Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Definição: Situação na qual há redução da produção dos hormônios da tireoide ou diminuição da ação desses hormônios nos tecidos e órgãos. Fisiopatologia A redução da produção dos hormônios da tireoide pode ocorrer por alteração diretamente na glândula (hipotireoidismo primário) ou por redução da produção dos hormônios estimulantes da tireoide (do TSH no hipotireoidismo secundário ou do TRH, no hipotireoidismo terciário; ambas as situações são conhecidas como hipotireoidismo central). Hipotireoidismo congênito: Ocorrência desde o período neonatal, e tem como causa principal as disgenesias tireoidianas (agenesia, ectopia e hipoplasia de tireoide). Outras causas incluem: defeitos de síntese de hormônios tireoidianos, uso materno de medicamentos antitireoidianos, exposição materna a agentes iodados, passagem transplacentária de anticorpos que bloqueiam os receptores de TSH, baixa ingestão materna de iodo, mutações no gene do TSH ou do receptor do gene do TSH. Hipotireoidismo adquirido: Suas causas principais são: tireoidite de Hashimoto, exposição a substâncias tóxicas à tireoide, medicamentos contendo lítio ou drogas antitireoidianas, pós-tireoidectomia ou radioterapia da tireoide, deficiência da ingestão de iodo, tumores hipotalâmico-hipofisários, radioterapia do SNC, cirurgias neurológicas, traumatismo craniano, doenças granulomatosas ou meningites. Apresentação Clínica Hipotireoidismo congênito: ●Recém-nascidos: Varia de ausência completa de sintomas até o quadro clínico clássico de icterícia prolongada, constipação intestinal, pele fria e seca, livedo reticular, sonolência, cianose, macroglossia, choro rouco, dificuldade para mamar, fontanelas amplas, bócio, hérnia umbilical, mãos e pés edemaciados; ●Lactentes: Podem ocorrer alguns dos sintomas semelhantes aos dos neonatos, associados a atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, redução do ritmo de crescimento, palidez por anemia, bradicardia e abafamento de bulhas cardíacas (mixedema ou derrame pericárdico), persistência de fontanela posterior; ●Crianças mais velhas: Baixa estatura, desproporção do segmento superior/inferior do corpo, retardo mental e fácies de cretinismo (face edemaciada sem expressão, com língua aumentada projetando-se dos lábios entreabertos). Hipotireoidismo adquirido: ●Presença de bócio, sonolência, hipoatividade, lentidão, palidez, pele seca, cabelo seco, hipotermia, bradicardia, constipação, mixedema (especialmente em pálpebras, dorso de pés e mãos e região pré-tibial), redução da velocidade de crescimento, atraso da maturidade puberal e alterações no rendimento escolar; ●Comorbidades associadas ao hipotireoidismo adquirido: Diabetes mellitus tipo 1, síndrome de Down, síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter e doença celíaca. Abordagem Diagnóstica Hipotireoidismo neonatal: Por ser uma causa evitável de deficiência mental, deve ser investigado logo após o nascimento com o teste de triagem neonatal. Teste de triagem neonatal para hipotireoidismo congênito: Dosagem de TSH em amostra de sangue colhido entre os 3°-5° dias de vida em papel-filtro em todos os recém-nascidos, quando já ocorreu a redução do pico de aumento fisiológico do TSH. Os valores de corte de 10-20 microunidades/mL são encaminhados para exames confirmatórios com nova amostra de sangue colhido do calcanhar, sendo que a maioria terá segundo resultado normal. Quando o resultado for > 20 microunidades/mL, a chance devo neonato ter a doença é grande, então se marca consulta pediátrica e se faz dosagem de hormônios tireoideanos em amostra de soro. Triagem neonatal em situações de maior risco para hipotireoidismo congênito: Deve ser tripla (nos 5o, 10o e 30o dias de vida) ou repetida na alta hospitalar ou com 1 mês de vida (o que ocorrer antes). Situações de maior risco: neonatos prematuros, com baixo peso ao nascimento, em uso de dopamina ou amiodarona, gemelar, expostos a iodo, com cardiopatia congênita e nos neonatos com quadro grave. É importante repetir a triagem, porque esses pacientes podem ter aumento tardio do TSH. Atenção! Neonatos que necessitarem de hemotransfusão devem ter seu teste de triagem neonatal colhido antes da transfusão. Exames confirmatórios de hipotireoidismo neonatal: Dosagem sérica de TSH e T4 total ou T4 livre. Valores de T4 livre < referência (geralmente entre 1-2 mg/dL) e/ou TSH > 10 microunidades/mL confirmam o diagnóstico. Em alguns serviços, o T4 total é usado, sendo T4 total < 6 ponto de corte para tratamento. TSH entre 6-9,9 é zona cinzenta com T4 total e T4 livre normais, devem ser acompanhados com dosagens de TSH e T4 livre após uma semana. Se o TSH ainda estiver discretamente aumentado com 1 mês de idade com T4 normal, alguns recomendam o tratamento com reavaliação depois dos 3 anos de idade. Hipotireoidismo adquirido: Dosagem de valores de TSH e T4 ou T4 livre. Valores de TSH > 9 microunidades/mL sugerem o diagnóstico, mesmo