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Beatriz Estrela AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE -É uma zoonose de importância mundial -Transmissão principal é vetorial, no Brasil é o mosquito Lutzomya, que é o mosquito palha, que faz a transmissão. O mosquito Phlebotomus faz a transmissão no velho mundo. São mosquitos Crepusculares, a fêmea se alimenta de sangue e estão presentes em locais úmidos, com sombra e ricos em matéria orgânica. O ciclo do Phlebotomo é ovo (7-10 dias) -> larva (3-5 dias) -> pupa (10 dias) -> adultos (4-8 dias) Os vetores no Brasil são mosquitos hematófagos de 2 gêneros a Lutzomiya e a Psycodopigus, a depender da região geográfica podemos encontrar mosquitos diferentes que predominam, no Nordeste o que predomina é o gênero L. whitmani -Protozoários do genêro Leishmania -Doença de notificação compulsória - Gênero leishmania e sua morfologia: É um protozoário parasita intracelular obrigatório, possui subgêneros que é o Vianna e o leishmania sua morfologia é dividida em: 1. Amastigotas: forma sem flagelo, localizada trato digestivo do hospedeiro, forma que entra no hospedeiro, aparece como organismo oval, esférico ou fusiforme, possui núcleo grande e arredondado. FORMA INTRACELULAR 2. Promastigota: se localiza no dentro do tubo digestivo do vetor, invade o sistema reticuloendotelial, logo, baço e fígado são órgãos acometidos na forma mais grave da doença. Possui flagelo livre e longo que emerge na porção anterior do corpo do parasito, é uma forma mais alongada. 3. Paramastigota: são formas mais pequenas e arredondadas ou ovais, possui um flagelo curto, que pode ter sua extremidade aderida a superfície cuticular da porção anterior do trato digestivo do vetor. 4. Promastigotas metaciclicos: é a forma que consegue escapar da ação lítica do complemento, eosinófilos e neutrófilos. (INFECTA O HOSPEDEIRO VERTEBRADO) Leishmaniose Beatriz Estrela Ciclo biológico geral: I. Ciclo no hospedeiro invertebrado (vetor) • As fêmeas são hematófilas 1) No momento de ingerir o sangue ela pode ingerir também macrófagos contendo amastigotas 2) Tudo que o inseto ingere fica primeiro dentro de uma bolsa denominada membrana peritrófica (serve para separar o que foi ingerido das células próprias) 3) Nesse primeiro momento não há contato do parasito com o corpo do inseto em si 4) Quando os macrófagos chegam no início do intestino do inseto, na parte anterior, os macrófagos se rompem e as amastigotas são liberadas e se transformam em promastigotas 5) A partir desse momento essa nova forma passa a se multiplicar por divisão binária, tudo isso ainda dentro da membrana peritrófica que irá se romper com o tempo (após 3-4 dias) 6) Essas formas com seus flagelos vão grudar nas células do inseto e passam por uma série de transformações até chegarem na forma promastigota metacíclica (é a forma infectante para o hospedeiro vertebrado) 7) Depois de todo desenvolvimento os parasitos migram para o probóscide do inseto (apêndice que é usado para picar) Atenção: os subgêneros Viannia e Leishmania tem relação com o local do intestino esses parasitos vão colonizar, o Viannia ficam na parte posterior do intestino e o Leishmania ficam na parte média do intestino II. Ciclo no hospedeiro vertebrado 1) Fêmea pica o humano e o parasito adentra e chega na circulação sanguínea 2) Os parasitos possuem como alvo células do sistema mononuclear fagocitário, em especial os macrófagos 3) O parasito entra em contato com o macrófago e interage com seus receptores de superfície 4) A partir disso o macrófago executa seu trabalho de fagocitar o parasito, que é o seu real intuito, já que nesse momento ele ficará dentro do vacúolo fagocitário 5) No momento em que se encontra no vacúolo o parasito muda sua forma para amastigota e com isso o macrófago não consegue destruí-lo devido a resistência dessa forma 6) A partir disso por divisão binária a forma amastigota passa a se reproduzir dentro do macrófago, até o ponto que a membrana do macrófago não resiste 7) Por fim, as amastigotas se tornam livres para infectar novos macrófagos dando continuidade no ciclo e a infecção por leishmania Ciclo: A infecção do hospedeiro invertebrado se dá pelo repasto sanguíneo em indivíduos ou animal Beatriz Estrela infectado. O hospedeiro é infectado na forma de promastigota (inoculado pela fêmea), a promastigota é internalizada através