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PEDIATRIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • Quando a duração da diarreia passa dos 30 dias, classificamos como diarreia crônica. ❖ CAUSAS PRINCIPAIS → desnutrição energético-proteica, parasitoses intestinais o Infecções intestinais, Diarreia persistente – pós-enterite o Alergia à proteína do leite de vaca, Intolerância a dissacarídeos – lactose, sacarose o Doença celíaca, Doenças inflamatórias intestinais crônicas o Fibrose cística, Imunodeficiências, Enteropatias perdedoras de proteínas INVESTIGAÇÃO • Deve ser feita em pacientes com diarreia crônica e perda de peso → inicialmente com os seguintes exames o Hemograma completo ▪ Permite afastar anemia ou confirmar quadros infecciosos. o pH fecal e pesquisa de substâncias redutoras ▪ Quando sintomas de intolerância a dissacarídeos ▪ Distensão abdominal, fezes explosivas e aquosas com dermatite perineal o Protoparasitológicos (PPFs) – três amostras ▪ Feito para identificar giardíase (50% negativo por isso as 3 amostras) o Coprocultura ▪ Cultura positiva pouco frequente → exceto para Salmonella, Yersinia, Campylobacter e Clostridium o Elementos Anormais nas Fezes (EAFs) o Gordura nas fezes ▪ Feito por exemplo quando há bom aporte calórico e pouco ganho ponderal → má absorção ▪ Se pesquisa + → realizar prova de absorção da D-xilose, que avalia a integridade da mucosa jejunal • Na fibrose cística a absorção e integridade da mucosa é normal → na doença celíaca, a absorção costuma ser diminuída o Antitransglutaminase (doença celíaca) o Calprotectina fecal ▪ Investiga DII, junto da colonoscopia, biopsia e exames de imagem o Estudos hormonais → polipeptídio intestinal vasoativo, Gastrina, Secretina ❖ TRATAMENTO → voltado para a causa-base → medicações que atuam diminuindo o peristaltismo não são indicadas • Inserida nos distúrbios de dismotilidade intestinal → engloba a diarreia funcional do pré-escolar (< 4 anos) e a síndrome do intestino irritável (crianças com idade ≥ 5 anos) • Hipóteses → hipersensibilidade visceral aos estímulos externos, erroneamente “percebidos” como nocivos o Alteração da imunomodulação entre SNC, sistema nervoso entérico e sistema imunológico → agressões infecciosas prévias (gastroenterites, parasitoses, alergias) levariam a sensibilização do intestino. ❖ O distúrbio inicia-se entre 6-36 meses com diarreia de 3+ eliminações de fezes/dia, não dolorosas, volumosas, não formadas, contendo restos alimentares → por período mínimo de 4 semanas o Geralmente concomitante com o período de desmame e introdução de novos alimentos o Normalmente, as evacuações são pós-alimentares e cessam no período noturno o Crianças apresentam-se saudáveis com peso e estatura adequados para a idade o Na história alimentar, há excesso de líquidos e sucos e falta de gordura • O processo diarreico tende a desaparecer na idade escolar. • LABS para exclusão de causas patológicas o O pH fecal encontra-se > 5,5, o resultado de substância redutora é no máximo +1, não há hemácias ou leucócitos no EAF e os glóbulos de gordura corados pelo Sudam III possuem um número < 40/campo o A pesquisa de sangue oculto é negativa. PEDIATRIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 ❖ Tratamento → tranquilização dos pais, garantindo a benignidade e transitoriedade do quadro • Modificações na dieta tendem a melhorar sintomas o Aumento da gordura na dieta → lentificam o trânsito intestinal o Aumentar a ingestão de fibras (legumes, verduras e leguminosas), que adsorvem água, ácidos graxos e sais biliares, evitando que ao chegarem ao cólon estimulem excessivamente a motilidade o Redução da ingesta de líquidos para 100 ml/kg/dia o Substituir os sucos pela fruta em pedaços, pois aumenta a ingestão de fibras → sucos em excesso contêm sorbitol e altas concentrações de frutose e glicose que podem agir osmoticamente na luz intestinal o Fármacos apenas em casos de exceção → opioides, antiespasmódicos para dor severa e antidepressivos • Lactose é o principal açúcar dos leites → quebrada pela lactase intestinal em galactose e glicose na digestão • Crianças com intolerância podem ter deficiência parcial ou total da lactase, impedindo a quebra deste carboidrato em monossacarídeos reabsorvíveis à circulação para consumo celular o A lactose não digerida chega ao intestino grosso onde é fermentada pelas bactérias colonicas, causando os desconfortos associados • Manifestações variam dependendo da quantidade de lactose ingerida e dos níveis secretados de lactase • Podem aparecer de 30 a 120 minutos após o consumo do alimento gerando sintomas gastrintestinais o Distensão abdominal, dor abdominal tipo cólica, gases e flatulência, diarreia, náusea e