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Ling_09

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AULA 9 – SOCIOLINGUÍSTICA (AULA 2)
CURSO DE LETRAS – PROFESSORA MARCIA DIAS LIMA DA SILVA
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SOCIOLINGUÍSTICA: O ESTUDO DA VARIAÇÃO
O sociolinguista busca demonstrar que a variação é sistemática e previsível.
Temos dois discursos: 
1. O discurso científico, embasado nas teorias da Linguística moderna: noções de variação e mudança. 
2. O discurso do senso comum, baseado na visão normativa sobre a linguagem e que opera com a noção de erro. 
	Se a língua é entendida como um sistema de sons e significados que se organizam sintaticamente para permitir a interação humana, toda e qualquer manifestação linguística cumpre essa função plenamente. 
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	“A camada mais jovem da população usa um dialeto que se contrasta muito com o usado pelas pessoas mais idosas. Os jovens absorvem novidades e adotam a linguagem informal, enquanto os idosos tendem a ser mais “conservadores”. Essa falta de conservadorismo característica no dialeto dos jovens costuma trazer mudanças na língua. Algumas gírias usadas por jovens da década de setenta, no entanto, não entraram na língua e são hoje em dia raramente usadas como “pisante” para sapato ou “cremilda” para dentadura. A palavra “legal”, entretanto, foi aceita e hoje e usada amplamente na linguagem informal, abrangendo todas as faixas etárias. Esses exemplos comprovam o fato de que nem tudo que é novo e diferente irá se efetivar numa língua, podendo alguns vocábulos simplesmente ir desaparecendo e outros continuarem existindo dentro de um determinado dialeto, ou até abranger seu uso por outros, sem necessariamente cobrir todos os dialetos existentes nessa língua”. 
	(Extraído de FERREIRA, Ana Claudia F. AS VARIACOES DA LINGUA. Disponível em http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/v00003.htm)
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A NOÇÃO DE COMUNIDADE DE FALA
	“O indivíduo, inserido numa comunidade de fala, partilha com os membros dessa comunidade uma série de experiências e atividades. Daí resultam várias semelhanças entre o modo como ele fala a língua e o modo dos outros indivíduos. Nas comunidades organizam-se grupamentos de indivíduos constituídos por traços comuns, a exemplo de religião, lazeres, trabalho, faixa etária, escolaridade, profissão e sexo. Dependendo do número de traços que as pessoas compartilham, e da intensidade da convivência, podem constituir-se subcomunidades linguísticas, a exemplo dos jornalistas, professores, profissionais da informática, pregadores e estudantes.” 
	(VOTRE, S. & CEZARIO, M. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, E. (org.) Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009)
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SOCIOLINGUÍSTICA: O ESTUDO DA VARIAÇÃO
	O sociolinguista busca demonstrar que a variação é sistemática e previsível. 
	A pesquisa sociolinguística tem como objeto de estudo o uso da língua falada em situações naturais de comunicação.
	Faz-se uma pesquisa que busca observar o uso.
	Assim: uso ǂ prescrição (Gramática Normativa) 
Se temos ‘comunidades de fala’ temos variação dentro de uma língua.
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	“Existem dialetos que evidenciam o nível social ao qual pertence um indivíduo. Os dialetos mais prestigiados são das classes mais elevadas e o da elite é tomado não mais como dialeto e sim como a própria ‘língua’. A discriminação do dialeto das classes populares e geralmente baseada no conceito de que essa classe por não dominar a norma padrão de prestígio e usar seus próprios métodos para a realização da linguagem, “corrompem” a língua com esses ‘erros’. No entanto, as transformações que vão acontecendo na língua se devem também a elite que absorve alguns termos de dialetos de classes mais baixas, provocando uma mudança linguística, e aí o ‘erro’ já não é mais erro... e nesse caso não se diz que a elite ‘corrompe’ a língua.” 
	(Extraído de FERREIRA, Ana Claudia F. AS VARIACOES DA LINGUA. Disponível em http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/v00003.htm
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SOCIOLINGUÍSTICA: O ESTUDO DA VARIAÇÃO
	O que faz com que uma variedade seja considerada ‘melhor’ que outra? Qual é a noção de valor que entra para que avaliemos os exemplos a seguir:
Pessoa 1: gravar alguém produzindo “Os m/ê/ninUs foram buscá a r/ô/pa correndo.”
Pessoa 2: gravar alguém produzindo “Os m/i/ninU foi buscá a r/ô/pa correNO.”
Pessoa 3: gravar alguém produzindo “Os m/é/ninUs foram buscá a r/ô/pa correndo.”
