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QUÍMICA NUCLEAR INTRODUÇÃO Até aqui, temos considerado os núcleos como imutáveis nas reações químicas. Também, prestamos pouca atenção ao núcleo atômico, exceto ao considerar como a carga nuclear afeta as propriedades atômicas, tal como o raio atômico, a eletronegatividade, a energia de ionização, etc. Porém, o núcleo pode se modificar também; e a química nuclear explora as conseqüências químicas destas modificações. 1) RADIOATIVIDADE Radioatividade é a emissão espontânea da radiação pelo núcleo. Tais núcleos são radioativos. Em 1895, o físico alemão Wilhelm Röntgen descobriu que os raios-X, são emitidos do ânodo de um tudo de raios catódicos de alta voltagem. Em 1896, o físico francês Antoine Henri Becquerel pensou que tinha encontrado uma fonte natural de raios-X: sulfato uranila de potássio, K2UO2(SO4)2, mas, mais tarde, ele percebeu que os raios naturais emanados destes e de outros compostos de urânio eram diferentes dos raios-X de Röntgen (FIGURA 1). Figura 1 – Henri Becquerel descobriu a radioatividade quando observou que uma placa fotográfica não-exposta, deixada perto de um pouco de óxido de urânio, tinha ficado escurecida. Esta fotografia mostra uma de suas placas originais. Foi Becquerel quem inventou a palavra radioatividade para descrever a produção desses raios. Eventualmente, três espécies de emissões radioativas naturais foram identificadas e caracterizadas e foi demonstrado que todas são emitidas pelo núcleo atômico (FIGURA 2), provocando mudanças na composição ou estrutura. Figura 2 – Um núcleo pode ser descrito como uma coleção de prótons fortemente ligados e nêutrons. O diâmetro de um núcleo é de cerca de 10 fm (1 fm = 10-15m). Tais emissões foram chamadas raios alfa, beta e gama. Raios alfa (α) consistem em um fluxo de partículas (agora chamadas partículas alfa) que são idênticas a núcleos de 42He (sendo dois prótons e dois nêutrons fortemente ligados). Raios beta (β) constituídos de uma corrente de elétrons, geralmente de alta energia, chamadas partículas β e designados 0 -1e (o subscrito -1 indica a carga e o sobrescrito 0, a massa extremamente pequena do elétron). Raios gama (γ) não são partículas; são radiações eletromagnéticas, como raios-X, mas são geralmente de freqüência mais alta e, portanto, energia mais alta (E = hν). (FIGURA 3). 1.1) Radioatividade natural Na ausência de influências externas, muitos nuclídeos (nuclídeo é uma espécie atômica específica com certa composição nuclear.) são permanentemente estáveis. Porém, alguns não o são e sofrem decaimento radioativo, também conhecido como desintegração nuclear. Figura 3 – Os efeitos de um campo elétrico sobre a radiação nuclear. O desvio identifica os raios α como positivamente carregados, os raios β como negativamente carregados e os raios γ como não-carregados. Tal processo é representado por uma equação nuclear na qual o símbolo, o número atômico (Z) e número de massa (A) de cada partícula são especificados. A primeira radioatividade detectada por Becquerel foi o resultado de um decaimento alfa do isótopo de urânio, 23892U. A equação nuclear para esse processo é escrita: A equação mostra que o nuclídeo pai de urânio emitindo uma partícula alfa forma o nuclídeo filho tório (FIGURA 4). A equação mostra a conservação dos núcleons (prótons mais nêutrons) e da carga. Em outras palavras, cada lado da equação tem um total de 238 núcleons e número total de prótons, ou cargas positivas, de 92. He Th U 42 234 90 238 92 +→ nuclídeo pai nuclídeo filho partícula alfa Figura 4 – Quando um núcleo ejeta uma partícula α, o número atômico do átomo decresce de 2 unidades e o número de massa decresce de 4 unidades. Os núcleons ejetados