Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MODELOS EM SAUDE Apresentação de diferentes Modelos em Saude MODELO BIOMEDICO; MODELO BIOPSICOSSOCIAL; MODELO HOLISTICO. Implicações destes para a humanização dos serviços de saúde. MODELO BIOMEDICO Ao longo dos tempos diferentes modelos de saúde têm dominado a prática da medicina. Nesta aula, iremos abordar três desses modelos, a saber, o biomédico, o biopsicossocial e o holístico. Estes modelos foram-se instalando progressivamente ao longo da história dos cuidados de saúde, sem que se verificassem saltos de um modelo para o outro. Existiu sim um modelo dominante numa dada época ou numa determinada cultura. MODELO BIOMEDICO MODELO BIOMEDICO: Baseia-se em grande parte numa visão cartesiana do mundo. Este sistema de pensamento defendeu que o mundo podia ser comparado a uma máquina, mais concretamente de um relógio, e que o conhecimento do universo passaria assim pelo “conhecimento detalhado das peças do relógio; O corpo humano obedecia às mesmas leis que o universo (Reis, 1998, Ribeiro, 1998) Assim, o que interessa à medicina são os fenómenos observáveis, ficando desta forma o Homem reduzido aos seus aspectos biológicos MODELO BIOMEDICO O corpo humano e comparado a uma máquina, facilmente se conclui que para o modelo biomédico, a doença é encarada como um defeito mecânico (avaria na máquina temporal ou permanente) localizável numa máquina física e bioquímica. Este defeito pode ser reparado através de meios físicos (cirurgia) ou químicos (farmacologia). A parte doente pode ser tratada isolada de todo o resto do corpo. Assim, a cura equivale à reparação da máquina (Reis, 1992,1998). MODELO BIOMEDICO Este centra exclusivamente na dimensão biológica da pessoa. Esta é reduzida às suas estruturas e processos biológicos e físico-químicos(farmacologicos). Devido a esta centração na dimensão biológica, a literatura médica inclui referências a corpos e a doenças e, raramente ou nunca, a pessoas. (J. Reis, 1998, pg. 38) MODELO BIOMEDICO “Não é o sujeito que interessa ao médico, mas sim o sintoma que este lhe apresenta e que vai poder incluir no seu reportório de doenças.” (Raymond Gueide, citado por W. Hesbeen, 2000, pg., 16); De acordo com o modelo biomédico a saúde é definida como sendo a ausência de doença (Reis, 1998). MODELO BIOMEDICO As pessoas são consideradas como vítimas passivas de agentes externos que provocam doença, sendo a classe médica totalmente responsável pelo tratamento (Odgen, 1999). Isto e, o Técnico de Saúde assume um papel paternalista, uma vez que toda a autoridade e responsabilidade lhe é delegada (Kriel, 1988). O papel do doente é assim o de obedecer aos Técnicos de Saúde com vista a alcançar a sua cura. MODELO BIOMEDICO O Técnico de Saúde é a autoridade, preocupando-se apenas com os problemas físicos do doente; Ao doente/paciente cabe apenas obedecer ao Técnico de Saude, o detentor do saber absoluto. MODELO BIOPSICOSOCIAL Nos anos 70 surgiu o modelo biopsicossocial (Engel, 1977). De acordo com este modelo a doença e a saúde só podem ser explicadas considerando as dimensões: psicológica (exemp:. cognições, emoções, comportamentos); Dimensão Social (exemp: comportamentos da pessoa em relação à família, amigos; expectativas culturais) e; Dimensão Biológica (exemp: genética, vírus, bactérias e defeitos estruturais) da pessoa (Reis, 1992, Sperry, 1999, Truchon, 2001). MODELO BIOPSICOSSOCIAL O Modelo Biopsicossocial vem enfatizar a importância do TS considerar os factores, psicológicos e sociais do doente e não apenas os aspectos físicos. Apesar da evolução registada face ao modelo biomédico, no modelo biopsicossocial o doente continua a ter um papel passivo no seu tratamento. MODELO BIOPSICOSSOCIAL O Modelo Biopsicossocial vem enfatizar a importância do TS considerar os factores psicológicos e sociais do doente e não apenas os aspectos físicos; O modelo biopsicossocial afasta a noção de saúde como ausência de doença. Para este modelo as fronteiras entre saúde e doença estão longe de serem claras uma vez que dependem de aspectos culturais, sociais e psicológicos (Engel, 1977) MODELO BIOPSICOSSOCIAL De acordo com o modelo biopsicossocial, o Técnico de Saúde deve sempre considerar, no seu diagnóstico, a interacção dos factores sociais, psicológicos e biológicos, de modo a avaliar o estado de saúde da