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Prova de América II - UFF

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
INSTITUTO DE HISTÓRIA 
DANIELLE FREIRE DA SILVA 
Prova de América II – Profª. Drª. Larissa Viana 
 
Questão 1: Identifique o contexto histórico e comente, de acordo com a 
interpretação de Jack P. Greene, as tensões entre o governo nacional e a 
soberania dos estados nos debates pós-independência nos Estados Unidos. 
 Considerando o contexto histórico de ruptura política entre a Inglaterra e as 13 
colônias e os debates acerca das identidades nacionais e dos estados à época da Revolução 
Americana, se insere a contribuição de Jack. P Greene à historiografia da Independência dos 
Estados Unidos. Antes de adentrar a questão central de sua problemática acerca da questão da 
identidade cabe fazer algumas caracterizações para melhor identificar este contexto histórico e 
a interpretação de Greene. 
 Analisando primeiramente com mais cautela a controvérsia aglo-norte-americana, 
depreende-se que os patriotas norte-americanos utilizaram uma ampla gama de argumentos 
calcados nos direitos costumeiros e no pensamento político inglês. Nesse aspecto, eles 
utilizaram de diversos argumentos constitucionais, evocando as liberdades naturais garantidas 
a eles pela constituição e pelo sistema jurídico inglês para deslegitimar as medidas arbitrárias 
do parlamento inglês, tais quais: as “taxas sem representações” – questão que para os colonos 
britânicos na América competia às Assembleias Provinciais, onde os colonos estavam 
devidamente representados – e a instauração de exércitos permanentes em momentos de paz 
sem o consentimento civil. É sob este contexto histórico de apropriação dos ideais de justiça, 
liberdade, propriedade, Estado de Direito, representação e também do protestantismo que se 
insere a interpretação de Greene atrelando esses pensamentos e “sentimentos políticos” a uma 
concepção de identidade britânica. 
 A partir disso e com o objetivo de entender melhor o processo de ruptura política 
ligado a esse paradigma identitário, Greene caracteriza que essa identidade nacional britânica 
na qual os colonos compartilhavam na América era mediada por identidades enraizadas numa 
base local e social específica de cada uma dessas colônias britânicas. E é às luzes desses dois 
paradigmas identiários complementares que se entende o processo de ruptura política entre 
Inglaterra e as 13 colônias, pois se por um lado os colonos abriam mão de seu vínculo político 
com a Inglaterra eles faziam isso para garantir àqueles ideais identitários vinculados a sua 
identidade britânica que também definiam e delimitavam as suas identidades locais. 
 Dentro dessa elucidação geral e considerando esses dois paradigmas identitários que 
se insere os debates acerca da soberania dos estados pós-independência assim como as 
discussões acerca de um governo nacional. Pois mesmo depois do consenso acerca da 
independência as identidades locais e as práticas políticas e cotidianas diferentes de cada 
estado entravavam a formação de um governo nacional e de uma identidade americana. Nesse 
debate a herança intelectual do período revolucionário americano acerca da jurisdição do 
Parlamento Inglês se insere como base teórica para o debate acerca de um governo central que 
respeitasse as liberdades e soberania dos estados – que eram os verdadeiros representantes do 
povo, pois expressavam os seus interesses e identidades – configurando uma dada importância 
às tradições políticas tanto nos debates constitucionais estaduais quanto mais tarde na redação 
da constituição federal. 
 Parto agora para uma análise mais direta acerca da formação do governo nacional e a 
concepção de soberania atrelada aos estados. Se no período das guerras de independência a 
experiência confederada estabeleceu uma soberania que residia nos estados configurando a 
competência do Congresso e da Confederação os fins de defesa, a configuração política 
federalista foi capaz de assegurar essa soberania aos estados, ratificada na constituição 
federal. Cabe destacar aqui que apesar das diferenças entre os diversos estados, a garantia de 
um regime político que preservasse suas liberdades foi essencial para construir e estabilizar o 
governo nacional. 
 Em vista dessas caracterizações, foram as identidades locais, suas tradições políticas e 
cotidianas que durante os intensos debates constitucionais acerca dos direitos dos colonos que 
agora eram cidadãos permitiram a inserção de uma nova concepção de soberania atrelada aos 
Estados, garantido pelo novo regime político implantado. Por fim, com a abordagem de 
Greene pode-se fazer uma reflexão crítica acerca da gestação de uma identidade nacional 
americana com a Independência dos Estados Unidos. Quando, por um lado a tradição política 
britânica e as identidades locais foram o baluarte para essa ruptura política e por outro, 
mesmo depois da consolidação do governo nacional com a constituição federal em 1787, as 
identidades locais ligados aos seus respectivos estados continuaram como figura central na 
questão da identidade americana. 
Questão 2: Considerando o debate historiográfico sobre a Independência da 
América Hispânica e o contexto histórico das guerras hispano americanas, 