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SOCIOLINGUÍSTICA: O ESTUDO DA VARIAÇÃO
Norma – do latim norma (esquadro) 
Regra - do latim regula (régua)
	Regra para a linguística = regularidade.
As pessoas utilizam com muito mais frequência que se pensa as formas ditas ‘erradas’.
A mudança linguística: as formas ‘erradas’ que os falantes cultos começam a usar acabam por tornar-se ‘certas’.
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ESCRITA: MODELO PARA A GRAMÁTICA NORMATIVA
Língua não é representação gráfica da escrita: escrever não é “imitar a fala” e sim reformular a fala em outra gramática.
Fala não é subproduto da escrita.
Escrita possui maior prestígio social na nossa cultura: escrita não serve como fator de identidade grupal. Nossa cultura é grafocêntrica. 
Reflexão: o homem é um ser que fala ou ser que escreve?
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A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
	Exemplos de mudança na passagem do Latim para o Português blandu- brando clavu- cravo duplu- dobro fluxu- frouxo obligare obrigar placere- prazer plicare pregar O suposto "erro" é explicável: trata-se do prosseguimento de uma tendência muito antiga no português (e em outras línguas) que os falantes rurais ou não-escolarizados levam adiante. Esse fenômeno tem até um nome técnico na linguística histórica: rotacismo. 
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	“Sabemos igualmente que não é o erro, mas sim o status social do falante que conduz efetivamente ao preconceito. Mesmo que o ensino da norma culta condene igualmente NÓS VAI e CHAMA-ME A ATENÇÃO OS DESDOBRAMENTOS, já que em ambos os casos não se fez a concordância do sujeito com o verbo, é evidente que a primeira forma é mais estigmatizada, e isto porque não se conforma aos padrões da variedade linguística dos falantes socialmente mais favorecidos.”
	(Britto:1997, apud BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007:216)
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A NOÇÃO DE ERRO PARA A SOCIOLINGUÍSTICA
Gramática Normativa Uso
Assisti ao filme x Assisti o filme
Atenda ao chamado x Atenda o chamado
A venda implicou alterações x A venda implicou em alterações
Ela namora ele x Ela namora com ele
Obedeça ao professor x Obedeça o professor
Paguei ao vendedor x Paguei o vendedor
Prefiro bolo a doce x Prefiro bolo do que doce
Respondi ao formulário x Respondi o formulário
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A NOÇÃO DE ERRO PARA A SOCIOLINGUÍSTICA
	O papel dos gramáticos é descrever regras de funcionamento da língua, tendo como base a norma-padrão, um modelo ideal de língua que deve ser ensinado e aprendido na escola e utilizado pelos falantes cultos, ou seja, aqueles indivíduos com alto nível de escolarização. 
	Usos como os do eslaide anterior, embora não sejam estabelecidos pela norma-padrão, são comuns em outras variedades de uso da língua, rotuladas como “impróprias”, “inadequadas”, “erradas”. 
	Como ficamos diante disso? Qual é o nosso papel como professores de língua portuguesa?
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A SOCIOLINGUÍSTICA E O PAPEL DO PROFESSOR
	Não há erros em uma língua, mas sim variedades de uso distintas.	
	“Uma das principais tarefas do professor de língua é conscientizar seu aluno de que a língua é como um grande guarda-roupa, onde é possível encontrar todo tipo de vestimenta. Ninguém vai só de maiô fazer compras num shopping center, nem vai entrar na praia, num dia de sol quente, usando terno de lã, chapéu de feltro e luvas...”
	Assim, voltamos à polêmica do ‘Nós pega o peixe’...
	(Bagno, Marcos. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. São Paulo, Edições Loyola, 2002. p.130). (3.0)
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O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
	Como professores de língua portuguesa precisamos refletir.
	O preconceito linguístico não possui embasamento científico:
1. Cada época determina o que considera como forma padrão. 
	Exemplos. “Dereito”, “despois”, “premeiramente”, encontradas no texto de Pero Vaz de Caminha (1500), faziam parte do português padrão daquela época. 
	
	2. Não há razão linguística para que uma estrutura seja considerada melhor que a outra.
	Como as novelas trabalham dialetos prestigiados? Como se marca uma personagem?
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O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Será que todo morador do interior fala como o Chico bento e o pai dele? Não! No entanto, a fala deles funciona como uma ‘marcação’ de uma variedade regional. 
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O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Leia a piada abaixo.
Na escola, a professora pede aos alunos que façam uma frase com “hospedar”. 
Mariazinha diz: Os hotéis servem para hospedar os visitantes.
