quando um estímulo é prolongado ou se repete constantemente, observa- se que a sensação apresenta uma resposta máxima logo no início da estimulação e, após algum tempo, diminui um pouco, podendo atingir um nível estacionário (um platô). Este componente que diminui com o tempo é chamado de fásico (dinâmico, adaptante) e o fenômeno é chamado de "ADAPTAÇÃO". O componente que permanece após a resposta fásica é chamado de tônico (estático). Quando uma pessoa mergulha na água fria, imediatamente tem a sensação de frio intenso. Mas, após alguns minutos, a água não parece mais tão fria embora a sua temperatura não tenha alterado. Na verdade, após alguns minutos, os termoreceptores se adaptam e a pessoa se acostuma com a água. Isto é um exemplo de adaptação sensorial. Alguns tipos de sensação se adaptam logo enquanto outras demoram mais; por isso, quanto ao tempo até a adaptação, podemos dividir as sesações em: • Sensação de adaptação rápida: Tem um componente fásico intenso e um componente tônico fraco ou curto. Ex.: toque suave na pele, olfação. • Sensação de adaptação lenta: Permanece constante por mais tempo, tem os dois componentes. Ex.: receptores auditivos. • Sensação não-adaptável: Somente possui o elemento tônico. Ex.: dor e postura. • Modulação dos Receptores: A modulação pode ser definida como sendo uma mudança na eficiência da transmissão ascendente. A transmissão pode ser afetada por colaterais de outras modalidades sensoriais (inibição lateral, modulação periférica) ou por fibras descendentes (modulação descendente). Exemplo de modulação periférica: inibição na dor quando se pressiona a região (inibição da dor por estimulação das vias tácteis - inibição lateral). Exemplo de modulação descendente: supressão da dor quando um faquir está deitado em uma cama de pregos. 5.4. Principais Modalidades Sensoriais 5.4.1. Sensações Químicas A sensação química é considerada a modalidade sensorial mais antiga e mais comum, sendo encontrada desde organismos unicelulares como as bactérias. Os animais, incluindo o Homem, dependem de sensações químicas para identificar alimentos, substâncias nocivas e um potencial parceiro sexual. Os sentidos químicos mais conhecidos são o paladar e o olfato. Ao longo da evolução, os animais desenvolveram numerosos tipos de quimioreceptores, tanto voltados para a análise do meio externo quanto para o meio interno. Os quimioreceptores internos transmitem informações sobre a composição química do meio interno dos animais. No Homem, embora o paladar e o olfato sejam as sensações químicas mais comumente reconhecidas, quimioreceptores internos desempenham um papel importante para a homeostasia. Quimioreceptores na parede do estômago enviam sinais para o Centro do Vômito (Bulbo encefálico) quando ingerimos alimentos contaminados com toxinas e quimioreceptores na aorta e nas carótidas (artérias do pescoço) monitoram os níveis de O2 e CO2 no sangue, por exemplo. O olfato e o paladar possuem a mesma função: fazer uma análise química do meio ambiente. Estes sentidos trabalham em conjunto para a identificação do sabor dos alimentos. Também apresentam uma conexão forte e direta com as nossas necessidades mais básicas, tais como a sede, a fome, a emoção, o sexo, e certas formas de memória. • Gustação (Paladar) Como o Homem é um animal omnívoro (omnis = tudo, vorare = comer), a capacidade de saber distinguir as toxinas dos alimentos foi muito importante ao longo da evolução. Como muitos venenos são amargos, as substâncias amargas são instintivamente rejeitadas. Porém, a experiência pode modificar nossos instintos e podemos aprender a tolerar e até mesmo a apreciar certas substâncias amargas como o café, por exemplo. De uma forma simplificada, os diferentes sabores podem ser organizados em 5 tipos principais: doce, salgado, ácido (azedo), amargo e umami (delicioso em japonês). Em alguns casos, a correspondência entre a estrutura química e o sabor são óbvias: os sais são salgados e os ácidos são azedos. Porém, além dos glicídeos (açucares como