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Colecistopatia calculosa e Coledocolitíase ANATOMIA · Vesícula biliar se projeta no lobo hepático direito. · Recesso hepático onde a vesícula é acomodada. Não é recoberta pela cápsula de Gleason. · Parte do colédoco fica acima do duodeno (na porção posterior). · Ducto cístico + Ducto hepático comum = Ducto colédoco. · Ducto colédoco e ducto pancreático desembocam no duodeno. · Vesícula biliar serve de reservatório de cerca de 30 a 60 ml de bile. · Fundo, corpo e colo (pregas em sua porção inicial e mais lisa na parte que drena ao colédoco). FISIOLOGIA · Bile Água e Eletrólitos Inorgânicos (Solutos orgânicos, Ácidos biliares, Fosfolípides, Colesterol, Pigmentos biliares). · Volume 500 a 600 ml/dia de bile. · Refeição Contração da vesícula biliar e esvaziamento do seu conteúdo para o interior do duodeno Ácidos biliares: Absorção de colesterol, Absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e Hidrólise de proteínas Estímulo da colecistocinina: Contração da vesícula, com relaxamento do esfíncter de Oddi (para secreção pancreática). DOENÇA CALCULOSA BILIAR Importância: · EUA 12% dos adultos; 1 milhão de casos novos/ano; 700.000 colecistectomias / ano; U$ 6 bilhões; 3.000 mortes (0,12% do total de óbitos). Cálculos biliares: Classificação – Tipos A) Colesterol · 75%. · Puros ou mistos (50% de colesterol e 50% de outras substâncias). B) Pigmentados · Bilirrubinato de cálcio. · Negros, cerca de 20%. · Marrons 4,5%. C) Raros · 0,5%. · Carbonato de Cálcio, Ácidos Graxos e Cálcio. Classificação – Localização · Intra-hepáticos Pigmentados marrons. · Vesícula biliar Colesterol e Pigmentados negros. · Colédoco Mistos de colesterol. Fatores de Risco: · Rara na infância e adolescência. · Mulheres 2:1 homens. · Dieta ocidental (rica em gordura e pobre em fibras). · Gravidez e paridade. · Redução rápida de peso. · Nutrição parenteral total prolongada. · Drogas Estrógeno, octreotídeo, ceftriaxona, hipolipemiantes. · Obesidade, Diabetes Mellitus e Doenças do íleo (Crohn e Ressecções ileais). · Lesão da medula espinhal. · 4Fs Female (mulher), Forty (4º década), Fat (obesa) e Fertile (multípara). Fisiopatologia: Formação de cálculos de colesterol: · Colesterol = insolúvel em água (precipita). · Colesterol + sais biliares + lecitina = colesterol hidrossolúvel. · Desequilíbrio: Secreção excessiva de colesterol, Redução da secreção de sais biliares ou Deficiência de lecitina. · Excesso de colesterol = formação de microcristais sólidos. · Agregação de microcristais facilitada pela mucina (deixa a bile mais espessa) e por diminuição da contratilidade da vesícula. Formação de cálculos pigmentados: · Pretos: bilirrubinato de cálcio + carbonato de cálcio ou fosfato de cálcio. · Pequenos e duros. · Hepatopatia alcoólica, hemólise crônica. · Marrons: bilirrubinato + ácidos graxos. · Consistência amolecida, gordurosa. · Relacionados a processos infecciosos e infestações parasitárias. · Mais frequentes nos ductos. Formas de evolução: A) Assintomáticos: · Maioria dos portadores. · Achado incidental em exames de imagem ou laparotomia por outras causas. · 20% sintomas não graves em até 15 a 20 anos. · 1% risco de complicações da doença Menor que a taxa de complicações relacionadas ao tratamento cirúrgico. · Sem indicação de colecistectomia profilática. · Subgrupos de risco (considerar colecistectomia): - Anemias hemolíticas, - Vesícula em porcelana* (DEPOSIÇÃO DE CÁLCIO EM TODA A PAREDE DA VESÍCULA, FICANDO DURA), - Cálculos > 2,5cm * (RISCO DE PERFURAÇÃO DA VESÍCULA), - Alterações anatômicas do ducto biliar ou pancreático*, - Cirurgia bariátrica (caso tenha cálculo assintomático, mas se ele não tiver cálculo não