aponte e comente as inovações na reflexão historiográfica sobre a ruptura 
política entre a Espanha e as Américas no início do século XIX. As novas 
abordagens sobre o conceito de revolução, tal qual identificadas na síntese 
proposta por Maria de Fátima Gouvêa, são parte fundamental destas inovações. 
 Durante algum tempo a historiografia tradicional de tendências conservadoras e 
liberais descaracterizou o caráter revolucionário da independência da Hispano-américa. 
Utilizando uma concepção de análise com base nos continuísmos, esse tipo de historiografia 
argumentava que os grupos sociais dominantes permaneceram inalterados após a eliminação 
do vínculo colonial com a Espanha, o que esvaziava o caráter revolucionário deste processo. 
Outra tendência historiográfica marcada pelo ambiente da Guerra Fria apresentava a ideia de 
revolução num tipo de abordagem inteiramente ligado às razões externas, ignorando ainda as 
especificidades dos processos revolucionários de cada região. No entanto, as inovações 
historiográficas mais recentes retomaram o conceito de revolução utilizando-se de uma 
análise mais específica às questões internas dos diversos processos de independência, com 
este tipo abordagem restabeleceu-se o caráter dinâmico destes processos. A partir desse 
panorama geral irei caracterizar com mais detalhes as inovações historiográficas a respeito da 
ruptura política entre a Espanha e as Américas. 
 A primeira grande ruptura com a historiografia tradicional foi no começo da década de 
70, trata-se da contribuição de Pierre Chaunu. Ele coloca a elite criolla como figura central de 
sua argumentação, Chaunu qualifica que embora essa elite dominante possuísse valores e 
princípios herdados dos reinóis a sua participação na administração colonial era mínima, o 
que contribuía para uma grande tensão entre esses grupos e os realistas. Embora sua 
abordagem priorize os atores e conjunturas internas ele qualifica que a ruptura política com a 
Espanha esteve profundamente ligada com a Revolução de Cádiz. Destaco por fim que 
embora Chaunu estabelecesse uma considerável importância aos fatores externos, ele 
priorizava as especificações e contradições internas dos diversos processos de independência, 
o que confere a sua abordagem uma ruptura com a historiografia tradicional e de maneira 
geral um avanço nas reflexões acerca dos diversos movimentos separatistas. 
 No fim da década de 70 e sob a influência da historiografia revisionista da Revolução 
Francesa outras inovações foram trazidas para um entendimento mais amplo da 
Independência da América Hispânica. Cabe destacar aqui a obra de François Furet com o seu 
paradigma interpretativo da Revolução Francesa como um “processo” e um “acontecimento”ao mesmo tempo, definindo também o conceito de revolução como uma “modalidade de ação 
social”. Sob este paradigma explicativo alternativo, Furet defendia um modelo de análise que 
procurava identificar as rupturas e continuidades no processo revolucionário. 
 É a partir da contribuição da historiografia da Revolução Francesa que se insere a 
contribuição de François Xavier Guerra. Em sua abordagem ele identifica nas contradições 
internas e intrínsecas à sociedade colonial da hispano-américa e na crise do absolutismo 
espanhol as brechas para os debates acerca de novas concepções de soberania e experiências 
de governo, caracterizando a ruptura. Ele estabelece a partir disso, dois recortes cronológicos 
para explicar os processos de independência; primeiro o que ele chama de “ponto de 
mutação” (1808-1810) em que ele define como o momento de intenso debate a respeito da 
soberania e representação americana na monarquia espanhola, e é nesse momento que se 
desagrega a relação medieval de vassalagem ao rei, apropriada pelo Antigo Regime. Guerra 
conclui que o que caracteriza esse período é a “mutação ideológica”. Já o segundo marco 
cronológico estabelecido por Guerra seria o das “revoluções de independência”, a partir de 
1810, e se tratava da instauração das guerras civis do processo revolucionário de 
independência da latino-américa. Assim, a obra de Guerra assumia no entendimento dos 
processos revolucionários de independência hispano-americana um paradigma muito parecido 
ao estabelecido por Furet, que enfatizava um duplo caráter da conjuntura revolucionária, 
entendida como um processo e um acontecimento ao mesmo tempo. Esse tipo de abordagem é 
muito interessante no que diz respeito a uma análise mais ampla das diversas conjunturas e 
dinâmicas em conexão com as especificidades de cada região, com processos de 
independência atrelados a conjunturas e acontecimentos diferentes. 
 Por fim, a partir das caracterizações tiradas da importância da obra desses autores para 
um entendimento dos processos de independência através de um viés revolucionário e atento 
às mudanças, delimita-se uma historiografia preocupada com as questões internas, as 
especificidades de cada região e seus respectivos atores envolvidos neste processo. E 
principalmente, a partir da análise de Guerra pode-se caracterizar a complexidade de um 
processo que não envolveu apenas conflito armado, mas um intenso debate no plano das 
ideias que configurou num todo uma ruptura com a estrutura do mundo colonial americano.

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