a sacarose e a frutose), certas proteínas, alguns aminoácidos e os adoçantes artificiais também são doces. O aspartame, por exemplo, é 100.000 vezes mais doce que a sacarose (açúcar comum). Além do café, o quinino, o Mg+ e o K+ também são amargos. O íon K+ pode ser considerado salgado e amargo. O principal alimento de sabor umami é o tempero glutamato monosódico, muito comum na culinária japoneza. Outros aminoácidos, como o aspartato, também apresentam saborumami. Sensação gustativa: As sensações gustativas são captadas no interior de estrututas sensoriais chamadas papilas gustativas, localizadas na língua, palato, faringe e laringe. Na língua podem ser encontradas papilas filiformes (áreas laterais), valadas (região posterior) e fungiformes (meio e ponta). Cada papila é sensível a um determinado sabor e a região da ponta da língua, por exemplo, apresenta maior sensibilidade ao doce, seguida de papilas sensíveis ao salgado, ácido e ao amargo. No interior de cada papila são encontrados os botões gustativos (desde um até centenas), onde localizam-se as células quimioreceptoras gustativas. Cada pessoa possui cerca de 2000 a 5000 botões gustativos e cerca de 50 a 150 células gustativas em cada botão. Para identificarmos um determinado sabor, as moléculas sápidas devem ser diluídas na saliva para poderem penetrar pelo poro do botão. Após, as moléculas sápidas ligam-se a proteínas receptoras específicas na membrana das células gustativas, causando uma alteração na condutância da membrana que leva a formação do potencial receptor. Dentro de cada botão, as células gustativas são protegidas por células de suporte. As células gustativas não são consideradas neurônios, mas fazem sinapses com neurônios aferentes de alguns nervos cranianos. Cada célula gustativa vive cerca de duas semanas. Assim, o cérebro identifica o paladar pela proporção de estimulação das papilas gustativas. Via Gustativa: Os botões gustativos fazem sinapses com fibras aferentes dos nervos Vago (X), Facial (VII) e Glossofaríngeo (IX), que levam estas informações até o Núcleo Gustativo no Trato Solitário (Bulbo encefálico). O Núcleo Gustativo, por sua vez, transmite estas informações principalmente para o Núcleo VPM (Ventro – postero - medial) do tálamo, que as conduz para o Córtex Gustativo Primário (Área 43 de Broadmann) no Lobo Parietal. Lesões no VPM ou no córtex gustativo podem causar Ageusia, perda da percepção gustativa. O núcleo gustativo bulbar também transmite estas informações para outras áreas do tronco encefálico envolvidas no controle da deglutição, mastigação, vômito, digestão e respiração. • Olfação O olfato também é considerado como um sentido químico, pois consiste na identificação de outros gases misturados com o ar atmosférico. Pode trazer bons e maus sinais. Em conjunto com a gustação, ajuda-nos a identificar os alimentos tanto quando apresentam cheiro saboroso como quando apresentam cheiro ruim, o que é um indicativo de alimento estragado. Além de alertar sobre uma refeição ruim, o olfato também pode ser importante em situações de perigo, quando podemos sentir o cheiro da fumaça em um incêndio ou do escapamento de gás na cozinha. Ainda não se sabe exatamente quantos cheiros diferentes o Homem é capaz de identificar. Antigamente, os odores eram sub - divididos em 7 cheiros primários: canforado, almiscarado, floral, etéreo, pútrido, picante e mentolado. Mas quando pensamos em quantos perfumes diferentes existem.... Profissionais de indústrias de perfumes e bebidas alcoólicas, devido a grande prática, são capazes de distinguir cerca de 100.000 odores. O olfato é muito importante na comunicação dos animais, tanto entre indivíduos de uma mesma espécie como de outras. Os ferormônios, moléculas químicas liberadas pelos animais, participam de comportamentos reprodutivos, na demarcação de territórios, na identificação de indivíduos, na agressão e na submissão. No Homem, estudos recentes indicam a existência destas moléculas, porém a sua importância ainda não está esclarecida. Sensação