Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
* * AULA 10 - O FUNCIONALISMO CURSO DE LETRAS – PROFESSORA MARCIA DIAS LIMA DA SILVA Rio de Janeiro, 18 de junho 2011. * * BREVE HISTÓRICO Saussure: língua como sistema; a linguagem humana pode servir de meio de comunicação e de transmissão de conteúdo. Chomsky: língua como capacidade inata ao ser humano. Labov: estudo da língua em situação real de comunicação, levando em conta fatores externos – sexo, idade, escolaridade, procedência geográfica etc. – como possíveis influenciadores da forma de codificação linguística. * * BREVE HISTÓRICO Sociolinguística. Ao estabelecer que a língua é um fenômeno social por ser heterogênea como os grupos que compõem uma sociedade, Labov valoriza a participação dos falantes. 2) Embora Saussure reconhecesse que a língua é o produto social da faculdade da linguagem, deixou a fala fora dos seus estudos por considerar que sua heterogeneidade seria de difícil descrição. Oposição do funcionalismo a Saussure. A língua não é um fenômeno isolado mas serve a uma variedade de propósitos dos quais, efetuar a comunicação é apenas um deles. * * O FUNCIONALISMO Gramática e discurso não são conceitos separados: a gramática molda o discurso e o discurso molda a gramática. Funcionalismo - a língua possui uma importância social (=discursiva). Língua: a) instrumento de interação social entre seres humanos; b) existe em virtude de seu uso para a interação entre seres humanos. A gramática funcional inclui na sua análise toda a situação comunicativa: o evento de fala, seus participantes e o contexto discursivo. * * O FUNCIONALISMO Usuários - criadores, transformadores das estruturas e responsáveis pelo estado e forma da língua Análise da estrutura gramatical dentro de toda situação comunicativa: a situação comunicativa explica ou mesmo determina a estrutura gramatical. Gramática - não é um organismo geneticamente determinado gerado apenas por fatores cognitivos inatos, mas sobretudo uma consequência da interação dos usuários em situação concreta de comunicação. * * O CONCEITO DE FUNÇÃO Função = valor de ‘papel’ ou ‘utilidade’ de um termo. A noção de ‘função’ não se refere aos papeis que desempenham as classes de palavras ou os sintagmas dentro da estrutura das unidades mas ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos. Importância desse conceito de função. O funcionalismo leva em conta a capacidade que os indivíduos têm não apenas de codificar e decodificar expressões, mas também de usar e interpretar essas expressões de uma maneira interacionalmente satisfatória. * * A RELAÇÃO ENTRE FORMA E FUNÇÃO Exemplos. ‘A gente’ passa de substantivo a pronome; ‘Você’ passa de pronome de tratamento a pronome pessoal; O uso de ‘você’ como sujeito indeterminado em manuais e receitas; as preposições durante (latim ‘durar’) e mediante (que serve de auxílio; como preposição significa por meio de); as conjunções consoante (do latim “que soa com”), conforme (significava ‘que tem a mesma forma’). * * A RELAÇÃO ENTRE FORMA E FUNÇÃO f) Elementos que refletem a emoção do falante: “puxa vida”, “poxa”, “pô”. g) Expressões como “Olha aí (aí)” e olha só (ossó) que podem funcionar como elementos de aviso ou chamamento. h) Verbos de percepção: ver, perceber (=saber): percebeu? Agora você vê ... Deixa ver ... * * O FUNCIONALISMO E AS METÁFORAS O pensamento inicialmente trabalha com conceitos adquiridos pelo contato com o mundo concreto: Interesse - propriedades cognitivas do usuário É a metáfora que permite que o homem compreenda o mundo das idéias em função do mundo concreto. Segundo Heine et alií (1991) o processo metafórico é unidirecional e se faz de acordo com a seguinte escala de abstração crescente: PESSOA > OBJETO > ATIVIDADE> ESPAÇO > TEMPO > QUALIDADE * * O FUNCIONALISMO E AS METÁFORAS PESSOA > OBJETO > ATIVIDADE> ESPAÇO > TEMPO > QUALIDADE ‘Atrás’ (noção espacial) > tempo (2 anos atrás) > atrasado (qualificação). ‘Pé’ (ser humano) > ‘pé da mesa’> ‘pés’ (medida). 