pessoa e fazer recomendações, se necessário, para o tratamento. Desta forma, é importante recolher bastante informação e organizá-la o melhor possível, para conseguir um bom diagnóstico (o doente não participa neste processo de recolha de informação) (Reis, 1998). MODELO BIOPSICOSSOCIAL Este modelo enfatiza a interdisciplinaridade (Reis, 1992; Schwartz, 1982; Suls & Rothman, 2004) e interacções entre a componente física (exemplo: exame complementar) e tratamento psicossocial (exemplo: educação / explicação detalhada do exame) (Reis, 1992). MODELO BIOPSICOSSOCIAL Apesar deste modelo abandonar o reducionismo biológico do modelo biomédico, a pessoa continua a ser vista como passiva – não participa no processo terapêutico (do tratamento e cura); Cabe ao Técnico de Saúde avaliar as dimensões consideradas no modelo e decidir o que é melhor para o utente (Reis, 1992); O papel deste último o paciente (doente) é assim essencialmente o de fornecer informação para que os Técnicos possam tomar a decisão mais “correcta”. MODELO HOLISTICO O modelo holista (do grego “holos”, holismo refere-se à noção de totalidade, “o todo é mais do que a soma das partes”) assume que a pessoa deve ser encarada como um todo, ou seja, existem como componentes de uma totalidade (Bliss & col., 1985; Lipowski, 1981); Assim, quando há doença esta afecta a unidade e não apenas uma parte da mesma. Neste sentido, a intervenção deve abranger a unidade e não somente uma parte (e.g., órgão). MODELO HOLISTICO O papel do Técnico de Saúde é o de facilitar o processo de cura ou promoção da saúde, acompanhando a pessoa no seu processo de tomada de decisão; O modelo procura assim que o indivíduo se conheça melhor a si próprio, consciencializando-se da importância das suas atitudes e dos seus comportamentos para o seu estado de saúde (Bliss & col, 1985, Marks & Moyniham, 1989); MODELO HOLISTICO MODELO HOLISTICO. Modelo Holista, o utente é visto como um todo, sendo-lhe atribuído um papel activo e participativo nos seus cuidados de saúde; A ênfase é assim colocada na autonomia conceitual (Reis, 1992) da pessoa e não na dependência do Técnico de Saúde, como o modelo biomédico sustenta. O Técnico de Saúde e utente constituem assim uma díade, que trabalha em conjunto para alcançar o mesmo objectivo. MODELO HOLISTICO O objectivo deste modelo é estudar os processos de saúde e doença através da interligação entre estas dimensões; Cada uma destas dimensões, só por si não pode ser indicativa de bem-estar ou da cura. Ou seja, o reequilibro bioquímico não devolve necessariamente a saúde ao paciente. A dimensão biológica é necessária mas não suficiente para os critérios de saúde e doença (Reis, 1998). MODELO HOLISTICO O modelo holista enfatiza a educação do paciente como sendo parte integrante do processo terapêutico (Reis, 1998); O papel do Técnico de Saúde é assim o de um facilitador que informa o paciente sobre os factores que contribuem para a sua recuperação (Marks & Moyniham, 1989) ou manutenção da saúde (Marks & Moyniham, 1989; Myers, Sweeney & Witmer, 2000; Witmer & Sweeney, 2001). MODELO HOLISTICO Sabe-se que, se o indivíduo compreende melhor os factores que influenciam o seu estado de saúde ou recuperação, a sua participação no processo é bastante maior, uma vez que a motivação é também mais elevada (Marks & Moyniham, 1989). MODELO HOLISTICO , o modelo holista considera a relação entre o Técnico de Saúde-Utente como igualitária e recíproca; As tomadas de decisão são assim partilhadas entre os dois, ou seja, o técnico aconselha e partilha em vez de impor e o paciente contribui com as significações (actividade cognitiva que visa ainterpretação da realidade dos processos de saúde e doença e a sua valoração ou avaliação em termos pessoais e afectivos - Joyce-Moniz e Reis, 1991). que possui acerca dos seus sintomas/doença, assim como do seu processo de cura/tratamento. MODELO HOLISTICO O utente tem assim um papel activo e participativo (Bliss & col., 1985, Reis, 1992,1998). Assume-se que as recomendações no sentido da manutenção da saúde ou tratamento da doença serão muito mais eficazes se existir uma participação activa do utente/paciente (Bliss & col, 1985). Como os três modelos contribuem para a humanizacao Sobre os três modelos de saúde, resta-nos reflectir sobre a forma como cada um deles contribui para a humanização