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EaD 1 GESTÃO PÚBLICA IVUNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA ADMINISTRAÇÃO - DEAd Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2009 Sérgio Luís Allebrandt Marcos Paulo Dhein Griebeler Dieter Rugard Siedenberg Claudio Edilberto Höfler PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO LOCAL EaD Sérgio Luis Al lebrandt 2 2009, Editora Unijuí Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: editora@unijui.edu.br www.editoraunijui.com.br Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí P712 Planejamento estratégico local / org. Sérgio Luis Allebrandt; Marcos Paulo Dhein Griebeler, Dieter Rugard Siedenberg, Cláudio Edilberto Höffler. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2009. – 146 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). ISBN 978-85-7429-842-9 1. Planejamento. 2. Planejamento estratégico. 3. De- senvolvimento local. 4. Gestão municipal. 5. Desenvol- vimento sustentável. I. Allebrandt, Sérgio Luis. II. Griebeler, Marcos Paulo Dhein. III. Siedenberg, Dieter Rugard. IV. Höffler, Cláudio Edilberto. V. Título. VI. Série. CDU : 65.012 65.012.2 EaD 3 GESTÃO PÚBLICA IV SumárioSumárioSumárioSumário CONHECENDO OS PROFESSORES .........................................................................................5 APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 17 UNIDADE 1 – MENSURANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A INCLUSÃO/EXCLUSÃO SOCIAL ............................... 19 Seção 1.1 – Desenvolvimento e Utilização de Indicadores Sociais ....................................... 20 Seção 1.2 – Índices e Indicadores mais Utilizados .................................................................. 22 Seção 1.3 – Detalhando Três Índices: IDH-M, Idese e IES .................................................... 25 1.3.1 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M............................ 26 1.3.2 – Índice de Exclusão Social – IES ........................................................................ 31 1.3.3 – Índice de Desenvolvimento Socioeconômico ................................................... 33 Seção 1.4 – A Análise com Base em Diferentes Índices Aplicados a uma Mesma Região ou Grupo de Municípios ................................................. 38 Seção 1.5 – À Guisa de Conclusão ............................................................................................. 41 UNIDADE 2 – OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO NA GESTÃO MUNICIPAL: Caracterizações e (Propostas de) Ações Para um Maior Bem-Estar da População ........................................................ 49 Seção 2.1 – O que são os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)? .................. 50 Seção 2.2 – Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM): caracterizações e sugestões .................................................................................... 52 Seção 2.3 – Como Executar os ODM em seu Município? ...................................................... 76 UNIDADE 3 – FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO ..................................................... 83 Seção 3.1 – Conceitos de Planejamento .................................................................................... 85 Seção 3.2 – Objetivos do Planejamento .................................................................................... 85 Seção 3.3 – Características dos Processos de Planejamento .................................................. 86 Seção 3.4 – Condições para Implementação do Planejamento ............................................. 88 EaD Sérgio Luis Al lebrandt 4 Seção 3.5 – Principais Desafios do Planejador ..........................................................................88 Seção 3.6 – Elementos Básicos do Planejamento .....................................................................89 Seção 3.7 – Classificação dos Planos Segundo os Períodos de Duração ..............................90 Seção 3.8 – Escalas do Planejamento Territorial ......................................................................91 Seção 3.9 – Diferenciação entre Planos, Programas e Projetos ..............................................92 Seção 3.10 – Principais Dilemas na Gestão do Planejamento ................................................93 Seção 3.11 – Duas Questões Emergentes: participação e cidadania ....................................94 UNIDADE 4 – MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARTICIPATIVO PARA MICRORREGIÕES E MACRORREGIÕES .........................................97 Seção 4.1 – Macrodimensão das Etapas ....................................................................................98 Seção 4.2 – As Microdimensões, Atividades Inerentes e Resultados Pretendidos ...............99 4.2.1 – Dados do Diagnóstico Técnico ...........................................................................99 4.2.2 – Composição da Análise Situacional ................................................................ 108 4.2.3 – Fatores da Matriz Fofa ...................................................................................... 110 4.2.4 – Os Referenciais Estratégicos ............................................................................ 113 4.2.5 – Determinação dos Macro-Objetivos ............................................................... 116 4.2.6 – Gestão do Plano de Desenvolvimento ............................................................. 119 4.2.7 – Divulgação e Implementação do Plano de Desenvolvimento...................... 120 Seção 4.3 – Operacionalização do Processo de Planejamento ............................................ 120 Seção 4.4 – Explicação Resumida Sobre a Matriz de Vester ............................................... 126 UNIDADE 5 – PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL: Uma Proposta Metodológica ........................................................................... 129 Seção 5.1 – Origens do Método ................................................................................................ 130 Seção 5.2 – Metodologia Proposta ........................................................................................... 131 Seção 5.3 – A Estrutura do Modelo Proposto ........................................................................ 134 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 141 EaD 5 GESTÃO PÚBLICA IV Conhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o Professor SÉRGIO LUÍS ALLEBRANDT Sou natural de Marques de Souza-RS (então 5° distrito do município de Lajeado). Passei minha infância e adolescência em Lajeado, onde cursei o primário, o ginásio, o científico e o técnico em Contabilidade, todos na Escola Evangélica Alberto Torres. Desde os 12 anos trabalhei em diversas atividades para auxi- liar a família em sua pequena empresa de atacado e transporte, e a partir dos 17 anos passei a trabalhar em atividades vinculadas à Contabilidade e à gestão de organizações do setor empresarial, público e, em especial, do Terceiro Setor. Em 1972 passei a morar em Ijuí-RS, onde obtive o título de Licenciado em Ciências (1977) e de Bacharel em Ciências Contábeis (1979). No período de vida estudantiluniversitária fui presidente do Diretório Acadêmico Jackson de Figueiredo, tendo realizado e coordenado a 1ª Semana de Cultura no Município de Ijuí, em 1974. Fui também fundador e presidente (1982) do Fotocineclube Roquette Pinto. Estas atividades extracurriculares foram funda- mentais para a visão de mundo voltada para uma cidadania ativa e de protagonismo da sociedade civil nas relações com o Estado e o mercado. Nos meus estudos depois da Graduação, obtive o título de Especialista em Contabilidade na Unijuí (1983) e fiz uma Pós-Gra- duação em Administração (com área de concentração em Admi- nistração Pública) na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (1986/1988). Sou mestre em Gestão Empresarial pela Esco- la Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Funda- ção Getúlio Vargas do Rio de Janeiro – Ebape/FGV (1999/2001) e atualmente estou na fase final de elaboração de uma tese para obter o título de doutor junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc (2005/2009). EaD Sérgio Luis Al lebrandt 6 Exerci e exerço diversos cargos acadêmico/administrativos na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí): fui vice-reitor de Administração por três mandatos (1990/1998); chefe do Departamento de Ciências Contábeis, Eco- nômicas e Jurídicas (1982/1984); coordenador do Colegiado de Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública (2002/2007); membro da Comissão Permanente de Pessoal Docente (2005/2007); membro do Conselho Universitário em diversos mandatos; membro de diversas Comissões, Câmaras Permanentes e Grupos de Traba- lho. Atualmente sou membro do Colegiado de Cursos de Tecnologia na modalidade Educação a Distância e integrante do Comitê de