estão indicados pelo contorno amarelo na parte superior do diagrama. O nuclídeo filho, pode ser, por si mesmo, instável. Por exemplo, o tório 234 sofre decaimento beta para formar o protactínio 234 (FIGURA 5): Neste caso, pode ser visto que o número total de núcleons no nuclídeo filho é o mesmo do nuclídeo filho. Porém, o filho tem um próton a mais que o pai; quando uma partícula beta é emitida do núcleo de tório 234, um nêutron é evidentemente convertido em um próton. A emissão gama é muito comum, geralmente acompanha outras espécies de desintegrações e representa perda de energia quando o núcleo cai de um nível de energia mais alto para um mais baixo (FIGURA 6). Há estados de energia quantizada para o núcleo de um átomo, da mesma forma como há para elétrons. A emissão gama não é explicitamente mostrada em equações nucleares, porque nem o número de massa nem a carga mudam durante essa espécie de emissão. beta) (partícula Pa Th 01-2349123490 e+→ Figura 5 – Quando um núcleo ejeta uma partícula β, o número atômico aumenta uma unidade e o número de massa permanece o mesmo. O nêutron que consideramos como sendo a origem do elétron está contornado de amarelo na parte superior do diagrama. Figura 6 – O decaimento nuclear pode resultar em um núcleo que possui núcleons em um estado de alta energia, pelo arranjo menos compacto na parte superior da ilustração. Quando o núcleo se ajusta em um arranjo de energia mais baixa (abaixo), o excesso de energia é liberado como um fóton de raio γ. Tabela 1 – Propriedades da radiação alfa, beta e gama. 1.2) Detecção e medida da radioatividade Muitos métodos foram usados para detectar e medir a radioatividade. (A) Um dos mais antigos é o do contador Geiger-Müller, mostrado na FIGURA 7. (a) A radiação entra no tubo contador através da janela fina existente na extremidade. Ela colide com os átomos de argônio no interior do tubo, ionizando-os. (b) A presença de partículas com carga dentro do tubo causa uma descarga elétrica entre o fio central e o tubo externo. (c) Cada uma dessas descargas é detectada e o evento contado eletronicamente. (B) Tão antigo quanto o contador Geiger-Müller é o uso da fosforescência para detectar radiação de alta energia. (C) Atualmente, os contadores de cintilação podem ser considerados como descendentes das antigas telas fosforescentes. Nos contadores de cintilação, os cristais especiais dopados de haleto de metal alcalino, emitem pequenos lampejos de luz ao serem atingidos pela radiação de alta energia. Figura 7 – O contador Geiger-Müller. Esta luz é detectada por um tubo fotomultiplicador, uma fotocela ultra sensível, que por sua vez está ligada a um amplificador e contador eletrônico. (D) Emulsões fotográficas foram usadas por muitos anos. (E) De maneira semelhante são usadas câmaras de vapor, nas quais o percurso de uma partícula pode ser visto pelo traço deixado pela condensação de gotículas de água, ou outro líquido, na câmara supersaturada de vapor. (F) Na câmara de bolhas, o caminho das partículas é revelado pela formação de bolhas minúsculas no hidrogênio líquido. (G) Na câmara de centelhas, pelo aparecimento de faíscas entre eletrodos delgados de cargas opostas. Nas câmaras de vapor, de bolhas ou de centelhas o traçado é em geral fotografado para se ter um registro permanente. 