da endocitose, mediada por receptores na superfície do macrófago, após a internalização a promastigota é encontrada dentro do vacúolo parasitóforo, onde a promastigota se transforma em amastigota, que é capaz de se desenvolver e multiplicar no meio ácido encontrado no vacúolo digestivo, a amastigota inicia o processo de sucessivas multiplicações, na ausência do controle parasitário na célula hospedeira, esta se rompe e libera as amastigotas, que serão internalizadas novamente pelos macrófagos. -Fatores de virulência: as promastigotas são recobertas pelo glicocálice, que são glicoconjugados, que são estruturas importantes para a sobrevivência e patogênese do parasita, como o lipofosfoglicano que permite o atraso da união do fagossomo com o lisossomo e permite a transformação de promastigota em amastigota. - Mecanismos subversivos para invadir o sistema imune do hospedeiro: 1. Morte altruísta: algumas leishmanias promastigotas injetadas no hospedeiro pelo mosquito estão apoptóticas, logo, elas emitem conjugados que são reconhecidos por neutrófilos que migram para a infecção para fagocitar essas células mortas, por consequencia, acabam fagocitando algumas leishmanias vivas, mas os neutrófilos não são ativados, porque vão apenas com a função de “limpar” as células mortas, logo não vão com função de resposta inflamatória. 2. Apoptose atrasada: os parasitas atrasam a apoptose de neutrófilos infectados, o que permite que a leishmania consiga sobreviver e se replicar dentro dessa célula. Faz com que os macrófagos demorem para entrar no local da infecção e fagocitar o neutrófilo. 3. Cavalo de troia: o neutrófilo de apoptose atrasada, quando é fagocitada pelo macrófago (que não vai preparado para maiores respostas, apenas para fagocitar uma célula morta), o neutrófilo se rompe dentro do macrófago e a leishmania infecta o macrófago. 4. Mimetismo apoptótico: a célula apoptótica expõe a fosfatidilserina que são reconhecidas pelas células fagocíticas. A leishmania, na sua forma amastigota, consegue expor a fosfatidilserina sem estar em processo de apoptose, logo, a leishmania consegue “imitar” o comportamento de uma célula apoptótica, fazendo com que elas sejam fagocitadas pelas células e as infectem. Beatriz Estrela - Leishmaniose tegumentar americana A leishmaniose é uma doença infecciosa, não contagiosa, transmitida por mosquito, endêmica e de notificação compulsória, considerada a 6° doença infecciosa mais importante pela OMS. A leishmaniose pode variar a partir da espécie da leishmania e da resposta imune do paciente, dão origem a: 1. Cutânea-localizada: caracterizada por uma úlcera indolor no local da picada, a úlcera possui formato arredondado ou ovalado, com base eritematosa, infiltrada e de consistência firme, com bordas bem delimitadas e elevadas, além de sempre apresentar fundo avermelhado com granulações grosseiras. As úlceras podem ser múltiplas ou única, causada pelas espécies do subgênero leishmania e vianna, o paciente apresenta uma boa resposta Th1 (CD4 e CD8 = IL-12, IFN-gama, TNF-alfa, linfotoxinas e oxido nítrico), protegendo de uma nova infecção por leishmaniose. Pode evoluir para a segunda forma. Muitas vezes essaforma se cura espontaneamente, mas em alguns pacientes podem se manter evoluindo para manifestação crônica. (Leishmania braziliensis) 2. Cutânea-mucosa: é uma complicação da leishmaniose cutânea localizada, apresenta uma úlcera necrótica, acontece apenas se for causada pelo subgênero Vianna, o paciente possui maior resposta do Th1. Essa manifestação é caracterizada por lesões destrutivas nas mucosas das vias aéreas superiores (nariz, boca, faringe e laringe), pode destruir também tecidos moles e cartilagens. A destruição do tecido da mucosa do paciente é consequente da resposta imune inflamatória exacerbada, logo, essa manifestação depende muito da resposta imune do hospedeiro, além disso, a exacerbação pode causar obstrução nasal, disfagia, rouquidão, dispneia e tosse. (L. braziliensis, L. amazonenses, L. guyanensis) 3. Anérgica difusa: são casos raros e graves, caracterizados por nódulos disseminados, a manifestação é causada apenas pelo subgênero leishmania, não tem uma boa resposta do Th1 e sim do Th2 (IL-4, IL-13 e arginina), tem uma avalanche de parasitas. (L. amazonenses) - Leishmaniose visceral americana (fisiopatologia e ciclo) No Brasil a Leishmaniose Visceral tinha inicialmente um caráter rural, mas acabou se expandindo para as áreas urbanas de médio e grande porte, sendo conhecida também como Calazar. Na área urbana os Beatriz Estrela maiores reservatórios são os cães, já no ambiente silvestre são as raposas, outro grande reservatório é o paciente na fase ativa da infecção. A transmissão se dá através da transmissão da leishmania chagasi pela picada do mosquito-palha femea. 