Extensão e Cultura da Universidade. Por cinco anos, de 1975 a 1979, atuei como professor na Es- cola Cenecista Soares de Barros, em Ijuí, na maior parte do tempo de forma gratuita, integrando-me a um grupo de voluntários que impediram o fechamento da referida escola. Ocupei e ocupo cargos político/administrativos no âmbito da Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroes- te do Estado (Fidene): fui diretor executivo por quatro gestões (1978/1981, 1990/1993, 1993/1996 e 1996/1998); diretor geral do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (IPD) por duas gestões (1999 a 2004); membro da Assembléia Geral da Fidene (1978/1981, 1990/2004); membro do Conselho Curador da Fundação (gestão 1981/1984) e membro titular do Conselho Dire- tor da Fundação (gestões 2005/2007 e 2008/2010). Também possuo experiência na administração pública mu- nicipal: fui secretário geral do município de Ijuí e secretário muni- cipal da Fazenda de Ijuí no último período da gestão 1982/1988 e Secretário de Planejamento do Município de Ijuí no primeiro perí- odo da gestão 1989/1992. Como cidadão ativo, atuo de forma voluntária em diversos espaços públicos da sociedade civil: atualmente sou coordenador geral do Conselho de Desenvolvimento do Município de Ijuí – Codemi (gestão 2007/2008 e 2008/2009) e 1° vice-presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento do Noroeste Colonial – Corede/Norc (gestão 2008/2009). Em 2008 coordenei o processo EaD 7 GESTÃO PÚBLICA IV de atualização e revisão do Plano Estratégico Participativo de De- senvolvimento de Ijuí, com a realização de dois Fóruns Munici- pais de Desenvolvimento; o processo de Consulta Popular do Esta- do do RS, e a realização de dois Seminários de Integração dos Conselhos Municipais de Ijuí. Em 2009 integro a Coordenação Geral do Processo do Planejamento Plurianual (PPA) Comunitário Participativo de Ijuí, da Comissão Municipal de Avaliação do Con- trato de Concessão dos Serviços de Água e Esgoto do Município de Ijuí para a Corsan e da Comissão de Avaliação da Planta de Valores dos Imóveis Urbanos de Ijuí. Participo ainda de Grupos de Trabalho (GTs) que asses- soram o Fórum dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, integrando o GT que atua na definição de metodologia para a elaboração de Planos Estratégicos Participativos de Desenvolvimento Regionais e Municipais e coor- denando o GT de Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento (Comudes). Em 2008 fui delegado da Região Funcional de Planejamento 7 nas Assembleias Estaduais do Pro- grama Sociedade Convergente do Fórum Democrático de Desen- volvimento Regional da Assembleia Legislativa do RS. Como professor tempo integral da Unijuí, atuo no ensino, na extensão e na pesquisa: de 1978 a 1984 estive lotado no De- partamento de Economia e Contabilidade, atuando em diversos componentes da área da teoria contábil e da análise econômi- co-financeira; desde 1985 estou lotado no Departamento de Es- tudos da Administração, lecionando os componentes curriculares Gestão Pública I, II e IV, Planejamento Governamental, Plane- jamento Municipal I e II, Conselhos Gestores de Políticas Públi- cas, Projeto de TCC, Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Planejamento Organizacional, Estratégias Organizacionais, Estrutura e Processos Organizacionais, Pesquisa em Adminis- tração, Gestão Estratégica e Tópicos Especiais em Administra- ção: Gestão Pública e Social, entre outras. A partir de 2009 par- ticipo como docente do Programa de Mestrado em Desenvolvi- mento da Unijuí, no componente curricular Gestão Pública e Desenvolvimento. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 8 No âmbito da extensão, coordeno o Programa Gestão Social e Cidadania, que desenvolve e mantém o GSC-Dados, um banco de dados e informações sobre os 496 municípios gaúchos e os 385 municípios gaúchos, catarinenses e paranaenses que inte- gram a Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul; produz e vei- cula o GSC-Rádio, um programa semanal de rádio sobre temas de gestão pública, desenvolvimento local e regional e cidadania; o GSC-Conselhos, um banco documental sobre o marco legal e a prática dos conselhos gestores de políticas públicas dos 77 municí- pios da Região Funcional de Planejamento 7; e o GSC-Educação Continuada, que realiza oficinas e seminários para capacitação de conselheiros municipais e regionais. Este programa disponibiliza as informações na Internet através do GSC-Portal <http:// projetos.unijui.edu.br/cidadania/portal>. No âmbito da pesquisa fui fundador do Grupo Interdisciplinar de Estudos em Gestão Pública, Desenvolvimento e Cidadania, tendo sido líder de 2002 a 2007 e, atualmente, 2° líder. Coordeno a pes- quisa “As políticas públicas na perspectiva da desigualdade no no- roeste gaúcho”, integrante de uma rede da qual participam sete universidades brasileiras, além da pesquisa “A Cidadania e o Pro- cesso de Desenvolvimento Local e Regional: um Estudo Sobre a Atuação dos Conselhos Municipais e Regionais de Desenvolvimen- to do Rio Grande do Sul, de 1990 a 2007”, objeto da tese de Doutoramento. Sou autor do livro “A participação da sociedade civil na ges- tão pública”, publicado pela Editora Unijuí em 2002. Em 2006 participei como co-autor da edição do “Dicionário sobre Desen- volvimento Regional”, publicado pela Edunisc. Em 2008 fui organizador de dois livros de Gestão Pública, voltados para o cur- so de Gestão Pública da Unijuí, e autor de um capítulo do livro “Desenvolvimento regional, democracia local e capital social”, or- ganizado pelos professores Marcello Baquero (UFRGS) e Dejalma Cremonese (Unijuí). Participei de diversos eventos, tendo apresen- tado e publicado, como autor principal ou coautor, sete artigos completos em anais de eventos internacionais (4) e nacionais (3), além de sete resumos em eventos de caráter regional. Participei como painelista ou palestrante convidado em eventos de caráter EaD 9 GESTÃO PÚBLICA IV estadual e regional. Em 2009 organizei três livros para o curso de Gestão Pública, juntamente com outros colegas professores e pes- quisadores. Mantenho ainda um blog em que abordo questões vin- culadasà gestão pública e ao desenvolvimento, especialmente quanto aos espaços públicos de participação social, no endereço <http://professorallebrandt.blogspot.com>. Acima de tudo, considero-me um eterno aprendiz, em espe- cial com base nas experiências de vida trazidas pelos alunos para a problematização do processo ensino-aprendizagem nos espaços reais e virtuais das inter-relações do processo coletivo de constru- ção do conhecimento. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 10 MARCOS PAULO DHEIN GRIEBELER Bem, apresentação para mim deve ser sucinta e objetiva. Desta forma, para quem ainda não teve a grata surpresa de me conhecer, chamo-me Marcos Paulo Dhein Griebeler (ainda bem que tem a foto, pois daqui a pouco as meninas iam pensar que era o ator). Bom, solteiro, 34 anos, sem vícios e nascido em Pelotas. Com dois anos de rica vida e saúde, porém, minha mãe vol- tou para o interior de Montenegro, onde praticamente passei toda minha infância e adolescência. Durante esse período (dos 7 aos 18 anos cresci em um mercado e açougue de propriedade do meu pai – por isso, açougueiros, não tentem me enganar) permaneci com a vida voltada para a rotina casa-mercado. Logo em seguida decidi trabalhar fora, arrumando emprego em uma empreiteira de estradas, com sede em Esteio. No início estava eu na função de apontador na referida empresa. Por uma decisão da mesma fui transferido para outra obra, agora no muni- cípio de Candelária, mais precisamente na Linha do Rio, permane- cendo lá por um ano e meio. Voltei para Montenegro. Como havia escrito antes, pretendo também aqui ser sucin- to, afinal você quer mesmo é saber da disciplina, métodos de ava- liação, etc. Por isso, após voltar para Montenegro, recebi um con- vite para trabalhar em outra empresa do ramo de construção de estradas. Desta vez, migrei para Forquetinha, então distrito de La- jeado e atualmente município. Depois mais vieram Santa Cruz do Sul, Barros Cassal e, finalmente caí de paraquedas na sede da empresa, em Canoas. Como a previsão era de permanência efetiva nesse município, decido voltar a estudar. Corria o ano 2000. É cla- ro, o curso de Administração foi o escolhido pela sua ampla gama de assuntos e possibilidades. Cursado no Centro Universitário La Salle (ah, professora Cláudia, que saudades de você!), acredite, consegui a carteirinha de Administrador em dezembro de 2004. Em seguida segui em uma especialização – Pedagogia Empresarial – concluída em 2006 na mesma Instituição (e claro, a saudade da professora Cláudia con- tinuava...). Durante esta especialização entrei em contato com um EaD 11 GESTÃO PÚBLICA IV texto do professor Dieter Rugard Siedenberg (sim, aquela figuraça mesmo!) sobre a temática do Desenvolvimento Regional, que mui- to me interessou. Mudei-me para Montenegro, e com essa nova leitura, parti- cipei de um processo seletivo para o Mestrado em Desenvolvimen- to Regional em Santa Cruz do Sul (quem diria que voltaria a San- ta Cruz do Sul?) no mesmo ano, no qual fui selecionado, e de mar- ço de 2007 a novembro de 2008 consegui fazer o Dieter ganhar algumas rugas e eu o título de mestre em Desenvolvimento Regio- nal. Ah, ia me esquecendo: nesse meio-tempo atuava como profes- sor de Logística no Instituto de Educação São José, em Montenegro. Bom, na sequência participei do processo seletivo para o Doutorado, também em Desenvolvimento Regional, em Santa Cruz do Sul. Já em janeiro de 2009 tomei conhecimento de uma vaga para professor na Unijuí e cá está você, vendo minha foto. Meios para se comunicar (ou para discordar de minhas opiniões) não faltam. Tem e-mail (marcos.dhein@unijui.edu.br; marcosadmrs@hotmail.com – MSN também: marcosp@craweb.org.br), twitter (é, o professor tem também: http://twitter.com/MPDG2), telefone (51-99112369) e caso tenha algum assunto que lhe interesse, você pode visitar sem preci- sar pagar ingresso meu blog <http://desenvolvimentoemquestao. blogspot.com/>. Bom, a priori creio que esta é a versão oficial da figurinha. Um forte abraço a todos e um bom começo na disciplina. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 12 CLAUDIO EDILBERTO HÖFLER Nasci em 26 de fevereiro de 1966, no município de Três Pas- sos/RS. Em 1973, iniciei as atividades escolares, ingressando na primeira série do primeiro grau, quando comecei a conhecer mui- tos colegas e a ter contato com leituras e a escrita. No ano de 1977 frequentei a Escola Evangélica Ipiranga, no município de Estrela/RS. Retornei a Três Passos/RS em 1984 e con- cluí o 2° grau na Escola Estadual Erico Verissimo. Sou graduado em Administração e Especia lista em Marketing, cursos realizados na Universidade Regional do Noro- este do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Mestre em Gestão Pública pela Universidade Nacional de Misiones/Argentina e dou- torando em Administração pela mesma Universidade. Atualmente sou pró-reitor da Unijuí – campus Santa Rosa – e como professor, estou vinculado ao Departamento dos Estudos da Administração (DEAd) – da Unijuí desde 2004. Exerci o cargo de diretor geral do Instituto de Políticas Pú- blicas e Desenvolvimento Regional da Fidene/Unijuí no período 2005 a 2007. Fui coordenador da Assessoria e Serviços Comunitá- rios da Fidene em 2007 e 2008 e também exerci o cargo de diretor executivo da Associação IPD no período 2006 a 2008. Participei da diretoria da Associação Brasileira para Promo- ção (Participe) como tesoureiro entre 2007 e 2008. Atuei também no Projeto Prorenda Agricultura Familiar, no período de 1998 a 2000, na Região Fronteira Noroeste, assumin- do, inclusive, a coordenação desse projeto. Dediquei um período de minha vida como perito de curto prazo para a GTZ Sociedade de Cooperação Alemã nos anos de 1996 e 1997. Trabalhei como técnico em Projetos de Educação e Recupe- ração Ambiental; Também, pela formação que busquei, tenho atuado como especialista em Organização Social e na formulação de Planos Estratégicos Municipais e Empresariais. Atuei como coordenador do Fórum Regional do Turismo Rota do Rio Uruguai na Região EaD 13 GESTÃO PÚBLICA IV Fronteira Noroeste no período de 2000 a 2005, e no auxílio da formatação do Consórcio Intermunicipal de Turismo Rota do Rio Uruguai. Também participei da diretoria da Agência de Desenvol- vimento de Santa Rosa no período de 2002 a 2003. Atuei como assessor do Corede na região Fronteira Noroeste no período de 2003/2004, auxiliando na realização da primeira Consulta Popular. Enfim, sempre estive envolvido em comissões, coordenação de conselhos, ações comunitárias, feiras municipais, bem como em assessorias para diversas empresas e prefeituras da região Tenho participado de diversos projetos de pesquisa nas linhas do desenvolvimento, estratégias, processos e projetos e tenho pro- duzido vários artigos, textos e livros. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 14 Dieter Siedenberg É natural de Ijuí (RS), onde cursou primário, ginásio e cien- tífico. Quase cinquentão, portanto. Concluiu os cursos de Gradu- ação em Administração de Empresas e Ciências Contábeis pela Unijuí, ainda no milênio passado. Da mesma forma, realizou e concluiu seu Mestrado em Planejamento Regional na Universida- de de Karlsruhe (Alemanha), como bolsista do Daad (Serviço Ale- mão de Intercâmbio Acadêmico) entre 1987 e 1990. Ingressou na carreira acadêmica em 1990, atuando como docente no Departamento de Estudos da Administração (DEAd) da Unijuí. Entre 1990 e 1995 também atuou numa equipe multidisciplinar mantida por esta mesma instituição, dedicada à elaboração de Planos Diretores de Desenvolvimento, bem como aos estudos sobre o tema e assessoria de planejamento para o desen- volvimento de municípios e regiões. Em 1996 iniciou seu Doutorado na Universidade de Tübingen (Alemanha), no Institut für Wirtschaftsgeographie, como bolsista da Capes. Nesta etapa de sua qualificação debruçou-se sobre ques- tões relacionadas ao desenvolvimento regional, concluindo seu Doutorado em 2000. No seu regresso ao Brasil,retomou as atividades docentes e de pesquisa no DEAd e, pouco tempo depois, passou a atuar tam- bém como professor no Programa de Mestrado em Desenvolvimen- to, mantido pela Unijuí, a partir de 2002. Concomitantemente pas- sou a atuar como docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional, mantido pela Unisc, em Santa Cruz do Sul (RS). Desde então a sua vida acadêmica “entrou no tranco”. Es- poradicamente presta assessoria ao Fórum dos Conselhos Regio- nais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, uma vez que suas pesquisas estão direcionadas a questões ligadas ao planejamento e desenvolvimento regional, gestão pública, cidadania e temas afins. Em função disso, possui alguns livros, capítulos de livros e artigos, publicados, bem como trabalhos apresentados sobre estes temas, participando ainda de grupos de pesquisa e orientando graduandos, mestrandos e doutorandos sobre assuntos correlatos. EaD 15 GESTÃO PÚBLICA IV É descendente não fanático de alemães (mas também, com esse nome!), casado com Solange Siedenberg, professora, dois fi- lhos (estoque humano reposto), todos gremistas. A sua ficha aca- dêmica está no Lattes, atualizada por força das circunstâncias pro- fissionais. E, se depois de tudo isso a curiosidade ainda não estiver estancada, o negócio é perguntar diretamente... EaD 17 GESTÃO PÚBLICA IV ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação O componente curricular Planejamento Estratégico Local integra o último bimestre do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública. Como propõe o Projeto Político-Peda- gógico, este componente tem uma dupla função: abordar diferentes instrumentos e modelos que orientam o planejamento no setor público, conhecendo a sua concepção teórica, e ao mesmo tempo constituir-se no principal desafio do curso para utilizar esses modelos e ins- trumentos na prática, consolidando-se enquanto produto de conclusão de curso. Organizou-se o livro em cinco unidades. A primeira trata da mensuração do desenvol- vimento e dos processos de inclusão e exclusão social. No processo de instituição de políti- cas públicas inclusivas um grande desafio é a criação de instrumentos de mensuração, como indicadores de inclusão social, indicadores de exclusão social ou indicadores de desenvolvi- mento. Os indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que, associ- adas de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos a que se referem. Os indicadores são instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acom- panhamento e a avaliação do progresso alcançado na construção do desenvolvimento sus- tentável. A unidade aborda deferentes indicadores, detalhando em especial o índice de De- senvolvimento Humano Municipal (IDH-M), o Índice de Exclusão Social (IES) e o Índice de Desenvolvimento Econômico e Social (Idese). A segunda unidade trata dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) para a Gestão Municipal. Em um primeiro momento expõe sucintamente o porquê da criação dos ODMs pela Organização das Nações Unidas – ONU – em 2000. Logo a seguir descreve e exemplifica onde e como se aplicam cada um desses oito objetivos estabelecidos e que visam a oferecer uma melhor qualidade de vida à população mundial, por intermédio de ações e sugestões de práticas voltadas para tal intuito. Faz ainda um apanhado geral de como estas ações podem ser executadas em cada um dos 5.565 municípios brasileiros. A unidade três apresenta os fundamentos do planejamento, concebido como instru- mento essencialmente democrático e participativo, capaz de provocar mudanças na socie- dade e na qualidade de vida dos cidadãos. Nas suas diversas seções trata de um conjunto de variáveis inerentes a qualquer modelo de planejamento, entendido como um processo que busca a concretização de planos de desenvolvimento de determinado território. Na quarta unidade descreve-se uma metodologia de planejamento a