é indicado retirar profilaticamente a vesícula) e câncer de estômago, - Imunodeprimidos ou com indicação de imunossupressão. B) Colecistopatia crônica (colelitíase sintomática): · Colelitíase sintomática (colecistite crônica). · Quadro clínico Crises recorrentes de cólicas biliares (hipocôndrio direito associado a refeições, sobretudo gordurosas). · Obstrução temporária do ducto cístico (vesícula se contrai contra uma resistência gerando dor intensa). · Dor abdominal em cólica Hipocôndrio direito ou epigástrio, Após alimentação (50% dos pacientes), Irradiação para escápula, Duração de horas, Associada a náuseas/ vômitos, Empachamento, plenitude gástrica. · Diagnóstico diferencial: - Dispepsia funcional, gastrite, úlcera péptica. - Síndrome do cólon irritável. - Insuficiência coronariana. - Neoplasia de cólon. · Exames subsidiários: - Ultrassonografia Método preferencial (Alta sensibilidade e especificidade; Identifica presença de cálculos e localização; Capacidade de diferenciar pólipos – que é vascularizado - da lama biliar; Paredes da vesícula; Detalhamento anatômico). · Riscos Colecistite aguda, Colangite e Pancreatite biliar. · Tratamento Cirurgia eletiva (Colecistectomia videolaparoscópica e Colecistectomia convencional). C) Colecistite aguda: · Complicação da colelitíase. · Obstrução permanente do cístico. · Colecistite aguda Inflamação, Edema, Hemorragia subserosa, Estase biliar e Infecção secundária. · Quadro clínico: - Sintomas: Dor em hipocôndrio direito (HD), Febre e Vômitos. - Propedêutica: Dor e sinais de defesa à palpação do HD, além de Sinal de Murphy (manobra de apnéia inspiratória, interrupção dolorosa da inspiração quando a vesícula toca a mão do examinador). - Icterícia é rara. Se presente, considerar complicações: Colangite, Coledocolitíase ou Síndrome de Mirizzi (obstrução extrínseca do hepático comum, o aumento da vesícula é tão grande que comprime o ducto hepático, compromete a drenagem da bile). · Diagnóstico diferencial: Pancreatite, Úlcera péptica, Isquemia mesentérica, Colite, Isquemia miocárdica, Pneumonia. · Diagnóstico laboratorial: Leucocitose moderada, elevação da PCR; Função hepática normal ou alterada discretamente; Amilase e lipase normais ou alteradas discretamente. · Diagnóstico por imagem: - Ultrassonografia (Presença de cálculos, Coleção ou líquido pericolecístico, Espessamento da parede vesicular e Sinal de Murphy ultrassonográfico). - Tomografia computadorizada, Ressonância magnética Indicação quando existe dúvida diagnóstica. Sinais inflamatórios: edema de parede da vesícula e inflamação do tecido adjacente. - RNM (colangiorressonância, discrimina melhor cálculos do que a tomo). - Cintilografia Ácido iminodiacético: secreção fisiológica da bile. Positividade: impossibilidade de preencher a vesícula. Não identifica cálculos, nem fornece informações anatômicas. · Polêmica Tomografia com: Sinais inflamatórios (edema de parede da vesícula e inflamação do tecido adjacente). Complementar ou não com US? · Complicações: - Gangrena com necrose e perfuração: Perfuração localizada (abscesso ou fistulização – fundo da vesícula necrosada pode gerar comunicação com alça intestinal, sobretudo as de intestino delgado) e Íleo biliar. - Colecistite flegmonosa ou enfisematosa (tecido peri-vesícula está comprometido, o que pode fazer com que o cirurgião tenha dificuldade em estabelecer o plano de clivagem; apenas parte da vesícula será ressecada nesse caso). · Tratamento inicial: - Jejum e correção hidroeletrolítica. - Analgesia – antiespasmódicos (1ª escolha), AINE, opióides (cuidado com o uso de opióide, lembrar esfíncter de Oddi). - Antibioticoterapia – Gram (-), anaeróbios, enterococcus: Ceftriaxone + metronidazol