com valores de T4 normais. Tireoidite de Hashimoto: Dosagem de anticorpos antitireoglobulina e antitireoperoxidase, que se encontram elevados. Hipotireoidismo central: Redução de níveis de T4 ou T4 livre com valores de TSH normais ou discretamente elevados. Para diferenciação de hipotireoidismo secundário (hipofisário) ou terciário (hipotalâmico), é necessário o teste de estímulo com TRH; se houver aumento significativo do TSH após o estímulo, caracteriza-se o hipotireoidismo terciário. Deve-se complementar o estudo com ressonância magnética da sela túrcica. Determinação da etiologia do hipotireoidismo congênito: Realizar cintilografia e captação da tireoide com iodo-123 ou tecnécio-99, ultrassonografia de tireoide, dosagem de anticorpo bloqueador do receptor de TSH e dosagem de tireoglobulina. Exames de imagem no hipotireoidismo adquirido: Cintilografia e captação da tireoide com iodo-123 ou tecnécio-99 na suspeita de deficiência de iodo, e ultrassonografia de tireoide para avaliar o volume e o aspecto da glândula, além da presença de nódulos. Diagnóstico Diferencial ● Síndrome de Down; ● Síndrome de Beckwith; ● Mucopolissacaridoses; ● Condrodistrofias; ● Hipopituitarismo; ● Doenças musculares; ● Artrites; ● Obesidade. Acompanhamento Internação hospitalar: Internar os pacientes que apresentem quadro de hipotireoidismo com cardiomegalia, derrame pericárdico e anemia importante. Internação em terapia intensiva: Pacientes com quadro de descompensação hemodinâmica causada pelo hipotireoidismo. Tratamento ambulatorial: Pacientes com hipotireoidismo sem sinais de gravidade. Abordagem Terapêutica Hipotireoidismo congênito: Iniciar o tratamento assim que o diagnóstico for confirmado até os 14 dias de vida, mesmo sem sintomas. Hipotireoidismo congênito transitório: Em geral, não é necessário tratar, pois há normalização do TSH em 4-8 semanas. Se houver sintomas e elevação persistente do TSH, pode-se tratar por 2 meses e depois suspender a medicação. Tratamento: Levotiroxina via oral em dose única diária. Usar comprimido macerados e dissolvidos em pequena quantidade de leite. Tomar em jejum e manter cerca de 30 minutos após sem alimentação. Doses de levotiroxina conforme idade e dosagens de hormônios tireoideanos: ● 0-6 meses: 10-15 microgramas/kg/dia VO de 24/24 horas (dose média inicial é de 50 microgramas/dia para RN a termo e 35-37,5 microgramas/dia para RN prematuro); ● 7-12 meses: 5-8 microgramas/kg/dia; ● 1-3 anos: 4-6 microgramas/kg/dia; ● 3-10 anos: 3-5 microgramas/kg/dia; ● 10-16 anos: 2-4 microgramas/kg/dia. Sintomas graves: Em pacientes com sintomas graves que necessitem de internação hospitalar, iniciar o tratamento com metade da dose, aumentando gradativamente a cada semana. Monitorização do tratamento: Dosagem de TSH e T4 ou T4 livre 2-4 semanas após o início do tratamento, a cada 1- 2 meses entre 0-6 meses de vida, a cada 2-3 meses entre 6 meses-3 anos de idade, e a cada 6-12 meses a partir de 3 anos. Dosar adicionalmente T4 livre e TSH: 4 semanas depois de cada mudança de dose, se houver questionamento da regularidade do uso da levotiroxina OU se houveranormalidade dos valores hormonais. Alvos do tratamento para neonato: Crescimento e desenvolvimento adequados para a idade, T4 livre entre 1,4-2,3ng/dL, T4 total entre 10-16 microgramas/dL e TSH entre 0,4-4 microunidades/mL. Alvos do tratamento para demais idades: Crescimento e desenvolvimento adequados para a idade, TSH < 5 (entre 0,5-2) microunidades/mL, manter T4 livre e T4 total dentro da metade superior da referência específica para a idade. Profilaxia Crianças portadoras de síndrome de Down, síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter, DM tipo 1 e doença celíaca devem ser rastreados anualmente para hipotireoidismo com medida de TSH sérico. Guia de Prescrição Prescrição Ambulatorial Hipotireoidismo Orientações ao Prescritor Sobre a administração de Levotiroxina: ●Triturar o comprimido, misturar com um pouco de água ou leite materno e administrar com uma colher. Atenção: não diluir na mamadeira; ●Administrar, pelo menos, 30 minutos antes das refeições; ●Não oferecer com leite de soja, cálcio e ferro; ●Se o paciente vomitar logo após, administrar novamente a mesma dose da Levotiroxina; ●Ajustar a dose conforme dosagens de hormônios tireoideanos. Sobre amamentação: Manter mesmo se a mãe estiver usando drogas antitireoideanas. Em caso de deficiência do ACTH: Apenas iniciar Levotiroxina 3-5 dias depois do início da corticoterapia para evitar precipitar uma crise adrenal. Tratamento Farmacológico 1. Levotiroxina , de acordo com a faixa etária: ● 0-6 meses de vida: 10-15 microgramas/kg/dia VO de 24/24 horas (dose média inicial é de 50 microgramas/dia para RN a termo e 35-37,5 microgramas/dia para RN prematuro); ● 7-12 meses de vida: 5-8 microgramas/kg/dia; ● 1-3 anos de idade: 4-6 microgramas/kg/dia; ● 3-10 anos de idade: 3-5 microgramas/kg/dia; ● 10-16 anos de idade: 2-4 microgramas/kg/dia.
Compartilhar