ser empregada para o processo de elaboração de planos de desenvolvimento de microrregiões e macrorregiões de um Estado. O modelo proposto está baseado na metodologia adotada pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Coredes), e que foi desenvolvida por EaD Sérgio Luis Al lebrandt 18 um Grupo de Trabalho do Fórum dos Coredes. A proposta aqui descrita, no entanto, pode servir para orientar o processo de planejamento de outras regiões do país, bem como, com as devidas adaptações, para processos de planejamento de municípios e suas divisões territoriais em bairros e distritos. A última unidade do livro apresenta outra proposta metodológica para orientar o pro- cesso de planejamento do desenvolvimento, desta vez com ênfase no local, no processo de elaboração de planos de desenvolvimento de municípios. Trata-se de um modelo simples, de fácil aplicabilidade, mas que, como no modelo apresentado na unidade quatro, também tem uma preocupação fundamental com a etapa da elaboração de projetos para a ação. Infelizmente, na grande maioria dos municípios as ações voltadas a investimentos no desenvolvimento ainda são vistas como aumento de custos e não como estratégias de de- senvolvimento que alavancam alternativas de geração de renda e empregos, contribuindo assim para a qualidade de vida futura da população. A existência de instrumentos e méto- dos que orientem estas novas posturas necessárias aos agentes políticos e à sociedade local pode facilitar esse importante processo de mudança. Tem-se a expectativa que o conteúdo e a forma de apresentá-lo e tratá-lo sejam de grande utilidade para os alunos, tanto com vistas a empregar estes instrumentos/modelos para o exercício acadêmico, como, desde agora e no futuro, com as melhorias e aperfeiçoa- mentos que os próprios alunos vão agregar com base na experiência e retomada constante dos processos de ensino-aprendizagem, orientem a ação dos gestores públicos tendo no horizonte sempre presente o objetivo de melhorar a vida de todos os cidadãos brasileiros. EaD 19 GESTÃO PÚBLICA IV Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1 MENSURANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A INCLUSÃO/EXCLUSÃO SOCIAL Sérgio Luís Allebrandt OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Conhecer processos de mensuração do desenvolvimento e da inclusão/exclusão social. • Conhecer diversos índices-sínteses e indicadores empregados em processos de planeja- mento do desenvolvimento. • Entender a prática de análise utilizando indicadores e índices-sínteses. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE – Seção 1.1 – Desenvolvimento e utilização de Indicadores Sociais. – Seção 1.2 – Índices e Indicadores mais utilizados. – Seção 1.3 – Detalhando três Índices: IDH-M, Idese e IES. – Seção 1.4 – A análise com base em diferentes índices aplicados a uma mesma região ou grupo de municípios. – Seção 1.5 – À guisa de conclusão. Esta Unidade aborda o processo de mensuração da inclusão/exclusão social e do de- senvolvimento sustentável por meio do emprego de indicadores sociais e índices-sínteses. Primeiramente aborda o desenvolvimento e a utilização de indicadores sociais, descrevendo um conjunto de indicadores amplamente utilizados atualmente. Em seguida analisa mais detalhadamente três índices: o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, o Índice de Exclusão Social e o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico. Na sequência realiza uma breve análise destes índices aplicados ao grupo de 35 municípios gaúchos com população superior a 50 mil habitantes na área urbana. Na conclusão apresenta algumas sugestões com vistas ao aperfeiçoamento dos índices utilizados ou para integrar um possível novo índice que abrangesse um conjunto mais amplo de dimensões da realidade econômico-social dos municípios, regiões e suas populações. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 20 Seção 1.1 Desenvolvimento e Utilização de Indicadores Sociais Ao longo de muitas décadas era normal, no mundo todo, a prática de avaliar o bem- estar das populações, países ou regiões, pelo tamanho de seu PIB percapita (o Produto Interno Bruto dividido pelo número de habitantes do país ou região). Nas últimas décadas, entretanto, foi-se generalizando o entendimento de que o progresso humano e a evolução das condições de vida das pessoas não podem ser medidos apenas por sua dimensão econô- mica. A partir de então foram sendo desenvolvidos e construídos diferentes indicadores soci- ais, com o objetivo de mensurar o desenvolvimento sustentável (não meramente econômico em sentido estrito), a qualidade de vida, o bem-estar das populações, o processo de inclu- são/exclusão (afastamento ou proximidade) de patamares dignos de vida. No processo de instituição de políticas públicas inclusivas um grande desafio é o de- senvolvimento de instrumentos de mensuração, como indicadores de inclusão social, indi- cadores de exclusão social ou indicadores de desenvolvimento. Os indicadores são ferra- mentas constituídas por uma ou mais variáveis que, associadas sob diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos a que se referem. Os indicadores são instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompa- nhamento e a avaliação do progresso alcançado na construção do desenvolvimento susten- tável. De acordo com Januzzi (2003), um indicador social pode ser definido como uma medi- da – em geral quantitativa – que carrega um significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, seja de interesse teó- rico para a pesquisa acadêmica, seja de interesse programático para a formulação de políti- cas públicas. Um indicador social é, portanto, um recurso metodológico que informa algo sobre determinado aspecto da realidade social ou sobre as mudanças que estão ocorrendo nesta realidade observada. Assim, os indicadores sociais são fundamentais para subsidiar as atividades de plane- jamento público e o processo de formulação e implementação das políticas públicas nas diferentes esferas de governo, sejam políticas voltadas à infraestrutura urbana, ao atendi- mento básico em saúde, a programas de qualificação de trabalhadores, etc. As diferentes fases do processo de formulação e estabelecimento das políticas reque- rem o uso de indicadores específicos. Na fase do diagnóstico indicadores do tipo produto, por exemplo, o número de médicos por 1.000 habitantes, o número de leitos hospitalares e o EaD 21 GESTÃO PÚBLICA IV valor per capita aplicado nos programas de saúde, ou seja, indicadores que auxiliam o pro- cesso de caracterização empírica da realidade, contextualizando a gravidade dos problemas sociais, das carências e demandas a serem atendidas. Na fase de desenvolvimento dos pro- gramas, indicadores de processo, como o número de consultas mensais de crianças de até um ano, que auxiliam no monitoramento da alocação operacional de pessoal e dos recursos financeiros e físicos. Na avaliação dos programas instituídos, diferentes indicadores para mensurar a eficiência, a eficácia e a efetividade social da política são necessários, como a variação nos índices de mortalidade infantil decorrente do impacto do programa executado (Januzzi, 2003). É preciso enfatizar que a partir da metade da década de 80, com o processo de demo- cratização no país, com o aperfeiçoamento e introdução de novas maneiras e experiências de formulação e implementação de políticas públicas – planejamento estratégico participativo, orçamento participativo, planejamento estratégico municipal – passou-se a utilizar os indi- cadores sociais com maior ênfase. Cabe referência especial a duas dinâmicas que vêm ocu- pando um espaço significativo na construção de alternativas para o desenvolvimento das regiões e dos municípios: a Agenda 21 Local e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A Agenda 21 Local e os ODM são entendidos como dois instrumentos para a consecu- ção do desenvolvimento sustentável, aprovados e adotados pelos países membros da ONU. Atualmente muitas dinâmicas de efetivação da Agenda 21 Local estão absorvendo os Obje- tivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), realizando assim uma simbiose entre estes dois instrumentos. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram definidos pelo PNUD/ ONU em 2000 e têm como horizonte de atendimento o ano de 2015. São 8 objetivos organi- zados em 18 metas e 48 indicadores. Os ODM serão tratados em detalhes na Unidade 2. É importante também lembrar que o papel dos indicadores não deve ser superestima- do, pois o processo de formulação e execução das políticas públicas não depende apenas da qualidade das informações. O planejamento não pode ser visto como uma atividade técnica, objetiva e neutra. O diagnóstico – enquanto fase do processo de planejamento – é apenas um retrato parcial da realidade. As explicações da realidade são múltiplas. O entendimento bastante comum de que o diagnóstico é impessoal e unidimensional, portanto capaz de dizer-nos como é a rea- lidade objetiva, esquece que o diagnosticador não pode se despir da sua subjetividade, da sua visão de mundo, dos seus valores e crenças. Cada sujeito faz uma leitura diferenciada da realidade concreta, distinta da leitura de outros sujeitos. Todos os cidadãos são sujeitos do jogo social, que é interativo, no qual, com as diferentes visões de mundo, as diversas leituras diferenciadas da realidade, buscam argu- EaD Sérgio Luis Al lebrandt 22 mentar para buscar, por meio da cooperação, o consenso necessário para definir os projetos para alcançar os objetivos do desenvolvimento definidos. Daí a importância da participação em todos os espaços de interação da sociedade com o poder público, participação em todas as fases do processo, desde o diagnóstico, a definição das políticas, sua formulação, execu- ção, o acompanhamento durante o processo e a avaliação dos resultados atingidos. Por isso hoje os indicadores sociais são vistos como instrumentos de empoderamento da sociedade civil no seu papel fundamental de direcionamento e controle das atividades do poder públi- co. Para que isso ocorra, no entanto, é necessário que a sociedade ocupe em plenitude os espaços públicos e de interação com o Estado. Seção 1.2 Índices e Indicadores Mais Utilizados Antes de abordar os três índices que serão analisados mais detalhadamente, conside- ra-se importante algumas referências a outros esforços passados ou atuais para o desenvol- vimento de indicadores/índices com o objetivo de mensurar a qualidade de vida ou as condi- ções de inclusão/exclusão das sociedades. Na década de 90, por exemplo, o Ipea e a Fundação João Pinheiro construíram dois índices sintéticos em âmbito municipal: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, hoje o IDH-M) e o Índice de Condições de Vida (ICV). O IDH foi calculado pela primeira vez para o nível municipal, tendo sido necessárias adaptações metodológicas, que continuam vigo- rando no cálculo do IDH-M até hoje, nas dimensões Renda, Educação e Longevidade. O ICV foi elaborado com a adoção de metodologia básica idêntica à utilizada na construção do IDH, mas com a incorporação de um conjunto maior de indicadores de desempenho socioeconômico, de modo a captar, da forma mais abrangente possível, o processo de desen- volvimento social. Isso foi feito pela ampliação do leque de indicadores que compõem as dimensões Renda, Educação e Longevidade e pela introdução de duas dimensões adicio- nais dedicadas a retratar a situação da Infância e da Habitação. No Quadro 1 apresentam- se estes dois índices, com suas variáveis e pesos na definição dos índices sintéticos. Como se pode verificar, o IDH baseia-se em quatro indicadores, agrupados em três dimensões, en- quanto o ICV inclui 18 indicadores, reunidos em cinco dimensões. EaD 23 GESTÃO PÚBLICA IV Quadro 1: Indicadores e Índices de Condições de Vida Fonte: ONU, Human Development Report, 1994. Em 2002 o IBGE publicou os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil, com informações sobre a realidade brasileira. São50 indicadores organizados em quatro dimensões – Social, Ambiental, Econômica e Institucional – abrangendo 15 temas (veja o Quadro 2). Os indicadores estão organizados em fichas contendo a descrição de sua cons- trução, sua justificativa, vínculos com o desenvolvimento sustentável e explicações metodológicas, acompanhadas de tabelas, figuras, gráficos e mapas ilustrativos que expres- sam sua evolução recente e diferenciações no território nacional. Parâmetros para cálculo dos índices Pesos nos índices Limites dos indicadores IDH ICV Dimensões/ Indicadores melho r pior na dimensão no índice na dimensão no índice Renda 1 0 1 1/3 1 1/3 Renda familiar per capita média (em sal. mín. de set/91) – – – – – – -> Renda familiar per capita média ajustada (sal.mín. de set/91) 1,364 0,050 1 1/3 1/2 1/10 Proporção de pobres – P0 – – – – – – Hiato de renda médio – P1 – – – – – – Hiato de renda quadrático médio – P2 0 0,9 – – 1/4 1/20 Índice de Theil (desigualdade de renda) – – – – 0 0 ->Índice de Theil padronizado [= 1-e(-L) ] 0 1 – – 1/4 1/20 Educação 1 0 1 1/3 1 1/5 Taxa de analfabetismo (%) 0 100 2/3 2/9 1/2 1/10 Número médio de anos de estudo (anos) 15 0 1/3 1/9 1/4 1/20 Porcentagem da população com menos de 4 anos de estudo 0 100 – – 1/12 1/60 Porcentagem da população com menos de 8 anos de estudo 25 100 – – 1/12 1/60 Porcentagem da população com mais de 11 anos de estudo 50 0 – – 1/12 1/60 Infância 1 0 – – 1 1/5 Porcentagem de crianças que não frequentam a escola 0 100 – – 1/2 1/10 Defasagem escolar média (anos) 0 6 – – 1/8 1/40 Porcentagem de crianças com mais de um ano de defasagem escolar 0 100 – – 1/8 1/40 Porcentagem de crianças que trabalham 0 100 – – 1/4 1/20 Habitação 1 0 – – 1 1/5 Porcentagem da população que vive em domicílios com densidade acima de 2 pessoas por dormitório 0 100 – – 1/4 1/20 Porcentagem da população que vive em domicílios duráveis 100 0 – – 1/4 1/20 Porcentagem da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de água 100 0 – – 1/4 1/20 Porcentagem da população que vive em domicílios com instalações adequadas de esgoto 100 0 – – 1/4 1/20 Longevidade 1 0 1 1/3 1 1/5 Esperança de vida ao nascer (anos) 85 25 1 1/3 1/2 1/10 Taxa de mortalidade infantil (por mil) 0 320 – – 1/2 1/10 EaD Sérgio Luis Al lebrandt 24 Neste estudo sobre os indicadores de desenvolvimento sustentável não chegou a ser construído um índice-síntese. Mesmo assim, é importante o esforço de construção e disponibilização de indicadores sobre as temáticas do desenvolvimento e da inclusão/exclu- são, uma vez que os mesmos podem ser calculados para os diferentes níveis político/admi- nistrativos (municípios, Estados) com base nos dados censitários disponibilizados pela IBGE e outros órgãos oficiais de estatística. Como explicita o próprio IBGE na apresentação da publicação, este “é um primeiro passo no sentido de responder à crescente demanda por ferramentas de trabalho para o tema do desenvolvimento sustentável” (IBGE, 2002, p. 4). Este estudo também está vinculado a um esforço internacional, coordenado pela Comissão para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que lançou em 1996 o chamado Livro Azul, reunindo 134 indicadores de desenvolvimento para os diferentes países. Em 2000 este conjunto de indicadores foi reduzido para 57, publicados em fichas metodológicas e diretrizes para sua utilização. Também estudos de âmbito territorial inicialmente mais restrito foram importantes, como o Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, disponibilizado pela PUC-SP e Instituto Polis, que mediante um conjunto de indicadores preliminares consolida- dos num indicador final definiu um patamar mínimo de vida. A Fundação Seade veiculou um estudo sobre a interface existente entre jovens e violência, criando o Índice de Vulnerabilidade Juvenil. A Assembleia Legislativa de São Paulo divulgou o Índice Paulista de Responsabilidade Social, que resultou em indicadores-síntese de acúmulo de recursos econômicos, a longevidade e o acúmulo de conhecimentos, permitindo identificar realida- des distintas pelos diversos municípios paulistas. Este conjunto de estudos foi fundamental para o surgimento do Índice de Exclusão Social (Campos et. al, 2003). No Rio Grande do Sul foi desenvolvido o Índice Social Municipal Ampliado (Isma), que foi posteriormente substituído pelo Idese. INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO BRASIL 50 índices agrupados em 4 dimensões, abrangendo 15 temas Dimensão Tema Indicador População Taxa de crescimento da população Concentração de renda – Índice de Gini Taxa de desemprego aberto Rendimento familiar per capita Rendimento médio mensal por sexo Equidade Rendimento médio mensal por cor ou raça Esperança de vida ao nascer Taxa de mortalidade infantil Prevalência de desnutrição total Imunização contra doenças infecciosas infantis Taxa de uso de métodos contraceptivos Saúde Acesso à saúde Dimensão Social EaD 25 GESTÃO PÚBLICA IV Quadro 2: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil Fonte: IBGE, 2002. Seção 1.3 Detalhando Três Índices: IDH-M, Idese e IES Três indicadores sociais são importantes na nossa visão: o primeiro é o Índice de De- senvolvimento Humano Municipal (IDH–M), desenvolvido pela Fundação João Pinheiro em parceria com o Ipea e o PNUD/Brasil, aplicável a todos os municípios brasileiros e tam- Acesso à saúde Escolaridade Taxa de escolarização Taxa de alfabetização Taxa de analfabetismo funcional Educação Taxa de analfabetismo funcional por cor ou raça Habitação Densidade inadequada de moradores por dormitório Segurança Coeficiente de mortalidade por homicídios Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio Atmosfera Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas Uso de fertilizantes Uso de agrotóxicos Terras aráveis Queimadas e incêndios florestais Desflorestamento na Amazônia Legal 7 Terra Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas Produção da pesca marítima e continental Oceanos, mares e áreas costeiras População residente em áreas costeiras Espécies