2) SÉRIES NATURAIS DE DESINTEGRAÇÃO NUCLEAR Se um núcleo é instável, ele se desintegra, e se o núcleo filho é instável, ele também se desintegra. Este processo continua até que se forme um núcleo estável. A seqüência ordenada de núcleos instáveis que leva à formação de núcleos estáveis é chamada de série de desintegração radioativa. Existem várias séries de desintegração radioativa. Uma delas, a série do urânio, começa com 23892U radioativo e termina com o 20682Pb, que é estável (FIGURA 8). Cada emissão alfa reduz o número de massa de 4 e o número atômico de 2, à medida que o 42He abandona o núcleo. De maneira semelhante, toda emissão beta deixa o número de massa inalterado, mas aumenta o número atômico de 1, quando 0 -1e deixa o núcleo. A sucessão de desintegrações nucleares continua através de uma série de nuclídeos intermediários, até que o 20682Pb, que é estável, é produzido. Observe que em vários lugares existem seqüências laterais. Por exemplo, há duas maneirasde 21884Po se desintegrar a 21483Bi. Figura 8 – A série de decaimento do urânio-238. Os tempos são as meias-vidas dos nuclídeos. 2.1) Outros processos nucleares naturais Muitos anos depois da descoberta dos processos de emissão alfa, beta e gama, um quarto tipo de desintegração natural foi observado: captura eletrônica (CE). FIGURA 9 Nesse caso, o núcleo captura um elétron extranuclear: 40 19K + 0-1e → 4018Ar Note que número de massa permanece inalterado, enquanto o número atômico diminui de uma unidade. Geralmente o elétron pertence à camada K, que tem um máximo na sua curva probabilidade-densidade imediatamente adjacente ao núcleo. Neste caso, o processo é chamado captura K. Figura 9 – No processo de captura eletrônica, um núcleo captura um elétron da vizinhança. O efeito é a conversão de um próton em um nêutron. Como resultado, o número atômico decresce uma unidade mas o número de massa permanece o mesmo. 3) CINÉTICA DA DESINTEGRAÇÃO NUCLEAR A velocidade da desintegração nuclear é proporcional ao número de núcleos instáveis presentes na amostra. A velocidade de desintegração nuclear é dada pela equação: onde: N é o número de núcleos pais em uma dada amostra, K é a constante de proporcionalidade e t é o tempo. Essa equação descreve uma reação de primeira ordem; a desintegração nuclear portanto segue uma cinética de primeira ordem. Derivando a lei da velocidade de primeira ordem acima: onde N, nesse caso, é o número de núcleos pais no tempo t é N0 o número a t = 0. Velocidade de desintegração = - = dN kN dt 0ln = - + ln N kt N Reescrevendo, temos: Esta relação útil fornece a fração de núcleos instáveis e N/N0, remanescente, depois de decorrido o tempo, t. Exemplo 1: A constante de velocidade de desintegração α do 22286Rn é 0,18 dia-1. A que quantidade será reduzida a massa de 4,5 x 10-5 g desse nuclídeo depois de um período de 8,5 dias? onde x0 e x são as massas do radônio no início e no tempo t, respectivamente. assim: 0 ln = - N kt N 0 ln = - 0,18x t x -1 -5 -6 ln = - (0,18 dia )(8,5 dias) 4,5 x 10 = 9,7 x 10 x g x g 3.1) Datação radioquímica Um dos usos da desintegração radioativa consiste na determinação da idade de relíquias antigas, fósseis, rochas, etc. Por exemplo, a série de desintegração do 23892U no diagrama da FIGURA 8 é usada na datação do urânio. Como a primeira fase da série de desintegração é a de meia vida, a série é semelhante a uma reação química em multi-etapas, cuja primeira etapa é a determinante de velocidade. Nesse caso, o número de átomos de chumbo (o produto estável final) é essencialmente igual ao número de átomos de urânio que se desintegrou. Na determinação da idade de rochas e alguns artefatos, principalmente inorgânicos, o número de átomos de urânio e de chumbo são obtidos pela análise, e o total equacionado com o número de átomos de urânio a t = 0, isto é, quando as rochas se formaram. Como a meia-vida do urânio 238 é 4,5x109 anos, a idade das rochas pode ser calculada do número de átomos de urânio presentes em relação ao número original. As rochas mais antigas até agora têm uma idade de cerca de 3 x 109 anos. Exemplo 2: Uma certa amostra de rocha contém 1,3 x 10-5 g de urânio 238 e 3,4 x 10-6 g de chumbo 206. Se a meia-vida de 23892U é 4,5 x 109 anos, qual a idade da rocha? 