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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS Química Inorgânica Catalisador de Wilkinson e hidrogenação homogênea Fabiana Fernandes Silva Jataí Setembro 2021 1 – Introdução O presente estudo objetiva explicar um processo catalítico muito importante, a catálise homegênea para fins de hidrogenação de alquenos via catálise homegênea por meio do catalisador de Wilkinson, um processo desse tipo é de grande importância industrial, seja na síntese de fármacos em química fina, também na indústria do petróleo em processos de hidrotratamento e alguns tipos de polimerizações, bem como na indústria de alimentos na conversão de óleo vegetais líquidos em gorduras semissólidas. Conforme foi mencionado acima, os processos catalíticos são de extrema importância para fins industriais, e por este motivo existem vários tipos de catalisadores e muitos estudos acerca do aperfeiçoamento de processos catalíticos bem como a síntese de novos catalisadores com o próposito de se realizar catálises com o uso menos energia e de maior eficiência, tanto na taxa de conversão dos reagentes a produtos, ou seja , resultando na obtenção de maiores rendimentos, bem como na velocidade com que a reação se processa. Há vários diversos catalisadores e sistemas catalíticos utilizados na indústria atual, um dos principais, senão o principal catalisador e mais conhecido é o catalisador de Wilkinson, tal fato decorre de ser sido o primeiro catalisador a ser utilizado em um sistema de catálise homogênea para a hidrogenação de alcenos, alcinos, aldeídos e acetonas, e que é o precussor de outros catalisadores largamente utilizados nos dias atuais na síntese de fármacos quirais, destacando-se a L-Dopa, um fármaco utilizado no tratamento da doença de Parkinson e também da ambliopia. 2 - Hidrogenação Hidrogenação é o processo químico de eliminação de grupos funcionais insaturados pela adição de átomos de hidrogênio. As principais fontes de hidrogênio utilizadas são o hidrogênio molecular (H2) e os hidretos metálicos (por exemplo, o NaBH4). Na Figura 1 são mostradas reações de hidrogenação de uma ligação dupla entre átomos de carbono (olefina) e de uma ligação dupla entre carbono e oxigênio (aldeído ou cetona) (Pinho & Suarez, 2013). Figura 1: (a) hidrogenação de uma olefina (alqueno) gerando uma parafina (alcano), (b) hidrogenação de um grupamento funcional cetona gerando um grupamento alcóolico (Pinho & Suarez, 2013). Nesse trabalho será abordada a hidrogenação de alquenos, também conhecidos como olefinas, tal reação é largamente utilizada industrialmente na obtenção de alcanos, também conhecidos como parafinas. A hidrogenação de alquenos acontece na presença de uma variedade de catalisadores metálicos e organometálicos, há dois tipos de catálise, a catálise heterogénea e a catálise homogénea. Catálise heterogénea: é um termo em química que descreve um processo catalítico no qual o substrato é solúvel na mistura reacional, porém o catalisador é insolúvel em tal mistura reacional, esse tipo de processo é característico por ocorrer em sítios específicos na superfície de um catalisador, tal processo é muito comum nos catalisadores automotivos, onde os gases poluentes tais como monóxido de carbono (CO), monóxido de nitrogénio (NO) e dióxido de nitrogénio (NO2) são convertidos a gases menos nocivos ao meio ambiente, como o gás carbônico (CO2) e o gás nitrogênio (N2). Catálise homogénea: A catálise homogénea diz respeito a processos catalíticos no qual o catalisador em questão é solúvel na mistura reacional, e este tipo de catálise será abordado com maior enfoque neste trabalho. Na hidrogenação homogénea de alquenos, os catalisadores mais comuns nesses processos incluem complexos de ródio e rutênio, dentre os quais se destaca principalmente o catalisador de Wilkinson, conhecido como o cloreto de tris(trifenilfosfina)ródio (l), tal catalisador é um dos mais conhecidos para este tipo de hidrogenação, e também podendo ser considerado um marco na hidrogenação homogénea. Figura 2: (a), (b) hidrogenações via catálise heterogénea e (c) hidrogenação homogénea (Solomons & Fryhle, 2012). Cabe ressaltar a questão energética de uma reação de hidrogenação de um alqueno, essa reação é exotérmica com ∆H≈ -120 kJ mol-1, e a seguir é apresentado um diagrama de energia livre para a