vômitos, assaduras, e ocasionalmente, constipação • Existem 3 tipos mais comuns Hipolactasia do “tipo adulto” → mais comum em adultos • No Brasil acomete ~40% das crianças > 3 anos com suscetibilidade genética o Sintomas são geralmente brandos Intolerância congênita à lactose → condição genética muito rara que se manifesta logo após o nascimento o Impede o aleitamento materno exclusivo e requer o uso de fórmulas sem lactose Intolerância secundária à lactose → doença adquirida por condições que lesionam o intestino delgado, levando a deficiência transitória da secreção de lactose → gastroenterite viral, giardíase, APLV, doença celíaca e de Crohn o RN prematuros podem apresentar secreção insuficiente de lactose, melhorando com a maturidade intestinal ❖ O diagnóstico pode ser realizado através de Avaliação clínica → retirada de alimentos com lactose da dieta controlam os sintomas em dias ou semanas Pesquisa da eliminação de hidrogênio em amostras de ar expirado → lactose não absorvida fermentada no cólon produz hidrogênio → absorvido pela mucosa intestinal ao sangue e eliminado durante a expiração pulmonar Teste de tolerância à lactose → em condições normais, após consumir lactose e ser digerida ocorre o aumento dos níveis séricos de glicose em mais de 20mg/dL o Pessoas intolerantes não apresentam esta variação Teste genético → detectar mutações específicas associadas à intolerância a lactose ❖ O tratamento consiste em reduzir a ingestão de lactose presente no leite e derivados • Também existe a administração oral de lactase antes da ingestão dos alimentos • A reação adversa a algum alimento divide-se em reações tóxicas e não tóxicas (intolerância e alergia) • Intolerância alimentar → qualquer manifestação clínica desencadeada pela ingestão de determinado alimento não relacionada a mecanismo imunológico • Alergia alimentar → mecanismo de hipersensibilidade mediada imunologicamente, desencadeado pela presença de determinado antígeno proteico. o Na APLV a reação pode ser voltada a betalactoglobulina e caseína o Alérgenos alimentares mais comuns da infância são → leite de vaca, ovo, amendoim, trigo e soja • Principais mecanismos de barreira não imunes do tgi → acidez gástrica, enzimas digestivas, motilidade intestinal, barreira epitelial, muco e flora bacteriana residente. PEDIATRIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • Fatores imunes → presença do GALT (linfócitos T da lâmina própria, placas de Peyer, citocinas e IgA secretória) o A imaturidade destes mecanismos em RN e lactentes os tornam vulneráveis a doenças do TGI • A alergia alimentar se desenvolve quando há perda do mecanismo de tolerância aos antígenos alimentares e produtos bacterianos da flora e desencadeamento de reação imune e inflamatória o Hipersensibilidade mediada por IgE, responsável pelas manifestações agudas, ou hipersensibilidade mediada por células (linfócitos T e macrófagos), responsáveis pelas manifestações tardiasCLÍNICA • Muito variável e envolve principalmente os tratos digestivo, respiratório e pele. o Reações mediadas por IgE aparecem minutos ou horas após a ingestão do alimento o Rreações mediadas por células levam cerca de 24 a 72 horas para aparecer ❖ Manifestações Intestinais • Proctite alérgica → manifesta-se nas primeiras 3-6 semanas com evacuações com muco e estrias de sangue o O fator deflagrador é, na maioria, a ingestão de leite de vaca pela mãe, com passagem de proteínas heterólogas pelo leite materno, vindo a sensibilizar o bebê • Enterocolite alérgica → surge entre 1-5 meses após a introdução do leite de vaca o O lactente desenvolve diarreia, cólicas intensas, vômitos, desidratação e acidose metabólica o A biópsia intestinal revela atrofia de microvilosidades e abscessos crípticos. • Enteropatia alérgica → diarreia crônica, esteatorreia, perda de proteínas, deficit de peso/estatura o Biópsia revela atrofia de microvilosidade e edema de lâmina própria • Refluxo gastroesofágico em lactentes. • Cólicas abdominais → dores exacerbadas e não responsivas ao tratamento habitual o Costumam responder à substituição da dieta por fórmulas hipoalergênicas • Esofagite eosinofílica • Anafilaxia gastrointestinal → sintomas de náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia logo após a ingestão a o Podem ocorrer sintomas cutâneos (ex.: urticária) e respiratórios (ex.: broncoespasmo) associados • Síndrome de alergia oral → edema de lábios, língua com sensação de prurido e edema de pálpebras • Constipação intestinal ❖ Manifestações Cutâneas → principais quadros são da dermatite atópica e urticária ❖ Manifestações Respiratórias → apresentações são do tipo rinite, rinoconjuntivite, asma e broncoespasmo DIAGNÓSTICO • Diagnóstico da