Olfativa Para sentirmos um determinado odor ele deve ser volátil para chegar ao ponto recôndido das fossas nasais, onde localiza-se o epitélio olfativo. Este epitélio é constituído por 3 tipos de células: células de suporte (produzem muco), células basais (futuras células receptoras) e as células receptoras olfativas. Os quimioreceptores olfativos são neurônios com vida média de 4 semanas e que possuem apenas um dendrito longo que termina em uma dilatação na superfície do epitélio, de onde sai um tufo de cílios. As moléculas odorantes devem interagir com proteínas nas membranas dos cílios para desencadear o potencial receptor. Os axônios dos quimioreceptores olfativos atravessam a lâmina crivosa do osso e se reúnem no bulbo olfatório. Estes axônios são muito frágeis. Se a pessoa levar um soco no nariz, por exemplo, podem ser permanentemente lesados, levando à perda da capacidade olfativa, fenômeno denominado anosmia. Cada célula olfativa é sensível a um determinado tipo de cheiro. Já foram identificados 1000 tipos de células olfativas (as células são identificadas pelos tipos de proteínas receptoras encontradas em suas membranas). O tamanho do epitélio olfativo é um indicativo da habilidade olfativa de um animal. No Homem, a superfície do epitélio olfativo mede cerca de 10cm2 enquanto em alguns cães, pode ser de 170cm2. Isto explica a grande diferença entre o olfato humano e o do cão. Enquanto o Homem possui um péssimo olfato, o cão, assim como o rato, são exemplos de animais hiperósmicos, que possuem uma alta capacidade olfativa. Os quimioreceptores olfativos se adaptam facilmente. Na primeira exposição a um cheiro forte, a sensação pode ser muito intensa, mas dentro de cerca de um minuto, a sensação já começa a diminuir. Isto é uma adaptação muito importante, por exemplo, para pessoas que trabalham em ambientes pungentes. Via Olfativa Os axônios das células olfativas se reúnem nos bulbos olfatórios, de onde fazem conexão com os feixes olfativos. Os feixes olfativos podem ir para vários núcleos ao longo do tronco cerebral e hipotálamo ou para o córtex olfativo. O córtex olfativo divide-se em duas áreas: a área olfativa medial que tem projeções com o sistema límbico, sendo responsável por respostas afetivas aos odores e a área olfativa lateral, que controla reações mais complexas, aprendidas, em relação aos odores. Portanto, ao contrário dos outros estímulos sensoriais, os sinais olfativos passam pelo tálamo depois de passar pelo córtex. 5.4.2. Sensações Somáticas (Somestesia) O termo somestesia (soma = corpo, estesia = sensação) refere - se às sensações provenientes da superfície corporal e compreende as sensações de dor, tato, temperatura e postura corporal. Estas sensações, por sua vez, também podem ser sub – divididas. Todas estas sensações podem ser detectadas por receptores específicos espalhados pela pele, que pode ser considerado o maior órgão sensorial do corpo. • Tato Os receptores responsáveis pelas sensações tácteis são mecanorreceptores, pois reagem a estímulos mecânicos (pressão, flexão, estiramento, vibração, toque e aguilhonada) aplicados sobre a pele. Os mecanorreceptores reagem de forma distinta aos diferentes tipos de estímulos mecânicos e possuem campos receptivos com tamanhos diferentes. Os corpúsculos de Meissner e os discos de Merkel possuem campos receptivos pequenos enquanto os corpúsculos de Paccini e os de Ruffini possuem campos receptivos que podem cobrir um dedo inteiro ou metade da palma da mão. A capacidade de discriminar características detalhadas de estímulos varia muito ao longo do corpo, estando relacionada a quantidade de mecanorreceptores existentes em cada local. Uma forma simples de reconhecer este fenômeno é fazer o teste de discriminação entre dois pontos. A ponta dos dedos é o local com a maior capacidade de discriminação entre dois pontos, por isso é o local indicado para a leitura da Linguagem Braille. Principais tipos de receptores: 1. Corpúsculo de Paccini (TATO-VIBRAÇÃO) Localizado na derme reticular da pele glabra, pele hirsuta e no músculo, é o receptor mais estudado. Sua adaptação é a mais rápida de todos tipos de receptores. Devido a esta capacidade de resposta rápida, podemdetectar mudanças na velocidade do estímulo e codificar a sensação de vibração. 