'Braço' (parte do corpo) > ‘braços do sofá’ > ‘braço direito’ (qualificação). ‘Cabeça’ (parte do corpo) > ‘cabeça-d’água’ > ‘cabeça do grupo’ (qualificação). * * O FUNCIONALISMO E O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE Gramática e discurso - gramática provém do discurso e ao mesmo tempo o molda; por outro lado, o discurso contribui para moldar a gramática. Discurso é o uso potencial da língua em situação de comunicação. Pressões de uso geram regularidades e irregularidades na língua. (áreas que estão em fluxo, o que faz com que surjam novas variações, decorrentes do aspecto criativo do discurso). A comunicação pressiona a língua em direção a uma maior regularidade e iconicidade. A competição dessas duas forças faz com que as gramáticas das línguas nunca sejam estáticas. * * O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE Esse princípio prevê motivação na relação entre forma e significado de modo que os humanos agem intencionalmente em termos linguísticos. Isso implica que na língua nada dá-se ao acaso Nem sempre podemos precisar a intenção ou o propósito específico de cada ato verbal.. Entretanto, nem tudo na língua é icônico. Exemplo. Entretanto significava "no interior de algum espaço físico ou de algum espaço de tempo". Entretanto hoje é uma conjunção de valor adversativo. * * O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE A arbitrariedade do signo linguístico conforme proposta por Saussure separa o significante do seu correlato mental (o significado). Para criar novos rótulos, o falante tende a utilizar material já existente na língua utilizando a motivação: a palavra assume uma forma específica, por um motivo determinado. Assim, tem-se, por exemplo, a: motivação semântica: pé da mesa; coração da cidade; motivação morfológica: apagador, leiteiro (processo de derivação); aguardente, pára-quedas ( composição); motivação fonética: cocorocó, tilintar. * * SUBPRINCÍPIOS DA ICONICIDADE Subprincípio da quantidade. Quanto maior for a quantidade de informação, maior a quantidade de forma. Exemplo. Ele não era motorista dele não. Subprincípio da integração. O conteúdo que está mais próximo mentalmente coloca-se próximo sintaticamente. Usado para justificar problemas na concordância quando o sujeito está longe do verbo. Subprincípio da ordenação linear. Refere-se à ordenação dos elementos na sentença. Segundo esse princípio, a ordenação dos elementos na oração tende a espelhar a sequência temporal em que os eventos descritos ocorreram. Ex.: “Vim, vi, venci.” * * GRAMATICALIZAÇÃO Processo que envolve abstratização: o significado gramatical faz com o que o item lexical sofra um esvaziamento semântico. Exemplos. ‘as preposições durante (latim ‘durar’) e mediante (que serve de auxílio; como preposição significa por meio de); as conjunções consoante (do latim “que soa com”), conforme (significava ‘que tem a mesma forma’). Verbo querer na construção quer ... quer: “Quer chova quer faça sol”. * * GRAMATICALIZAÇÃO O deslizamento de sentido de ‘onde’ que passa da noção de espaço físico (b.1) para espaço de tempo (b.2) e para marcador discursivo (b.3) b.1. “No banheiro ... nós vamos encontrar ... uma prateleira ... onde fica ...” b.2. “ ... depois disso ... teve a noite onde foi escolhido o grupo de cinco pessoas ...” b.3. “ ... eu acho que as pessoas deveriam estar lutando ... por melhores condições de vida ... de melhor educação para seus filhos ... onde as pessoas poderiam viver num país bom ...” * * MARCADORES DISCURSIVOS São usados para reorganizar a linearidade das informações no nível do discurso, quando essa linearidade é momentaneamente perdida por diversos motivos como insegurança ou falhas de memória. Sua função no discurso se motiva na medida em que a natureza fluida da fala impede perfeita linearidade das informações e marca: hesitação e reformulação; mudança na direção comunicativa; cria reticências etc. * * MARCADORES DISCURSIVOS Vícios de linguagem para a Gramática Normativa. Enquanto o texto escrito é fruto de uma reflexão mais elaborada, a fala, que é por natureza improvisada, impõe maior dificuldade de manter a linearidade que se verifica na escrita. Exemplos. Sabe? Né? Entende?Aí etc. Abraços e felicidades! *
Compartilhar