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Soluções e Critério P1 MA502-2o Semestre As soluções aqui apresentadas não são as únicas posśıveis e qualquer solução correta será considerada. O critério pode sofrer alterações até o lançamento da nota. Os enunciados foram resumidos e alterados, para ver os originais confira a versão digital da prova. 1. a) Mostre pela definição qual é valor de lim sen(n)n . Solução: Fixado ε > 0, tome n > 1ε ⇔ 1 n < ε. Temos portanto | sen(n)n − 0| = |sen(n)| |n| ≤ 1 n ≤ ε. Portanto lim sen(n) n = 0. Critério: • 1,0 ponto por acertar a questão. Devido ao ńıvel do exerćıcio, não serão dados pontos parciais por progresso incompleto. • -0,3 por demonstrar sem utilizar a defnição de limite. b) Mostre pela definição que se limxn = L então lim |xn| = |L|. Solução: Primeiro demonstramos um Lema: Lema: ||b| − |a|| ≤ |b− a|. Prova: Pela Desigualdade Triangular, |b| ≤ |b−a|+ |a| e |a| ≤ |b−a|+ |b|, ou seja, |b| − |a| ≤ |b− a| e |a| − |b| ≤ |b− a|. Como |x| =máx{x,−x}, o resultado segue. Agora sabemos que ∀ε > 0, ∃N tal que n > N ⇒ |xn − L| < ε. Pelo lema, temos então ∀ε > 0, ∃N tal que ||xn| − |L|| ≤ |xn − L| < ε. Ou seja, lim |xn| = |L|. Solução Alternativa: (baseada em soluções da prova) Se limxn = L < 0, sabemos que lim(−xn) = −L > 0. (Pois |−xn− (−L)| = |xn − L|). Então suponha sem perda de generalidade L ≥ 0, pois |xn| = |(−xn)|. Temos ∀ε > 0, ∃N tal que n > N ⇒ |xn − L| < ε ⇔ L − ε < xn < L + ε. Como L ≥ 0, L = |L| assim |L| − ε < xn < |L|+ ε. Agora, seja n > n0 qualquer. • Se xn ≥ 0, temos |xn| = xn de onde |L| − ε < |xn| < |L| + ε logo ||xn| − |L|| < ε. • Se xn ≤ 0 temos |xn| = −xn > xn logo |L| − ε < xn < |xn| e −xn = |xn| < ε− |L| < |L|+ ε. Logo também vale ||xn| − |L|| < ε. 1 Ou seja, ∀n > n0, ||xn| − |L|| < ε. Demonstra-se assim lim |xn| = |L|. Critério: • 1,5 ponto por resposta completa. • Se não terminou o problema, +0,5 por demonstração (total ou quase total) do Lema. • Em contrapartida, se terminou o problema mas não demonstrou o Lema, não perde pontos. Todos esses receberam marcações na prova e deveriam procurar entender a demonstração (se já não entenderam) • -0,6 por demonstrar sem utilizar a definição de limite. 2. (Verdadeiro ou falso) a) Existe uma sequência de reais xn limitada que não possui lim sup nem lim inf. Solução: Vamos provar a negação, que implica que a sentença é falsa. Se xn é limitada, então pelo teorema de Bolzano-Weierstrass admite sub- sequência convergindo para algum limite L. Sejam m cota inferior e M cota superior para os xn; temos então que o conjunto A = {y t.q. ∃N′ ⊂ N com lim n∈N′ xn = y} é não-vazio (L ∈ A) e limitado por m e M (pois m ≤ xni ≤M ⇔ m ≤ limxni ≤M). Assim pelo Axioma do Supremo temos que o conjunto tem um ı́nfimo, que será o lim inf, e um supremo, que será o lim sup. b) Toda sequência limitada é convergente. Solução: A sentença é falsa e segue um contra-exemplo. A sequência an = (−1)n é limitada mas não é convergente pois tem uma subsequência que converge para 1 e uma subsequência que converge para -1. c) Toda sequência convergente é limitada. Solução: A sentença é verdadeira e vou provar. Seja an uma sequência que converge para L. Fixado ε = 1, ∃N tal que n > N ⇒ |an − L| < 1 ⇒ L − 1 < an < L + 1. Assim, M =máx{a1, a2, · · · , an−1, L + 1} é cota superior da sequência, e m =mı́n{a1, a2, · · · an−1, L− 1} é cota inferior. Comentários: Demonstrado em aula. d) an = 1 n2 não possui subsequência convergente. Solução: A afirmação é falsa e segue um contra-exemplo. A sequência an é subsequência dela mesma, e fixado ε > 0 ∃N > 1/ √ ε, logo n > N ⇒ n > 1/ √ ε⇒ | 1n2 − 0| < ε assim lim 1 n2 = 0 e)I3 = {1, 2, 3} tem exatamente 9 subconjuntos. Solução: A afirmação é falsa e vou provar. Se A é subconjunto de I3 temos 1 ∈ A ou 1 /∈ A; 2 ∈ A ou 2 /∈ A; 3 ∈ A ou 3 /∈ A. Decididas as 3 escolhas o subconjunto fica completamente determinado; então temos 2 ·2 ·2 = 8 subconjuntos distintos. 2 Solução alternativa: A afirmação é falsa e vou provar. Todos os subcon- juntos de I3 são ∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, {1, 2, 3} e só há 8 deles. Critério: • +0,1 por cada resposta correta (verdadeiro ou falso) • +0,4 por cada justificativa correta e completa 3. Encontrar uma bijeção entre { ∞∑ i=1 ai · 10−i!, com 0 ≤ ai ≤ 9, ∀i, e com ∞ ai 6= 9} e (0, 1). Concluir que o primeiro não é enumerável. Solução: Seja RT o conjunto do enunciado. Afirmamos que f : RT → (0, 1) dada por ∞∑ i=1 (ai · 10−i!) 7→ ∞∑ i=1 (ai · 10−i) é bijeção. (Sim, só muda o fatorial.) Suponha que f(a) = f(b). ∞∑ i=1 (ai · 10−i) = ∞∑ i=1 (bi · 10−i) implica ai = bi∀i. Então segue que a função é injetiva. A sobrejetividade também segue da so- brejeção da representação em base 10, a saber, que todo real no intervalo (0, 1) se escreve na forma ∞∑ i=1 ai · 10−i com 0 ≤ ai ≤ 9 e ∞ ai 6= 9. Agora, suponha por absurdo que RT fosse enumerável. Compondo a bijeção f : RT ⇒ N com a bijeção g : (0, 1) ⇒ RT , teŕıamos gḟ : (0, 1) ⇒ N logo (0,1) seria enumerável, absurdo pela Diagonal de Cantor! Comentários: Gabarito do T1 tinha essa solução. Critério: • 2,0 pontos se exibir uma bijeção correta com demonstração • 0,5 ponto por conluir não-enumerabilidade. 4. Mostre que dada uma sequência de intervalos [a1, b1] ⊃ [a2, b2] ⊃ · · · ⊃ [an, bn], ∃c ∈ ∞⋂ i=1 [ai, bi]. Solução: Temos an < bn ≤ bi, ∀i ≤ n então {an} é limitado; logo tem supremo c. Se tivéssemos c > bi para algum i, teŕıamos, como bi não é cota superior, algum aj com aj > bi. Portanto an > bi, ∀n > j. Mas isso é absurdo pela observação anterior à limitação de {ai}. Ou seja, c ≤ bi, ∀i. Também pela definição de supremo, c ≥ ai, ∀i logo c ∈ ∞⋂ i=1 [ai, bi]. Agora se removermos a limitação, os intervalos [n,+∞) são fechados (ver os comentários) mas ∞⋂ i=1 [i,+∞) = ∅. Se removermos que os intervalos são fechados, ∞⋂ i=1 (0, 1i ) = ∅. Comentários: Vale notar que a proposição foi demonstrada em sala. Mas os contraexemplos para as condições do enunciado foram mais complicados. O 3 intervalo [1,+∞) é considerado fechado não porque tem pontas, mas porque se pegarmos uma sequência de pontos dele, o limite também pertence a ele. Compare com an = 1 n no intervalo aberto (0, 1). Muitas pessoas utilizaram diretamente o fato de que sup A é menor que todas as cotas superiores diretamente, e não por contradição como a solução. Essas também estão corretas, e são equivalentes. Muitas pessoas deram contra-exemplos da seguinte forma: N\{1}, N\{1, 2}, · · · Esses exemplos não servem pois falam de N e não de R, estamos falando de in- tervalos e não só de conjuntos. Mas a ideia é similar. Ver critério para mais detalhes. Critério: • 2,0 pontos pela solução total, divididos em 1. Provar que o supremo dos ai existe (1,0) 2. Provar que o supremo dos ai é menor que todos os bj e portanto está no conjunto. (1,0) • 0,3 por