2. Terminações nervosas dos pêlos (TATO-VIBRAÇÃO LENTA) Localizados nas papilas da derme. São sensíveis ao tato e à vibração lenta, sendo utilizados para determinar a velocidade e a direção de um objeto se deslocando sobre a pele. São estimulados quando o pêlo é deslocado. Sua adaptação é rápida. 3. Corpúsculo de Meissner (TATO-VIBRAÇÃO LENTA) Localizados nas papilas da derme da pele glabra, principalmente nas pontas dos dedos, lábios e outros locais de alta sensibilidade táctil. São receptores de adaptação rápida e possuem campos receptivos pequenos. Podem ser usados para a discriminação entre dois pontos, localização precisa, batidas e vibração lenta (detector de velocidade). Segundo Guyton, são os receptores responsáveis pela capacidade do indivíduo reconhecer com exatidão que parte do corpo está sendo tocada e de reconhecer a textura dos objetos. São particularmente sensíveis ao movimento de objetos muito leves e à vibração de baixa frequência. 4. Discos de Merkel (TATO-PRESSÃO) Localizados nas epiderme da pele glabra. Sensíveis tanto ao tato como à pressão (detector de velocidade e de intensidade). São estimulados pela distorção da pele. Possuem campo receptivo pequeno e adaptação lenta. Reconhecem estímulos estáveis que permitem ao indivíduo discriminar o tato contínuo de objetos contra a pele. Estão agrupados em estruturas conhecidas como receptor de Cúpula de Iggo. 5. Terminações de Ruffini (TATO) Localizados na derme reticular da pele hirsuta. São sensíveis ao contato de objetos sobre a pele, sendo estimulados pela sua distorção. Possuem grandes campos receptivos e adaptação lenta. São importantes para o reconhecimento de estímulos intensos e contínuos de tato e pressão, causados pela deformação contínua da pele e de tecidos mais profundos. Também são encontrados nas cápsulas articulares, assinalando o grau de rotação da articulação. 6. Bulbos Terminais de Krause Situam-se nas regiões limítrofes entre pele e mucosas (p.e: ao redor dos lábios e da genitália). Vias do tato - Via lemniscal ou via do lemnisco medial (sistema do cordão dorsal): Os diversos receptores somáticos fazem contato com fibras aferentes que chegam na medula pelas raízes dorsais dos nervos espinhais e terminam na coluna dorsal do mesmo lado do corpo (ipsilateral). Os axônios da coluna dorsal dirigem-se ao núcleo da coluna dorsal, localizado na junção bulbo – medular. Os axônios que partem deste núcleo fazem uma curva e cruzam em direção ao tálamo, formando um feixe grosso de fibras chamado de lemnisco medial. Ao chegar no tálamo, os estímulos são retransmitidos para o córtex sensorial somático primário, localizado nas áreas 1 e 2 de Broadman. Nesta região cortical existe uma representação topográfica de todo o corpo em relação ao número de receptores somáticos, o que gera um "homúnculo" distorcido, chamado homúnculo sensorial, que foi descrito por Penfield. Neste mapa, a representação da mão é maior que a do pé, pois a quantidade de receptores somatosensoriais na mão é muito maior do que no pé. Os mapas somatosensoriais variam nos outros animais, sempre refletindo a quantidade de receptores sensoriais em cada região do corpo. - Via do trigêmeo: Os estímulos somatosensoriais provenientes do rosto são levados ao SNC pelos nervos trigêmio, glossofaríngeo, facial e vago (nervos cranianos), que fazem sinapses na ponte e cruzam em direção ao tálamo. Do tálamo, também seguem para o córtex somatosensorial primário. Erros de Localização Como a localização se dá por uma projeção, vários erros podem ocorrer. Isto explica, por exemplo, o surgimento de dores longe do ponto que foi lesionado, as chamadas "dores referidas". Exemplos: o deslocamento ou a ruptura de um disco vertebral pode causar dores na perna ou no