alergia alimentar fundamenta-se em o Suspeita de alergia alimentar feita com base clínica → relação causal entre alimento e sintoma o Recuperação clínica após a retirada dos alimentos ou alérgenos da dieta o Reaparecimento dos sintomas após a reintrodução do alimento suspeito • Exames complementares para auxílio ao diagnóstico → Testes cutâneos (testes de puntura), Testes in vitro o Dieta de exclusão → exclui-se o alimento suspeito da dieta, e observa-se a melhora dos sintomas o Teste de provocação oral → reintroduz-se o alimento, e observa-se o reaparecimento dos sintomas TRATAMENTO • Eliminação dos alimentos que contenham os antígenos responsáveis pela alergia da dieta da criança • Mães de bebês amamentados exclusivamente ao seio devem realizar dieta isenta de leite de vaca e derivados. • O desencadeamento do processo não depende da quantidade do antígeno ingerido PEDIATRIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • Infecção intestinal pelo parasita Giardia lamblia, geralmente tem quadro agudo → mas sem tratamento pode ocasionar disenteria por 4 a 6 semanas • Transmissão geralmente ocorre por contato direto, comum em creches ou entre membros da mesma família, ao não lavar adequadamente as mãos após ir ao banheiro ou trocar fraldas o Também pode transmitir por água e alimentos contaminados • Na maioria dos casos, a giardíase cursa assintomática → quando presentes, os sintomas incluem dor abdominal, diarreia, flatulência e perda do apetite, havendo raramente febre e perda de peso • O diagnóstico é feito com identificação da Giardia em exame coproparasitológico • O tratamento é focado na manutenção da hidratação de acordo com a clínica o Indica-se o uso do metronidazol. • Doença autoimune que gera processo inflamatório intestinal seguido de atrofia das vilosidades da mucosa e prejuízo global na absorção de carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas e minerais • O processo ocorre ao iniciar contato com glúten → proteína existente em cereis, trigo, centeio, cevada e aveia o Por isso é comum que a criança inicie os sintomas alguns meses após iniciar a introdução alimentar • É comum apresentar diarreia crônica, perda de peso e distensão abdominal → podem estar presentes tambem dor abdominal, constipação, baixa estatura e anemia crônica • FR → histórico familiar positivo, portadores de síndrome de Down ou diabetes tipo 1 • Diante da suspeita deve-se dosar anticorpos da família imunoglobulina A (IgA) – antitransglutaminase e antiendomísio → quanto maior em quantidade, maior o risco da criança ser portadora o Se positivo → endoscopia com biópsia intestinal, que identificará o padrão de atrofia intestinal • O tratamento consiste na retirada do consumo do glúten da dieta da criança. o Recomenda-se seguimento com nutricionista para evitar possíveis impactos nutricionais e emocionais • Doenças que acometem ao intestino e tem caráter inflamatório. o Parece relacionar-se com fatores genéticos, ambientais e alterações imunológicas • Presentes em qualquer faixa etária → mais comum após os 5 anos e a adolescência –pico de 11 a 13 anos • Quando acomete todo o sistema digestivo – da boca ao ânus – chama-se Doença de Crohn (DC) o Quando restrita ao cólon denomina-se retocolite ulcerativa (RCU) • DC acomete todas as paredes do trato digestivo de forma descontínua → RCU acomete a mucosa do cólon e reto de maneira contínua, ocasionando diarreia sanguinolenta o Sintomas mais comuns incluem diarreia crônica, dor abdominal, perda de peso e fezes com sangue ▪ Na DC pode haver fissuras, fístulas ou abscessos anais ▪ A RCU pode apresentar sintomas extradigestivos → artrite de quadril e joelhos, que podem anteceder as manifestações gastrintestinais • Conjuntivite, uveíte, pioderma gangrenoso e eritema nodoso podem surgir mais tarde • Alguns casos podem apresentar manifestação fulminante → megacólon tóxico, hemorragia, perfuração, morte • Maioria apresenta evolução crônica intermitente → períodos de surtos intercalados com sintomas leves ou ausentes. • O diagnóstico é feito após exclusão de outras causas, sendo definitivo após realização de colonoscopia com biópsia de diversos segmentos para avaliar o comprometimento da parede intestinal • O tratamento da RCU consiste em medicamentos que modulam a resposta inflamatória da criança o Sulfasalazina, mercaptopurina, hidrocortisona + ACTH → variam com gravidade • O tratamento da DC além de incluir moduladores da resposta inflamatória, podem incluir o Metronidazol, Ciclosporina endovenosa (EV), Corticosteroide, Mercaptopurina, Infliximabe, Cirúrgico LITERATURA: - Tratado de Pediatria da SBP 4ª Ed. - 2017 - MEDCURSO 2019 PEDI - MEDCEL
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