ou Ampicilina + gentamicina + metronidazol. · Tratamento cirúrgico: - Colecistectomia. - Emergência Colecistite aguda complicada. - Em até 72 horas nas não complicadas. - Estratégia de escolha: Videolaparoscópica (10 a 20% de conversão). * Videolaparoscopia: Baixa morbidade, menor tempo de internação hospitalar, retorno às atividades cotidianas mais rápido, menores custos. * Videolaparoscopia Atentar para: Uso criterioso de colangiografia intraoperatória (presença de cálculos em vias biliares) e Definição anatômica precisa (Risco de lesão de via biliar e/ou lesão vascular). Variações anatômicas – viabiliar Triângulo de Calot · Um ponto de reparo anatômico utilizado para identificar estruturas importantes durante a colecistectomia. · Limites: Artéria cística (superior), ducto cístico (inferior) e ducto hepático comum (lateral). Complicações cirúrgicas: · Hemorragia. · Lesão da via biliar Estenoses e Fístulas. · Cálculos residuais. · Pancreatite. · Infecção de sítio cirúrgico. · Hérnia incisional. Complicações cirúrgicas – vídeo: Pneumoperitoneo · Embolia por CO2. · Reflexo vago-vagal. · Arritmias. · Hipercapnia. · Trocateres: Sangramento de parede, hematoma, Lesão visceral, Lesão vascular. Intervenções cirúrgicas menos usuais · Colecistectomia parcial com cauterização da mucosa remanescente. · Drenagem percutânea da vesícula auxiliada por US em pacientes com risco cirúrgico proibitivo. COLEDOCOLITÍASE · Causa mais frequente de hiperbilirrubinemia conjugada por colestase extra-hepática, ou seja, causa mais frequente de icterícia obstrutiva. · Complicação mais frequente COLANGITE. Classificação: · Primária: cálculos se originam na própria via biliar (pigmento). · Secundária: cálculos que se originam na vesícula e migram para o ducto biliar comum (colesterol). Se pós-colecistectomia: · Residual < 2 anos PO. · Recorrente > 2 anos. Quadro clínico: · Assintomático (achado incidental) OU · Icterícia “flutuante”. · Dor em cólica em hipocôndrio direito, contínua ou intermitente, irradiada para o dorso e escápula direita. · Náuseas, vômitos. · Colúria, acolia fecal (pois não tem passagem da bile). · Exame físico normal, exceto pela icterícia e, dor se paciente avaliado durante a crise álgica. Diagnóstico: · Quadro clínico, antecedente de colecistectomia. · Laboratório (específico): ↑ Bilirrubina direta, ↑↑↑ fosfatase alcalina, ↑↑ gama GT, ↑ moderado de transaminases. · Exames de Imagem (USG). Ultrassonografia de Abdome: · Presença e localização de cálculos (sombra acústica). · Visualização da vesícula, colédoco. · Tamanho do colédoco: - > 5mm = 58%. - < 5mm = 1%. · Baixo custo. · Operador dependente. Escore de risco: Quadro clínico + Ultrassonografia de Abdome: · Alto risco: história de colecistite aguda ou pancreatite com colédoco >/= 5mm e pelo menos dois dos seguintes: hiperbilirrubinemia direta, aumento de fosfatase alcalina ou transaminases. · Médio risco: quadro semelhante ao alto risco, porém com colédoco < 5mm. · Baixo risco: ausência de todos os critérios acima. Tomografia de abdome: · Avaliação da presença de cálculo. · Dimensões do colédoco e vias biliares intra-hepáticas. · Utiliza contraste iodado. US Endoscópico: · Melhora a sensibilidade. · Auxilia na realização de biópsia s/n. · Invasivo. · Custo elevado. · Menos disponível. Colangiografia por ressonância nuclear magnética: · Sensibilidade 95% e especificidade de 90%. · Excelente detalhamento anatômico. · Não utiliza contraste, sedação ou analgesia. · Perde acurácia para cálculos < 3mm. · Perde sensibilidade e especificidade quando não há dilatação das vias biliares. · Alto custo. Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE): · Combina endoscopia digestiva avançada com fluoroscopia (radioscopia). · Alia diagnóstico ao tratamento (drenagem da via biliar com exploração e remoção de cálculos): Papilotomia da ampola de Vatter, remoção dos cálculos; Dilatação de estenoses; Inserção de drenos / próteses na via biliar. · Complicações Pancreatite, sangramento, colangite, perfuração do duodeno. Tratamento cirúrgico – Indicação: · Falha no tratamento endoscópico. · Indicação primária em litíase complexa da via biliar (cálculos múltiplos, impactados). · Acesso: Vídeolaparoscopia / laparotomia. · Esfincteroplastia transduodenal. · Derivação bíleo-digestiva: Coledocoduodenostomia (critica: risco de colangite), Coledocojejunostomia em Y de Roux, Hepaticojejunostomia em Y de Roux. · Hepaticojejunostomia em Y de Roux: Obstrução biliar benigna (Lesão iatrogênica de via biliar, Estenoses biliares, Trauma de vias biliares, Cálculos proximais em vias biliares) ou Obstrução biliar maligna. Usar o dreno pelo risco de estenose da via biliar (estrutura delicada). - Tirar o cálculo por via laparoscópica, reparar e deixar o dreno. - Laparotomia aberta. - CPRE. COLANGITE · Complicação mais rapidamente fatal na doença biliar litiásica. · Resultado da infecção bacteriana na árvore biliar. · Mortalidade próxima de 100% em pacientes com terapêutica conservadora, que não são submetidos a drenagem biliar. · Diagnóstico precoce é a chave para o sucesso no tratamento. · Mecanismos de defesa contra infecções Esfíncter de Oddi, Propriedades bacteriostáticas da bile e Fluxo biliar (fluxo para baixo). Fisiopatologia – obstrução ao fluxo: · Fatores predisponentes Cálculos, Estenoses (próprio da árvore biliar ou decorrente de procedimento cirúrgico prévio) e Corpo estranho (Endopróteses). · Disseminação ascendente à partir do duodeno. · Via hematogênica também envolvida. · Colonização bacteriana em presença de estase biliar: crescimento bacteriano liberação de endotoxinas repercussão sistêmica sepse relacionada a via biliar. · Obstruções parciais apresentam maior risco que as obstruções totais (obstrução total terá uma intervenção mais rápida). · Doença calculosa maior risco que as neoplasias. · Coledocolitíase é o fator de risco mais prevalente. · Tumores periampulares, tumores metastáticos para região porta, metastáses linfonodais, estenoses benignas, colangite esclerosante primária. · Manipulações endoscópicas. Quadro clínico: · Tríade de Charcot: Febre, Dor no quadrante superior direito do abdome e Icterícia. · Pêntade de Reynold: Os três acima + hipotensão + alteração do estado mental. Irritação peritoneal é incomum. Exames laboratoriais: · Leucocitose. · ↑ PCR. · ↑ fosfatase alcalina. · ↑ gama GT. · ↑bilirrubina direta. · ↑ moderado de transaminases. · ↑ amilase em 30% dos pacientes. Exames de imagem: · US de abdome / ecoendoscopia. · TC de abdome. · Colangiopancreatografia por ressonância – aplicação limitada na colangite aguda. · CPRE reservada para intervenção e não para diagnóstico. Tratamento: · Suporte intensivo (ressuscitação volêmica, equilíbrio hidroeletrolítico, correção de distúrbios de coagulação, analgesia). · Antibioticoterapia da amplo espectro: - Cefalosporinas de espectro estendido + metronidazol + Ampicilina. - Pipe-tazo, sulbactam-ampicilina, levofloxacino o imipenem. · 7 a 10 dias pós descompressão. · Descompressão da árvore biliar é determinante no sucesso terapêutico descompressão por CPRE ou Drenagem percutânea trans-parietohepática. · 10 a 15% dos pacientes têm indicação de descompressão de urgência. · Demais casos programação em 24h. · Evolução para abscesso hepático quando não é possível a descompressão com mortalidade próxima de 100%. VCM – VITÓRIA CORREIA MOURA
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