pé. Estes "erros de projeção" podem dar boas pistas ao médico sobre a extensão da lesão. Um exemplo bizarro é o fenômeno do "membro fantasma", após a amputação de um membro, as vias sensoriais começam a disparar espontâneamente e a pessoa pensa que está sentindo o membro perdido. Plasticidade dos mapas somatotópicos: Os mapas somatotópicos são dinâmicos, ou seja, refletem a utilização da região corporal correspondente. Quando uma pessoa tem um dedo amputado, por exemplo, os neurônios que interpretavam as sensações daquele dedo passam a se ocupar com sensações vindas de outros dedos. Por outro lado, se a pessoa desenvolve uma certa habilidade melhor em uma das mãos (tocar instrumento, por exemplo) o córtex envolvido com as sensações daquela mão se desenvolve mais do que a região correspondente à outra mão. Área Somatosensorial Secundária Na área posterior do lobo parietal, encontra-se a área somestésica secundária onde os estímulos identificados na área somestésica primária são relacionados com outros tipos de informações sensoriais, tais como estímulos visuais. Lesões nesta região podem causar estereognosia, incapacidade de reconhecer objetos, e a Síndrome de Negligência. Nesta síndrome, o lado do corpo contrário ao hemisfério cerebral afetado é negligenciado ou esquecido pelo paciente, assim como uma parte do mundo voltada para este lado. • Dor Além de mecanoreceptores, a pele também possui nociceptores (nocere = ferir), terminações nervosas livres, que avisam quando os tecidos corporais estiverem sendo lesionados ou em risco de sofrerem lesões. A ativação seletiva dos nociceptores pode levar à experiência consciente de dor. Nocicepção e dor são essenciais à vida, porém nem sempre são a mesma coisa. Dor é a percepção de sensações tão diversas quanto irritação, inflamação, fisgada, ardência ou latejar, geralmente sensações ruins ou até mesmo insuportáveis oriundas de alguma parte do corpo. Nocicepção é o processo sensorial que provê sinais que desencadeiam a experiência da dor. Enquanto os nociceptores podem disparar de forma desenfreada e contínua, a dor, como experiência, pode surgir e desaparecer. O oposto também pode acontecer. A dor pode ser agonizante mesmo sem qualquer atividade dos nociceptores. Mais do que qualquer outro sistema sensorial, as qualidades cognitivas da nocicepção podem ser controladas a partir do próprio encéfalo. Basta lembrar no efeito do placebo. Nocicepção Os canais iônicos nas membranas dos nociceptores são ativados por estímulos que podem causar lesão tecidual, tais como a estimulação mecânica intensa, temperaturas extremas, deprivação de oxigênio e exposição a certos produtos químicos. As células, ao serem lesadas, liberam susbtâncias que provocam a alteração nestes canais iônicos, tais como: proteases, ATP, bradicina, K+ e H+ (liberado junto com o lactato quando o músculo entra em metabolismo anaeróbico). São encontrados em quase todo o corpo, incluindo a pele, os ossos, músculos, órgãos internos, vasos sangüíneos, coração e meninges. Porém, não existem nociceptores no encéfalo. Tipos de nociceptores: - nociceptores mecânicos: reagem a pressões fortes; são supridos por fibras aferentes Aδ e ativam a sensação de dor aguda ou pontual. - nociceptores térmicos: reagem ao calor ou ao frio extremo e são supridos por fibras aferentes Aδ. - nociceptores químicos: reagem a moléculas químicas como a histamina e são supridos por fibras aferentes C não mielinizadas. Quando os nociceptores são ativados, causam a liberação de substância P na pele e esta, causa vasodilatação local, aumento na permeabilidade capilar, vermelhidão, calor e edema. Estes efeitos podem provocar hiperalgesia, aumento na sensação de dor. Os opiáceos (morfina, heroína e codeína) inibem a liberação de substância P, sendo esta a principal explicação para seu efeito analgésico. Vias da dor: - Via Espinotalâmica (sistema anterolateral): As informações de dor provenientesdos membros e tronco corporal chegam na medula espinhal trazidas por fibras aferentes que entram