extintas e ameaçadas de extinção Biodiversidade Áreas protegidas Acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico Destinação final do lixo Acesso a sistema de abastecimento de água Acesso a esgotamento sanitário Desenvolvimento Ambiental Saneamento Tratamento de esgoto Produto Interno Bruto per capita Taxa de investimento Balança comercial Estrutura econômica Grau de endividamento Consumo de energia per capita Intensidade energética Participação de fontes renováveis na oferta de energia Reciclagem Coleta seletiva de lixo Dimensão Econômica Padrões de produção e consumo Rejeitos radioativos: geração e armazenamento Estrutura institucional Ratificação de acordos globais Gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D) Gasto público com proteção ao meio ambiente Dimensão Institucional Capacidade institucional Acesso aos serviços de telefonia EaD Sérgio Luis Al lebrandt 26 bém ao nível dos Estados; o segundo é o Índice de Exclusão Social (IES), desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Unicamp e da USP, coordenados pelo economista Márcio Pochmann1 ; e o terceiro é o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), elaborado pela FEE, calculado para a base municipal para a base das regiões dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes), e que é utilizado pelo governo estadual para alocar recursos orçamentários no processo da Consulta Popular. 1.3.1 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL – IDH-M O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/ONU), no iníciodos anos 90, para estabe- lecer um índice de desenvolvimento para os países. Na concepção do PNUD, o Desenvolvimento Humano deveria ser entendido como um processo dinâ- mico e permanente de ampliação das oportunidades dos indivíduos para a conquista de níveis crescen- tes de bem-estar. Para tanto o processo de desenvolvimento deveria garantir, entre outros aspectos, oportunidades crescentes de acesso à educação e cultura, a condições de desfrutar uma vida saudável e longa e a condições de dispor de um padrão adequado de vida para a população (Januzzi, 2003). O IDH foi idealizado para servir como a base empírica dos relatórios de desenvolvi- mento humano, responsáveis por monitorar o processo de desenvolvimento mundial ao lon- go da década de 90, englobando mais de 170 países. O índice compõe-se de três dimensões: a longevidade, que também reflete, entre ou- tras coisas, as condições de saúde da população, medida pela esperança de vida ao nascer; a educação, medida por uma combinação da taxa de alfabetização de adultos e a taxa combinada de matrícula nos níveis de Ensino Fundamental, Médio e Superior; e a renda, medida pelo poder de compra da população, baseado no PIB per capita ajustado ao custo de vida local para torná-lo comparável entre países e regiões, por meio da metodologia conhe- cida como paridade do poder de compra (PPC). A metodologia de cálculo do IDH envolve a transformação das três dimensões em índices de longevidade, educação e renda, que variam entre 0 (pior) e 1 (melhor), e a combi- nação destes índices em um indicador-síntese. Quanto mais próximo de 1 o valor deste indicador, maior será o nível de desenvolvimento humano do país ou região. Para que os indicadores possam ser combinados em um índice único, eles são transfor- mados em índices parciais, cujos valores devem variar entre 0 e 1. Para isso, utiliza-se a seguinte fórmula geral: 1 Márcio Pochmann é atualmente o presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), uma fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. EaD 27 GESTÃO PÚBLICA IV Índice = valor observado – valor mínimo / valor máximo – valor mínimo ou X i,p = (X i – MIN(X i )) / (MAX(X i ) – MIN(X i )) onde p : identifica qual o indicador está em estudo (pobreza, alfabeti- zação, matrícula, renda per capita, etc.); i : identifica a unidade de análise (distrito, cidade, Estado, país, etc.); X i : valor do indicador utilizado no cálculo; MIN(X i ): valor mínimo encontrado na distribuição do indicador; MAX(X i ): valor máximo encontrado na distribuição do indicador. No caso do IDH, no entanto, os valores mínimos e máxi- mos não correspondem ao pior e melhor valores observados. São valores definidos pelo PNUD/ONU, considerados padrões está- veis. Assim, no caso da longevidade, adota-se como pior valor 25 e como valor máximo 85, correspondendo a 25 e 85 anos de vida, respectivamente. No caso da renda, o maior valor é US$40.000 PPC e o pior, US$100 PPC. Todos os valores são em dólar PPC, para garantir comparabilidade entre países, sendo que o valor da taxa do dólar PPC é fornecido pelo Banco Mundial. Assim, o IDH resulta da combinação destas três dimensões: • Longevidade (medida pela esperança de vida ao nascer). • Educação (medida pela combinação da taxa de alfabetização de adultos, com peso 2/3, e da taxa combinada de matrícula nos três níveis de ensino, com peso 1/3). • Renda (medida pelo PIB per capita, expresso em dólares PPC, ou paridade do poder de compra). O cálculo dos índices é o seguinte: PPC Significa Paridade do Poder de Compra, que equipara o poder de compra de alguns produtos e serviços básicos entre as nações. A PPC é utilizada para comparar o Produto Interno Bruto (PIB) entre países, já que a mera conversão do PIB para dólares pela taxa de câmbio não leva em conta a prosperi- dade material e o custo de vida real das nações. É também conhecido como PPP, do inglês Purchasing Power Parity. Os Estados Unidos têm PPC = 1 e todos os demais países apresentam ganho no PIB em dólar PPC. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 28 Índice de Longevidade: IL i = V i – 25 / 85 – 25, onde IL = Índice de Longevidade V = Esperança de Vida ao Nascer i = país i 25 = valor mínimo – 25 anos de expectativa de vida 85 = valor máximo – 85 anos de expectativa de vida Índice de Educação: IA i = A i – 0 / 100 – 0 = A i /100 IM i = M i – 0 / 100 – 0 = M i /100 IE i = 2/3 IA i + 1/3 IM i = 2 IA i + IM i / 3 onde IE = Índice de Educação IA = Índice de Alfabetização IM = Índice de Matrícula A = taxa de alfabetização de adultos M = taxa combinada de matrícula nos três níveis de ensino i = país i 1/3 = peso do índice de alfabetização 2/3 = peso do índice de matrícula 0 = valor mínimo 100 = valor máximo Índice de Renda: A construção do Índice de Renda do país é um pouco mais complexa, e parte da hipó- tese de que a contribuição da renda para o desenvolvimento humano apresenta rendimen- tos decrescentes. Essa hipótese é incorporada ao cálculo do IDH por meio da função logarítmica. EaD 29 GESTÃO PÚBLICA IV IR i = ln (Y i ) – ln (100) / ln (40.000) – ln (100) onde IR = Índice de Renda Y = Renda per capita em $ PPC (paridade do poder de compra) i = país i 100 = valor mínimo (100 $ PPC) 40000 = valor máximo (40.000 $ PPC) O IDH do país i, cujos índices de longevidade, educação e renda são, respectivamente, ILi, IEi e IRi, é a média aritmética simples dos três índices: IDHi = IL i + IE i + IR i / 3 O IDH varia entre os valores 0 e 1: quanto mais próximo de 1 mais alto será o nível de desenvolvimento humano do país. Para classificar os países em três grandes categorias o PNUD estabeleceu as seguintes faixas: 0 >= IDH < 0,5 : Baixo Desenvolvimento Humano 0,5 >= IDH < 0,8 : Médio Desenvolvimento Humano 0,8 >= IDH =< 1 : Alto Desenvolvimento Humano O IDH-M, como o nome diz, é o mesmo índice, mas calculado para os municípios. A utilização do IDH em âmbito municipal exigiu algumas adaptações. Como podemos verifi- car nas notas metodológicas do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, a questão básica é que o IDH foi inicialmente idealizado para ser calculado para uma sociedade razoavelmente fechada, tanto do ponto de vista econômico (no sentido de que os membros da sociedade são os proprietários de, essencialmente, todos os fatores de produção) como do ponto de vista demográfico (no sentido de que não há migração temporária). Municípios, no entanto, são espaços geopolíticos relativamente abertos e por este motivo foram realizadas algumas adaptações nos indicadores. Assim, o PNUD considera o PIB per capita um bom indicador da renda apropriada pela população de um país e, portanto, do seu nível de consumo. Pode ocorrer, no entanto, que grande parte do PIB gerado num município sirva apenas para remunerar fatores de produ- ção pertencentes a indivíduos não residentes no município. Desta forma, o PIB municipal não representa adequadamente a renda disponível dos moradores do município. Com o ob- jetivo de melhor caracterizar as reais possibilidades de consumo da população local, substi- tuiu-se o PIB per capita pela renda familiar per capita média do município. Utilizou-se assim EaD Sérgio Luis Al lebrandt 30 a renda familiar per capita média mensal do Brasil, em reais, apurada pelo Censo Demográfico de 2000 e, para adequar os valores mínimos e máximos do PNUD, converteu-se os mesmos de dólares para reais, utilizando-se a relação entre o PIB per capita em US$ PPC do Brasil no ano de 2000 ( valor mínimo = R$ 