hidrogenação de alqueno: Figura 3: Diagrama de energia livre para a hidrogenação de um alqueno na presença de um catalisador e a reação hipotética na ausência de um catalisador (Solomons & Fryhle, 2012). Através do gráfico acima, é possível perceber a função do catalisador na hidrogenação de um alqueno, o catalisador é responsável por fazer com que a energia de ativação da reação seja menor, ou seja, torna tal reação mais favorável, mais propícia a ocorrer, isso se deve ao fato de o catalisador fornecer um mecanismo, uma rota mais favorável e geralmente em várias etapas, no qual a reação ocorre à temperatura ambiente e com menores gastos de energia, logo um processo mais eficiente. 3 - Um pouco sobre Geoffrey Wilkinson Geoffrey Wilkinson (Imperial College, Londres) compartilhou o prêmio Nobel de Química de 1973 com Ernst Otto Fischer (Munique) pelas realizações em química organometálica. Além do trabalho sobre catalisadores para hidrogenação homogênea, Wilkinson colaborou na determinação da estrutura do ferroceno, bem como em diversos outros aspectos de compostos organometálicos (Carey, 2011). Figura 4: Geoffrey Wilkinson (1921-1996) Figura 5: Estrutura do Ferroceno, uma das grandes contribuições de Wilkinson 3.1 - Catalisador de Wilkinson O catalisador de Wilkinson é o nome comum ou usual para o cloreto de tris(trifenilfosfina)ródio (l), um composto de coordenação com a fórmula Rh(PPh3)3Cl, (onde Ph = fenil). Esse catalisador passou a ser denominado como catalisador de Wilkinson depois que o químico e Prêmio Nobel, Sir Geoffrey Wilkinson popularizou o seu uso como catalisador. Figura 6: Estrutura do catalisador de Wilkinson Figura 7: Estrutura da Trifenilfosfina, um ligando comum no catalisador de Wilkinson Figura 7: Estrutura tridimensional do catalisador de Wilkinson 3.2 – Mecanismo e cosiderações sob a hidrogenação homogénea de alquenos Figura 8 : Mecanismo geral para a hidrogenação catalítica de Wilkinson O mecanismo acima foi proposto por Jack Halpern que se embasou em estudos a cerca da cinética da reação e através de estudos espectroscópicos em RMN 31P. O autor propôs duas possíveis rotas para o mecanismo desta reação: associação ( adição oxidativa de uma molécula de H2 ao complexo [RhCl(PPh3)3]) e dissociação (adição oxidativa de uma molécula de H2 para a espécie [RhCl(PPh2)]. Contudo, a espécie [RhCl(PPh3)2] reage com H2 pelo menos mil vezes mais rápido que a espécie química [RhCl(PPh3)3], e portanto a espécie [RhCl(PPh3)2] é um intermediário ativo, comprovando que o mecanismo se inicia preferencialmente com a etapa de dissociação de um ligando trifosfina (PPh3). A seguir são descritos os passos ou etapas que ocorrem na hidrogenação homogénea via catalisador de Wilkinson, conforme o ciclo cata lítico mostrado anteriormente. O primeiro passo que ocorre é a dissociação do ligando trifosfina, conforme a Fig 9 a seguir: Figura 9: Dissociação do ligando, onde L= PPh3 (Solomons & Fryhle, 2012) Nesta etapa, vale ressalatar a importância de um bom solvente, para promover a dissociação do ligando em uma certa entensão, geralmente utiliza-se uma mistura de benzeno e etanol. O passo seguinte é a adição oxidativa de H2 ao complexo, é um processo onde o metalé oxidado aumentando o seu estado de oxidação com a subsequente adição de hidrogénio como um novo ligando, e é importante ressaltar quea ativação do hidrogénio nesse processo pode ocorrer através de uma clivagem homolítica ou heterolítica, e isto é exemplificado na Fig 10 a seguir: Figura 10: Ativação do Hidrogénico via clivagem homolítica e heterolítica (Figueiredo, M.Pereira, & Faria, 2008) No ciclo catalítico proposto por Halpern, a ativação do hidrogénio na etapa de adição oxidativa ocorre via clivagem homolítica, e segue na Fig 11 a seguir um esquema de adição oxidativa: Figura 11: Adição de oxidativa (Solomons & Fryhle, 2012) A próxima etapa é processo coordenação ( também conhecido como associação do ligando ao metal), nesse caso um alqueno ( eteno por exemplo) se associa ao metal formando um complexo onde o metal está ligado a dois hidretos e a um alqueno, conforme o esquema a seguir: Figura 12: Associação do ligando ao metal O complexo formado na etapa acima é chamado complexo π, isto ocorre pelo fato de que os alquenos são bons doadores π, tal ligação é estável por causa de um efeito conhecido como retroligação, este efeito