238 -1 -6 206 -6 238 206 -1 238 -5 -6 -5 0 238 g U mol3,4 x 10 g Pb x 3,9 x 10 g U desintegrados 206 g Pb mol Total U no início 1,3 x 10 g + 3,9 x 10 g = 1,7 x 10 g como: ln = - x kt x = 0 -10 -1 9 1/2 - ln Da meia-vida podemos determinar a constante de velocidade : 0,693 0,693 = = =1,5 x 10 ano 4,5 x 10 anos e então, pela substituição: x x t k k k t t = -5 -5 9 -10 -1 1,3 x 10 -ln 1,7 x 10 = = 1,8 x 10 anos 1,5 x 10 ano 4) REAÇÕES NUCLEARES A emissão natural de uma partícula alfa ou beta transforma um determinado núcleo em um novo núcleo com número diferente de prótons. Assim, cada uma dessas desintegrações radioativas representa a transmutação de um elemento em outro. Transmutação também pode ser efetuada artificialmente, que era o sonho dos antigos alquimistas. Para se obter elementos artificialmente, necessitamos simular as condições encontradas nas estrelas. Para superar as barreiras energéticas para a síntese nuclear, as partículas devem colidir vigorosamente com uma outra (FIGURA 10). Se está com uma velocidade suficientemente alta, um próton, uma partícula α ou outro núcleo carregado positivamente possui energia cinética suficiente para superar a repulsão eletrostática do núcleo. A partícula incidente penetra no núcleo, onde é capturada pela força intensa. A alta velocidade requerida pode ser adquirida em um acelerador de partícula. Figura 10 – Quando uma partícula carregada positivamente aproxima-se de um núcleo, é repelida fortemente. Entretanto, se possui alta velocidade, pode alcançar o núcleo antes que ocorra a repulsão; como resultado, pode ocorrer uma reação nuclear. 4.1) Transmutação Em 1919,Rutherford bombardeou nitrogênio 14 com partículas alfa obtidas da desintegração radioativa do rádio. Os nuclídeos produzidos eram de oxigênio 17 e a equação abaixo representa a primeira transmutação artificial de sucesso: O intermediário altamente instável, um estado excitado do flúor 18, é algumas vezes chamado de núcleo composto. Sua meia-vida é menos que 10-12 s e sua desintegração por emissão de um próton da origem ao oxigênio 17 estável. Em muitos casos, o produto de uma reação de bombardeio nuclear é instável e produz subseqüente desintegração radioativa. Por exemplo, quando o núcleo do cobalto 59 é bombardeado com um nêutron de alta energia, a seguinte reação ocorre: 14 4 18 17 1 7 2 9 8 1N + He F O + H → → 59 1 60 56 4 27 0 27 25 2Co + Co Mn + Hen → → Porém, o manganês 56 produzido não é estável, desintegrando-se com uma meia- vida de 2,6 h formando-se o ferro 56, que é estável. Este é um exemplo de radioatividade induzida ou artificial. A radioatividade induzida ilustra várias maneiras de desintegração que não são encontradas na radioatividade natural. Uma dessas é a emissão de nêutrons. Veja exemplo abaixo. Outra forma de desintegração muito comum é a beta-positiva (β+), também conhecida como emissão de pósitrons (FIGURA 11). Partículas beta são mais propriamente chamadas beta-negativas (β-), para distingui-las das partículas β+, que são pósitrons, 0 1e. Um pósitron é uma partícula que tem a massa de um elétron, mas com uma carga positiva. Exemplo: 56 56 0 25 26 -1Mn Fe + e→ 87 86 1 35 35 0Br Br + n→ 13 13 0 7 6 1N C + e→ Figura 11 – Na emissão de pósitrons (β+), o núcleo ejeta um pósitron. O efeito é a conversão de um próton em um nêutron. Como resultado, o número atômico decresce uma unidade mas o número de massa permanece o mesmo. Tabela 2 – Partículas comuns no decaimento Radioativo e transformações nucleares A radioatividade induzida e a transmutação artificial são possíveis por causa do desenvolvimento de aceleradores de