cada exemplo correto, mas 0,5 (e não 0,6) pelos 2 exemplos • 0,2 por um exemplo incorreto em N que generaliza naturalmente para R 5. Se xn ≤ yn, ∀n então limxn ≤ lim yn. Vale a rećıproca? Solução: Suponha por absurdo que limxn = Lx > Ly = lim yn. Então tome 0 < ε < Lx−Ly 2 . Pela definição de limite, ∃N1 tal que n > N1 ⇒ |xn − Lx| < ε e ∃N2 tal que n > N2 ⇒ |yn − Ly| < ε. Para n >máx{N1, N2}, temos yn < Ly + ε < Lx − ε < xn, absurdo! Agora a rećıproca é falsa e vou dar um contra-exemplo. Seja xn = 2 n > 1 n = yn. Temos limxn = 0 ≤ 0 = lim yn mas não temos xn ≤ yn. Comentários: A rećıproca é parcialmente verdadeira: se limxn > lim yn (estritamente) então ∃N t.q. xn > yn para n > N . Demonstração fica de exerćıcio para o leitor. Uma maneira alternativa de expressar essa solução é assumir por absurdo que lim(xn − yn) > 0. Os passos são muito similares. Critério: • 1,5 ponto pela ida, sendo 1,0 por observar que limxn > 0⇒ xn > 0 para n > n0, ou equivalente.• 1,0 pelo contra-exemplo da volta. 6. Decomponha N como união infinita de conjuntos infinitos disjuntos. Solução 1: Seja f : N ⇒ N uma função com a propriedade que f−1(n) é infinito para cada n. Então N1 = {x t.q. f(x) = 1}, N2 = {x t.q. f(x) = 2}, · · · é uma decomposição de N conforme pedido. Em termos mais simples, separe os naturais de acordo com alguma propriedade especial. Alguns exemplos de propriedades f que funcionam são: 4 • f(x) = soma dos expoentes na fatoração de x (ou quantidade de divisores ou fatores primos) • f(x) = distância ao quadrado perfeito mais próximo • f(x) = soma dos d́ıgitos em base 10 (ou outras bases) • f(x) = quantidade de zeros (ou outros blocos de d́ıgitos) em base 10 (ou outras bases) • f(x) = número de fatores 2 na decomposição em primos (ou qualquer outro fator) • f(x) = maior ı́ndice que aparece na decomposição em primos (ex: n = p21p 4 3, o maior ı́ndice é 3) Como se pode ver, há muitas possibilidades. Solução 2: Pequena modificação: algumas vezes nem todos os naturais são posśıveis de serem classificados. Nesse caso pode-se colocar os restantes em um conjunto à parte, ou uni-los a algum deles. O exemplo mais fácil é: Se x é potência de primo, f(x) = base. Senão, coloque-o no primeiro conjunto. Solução 3: Por um teorema da aula, N × N é enumerável. Seja por- tanto f : N × N → N bijeção. Defina f(A) := {f(x) t.q. x ∈ A}. Então f({(1, 1), (1, 2), (1, 3) · · ·}), f({(2, 1), (2, 2), (2, 3) · · ·}), etc. formam uma união de N como desejado. Visualmente, escreva N como uma linha e ziguezagueie para preencher uma tabela. Agora cada linha dá um conjunto infinito. Comentários: Muitas outras abordagens são posśıveis. A solução 3 essen- cialmente contém todas as soluções posśıveis porque vale a volta, a saber, qual- quer decomposição de N em união disjunta infinita de infinitos estabelece uma bijeção N× N→ N, a saber, (i, j) é o i-ésimo conjunto de Nj . Curiosidade: pode-se provar na verdade que existe uma quantidade não- enumerável de tais divisões! Esse fato fica como exerćıcio. (Dica: olhe para os primeiros elementos de cada Ni em uma decomposição. O que acontece se trocarmos eles de conjunto? De quantas maneiras podemos fazer isso?) Por fim, vale notar que fatoração em primos não é a única maneira de trabal- har com exemplos! Procurem se familiarizar mais com a dimensão do problema e menos com as técnicas altamente espećıficas usadas. Critério: 2,5 por solução correta. Soluções incompletas muito próximas de uma solução concreta podem receber de 2,0 a . 