E Orestinho: Os pedar de minha bicicreta tá quebrado. 
A base dessa piada é o preconceito linguístico? 
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Gnerre (1985): “Uma variedade linguística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm (...)”
Variedade padrão (Variedade prestigiada): socialmente mais valorizada; resultado de uma atitude social diante da língua; estabelecimento do conjunto de normas que definem o modo ‘correto’ de falar.
Definição de uma variedade padrão: ideal de homogeneidade diante da realidade concreta da variação linguística.
O padrão é associado à escrita: a escola associa o padrão a escrita.
	
COMO SURGIU O PADRÃO?
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COMO SE COMPORTA A LÍNGUA PADRÃO?
Língua padrão não é uniforme: variação geográfica; diferenças estilísticas; língua oral x língua escrita.
A língua padrão muda com o tempo: 
Você já filme esse filme?
Portugal: Vi-o ontem. 
Brasil: Vi Ø ontem.
Lusíadas; ajuntar; alevantar; alembrar; avoar
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VARIANTE PADRÃO E 
VARIANTE NÃO-PADRÃO
	Na língua, existe pelo menos:
Uma variedade popular.
	(Variedade não-padrão é a modalidade oral, utilizada em contexto informal, de discurso espontâneo, não planejado).
Uma variedade padrão. Modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, órgão oficiais, ensinado e aprendido na escola.
	Deve ser - envolve padronização.
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VARIANTE PADRÃO E 
VARIANTE NÃO-PADRÃO
Variedade não-padrão ("os fósfro"; "moio ingrês“): errado pelas regras de gramática normativa, mas não pelas regras do grupo a que o falante pertence.
A variedade padrão é o que se costuma chamar de língua portuguesa: possui importância e prestígio social.
Por ter prestígio, pensa-se ser a norma-padrão a única representante da língua.
Português não-padrão (PNP). Utilizado por pessoas de classes desprestigiadas e marginalizadas.
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VARIANTE PADRÃO E 
 VARIANTE NÃO-PADRÃO
	O estigma que certas variedades de uso da língua adquirem não tem relação com fatores linguísticos, mas sim extralinguísticos, tais como desprestígio social, econômico, cultural, político, entre outros.
	Exemplos. 
Nós vamos x A gente vai x x a gente vamos x nós vai.
Há 20 alunos na sala x Tem 20 alunos na sala.
Falei a ele sobre isso x Falei para ele sobre isso.
Vou cantar na festa x VoØ canta Ø na festa.
Vamos lá! X Vamo Ø lá! 
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VARIANTE PADRÃO E 
 VARIANTE NÃO-PADRÃO
	O falante culto decide o que vai ou não usar das regras prescritas.
 Falante culto
Nós vamos A gente vai A gente vamos
 Nós vai
	Entre o que a Gramática Normativa prescreve e a variedade não-padrão há níveis intermediários.
	Tudo passa pelo maior ou menor nível de monitoramento.
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NORMA CULTA E NORMA PADRÃO
Alguns linguistas separam:
Norma padrão. Conjunto de regras que estão na Gramática Normativa.
	Muitas dessas regras não são utilizadas pelos falantes cultos da língua. E por que será?
 Estigma Prestígio
	“Onde tem variação tem sempre avaliação.” (Marcos Bagno)
	“A avaliação é essencialmente social”. 
	(M. Bagno)
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NORMA CULTA E NORMA PADRÃO
b)Norma Culta. Conjunto de uso do falante culto. São as formas que o falante culto REALMENTE utiliza em momentos formais de fala e de escrita.
Aproxima-se da prescrição, mas não a segue totalmente.
Exemplos. Mesóclise, Pronomes tu e vós e as respectivas conjugações, pretérito mais-que-perfeito etc.
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	“Custar, no sentido de ‘ser custoso’, ‘ser penoso’, ‘ser difícil’ tem como sujeito uma oração subordinada substantiva reduzida. Observe:
	Ainda me custa aceitar sua ausência.
	[...]
	No Brasil, na linguagem cotidiana, são comuns construções como “Zico custou a chutar” [...], Na língua culta, essas construções em que custar apresenta um sujeito indicativo de pessoa são rejeitadas. Em seu lugar, devem-se utilizar construções em que surja objeto indireto de pessoa: “Custou a Zico chutar.”
	(INFANTE e CIPRO NETO:1998,521-22, apud BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007:2228)
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VARIANTE PADRÃO E 
 VARIANTE NÃO-PADRÃO
 Regras da Gramática Normativa: norma padrão
 + culto
 - culto
Até a próxima aula!
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