partículas de alta energia como o cíclotron (FIGURA 12), o síncrotron e o acelerador linear. No cíclotron, eletrodos metálicos ocos e rarefeitos, chamados dês, são montados entre os pólos de um grande imã e uma fonte de corrente alternada de alta freqüência é conectada aos dês. Os prótons injetados no centro percorrem uma espiral cada vez mais larga. Eles ganham energia considerável à medida que giram e finalmente colidem com um alvo. Durante a operação são os aceleradores de partículas que produzem feixes de partículas com energias superiores a 1000 BeV (bilhôes de elétron-volts). 5) ESTABILIDADE NUCLEAR Primeiro, com exceção do 11H, todos os núcleos estáveis contêm pelo menos um nêutron. Segundo, à medida que o número de prótons do núcleo aumenta, o número de nêutrons por próton aumenta nos núcleos estáveis. Figura 12 – O cíclotron (esquematizado).Aparentemente, os nêutrons são necessários para impedir uma autodestruição do núcleo como resultado da repulsão próton-próton, Quanto maior o número de prótons que está presente no núcleo, tanto maior deverá ser a relação nêutron/próton para que o núcleo seja estável. Terceiro, quando há mais de 83 prótons num núcleo, nenhum número de nêutrons o estabilizará. Na tabela periódica, o bismuto (Z = 83) é o último elemento que tem isótopo estável. 5.1) O cinturão de estabilidade A FIGURA 13 apresenta um gráfico dos números de nêutrons e de prótons para todos os núcleos estáveis. Esses núcleos se encontram num cinturão de estabilidade, a região no gráfico na qual a relação nêutron-próton está próxima de 1 para os núcleos mais leves, mas no qual a relação cresce à medida que o número de prótons cresce. Assim, no 63Li a relação é 1:1; no 11048Cd é 1,29:1 e no 20280Hg é 1,53:1. Figura 13 – Cinturão de estabilidade. Nessa espécie de mapa nêutron-próton, os núcleos instáveis podem estar acima, abaixo ou entre os extremos do cinturão de estabilidade. Aqueles que estão acima do cinturão têm uma relação nêutron-próton muito alta, aqueles que estão abaixo, uma relação muito baixa, e aqueles que estão além do cinturão simplesmente têm núcleons demais para serem estáveis. Os núcleons nessas regiões tendem a se transformar em núcleos de dentro do cinturão ou, pelo menos, próximos a ele. Núcleos que estão acima do cinturão de estabilidade diminuem sua relação nêutron- próton através da desintegração β- ou, menos comumente, emissão de nêutrons. NO processo de desintegração β- : o nuclídeo filho de césio é estável, mas em alguns casos são necessárias várias desintegrações sucessivas até que o núcleo atinja o cinturão de estabilidade. Por exemplo, antimônio 131 sofre três desintegrações β- até forma um núcleo estável. 133 133 0 54 55 -1Xe Cs + e→ 131 131 0 131 0 131 0 51 52 -1 53 -1 54 -1Sb Te + I + Xe + e e e→ → → Um processo ocasionalmente observado para diminuir a relação nêutron-próton é a emissão de nêutrons. Exemplo: Núcleos situados abaixo do cinturão de estabilidade aumentam a relação nêutron- próton por emissão β+ (pósitron) ou por captura eletrônica. Exemplo de emissão β+: Na captura eletrônica (CE) um elétron de baixa energia é capturado pelo núcleo, e a energia liberada no processo é em geral emitida na forma de raios-X: Algumas vezes, não é uma relação nêutron-próton desfavorável que produz a desintegração. O número total de núcleons pode ser tão grande que a força de ligação nuclear não é suficientemente forte para mantê-los juntos. 90 89 1 36 36 0Kr Kr + n→ 105 105 0 48 47 1Cd Ag + e→ CE127 0 127 54 -1 53Xe + Ie → Esta situação geralmente leva a uma emissão alfa, porque assim o núcleo pode se livrar de dois prótons e dois nêutrons ao mesmo tempo: Se o nuclídeo filho ainda está além do cinturão de estabilidade, várias emissões sucessivas podem ocorrer, como na série de desintegração do urânio. 