3,90 e valor máximo = R$ 1.559,24). No caso do índice de educação, para o IDH-M calcula-se a taxa bruta de frequência combinada, que é o somatório da quantidade de pessoas (todas as idades) que frequentam os cursos Fundamental, Médio e Superior dividido pelo total de pessoas na faixa etária de 7 a 22 anos, ao contrário dos dados de matrículas, utilizado no IDHde nível nacional. Nos quadros a seguir apresentamos as dimensões destes dois índices, com os respectivos pesos na formação do índice-síntese e os limites (inferior e superior) para sua apuração. Quadro 3: Dimensões e Indicadores do IDH Fonte: elaborado com base nos dados do PNUD/ONU. Quadro 4: Dimensões e Indicadores do IDH-M Fonte: elaborado com base nos dados do PNUD/ONU IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – dimensões e indicadores DIMENSÕES ÍNDICES PESO NO BLOCO PESO NO IDESE LIMITE INFERIOR LIMITE SUPERIOR Taxa de alfabetização de adultos 2/3 0% 100% Educação Taxa combinada de matrícula nos 3 níveis de ensino 1/3 1/3 0% 100% Renda PIB per capita 1 1/3 100 ($ PPC) 40 000 ($ PPC) Longevidade Esperança de vida ao nascer 1 1/3 25 85 IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – dimensões e indicadores DIMENSÕES ÍNDICES PESO NO BLOCO PESO NO IDESE LIMITE INFERIOR LIMITE SUPERIOR Taxa de alfabetização de adultos 2/3 0% 100% Educação Taxa combinada de frequência nos 3 níveis de ensino 1/3 1/3 0% 100% Renda Renda familiar per capita 1 1/3 R$ 3,90 R$ 1.559,24 Longevidade Esperança de vida ao nascer 1 1/3 25 85 EaD 31 GESTÃO PÚBLICA IV O IDH é certamente o índice mais utilizado hoje em dia quando se trata de mensurar e comparar o desenvolvimento entre países ou regiões. Parece difícil acreditar que um único índice-síntese possa definir o grau de desenvolvimento humano de uma região. Se antes era utilizado basicamente o PIB per capita, certamente o IDH leva grande vantagem, posto que se constitui a partir de um maior numero de variáveis, ainda que aparentemente estas não pareçam dar conta da complexidade da realidade social dos povos. Esta preocupação estava presente entre os pesquisadores do PNUD, como observa Amartya Sen no prefácio do Rela- tório de Desenvolvimento Humano de 1999: Devo reconhecer que não via no início muito mérito no IDH em si, embora tivesse tido o privilé- gio de ajudar a idealizá-lo. A princípio demonstrei bastante ceticismo ao criador do Relatório de Desenvolvimento Humano, Mahbub ul Haq, sobre a tentativa de focalizar, em um índice bruto deste tipo – apenas um número –, a realidade complexa do desenvolvimento e da privação huma- nos. (...) Mas, após a primeira hesitação, Mahbub convenceu-me de que a hegemonia do PIB (índice demasiadamente utilizado e valorizado que ele queria suplantar) não seria quebrada por nenhum conjunto de tabelas. As pessoas olhariam para elas com respeito, disse ele, mas quando chegasse a hora de utilizar uma mediada sucinta de desenvolvimento, recorreriam ao pouco atraente PIB, pois apesar de bruto era conveniente. (...) Devo admitir que Mahbub entendeu isso muito bem. E estou contente por não termos conseguido desviá-lo de sua busca por uma medida crua. Mediante a utilização habilidosa do poder de atração do IDH, Mahbub conseguiu que os leitores se interessassem pela grande categoria de tabelas sistemáticas e pelas análises críticas detalhadas que fazem parte do Relatório de Desenvolvimento Humano (Sen, 1999, apud Pochmann, 2004a). 1.3.2 – ÍNDICE DE EXCLUSÃO SOCIAL – IES O outro indicador que passa a ser muito utilizado é o Índice de Exclusão Social, de- senvolvido por um grupo de pesquisadores da Unicamp e da USP, coordenados pelo eco- nomista Márcio Pochmann. Segundo estes pesquisadores, o IDH-M, por trabalhar com quatro indicadores de bem- estar social, não captou outros indicadores fundamentais para melhor compreender a ex- clusão social nos municípios. O IES foi montado a partir de três grandes dimensões: padrão de vida digno, conheci- mento e risco ou vulnerabilidade juvenil. O índice de padrão de vida digna é composto por três indicadores que se traduzem no índice de pobreza (% de chefes de famílias pobres), no índice de emprego formal (quantidade de trabalhadores com emprego formal sobre a população em idade ativa) e no índice de desigualdade de renda (razão entre quantidade de chefes de família que ganham acima de 10 salários mínimos sobre o nº de chefes que ganham abaixo disso), todos com peso 17. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 32 O índice de conhecimento se compõe do índice de anos de estudo do chefe de família (peso 11,3) e do índice de alfabetização da população acima de 5 anos de idade (peso 5,7). O índice do risco juvenil é composto pelo índice de concentração de jovens, medido pela participação percentual de jovens de 0 a 19 anos na população (peso 17) e do índice de violência, medido pela taxa de homicídios por 100 mil habitantes (peso 15). No IES os índices também variam de 0 a 1. Quanto mais próximo de zero, piores as condições de vida no município; quanto mais perto de um, melhores as condições de vida do município. Quadro 5: IES: dimensões, índices, indicadores e pesos Fonte: Pochmann e Amorin, 2003 Índice de Exclusão Social – dimensões, índices, indicadores e pesos DIMENSÕES ÍNDICES PESO NO IES em % Indicador Índice de Pobreza 17 % de chefes de famílias pobres no município Índice de Emprego 17 % da população em idade ativa (+ de 10 anos de idade) com carteira assinada Vida Digna Índice de Desigualdade 17 Proxy da desigualdade da renda: razão entre chefes de família com renda > 10 SM sobre chefes de família com renda < 10 SM Índice de anos de estudo 5,7 Taxa de alfabetização de pessoas com mais de 5 anos Conhecimento Índice de alfabetização 11,3 Número médio de anos de estudo do chefe de domicílio Índice de concentração de jovens 17 % da população com até 19 anos de idade Vulnerabilidad e Juvenil Índice de violência 15 Número de homicídios por 100 mil habitantes A equipe que desenvolveu o IES partiu de uma crítica à relativa fragilidade do IDH-M, pois entendia que o mesmo se apoia na suposição de que a combinação da esperança de vida, da alfa- betização/escolaridade e da renda per capita, por si só, consisti- ria em uma síntese relativamente robusta das mesmas condições de vida das populações. A partir daí, o IES procurou incorporar maior número e variedade de dimensões da vida humana, de modo a constituir-se em síntese mais robusta, focada na exclusão social (Pochamann, 2004a). Proxy Em estatística, uma variável proxy é aquela ferramenta que representa uma outra, mantendo correlação próxima com uma variável que se deseja representar mas para a qual não há dados disponíveis ou cuja obtenção é difícil ou custosa. EaD 33 GESTÃO PÚBLICA IV Em 2004 a equipe do IES publicou o 4º volume do Atlas de Exclusão Social: a exclu- são no mundo, no qual aplica a metodologia (com algumas adequações) empregada para o conjunto de 175 países para os quais já vem sendo calculado o IDH pelo PNUD. Este estudo possibilita uma comparação para o nível dos países entre o IDH e o IES. Utilizando a aná- lise de regressão, os autores mostram que o gráfico de dispersão indica uma associação linear forte entre IES e IDH, pelo menos quando o foco está no conjunto dos 175 países. Quanto à metodologia, algumas mudanças são significativas, mesmo que não estejam mui- to explicadas neste estudo. Estas mudanças ocorreram tanto no que se refere aos indicado- res utilizados para os diversos índices quanto ao peso dos mesmos na formação do índice- síntese. Para efeitos comparativos, vejamos o quadro do IES e seus aspectos metodológicos e indicadores utilizados para o caso da exclusão nos países integrantes do estudo. Quadro 6: IES Aplicado a Países: composição Fonte: Pochmann et al, 2004a. 1.3.3 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO A Fundação de Economia e Estatística (FEE) elaborou um indicador sintético: o Índi- ce de Desenvolvimento Socioeconômico, para avaliar o grau de desenvolvimento dos muni- cípios e das regiões do Estado do Rio Grande do Sul. A adoção de parâmetros internacionais Índice de Exclusão Social – dimensões, índices, indicadores e pesos (aplicado a 175 países) DIMENSÕES ÍNDICES PESO NO IES em % IndicadorÍndice de Pobreza 22,65 % da população do país que vive com menos de US$ 2,00 diários Índice de Emprego 5,70 % da população em idade ativa em situação de desemprego aberto Vida Digna Índice de Desigualdade 22,65 Proxy da desigualdade da renda: razão entre a massa de renda apropriada pelos habitantes do decil extremo superior e a massa de renda apropriada pelos habitantes do decil extremo inferior Índice de escolaridade superior 5,7 Taxa de alfabetização de pessoas com mais de 15 anos Conhecimento Índice de alfabetização 11,3 % da população economicamente ativa com ensino superior completo População infantil 17 % da população com até 14 anos de idade Vulnerabilidade Juvenil Índice de violência 15 Número de homicídios por 100 mil habitantes EaD Sérgio Luis Al lebrandt 34 permite que os índices, apesar