90% dos casos podem evoluir para óbito. O vetor no Nordeste é o Lutzomyia longipalpis, conhecido como mosquito palha, o principal fator de transmissão é pelo vetor, porém existem transmissões mais raras como transfusão de sangue e compartilhamento de seringa. O agente etiológico causador da leishmaniose visceral é a Leishmania infantum. A leshmaniose visceral era conhecida na Índia como uma doença de alta letalidade e chamada de Kala-azar, pela frequente pigmentação escurecida da pele nas pessoas infectadas, e por isso ficou conhecida também como Calazar. O período de incubação no homem é de 10 dias a 24 meses com média entre 2-6 meses. Como a leshmania é um parasito intracelular obrigatório de células fagocitárias (macrófagos), sua presença determina supressão da imunidade celular, favorecendo a multiplicação incontrolada de protozoários. Manifestações clínicas: o quadro clínico depende de fatores geográficos (relacionado a epidemiologia do lugar) e susceptibilidade individual (idade, desnutrição, patologias simultâneas, imunidade). A maior parte das infecções são assintomáticas, mas alguns pacientes podem evoluir para a forma visceral clássica por fatores genéticos ou por imunossupressão, por isso crianças e idosos são mais susceptíveis. Os sinais clínicos em humanos são anemia, febre, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, leucopenia, hipergamaglobulinemia (aumento das globulinas do tipo gama), trombocitopenia e hemorragia. Os sinais clínicos em cães são lesões cutâneas, perda de peso, linfoadenopatia, lesões oculares, epistaxis, onicogrifose. A leishmaniose visceral pode ter um desenvolvimento gradual ou abrupto. Os sinais clínicos sistêmicos típicos são febre intermitente, palidez da mucosa, esplenomegalia, presença ou não de hepatomegalia e progressivo emagrecimento com enfraquecimento geral do paciente. A relação parasito-hospedeiro assume caráter espectral de forma que a doença pode variar desde uma forma silenciosa assintomática para uma forma aguda ou até mesmo crônica. *A doença apresenta-se em 4 períodos: 1.Forma assintomática: os indivíduos podem desenvolver sintomatologias especificas como febre baixa recorrente, tosse seca, diarreia, sudorese, prostração e o paciente pode apresentar a cura espontânea ou manter o parasito sem nenhuma evolução clínica por toda a vida. O equilíbrio existente entre o individuo e o parasita pode Beatriz Estrela ser rompido por algum fator que cause imunossupressão como desnutrição ou HIV e essa forma assintomática pode evoluir para a forma aguda 2.Forma aguda: corresponde ao período inicial da doença, onde apresenta febre alta persistente e variável, que apresenta 1 ou 2 picos por dia, palidez da mucosa e hepatoesplenomegalia discreta, o paciente também pode apresentar tosse e diarreia. A evolução em geral não ultrapassa 2 meses e o diagnóstico pode ser confundido com outras doenças como esquistossomose e malária 3. Calazar clássico: é a forma de evolução prolongada, também chamada de período de estado, composta por um quadro de febre irregular e continuo agravamento dos sintomas, com emagrecimento progressivo, causando a desnutrição do paciente, caquexia acentuada, hepatoesplenomegalia associada à ascite (acumulo de líquido) causa o aumento do abdome, edema generalizado, dispneia, cefaleia, dores musculares, perturbações digestivas, epistaxe e retardo da puberdade. 