6) ENERGIA DE LIGAÇÃO NUCLEAR A estabilidade de um núcleo é medida através de sua energia de ligação, A energia de ligação é a energia liberada quando o núcleo é formado a partir dos componentes prótons e nêutrons. Por exemplo, consideremos a formação do núcleo de 5727Co, massa = 56,9215 u (u = unidade de massa atômica), com 27 prótons e 30 nêutrons. Como a massa do próton é 1,00728 u e a do nêutron 1,00866 u, a perda de massa que ocorre quando o núcleo de cobalto 57 se forma é: 211 207 4 84 82 2Po Pb + He→ 1-12- 11- 57 27 11-21-828-2 28-25 - 23 57 27 núcleon J 10 x 1,401 núcleons 57 J 10 x 7,983 :énuclear ligação de energia a , Cono núcleons 57 há Como .por expressas geralmente são núcleo no ligação de energias As J10 x 7,984 ))s (m 10 x (2,998 Kg) 10 x (8,882 :ecorrespond Que Kg 10 x 8,882 g 10 x 8,882 u 10 x 6,022 1g u x 0,5349 : é Isto u 0,5349 ___________ u 56,9215 - Conúcleo do massa a Menos u 57,4564 ___________ u 30,2598 (1,00866) 30 nêutrons 30 de Massa u 27,1966 (1,00728) 27 prótons 27 de Massa = === == == == núcleon mcE A FIGURA 14 mostra a maneira pela qual a energia de ligação nuclear varia em função do número de massa. O gráfico mostra que, quando o urânio 235 sofre fissão (quebra) produzindo dois fragmentos mais leves (com número de massa próximos aos do meio da curva), há um aumento de estabilidade, à medida que a energia de ligação por núcleon aumenta. Este aumenta representa a energia liberada quando o urânio sofre fissão. 7) APLICAÇÕES DA RADIOATIVIDADE Desde a descoberta da radioatividade por Becquerel em 1896, a química desempenhou um papel importante na tentativa de aplicar os processos nucleares a todos os campos da ciência, medicina e tecnologia. Já mencionamos os processos de datação radioquímica e iremos agora descrever um pouco mais das aplicações da radioatividade. 7.1) Fissão nuclear Algumas vezes um núcleo que esta muito além do cinturão de estabilidade se quebra em dois pedaços, em vez de emitir uma sucessão de partículas alfa. Figura 14 – A variação da energia de ligação máxima por núcleon. A energia de ligação máxima por núcleon ocorre perto do ferro e do níquel. Seus núcleos possuem a energia mais baixa de todos porque seus núcleons estão mais fortemente ligados. Esse processo, a fissão nuclear, é uma das maneiras, considerada pouco comum, pela qual o urânio 235 se desintegra espontaneamente, liberando 3 nêutrons: A fissão pode ser induzida, entretanto, quando um núcleo de urânio 235 captura um nêutron lento ou térmico: Assim, os fragmentos de fissão são variáveis. n10 92 36 140 56 235 92 3 Kr Ba U ++→ [ ] [ ] [ ] nn nn nn 1 0 139 54 94 36 236 92 1 0 235 92 1 0 144 54 90 38 236 92 1 0 235 92 1 0 143 54 90 38 236 92 1 0 235 92 3 Ba Kr U U ou 2 Xe Sr U U ou 3 Xe Sr U U ++→→+ ++→→+ ++→→+ Quando muitos nuclídeos de urânio 235 sofrem a fissão, inúmeros fragmentos, com as mais variadas massas, são produzidos. A FIGURA 15 mostra os rendimentos dos vários produtos da fissão induzida do 23592U. A fissão nuclear é o processo que produz energia nas bombas atômicas e nos reatores nucleares (FIGURA 16). Figura 15 – Rendimento da fissão do urânio- 235. Observe que a maioria dos produtos de fissão se encontra nas regiões próximas a Z = 90 e 130, e que relativamente poucos nuclídeos correspondem à fissão simétrica, (Z próximo as 117) são formados. 