ocorre quando o alceno faz a ligação com um metal, onde um orbital molecular π do alceno doa densidade eletrónica para um orbital vazio do metal, enquanto um orbital preenchido do metal doa densidade eletrónica para o orbital molecular π* do alceno, e tem-se uma interação sinérgica, fazendo com a estrutura do complexo formado tenha estabilidade. Figura 13: Ligação metal-alceno (Buffon, 2002) É importante ressaltar fatores que influênciam a retroligação tais como o estado de oxidação do metal, a Pt (0) (d10) por exemplo, retrodoa mais densidade eletrónica para o alceno do que íões metálicos mais eletronegativos, ligantes espectadores e que sejam preferencialmente σ-doadores influenciam positivamente a retroligação entre metal e alceno, desta forma o efeito da retroligação e sua força dependem de diversos fatores. Sobre a etapa de coordenação do metal (associação do alceno ao metal) tornando um complexo π, o fato de esta etapa ser chamada de etapa de coordenação decorre do fato de que o complexo π formado apresenta 18 eletrons na camada de valência do ródio no complexo, quando isto acontece, diz-se que o complexo está coordenativamente saturado, daí vem o termo etapa de coordenação. A etapa seguinte é conhecida como etapa de inserção, conforme a Fig 14 a seguir: Figura 14: Etapa de inserção (Solomons & Fryhle, 2012) Esta etapa se dá pela transferência intramolecular de um hidreto para produzir o [Rh(alkyl)Cl(Ph3)2], a formação deste intermediário é a etapa determinante da velocidade de todo este processo catalítico (Figueiredo, M.Pereira, & Faria, 2008). Destaca-se que nesta etapa ocorre o que é chamado de “shift”, que quer dizer troca ou rearranjo, porque a ligação π entre o ródio e o alceno e a ligação σ entre o ródio e o hidrogénio são trocadas por duas novas ligações σ, uma entre o ródio e carbono e outra entre o carbono entre o hidrogénio. A inserção ocorre de uma maneira estereoespecífica, tal como uma adição sin da unidade M-H no alceno (Solomons & Fryhle, 2012). Figura 15: Esquema sobre a adição sin , que mostra que a etapa de inserção é um processo estereoespecífico (Solomons & Fryhle, 2012) Por último ocorre o processo de eliminação redutiva, nessa etapa forma-se o alcano a partir do complexo intermediário formado na etapa anterior, esta etapa ocorre rapidamente, completando o ciclo catalítico. A seguir é mostrada na Fig 16, o esquema desta etapa: Figura 16: Eliminação redutiva Figura 17: Adição oxidativa A adição oxidativa nesta apresentada na Fig 17 regenera o complexo de ródio formado na etapa de eliminação redutiva, e a reação com outra molécula de um alqueno volta a ocorrer a partir da etapa de coordenação. 3.3 – Um pouco sobre a seletividade do catalisador de Wilkinson Conforme já foi mencionado, a hidrogenação homogénea via catalisador de Wilkinson é um processo estereoespecífico por causa da etapa de inserção no ciclo catálitico, que é uma adição sin, também vale ressaltar uma frase conhecida, quanto mais seletivo, menos reativo torna-se uma reação. Figura 18: Reação de deuteração do ácido (2Z)-but-2enodióico A reação acima é um exemplo que comprova a estereoespecificidade da hidrogenação homogénea, bem como também mostra que a hidrogenação de um cis-alqueno, ou seja, uma molécula simétrica, implica na formação de um alcano com centros quirais, mas que possue um plano de simetria, logo resulta na formação de um composto meso. Figura 19: Reação de hidrogenação homogénea de um composto bicíclico A reação acima já exemplifica um outro fator que influencia a hidrogenação homogénea via catalisador de Wilkinson, a questão do impedimento estérico, ou seja, a reação acima tem- se a possibilidade de formação de dois produtos, um maioritário e outro minoritário, o maioritário será geralmente o endo, pois é mais fácil o catalisador de Wilkinson se aproximar da face da olefina menos impedida estericamente. Figura 20: Reação de hidrogenação heterogénea em (a) e hidrogenação homogénea (b) Na situação acima, tem-se em questão outro fator, o grau de substituintes das ligações duplas no alqueno, conforme foi mencionado anteriormente a questão da seletividade e reatividade, na catálise heterogénea em (a), conforme pode-se perceber, são frequentemente não seletivas enquanto que em (b), a reação ocorre hidrogenação a parte insaturada da molécula com menor grau de substituição, e