4.Leishmaniose dérmica pós- calazar: é uma manifestação cutânea da leishmaniose que ocorre após o tratamento da forma visceral, ela é consequência da L. donovani e se manifesta 6 meses-5 anos após a cura clínica do calazar. Provoca lesões na pele de aparência variada caracterizadas pelo aparecimento de hipopigmentação, pápulas ou máculas, principalmente na face, tronco e nos membros. Nessa fase não há febre e nenhum outro sinal de envolvimento visceral, as lesões podem levar meses ou anos para desaparecerem e o tratamento pode ser prolongado. Essa manifestação é rara nos casos de leishmaniose causada pelo L. infantum, mas já foi descrita em casos de pacientes coinfectados com HIV aqui no Brasil. *é válido lembrar que a leishmaniose é uma doença imunossupressora, logo ela abre uma porta de entrada para doenças oportunistas e essas doenças podem ser a causa da morte desse paciente, além disso, a própria leishmaniose é uma doença oportunista que pode se desenvolver em pacientes com HIV/AIDS. O exame sanguíneo mostra, leucopenia, plaquetopenia e anemia, o que pode causar hemorragias e essa também é uma das causas de morte desses pacientes A doença causa alterações no sistema macrofágico das vísceras, causando esplenomegalia, hepatomegalia e alterações da medula óssea, anemia, imunodepressão, os sintomas são febre irregular, palidez, fraqueza, anemia, desnutrição, aumento do baço e fígado e sangramento na boca e nos intestinos O diagnóstico se dá a partir de método parasitológico, consiste na busca de parasitos em material que foi puncionado da medula óssea do paciente, ou sorológico com ELISA e reações de imunofluorescência. Beatriz Estrela - Formas de diagnósticos de LTA: 1.Exame direto: raspado da borda da úlcera 2.Cultura: meios específicos 3.Sorologia 4. Exame molecular: PCR - Tratamentos da LTA: A droga principal é a N-Metil- Glutamina (glucantime), com dose máxima de 3 ampolas por doa = 15ml. (cada ampola possui 5ml), além disso 1ml = 81mg ➔ A forma localizada recebe 10mg/kg/dia por 20 dias ➔ Forma difusa ou mucosa recebe 20mg/kg/dia por 30 dias As drogas de segunda linha são a anfotericina B (é a primeira opção para gestantes, alternativa para toxidade da glucantime e a dose é 1mg/kg/dia todo dia ou alternado) e o isentionato de pentamidina. Há estudos para o uso da Miltefosina para tratar cães, além de altos e adolescentes, exceto para grávidas, por possuir a vantagem de não precisar da internação, como no caso do glucantime. IMPORTANTE: As úlceras levam de4-6 semanas para desaparecerem mesmo depois de tratada. - Diagnóstico direto: é o diagnóstico que identifica o parasito, pode ser parasitológicos (cultura-observa o amastigota na amostra, citologia- aspirado do linfonodo e histologia- biopsia) e pode ser molecular (PCR ou RT-PCR, que amplificam a cadeia do material genético do parasita) - Diagnóstico indireto: avalia a resposta do corpo do hospedeiro frente a infecção do parasita, pode ser: reação de montenegro (DTH) é uma reação de hipersensibilidade tardia, com a inoculação do antígeno bruto na derme do hospedeiro, após 48h observa o comportamento da derme do hospedeiro, já ELISA (detecta IgM e IgG), RIFI, imunoistoquímica (usa corte do tecido) e imunocromatografia. Medidas de prevenção e controle: -> vetor: manejo ambiental e atividades de educação em saúde. -> reservatórios: diagnóstico sorológico, eutanásia de soropositivo, controle vetorial com inseticidas, coleiras e telas de proteção. - Relação Leishmaniose x desmatamento: Existe uma relação direta entre o processo de desflorestamento da região com o aumento do número de casos de leishmaniose, visto que a doença está correlacionada a crescente ocupação e consequente redução da vegetação. Segundo análises feitas pelo Ipea um acréscimo de 1% na área desmatada de um município faz com que os casos de leishmaniose cresçam 5-9%. Diversos são os mecanismos sugeridos para explicar como o desequilíbrio ambiental contribuiria para o aumento da incidência de doenças. Como Beatriz Estrela resposta a esse desequilíbrio ecológico causado pelo desmatamento, somado ao aparecimento de novas populações humanas e animais na área desmatada, muitos vetores de doenças podem se converter de uma orientação predominantemente zoofílica para uma orientação antropofílica. Além disso, a atividade de desmatamento promove a chegada de migrantes com baixa imunidade a parasitas frequentes nas regiões desmatadas. Por vezes, ainda, estas novas populações trazem costumes e hábitos que, inadvertidamente, acabam por contribuir para a proliferação e a transmissão dos parasitas autóctones como populações que utilizam cães para o pastoreio, o que contribui para um aumento da prevalência de leishmaniose. Com isso, ações de prevenção dessa doença pode ocorrer de maneira conjunta com ações de fiscalização ambiental, levando em consideração a distribuição espacial do desmatamento e sua evolução.
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