7.1.1) Variações de massa e energia na fissão nuclear Na fissão nuclear há uma significativa perda de massa, isto é, a massa total dos produtos é menor que a dos reagentes. Por exemplo, considere a reação: Comparando as massas dos produtos e reagentes, com os dados seguintes: nn 1 0 139 54 94 38 1 0 235 92 3 Xe Sr U ++→+ Partícula Massa, u Átomo de 23592U 235,0439 Átomo de 9438Sr 93,9154 Átomo de 13954Xe 138,9178 Nêutron 1,9987 Calculamos a variação de massa total, ∆m, que resulta do processo de fissão anterior do nuclídeo de urânio 235. O sinal negativo indica que o sistema perde 0,1933 u por átomo de urânio. Isso corresponde a uma perda de 0,1933 g mol-1 ou 1,933 x 10-4 Kg mol-1. Então: u 0,1933 - u 1,0087] [235,0439 - 3(1,0087)] 138,9178 [93,9154 (massa) - (massa) reagentesprodutos = +++= =∆ ∑ ∑m 1-101-2-213 21-81-4- 2 mol kJ 10 x 773,1mol s m Kg 10 x 1,737 )s m 10 x (2,998 )mol Kg 10 x (1,933 == = = mcE Podemos ver que a quantidade de energia produzida pela fissão de um mol de átomo de urânio 235 é colossal. Ela é maior, por um fator de cerca de ummilhão, que a energia desprendida numa reação química altamente exotérmica. Na fissão nuclear, cerca de 7/8 desta energia aparece na forma de energia cinética dos produtos e 1/8 como energia eletromagnética (radiante). 7.1.2) Armas nucleares e reatores nucleares Vimos que quando um núcleo sofre fissão, ele se divide em dois fragmentos e vários nêutrons. Se cada um desses nêutrons for capturado por um outro núcleo físsil, o processo continua e o resultado é uma reação em cadeia de reações, na qual a fissão súbita de muitos núcleos e a liberação resultante de enorme quantidade de energia produzem uma explosão nuclear (FIGURA 16). Na bomba atômica uma certa quantidade, massa crítica, de nuclídeos físseis é repentinamente acionada pelo mecanismo da bomba e resulta na explosão nuclear. Se a massa for menor que a massa crítica, muitos nêutrons se perderão e a reação em cadeia não se sustentará. Figura 16 – O processo de fissão nuclear. Uma maneira de disparar a bomba consiste em usar uma explosão química para ativar duas massas subcríticas separadas, contendo material físsil em ambas, e assim a massa crítica poderá ser atingida. Urânio 235 e plutônio 239 foram ambos usados em armas nucleares. O plutônio 239 é produzido pelo bombardeio de urânio 238, o isótopo mais comum do urânio, com nêutrons: O urânio 239 se desintegra em duas etapas, formando plutônio 239: U U 23992 1 0 238 92 →+ n Pu Np Np U 0 1- 239 94 239 93 0 1- 239 93 1 0 238 92 e en +→ +→+ Em um reator nuclear, somente um dos nêutrons emitidos quando o núcleo sofre fissão é capturado por outro núcleo físsil. Dessa maneira a reação é mantida sob controle. A fissão continua, mas a uma velocidade mais baixa do que a de uma bomba. O reator é mantido sob controle ajustando a posição de absorção de nêutrons nas barras de controle que são inseridas entre os elementos combustíveis nucleares do reator (FIGURA 17). Essas barras são geralmente feitas de cádmio ou boro, dois elementos altamente eficientes na absorção de nêutrons. A FIGURA 18 mostra o esquema de um reator nuclear. Observe que o reator serve apenas como fonte de calor para ferver a água. Então, como uma máquina de energia convencional, o vapor aciona uma turbina geradora que produz eletricidade. Reatores nucleares • Os moderadores são inseridos para diminuir a velocidade dos nêutrons. • O calor produzido no núcleo do reator é removido por um fluido de resfriamento para um gerador de vapor e o vapor impulsiona um gerador elétrico. Figura 17 – Núcleo do Reator. Figura 18 – Reator nuclear. Este é um reator de água pressurizada, no qual o resfriamento ocorre com água sob pressão. As reações de fissão produzem calor, ocasionando a ebulição da água no gerador de vapor; o vapor resultante gira as turbinas que geram eletricidade. A água age como um moderador. 