na raiz dorsal e fazem sinapses na zona intermediária da medula com axônios que decussam e sobem em direção ao tálamo, formando o trato espinotalâmico (somente fazem sinapse com o tálamo). Do tálamo, as informações de dor podem ser projetadas para várias áreas corticais. - Via Trigeminal: Estímulos dolorosos vindos da face e da cabeça chegam ao tronco encefálico pelo nervo trigêmeo, cruzam e ascendem para o tálamo. Modulação da dor: A percepção da dor é variável, dependendo tanto da chegada de aferências de nociceptores como do contexto comportamental. Esta modulação tanto pode ser aferente (inibição da dor pela ativação de mecanoreceptores, massagem) ou eferente (bloqueio consciente da dor). A principal área do SNC envolvida com a modulação da dor parece ser a PAG (substância cinzenta periaquedutal), pois a sua estimulação produz analgesia profunda. • Temperatura Os termoreceptores são terminações nervosas livres que podem ser encontrados espalhados pela pele, medula espinhal e hipotálamo. Apesar da forma ser semelhante, os termoreceptores reagem a faixas específicas de temperatura, ou seja, existem termorecpetores de calor e de frio. Os termoreceptores não estão distribuídos uniformemente pela pele, havendo regiões onde existem mais termoreceptores de calor e outras, mais termoreceptores de frio. São receptores de adaptação rápida, reagindo mais intensamente quando ocorrem mudanças bruscas na temperatura. Via da temperatura: Os sinais transmitidos pelos termoreceptores seguem a via espinotalâmica de forma semelhante aos nociceptores. • Propriocepção (Sensações Musculares e Articulares) Estas informações são importantes para a identificação do tipo e intensidade de movimento que o corpo está desenvolvendo. Também vão ser aferências importantes para os reflexos posturais e para o controle da caminhada (deslocamento corporal). Principais receptores: 1. Fuso muscular Encontrado no meio das fibras musculares esqueléticas, este receptor manda informações sobre o grau de contração das fibras musculares. O fuso muscular também tem forma alongada e, por estar no meio das fibras musculares, quando estas se contraem ele também contrai e quando elas alongam, ele alonga. Na verdade, são estimulados sempre que o músculo começa a se estirar em demasia e são inibidos quando o músculo contrai. Portanto, são sensíveis ao estiramento muscular. Participam de um reflexo medular que previne o estiramento excessivo das fibras musculares, chamado de "reflexo miotático". O reflexo patelar é um exemplo de reflexo miotático. 2. Órgão Tendinoso de Golgi Receptor sensorial encontrado nos tendões, sendo sensível à tensão muscular. São sensíveis à força que o músculo está desenvolvendo, independentemente do músculo estar distendido ou contraído. Participam de um reflexo medular que previne o excesso de força sobre os tendões, chamado "reflexo miotático inverso". Via proprioceptiva: Os estímulos captados pelos receptores musculares e articulares seguem para o córtex somatosensorial pelo sistema do cordão dorsal (via lemniscal). Porém, dependendo da informação, a própria medula poderá desencadear uma resposta motora apropriada. Os estímulos também podem subir pela medula até o tronco cerebral, onde serão distribuídos entre os núcleos rubro, vestibular e reticular. Estes núcleos podem fazer conexões com o cerebelo (ajustes corretivos nos movimentos), os gânglios da base (coordenam movimentos cíclicos) e com o córtex motor primário. 