isto comprova o caráter seletivo deste tipo de hidrogenação. Figura 20: Reação de hidrogenação homogénea ( questão sítio-seletividade) Uma outra questão importante é a seletividade da hidrogenação homogénea se tratando de sua aplicação em substratos tais como cis-alquenos, trans-alquenos e moléculas que apresentam sítios com isomeria cis e sítios com isomeria trans, e observa-se do ponto e vista cinético que reações com substratos cis se processam mais rapidamente do que reações deste tipo com o uso de um substrato trans-substituído, tal explicação não decorre só do fato experimental, mas também da questão a hidrogenação homogénea utilizando-se o catalisador de Wilkinson, faz uso de uma adição sin, que é facilitada se o substrato em questão for um cis- alqueno. 3.3 – Catalisador de Wilkinson – Novas perspectivas Conforme foi mencionado anteriormente, catálise homogénea surgiu praticamente junto com a química dos organometálicos entre as décadas de 1950 e 1960, e o desenvolvimento de um catalisador solúvel para hidrogenação feito por Geoffrey Wilkinson foi um marco para ciência, tanto que inspirou gerações de cientistas a estudar tais processos catalíticos bem como sintetizar novos catalisadores, inclusive baseados no catalisador de Wilkinson, nesse caso destacam-se os cientistas William S. Knowles (empresa Monsanto) e Ryoji Noyori (Universidade de Nagoya), que desenvolveram catalisadores quirais que se mostraram muito eficazes em sínteses enantioseletivas, onde vale-se ressaltar um método desenvido por Knowles e colaboradores da Empresa Monsanto para a síntese da L-DOPA, um fármaco utilizado no tratamento da doença de Parkinson e ambliopia irreversível. Figura 21: Síntese assimétrica da L-DOPA – Um grande exemplo da inovação em processos de catálise a partir de catalisadores de Wilkinson modificados (Solomons & Fryhle, 2012) 4-Conclusão Conforme o que foi apresentado neste estudo, o objetivo foi alcançado mediante o fato de que foi compreender e distinguir os dois tipos principais de catálise, a catálise homogénea e heterogénea, bem como foi possível perceber o que é o catalisador de Wilkinson, sua importância, principais usos e aplicações. A respeito do mecanismo da hidrogenação homogénea com o uso do catalisador de Wilkinson, foi possível perceber que um mecanismo para determinado processo catalítica na maioria das vezes não é únicae vem sofrendo alterações cada vez que se descobre algo novo a cerca de alguma etapa do processo catalítico em quetão. Também é importante ressaltar que foi possível compreender o principal mecanismo deste processo, suas etapas, ressaltando-se também os fatores que inlfluencia neste tipo de catálise, bem como também a estereoquímica do processo que depende da natureza do substrato. Também vale chamar a atenção para o uso do catalisador de Wilkinson em termos econômicos, pois o ródio é um metal de preço elevado, sendo este também um dos grandes motivos para o estudo a cerca da química dos organometálicos, ao ponto de se conseguir catalisadores mais baratos e eficientes, vide o exemplo da obtenção de gorduras hidrogenadas na produção de margarinas, onde o processo ocorre por hidrogenação heterogénea com o uso de catalisador metálico a base de níquel metálico e paládio, pois são metais mais abundantes, logo de menor custo, portanto é importante também ter esta comparação entre eficiência do catalisador utilizado, finalidade de seu uso e os gastos necessários deste tipo. 5 - Referências Bibliográficas Buffon, R. (Outubro de 2002). Catálise por Compostos de Coordenação. Chemkeys - Liberdade para aprender. Carey, F. A. (2011). Química Orgânica (Vol. 1). Porto Alegre, Brasil: McGraw Hill - Bookmann. Figueiredo, J. L., M.Pereira, M., & Faria, J. (2008). Catalysis from Theory to Application - An Integrated Course. Coimbra: Coimbra University Press. Halpern,J., & Wong, C. S. (1973). Hydrogenation of tris(triphenylphosphine)chlororhodium(I). Journal of the Chemical Society, Chemical Communications, pp. 629-630. Pinho, D. M., & Suarez, P. A. (9 de Fevereiro de 2013). A Hidrogenação de Óleos e Gorduras e suas Aplicações Industriais. Revista Virtual de Química, pp. 47-62. Solomons, T. G., & Fryhle, C. B. (2012). Química Orgânica (10ª ed., Vol. 1). (J. C. Afonso, Trad.) Rio de Janeiro: LTC. Química Inorgânica
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