2,4 7. Uma sequência xn converge para L se e somente se toda subsequência xni com os ı́ndices satisfazendo ni+1 − ni > ni! (chamaermos de subsequência especial) também converge para L. 5 Solução: Seja Aε o conjunto {n t.q. |xn − L| ≥ ε}. A definição de limite equivale portanto a provar que cada Aε é finito (e portanto tem um maior elemento, que será N-1, a partir do qual |xn − L| < ε). Suponha portanto que K = Aε seja infinito para algum ε fixado. Tome n1 ∈ K, como K é infinito ∃x2 ∈ K,x2 > x1 + x1!. Da mesma forma, como K é infinito ∃x3 ∈ K,x3 > x2 + x2!. Continuando obtemos uma subsequência xn que não converge para L pois todos os seus termos distam pelo menos ε de L. Absurdo! Logo se toda subsequência especial converge, a sequência também converge. A ida é mais simples, pois toda subsequência de uma seq. convergente também converge para o mesmo valor. De fato, se ai é subsequência crescente, nk ≥ k então partindo de ∀ε, ∃N t.q. n > N ⇒ |xn − L| < ε conseguimos ∀ε, ∃N t.q. n > N ⇒ an > N ⇒ |xai − L| < ε. Comentários: Vale uma versão mais forte da rećıproca: Se todas as sub- sequências especiais convergem (não necessariamente para o mesmo valor) então a sequência também converge. Isso ocorre pois dadas duas sequências de ı́ndices especiais an, bn com limites diferentes, existe uma sequência especial cn que al- terna entre termos de an e termos de bn (Prove!) e portanto ela gera uma subsequência que não convergiria (tendo duas subsequências com limites distin- tos). Critério: • 0,5 ponto pela volta (sem parciais) • 1,5 por provar que todo conjunto infinito contém uma sequência especial • 1,0 por acabar. (2,5 pela ida completa independentemente do método) 8. Seja xn uma sequência convergente, e ϕ : N → N injeção. Prove que yn = xϕ(n) converge para o mesmo valor. Mostre um exemplo de ϕ sobrejetora para a qual yn não converge. Solução: Começamos com um Lema. Lema: Se ϕ : N→ N é bijeção, ∀A > 0, ∃N > 0 com n > N ⇒ ϕ(n) > A. Prova: Como ϕ é injetora, defina ϕ−1(x) := y tal que ϕ(y) = x. Se existir, é único. Senão, defina como 0. Basta tomar portanto N(A) = 1+máx{ϕ−1(1), ϕ−1(2), · · · , ϕ−1(A)}. Como n > N(A)⇒ n > ϕ−1(i), ∀i ≤ A, logo ϕ(n) 6= i, ∀i ≤ A. Portanto ϕ(n) > A. Intuição: A injeção ϕ esgota os finitos elementos que são menores que A. Depois disso só sobram os maiores que A. Agora, sabemos que ∀ε, ∃T t.q. n > T ⇒ |xn − L| < ε. Agora, substitua A 7→ T no Lema e obtenha dele um S. Temos ∀ε, ∃S t.q. n > S ⇒ ϕ(n) > T ⇒ |yn − L| = |xϕ(n) − L| < ε logo yn é convergente c.q.d. 6 Para o contra-exemplo, seja bn = 1 se n = 1, e bn = 0 caso contrário. bn converge mas a yn associada à sobrejeção ϕ : N → N dada por 2n 7→ n; 2n + 1 7→ 1 não converge. Comentários: Dada xn convergente estritamente crescente, o mesmo argu- mento acima mostra que xϕ(n) converge se e somente se ϕ −1(x) é finito ou se ϕ é constante a partir de um ponto. Tente adaptar a demostração para esse fato. Outro comentário importante: yn não necessariamente é subsequência de xn. Para ser uma subsequência os ı́ndices têm que crescer, e isso nem sempre acontece com uma injeção. (Por exemplo a que troca os pares com os ı́mpares antecessores) Critério • 1,5 pela ida, divididos em 1,0 por provar o Lema ou equivalente e 0,5 por concluir • 1,0 pelo exemplo 7
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