5.4.3. Sensações Visuais (Visão) Os fotoreceptores, cones e bastonetes, encontram-se na retina, sendo esta a região ocular responsável pela captação da imagem. Os fotoreceptores são receptores sensíveis aos fótons de luz, sendo estimulados quando a luz incide sobre o olho. Os bastonetes são sensíveis à intensidade de luz, ou seja, ao claro ou ao escuro. Possuem um limiar baixo, de forma que reagem bem no escuro. A presença de luz desencadeia a seguinte sequência de reações: LUZ > RODOPSINA OPSINA + RETINOL-CIS (vitamina A) RETINOL-TRANS Altera os canais de transporte de íons da membrana POTENCIAL RECEPTOR Os cones são sensíveis aos diferentes comprimentos de onda, possuindo fotopigmentos específicos para cada faixa de luz. Ou seja, os cones são sensíveis às cores. Cada cone é sensível a uma determinada faixa de luz. Como os seus limiares são altos, operam melhor durante o dia. Podem ser chamados de: • Eritrolábil: sensível ao vermelho • Clorolábil: sensível ao verde • Cianolábil: sensível ao azul Via visual: Os fotoreceptores estimulam o nervo óptico, que estimulará o quiasma óptico, de onde partem ramificações para o núcleo supraquiasmático do hipotálamo, sistema óptico acessório, pré-tecto e tecto óptico (colículo superior). Daí as informações passam para o núcleo geniculado lateral do tálamo e, finalmente são retransmitidas para o córtex visual, localizado no lobo occipital, área 17 de Broadman, que irá analisar a imagem. O córtex visual trabalha em estreita associação com o córtex motor, que controla os movimentos do globo ocular. 5.4.4. Sensações Auditivas (Audição) O ouvido humano pode ser dividido em três zonas principais: • Ouvido Externo: formado pelo pavilhão auditivo, o som é propagado pelo ar. • Ouvido Médio: consiste nos ossículos (bigorna, martelo e estribo) e o som é propagado pela vibração deles. • Ouvido Interno: formado pela cóclea, onde o som é propagado pelas ondas da endolinfa. A cóclea é internamente dividida em escala vestibular, escala coclear (média) e escala timpânica. Esta divisão é feita pelas membranas basilar e vestibular. Sobre a membrana basilar, encontra-se o órgão de Corti, formado pelo epitélio ciliado e pela membrana tectorial, que pousa sobre os cílios. Quando os ossículos vibram, a endolinfa oscila, causando a vibração da membrana tectorial e isto provoca o deslocamento dos cílios. Este deslocamento dos cílios altera o potencial de repouso da célula ciliada, gerando o potencial receptor, denominado potencial microfônico coclear. Via auditiva: Quando estimuladas, as células ciliadas ativam o nervo vestibulococlear (antigamente denominado, nervo auditivo), que passa a informação para órgãos no tronco cerebral, tais como os núcleos cocleares, o núcleo olivar superior, o colículo inferior e o corpo geniculado medial do tálamo. Do tálamo, os estímulos auditivos são transmitidos para o córtex auditivo, localizado na fissura de Sylvius na parte superior do lobo temporal (áreas 41 e 42 de Broadman). O córtex auditivo possui 4 sub-áreas topográficamente organizadas conhecidas como mapas tonotópicos. 5.4.5. Sensações de Equilíbrio A sensação de equilíbrio é detectada pelo aparelho vestibular, localizado dentro do crânio. Este aparelho é formado pelos três canais semicirculares, pelos órgãos otolíticos (sáculo e utrículo) e pela trompa de Eustáquio. Dentro dos canais semicirculares existem dilatações chamadas de ampolas (âmpulas) em cujo interior encontra-se a crista ampular, onde estão as células ciliadas. Sobre a crista existe uma cúpula que está em contato com os cílios. Quando a endolinfa oscila, a crista se desloca e isto causa o deslocamento dos cilios, estimulando assim, as células ciliadas. Portanto, a estimulação das ampolas gera informações sobre a aceleração angular da cabeça. No sáculo e no utrículo, as células ciliadas são encontradas em estruturas chamadas de máculas e o ápice dos cílios é recoberto por uma massa gelatinosa aonde encontra-se formações (pedrinhas) calcáreas chamadas de otólitos. Quando a cabeça é deslocada, os otólitos se agitam e isto estimula as células ciliadas. Assim,as máculas são sensíveis à aceleração linear da cabeça. Via do equilíbrio: Os mecanoreceptores das máculas e das ampolas estimulam o nervo vestibulococlear, que faz conexões com órgãos no tronco cerebral: núcleos vestibulares, cerebelo e formação reticular bulbar. Estes órgãos fazem aferências com o córtex motor. Este sistema é importante para a coordenação dos reflexos posturais, que constantemente ajustam a posição do corpo a fim de mantê-lo equilibrado.
Compartilhar