7.2) Fusão nuclear Na curva das energias de ligação nucleares (FIGURA 14) pode-se notar que a conversão de núcleos muito leves (no lado esquerdo da curva) em núcleos pesados também resulta num aumento da energia de ligação por núcleon. Poderá haver liberação de grandes quantidades de energia, ainda maiores que na fissão. Tais reações são chamadas reações de fusão porque, nesse caso, os núcleos menores se fundem e formam núcleos maiores. A fonte de energia solar é constituída de uma série de reações, cujo resultado final é a fusão de quatro prótons para formar um núcleo simples de 42He. A reação, sem dúvida ocorre em etapas. Uma possibilidade é: 1 1 2 0 1 1 1 1 2 1 3 1 1 2 3 1 4 0 2 1 2 1 1 4 0 1 2 1 H + H H + H + H He He + H He + Resultado: 4 H He + 2 e e e → → → → A única aplicação “prática” de sucesso das reações de fusão foi nas chamadas bombas de hidrogênio ou termonucleares. Um problema fundamental nas reações de fusão consiste em iniciá-las. Para se conseguir que dois núcleos leves se fundam, eles devem ter energias extremamente altas, de tal maneira que as nuvens eletrônicas das regiões extranucleares dos átomos, não impeçam que os núcleos se aproximem. O que é necessário uma temperatura extremamente alta, cerca 108 oC. Em uma arma termonuclear a reação de fissão é usada para prover as altas energias necessárias para iniciar a fusão. Num desses dispositivos, uma bomba de fissão é circundada por uma camada de deutereto de lítio. Os nêutrons de uma reação de fissão são capturados pelos núcleos de lítio. 6 1 4 3 3 0 2 1Li + He + Hn → E sob condições de alta energia, suprida pela reação de fissão, o produto trítio se funde com o deutério (onde trítio e deutério são isótopos do H): O controle da fusão nuclear de maneira que possa ser usado em forma úteis de energia, constitui um problema que vem desafiando os cientistas a décadas. Presumivelmente, as reações utilizando 11H e 21H poderão ser empregadas. Além da dificuldade da ignição de uma fusão nuclear, há o problema do recipiente para conter a mistura de reação a temperatura tão alta, suficiente para vaporizar qualquer material. 7.3) Traçadores radioativos Como a radioatividade pode ser detectada mesmo em níveis muito baixos, pequeníssimas quantidades de materiais radioativos podem ser usados como traçadores, permitindo acompanhar o desenvolvimento de muitas espécies de processos. 3 2 4 1 1 1 2 0H + H He + n→ Por exemplo, alguns tipos de distúrbios vasculares podem ser diagnosticados ao injetar pequena quantidade de cloreto de sódio contendo sódio 24, na corrente sanguínea. Esse isótopo é um emissor β- e γ, e seu percurso nas artérias, capilares e veias pode ser facilmente acompanhado. Estudos com traçadores têm sido úteis na química em muitos processos. A velocidade de muitas reações de troca tem sido medida através do uso de traçadores. Por exemplo, o intercâmbio de elétrons entre Fe3+ e F2+ em solução aquosa pode ser seguido por adição de íons 55Fe3+ radioativos a íons Fe2+ não radioativos. A velocidade de troca é determinada tomando periodicamente amostras da mistura, separando Fe2+ de Fe3+ e determinando o quanto rapidamente a radioatividade decresce no Fe(III) ou cresce no Fe(II). )(Fe )(Fe )(Fe )(Fe 32552355 aqaqaqaq ++++ +→+ Estudos com traçadores foram usados como auxiliares na elucidação de estruturas e também para elucidar mecanismos metabólicos nos organismos vivos. O CO2 marcado com carbono 14 (emissor β-) foi usado na determinação do mecanismo de fotossíntese pelo qual as plantas convertem dióxido de carbono e água a glicose e oxigênio. Analisando as partes das plantas expostas ao CO2 e luz solar em vários períodos de tempo, conseguiu-se desdobrar a reação global (abaixo) em uma complexa seqüência de etapas (que não serão mostradas aqui). 6 H2O(l) + 6 CO2(g) → C6H12O6(aq) + 6 O2(g)
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