da saúde. Antes de mais importa definir humanização. Humanizar significa: tornar humano; tornar mais sociável, mais tratável; pôr ao alcance dos homens, tornar acessível à natureza humana; tornar-se semelhante ao comum dos homens; tomar sentimentos humanos. Como os três modelos contribuem para a humanizacao Partindo desta definição facilmente se conclui que humanização se refere aquilo que é próprio do Homem, que toma em consideração as características humanas; Desta forma, consideramos que só é possível humanizar no contexto dos cuidados e serviços de saúde se considerarmos o homem concreto. Como os três modelos contribuem para a humanizacao O homem como um todo, numa perspectiva holística. Dito de outro modo, a humanização deve orientar-se para o lado subjectivo do doente, aceitando a construção de significações sobre processos de saúde e doença que cada pessoa/utente faz. Como os três modelos contribuem para a humanizacao No campo da saúde/doença isto significa que o mesmo sintoma não é interpretado da mesma forma por diferentes indivíduos. Estas interpretações influenciam a evolução da doença e as estratégias de confronto que a pessoa vai utilizar para lidar com a enfermidade. Como os três modelos contribuem para a humanizacao A humanização passa por considerar que o paciente pode ter melhores soluções que o Técnico de Saúde para a sua situação. É o paciente, e apenas este, que conhece melhor a sua vida, o confronto das suas ambições, intenções e expectativas e aquilo que pode e é capaz de fazer; Por outro lado, quando o paciente participa na tomada de decisão do que vai fazer, fica obviamente mais motivado, aderindo mais e melhor ao que ficou estipulado. Como os três modelos contribuem para a humanizacao É, muito importante que nos centremos nas significações que os indivíduos têm sobre saúde e doença, tendo em mente que é possível modificar essas significações com benefício para a saúde e para a recuperação de estádios de doença. CONCLUSAO O modelo biomédico as significações são desprezadas, a humanização torna-se impossível. Trata-se, como vimos, de um modelo empirista que não deixa lugar aos conteúdos e processos cognitivos. Indo um pouco mais longe podemos mesmo afirmar que, ao não considerar vários aspectos inerentes ao Homem, este modelo contribui de forma clara para a desumanização da saúde. CONCLUSAO A ideia de reduzir o ser humano a um conjunto de órgãos é hoje inaceitável, pelo que, aquilo que deve inquietar todos aqueles que de alguma forma estão ligados aos serviços de saúde, é a razão pela qual o modelo biomédico ainda vigora nos nossos dias e continua a ser dominante em algumas unidades hospitalares. CONCLUSAO O modelo biopsicossocial poderá parecer um modelo muito positivo para a humanização nos cuidados de saúde. De repente, o ser humano deixa de ser considerado apenas na sua dimensão biológica e passa a dar-se igualmente peso às dimensões psicológica e social; Este modelo não tem o carácter redutor do biomédico, mas terá em conta os factores que contribuem verdadeiramente para a humanização? CONCLUSAO O Técnico de Saúde detém a autoridade epistémica, recolhe informação e decide o que é melhor para o paciente. Assim, as significações deste último, tendem a não ser consideradas pelo que a humanização não será complemente conseguida. CONCLUSAO O modelo holísta, veio colmatar este artificialismo ao considerar o ser humano com um todo. Isto representa um grande avanço em relação ao modelo biopsicossocial; Este modelo trabalha o Homem na sua plenitude, considerando também as suas significações, as teorias implícitas do paciente sobre saúde e doença. Assim, é atribuído ao paciente um estatuto epistémico máximo, ele e o Técnico de Saúde trabalham em colaboração. CONCLUSAO O clínico considera importante ouvir não só o que o utente lhe diz sobre os sintomas físicos, como o que este pensa sobre esses sintomas (as consequências que antecipa que estes poderão ter na sua vida, os seus medos, angústias, dúvidas, etc.); Por sua vez, o paciente é responsabilizado e é chamado a optar conscientemente. O paciente é activo, pode escolher e para tal é-lhe fornecida informação à medida das suas necessidades (e possibilidades). Trata-se assim de um processo verdadeiramente centrado no paciente. TERMINO DA AULA OBRIGADA MAPUTO, 29 DE OUTUBRO DE 2021
Compartilhar