de contemplarem indicadores diferentes, sejam comparados ao Índice de Desenvolvimento Humano e ao Índice de Exclusão Social. Por isso, assim como nestes índices, são fixados, a partir de parâmetros internacionais, os valores de refe- rência, máximo (1) e mínimo (0), de cada variável. Assim, também no Idese, para cada uma das variáveis componentes das dimensões, é calculado um índice entre zero e um (respectivamente representando nenhum desenvolvi- mento e desenvolvimento total), indicando a posição relativa de municípios e regiões (a FEE calcula o Idese de forma agregada para os Coredes). O Idese contempla quatro dimensões ou blocos: Condições de Domicílio e Saneamen- to, Renda, Educação e Saúde, abrangendo 12 variáveis. Os índices dos blocos são obtidos por meio de uma média ponderada dos índices de cada uma das variáveis componentes do bloco. Assim como no IDH, os municípios podem ser classificados pelo Idese em três grupos: baixo desenvolvimento (índices até 0,499), médio desenvolvimento (entre 0,500 e 0,799) e alto desenvolvimento (maiores que 0,800). A fórmula de cálculo para operar a transformação das variáveis e dos indicadores em índices é: Inij = (X nij – X P) / (X M – X P) (1) onde I nij é o índice do indicador n para a unidade geográfica i no ano j; X nij é o indicador n para a unidade geográfica i no ano j; X P é o pior valor do indicador n para o ano de referência; X M é o melhor valor do indicador n para o ano de referência; sendo para j = 1991, i = 1...333; para j = 2000, i = 1...467 para j = 2001 em diante, i = 1...496 e para Coredes j = 22 (a partir de 2005 o número de Coredes passou a 24). O Idese consiste no resultado da média dos índices: Condições de Domicílio e Sanea- mento, Educação, Saúde e Renda do município i no ano j. O índice é obtido pela equação EaD 35 GESTÃO PÚBLICA IV Idese ij = p 1 ICDS ij + p 2 IE ij + p 3 IS ij + p 4 IY ij (2) onde Idese ij é o índice socioeconômico da unidade geográfica i no ano j; ICDS ij é o índice de condições de domicílio e saneamento da unidade geográfica i no ano j; IE ij é o índice de educação da unidade geográfica i no ano j; IS ij é o índice de saúde da unidade geográfica i no ano j; IY ij é o índice de renda da unidade geográfica i no ano j; pn é a ponderação do índice (n = 1, 2, 3, 4); e Óp n = 1; sendo p1 = p2 = p3 = p4 = 0,25 (média aritmética entre os quatro blocos). A seguir, apresenta-se a descrição dos indicadores e dos índices resultantes. Índice Condições de Domicílio e Saneamento O índice Condições de Domicílio e Saneamento deriva da média ponderada dos indi- cadores média dos moradores por domicílios totais, proporção de domicílios ligados à rede pública urbana de abastecimento de água e proporção de domicílios ligados à rede pública urbana de coleta de esgoto cloacal e pluvial. ICDS ij = p1 IMM ij + p2 IPA ij + p3 IPE ij (3) onde ICDS ij é o índice de condições de domicílio e saneamento da unidade geográfica i no ano j; IMM ij é o índice da média de moradores por domicílio (urbano e rural) da unidade geográfica i no ano j; IPA ij é o índice da proporção de domicílios ligados à rede pública urbana de abastecimento de água da unidade geográfica i no ano j; IPE ij é o índice da proporção de domicílios ligados à rede pública urbana de coleta de esgoto cloacal e pluvial da unidade geográfica i no ano j; p1 = 0,10; p2 = 0,50; p3 = 0,40 EaD Sérgio Luis Al lebrandt 36 Índice Educação O índice Educação advém da média ponderada dos indicadores: taxa de evasão no Ensino Fundamental (primeiro grau); taxa de reprovação no Ensino Fundamental (primeiro grau); taxa de atendimento do Ensino Médio (segundo grau); e taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais de idade na unidade geográfica i no ano j. Esse índice é expresso pela equação IE ij = p 1 IT x E ij + p 2 IT x R ij + p 3 IT x 2º ij + p 4 Itanalf 15 e (ij) (4) onde IE ij é o índice de educação na unidade geográfica i, no ano j; IT x E ij é o índice da taxa de evasão na unidade geográfica i, no ano j; IT x R ij é o índice da taxa de reprovação na unidade geográfica i, no ano j; IT x 2º ij é o índice da taxa de atendimento no Ensino Médio (segundo grau), na unidade geográfica i, no ano j; Itanalf 15 e + (ij) é o índice da taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos e mais na unidade geográfica, i no ano j; sendo p 1 = 0,25; p 2 = 0,20; p 3 = 0,20; p 4 = 0,35 Índice Saúde O índice Saúde resulta da média ponderada dos indicadores percentual de crianças com baixo peso ao nascer, da taxa de mortalidade de menores de cinco anos (TMM5) e da expectativa de vida ao nascer na unidade geográfica i no ano j. O índice Saúde é representado pela equação: IS ij = p 1 IBPN ij + p 2 ITMM5 ij + p 3 IEV ij (5) onde IS ij é o índice saúde na unidade geográfica i, no ano j; IPBN ij é o índice do percentual de crianças com baixo peso ao nascer na unidade geográ- fica i, no ano j; ITMM5 ij é o índice da taxa de mortalidade de menores de cinco anos na unidade geográ- fica i, no ano j; IEV u o índice da expectativa de vida ao nascer na unidade geográfica i, no ano j; sendo p 1 = 0,33; p 2 = 0,33; p 3 = 0,33 EaD 37 GESTÃO PÚBLICA IV Índice Renda O índice Renda resulta da média ponderada do Índice do Valor Adicionado Bruto (VAB) de Comércio, alojamento e alimentação per capita da unidade geográfica, que procura medir, de forma indireta, a renda apropriada na unidade geográfica i, no ano j e o Produto Interno Bruto municipal per capita como indicador de renda gerada na unidade geográfica i, no ano j. O índice é representado pela equação IY ij = p 1 ICp ij + p 2 IPIBm ij (6) onde IY ij é o índice de renda da unidade geográfica i no ano j; ICp ij é igual ao índice do logaritmo base 10 VAB de comércio, alojamento e alimentação per capita na unidade geográfica i, no ano j; IPIBm ij é o Índice do Logaritmo do Produto Interno Bruto municipal per capita na unidade geográfica i, no ano j; sendo p 1 = 0,50; p 2 = 0,50 Quadro 7: Blocos do Idese, Índices Componentes de Cada Bloco, Pesos dos Índices nos Blocos e no Idese, Limites dos Índices e Fontes dos Dados Brutos Fonte: FEE, 2003. Índice de Desenvolvimento Econômico e Social (IDESE): composição BLOCOS ÍNDICES PESO NO BLOCO PESO NO IDESE LIMITE INFERIOR LIMITE SUPERIOR FONTES DOS DADOS BRUTOS Taxa de evasão no Ensino Fundamental 0,25 0,0625 100% 0% Secretaria da Educação do RS Taxa de reprovação no Ensino Fundamental 0,20 0,0500 100% 0% Secretaria da Educação do RS Taxa de atendimento no Ensino Médio 0,20 0,0500 0% 100% IBGE Educação Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais de idade 0,35 0,0875 100% 0% IBGE Geração de renda –PIBpc 0,50 0,1250 100 (US$ PPC) 40 000 (US$ PPC) FEE Renda Apropriação de renda –VABpc (comércio, alojamento e alimentação) 0,50 0,1250 11,22 (US$ PPC) 4.486,64 (US$ PPC) FEE Percentual de domicílios abastecidos com água (rede geral) 0,50 0,1250 0% 100% IBGE Percentual de domicílios atendidos com esgoto sanitário (rede geral ou pluvial) 0,40 0,1000 0% 100% IBGE Condições de Domicílio e Saneamento Média de moradorespor domicílio 0,10 0,0250 6 moradores 1 morador IBGE Percentual de crianças com baixo peso ao nascer 0,33 0,0833 30% 4% Datasus; Ministério da Saúde Taxa de mortalidade de menores de 5 anos 0,33 0,0833 316 por mil 4 por mil Datasus; Ministério da Saúde Saúde Expectativa de vida ao nascer 0,33 0,0833 25 anos 85 anos ONU/IDH EaD Sérgio Luis Al lebrandt 38 Seção 1.4 A Análise com Base em Diferentes Índices Aplicados a uma Mesma Região ou Grupo de Municípios A seguir analisa-se ilustrativamente o que indicam os índices escolhidos (Idese, IDH- M e IES) com relação às cidades de porte médio e grande do Estado do Rio Grande do Sul. Escolhemos os municípios que possuíam em 2000 uma população urbana superior a 50 mil habitantes. Considera-se que estes municípios são razoavelmente urbanizados, ainda que apresentem diferenças significativas, uma vez que podem estar localizados em regiões com maior dinamicidade urbano-industrial, como podem estar razoavelmente isolados em regiões essencialmente rurais. Mesmo com essas diferenças, esses municípios tendem a se constituir nas redes de centros urbano-industriais e/ou de serviços das diferentes regiões do Estado. Foram empregados os dados do IBGE relativos a 2000, uma vez que esta é a base comum utilizada pelos três índices que estão sendo comparados, mesmo que para algum deles, como o Idese, já existam índices disponíveis com dados relativos a 2005. O que interessa demonstrar com esta análise é que índices diferentes podem situar os municípios em posições significativamente diversas nos rankings dos índices. Daí a importância de relativizar o uso dos rankings, ou, pelo menos, de utilizá-los conjunta- mente. O problema é que decisões de alocação de recursos são tomadas, seja pelo poder públi- co, seja pelas empresas, com base em um único e determinado índice, o que pode ser extre- mamente prejudicial para determinados municípios e regiões. Parece que o desenvolvimento socioeconômico guarda uma relação significativa com a exclusão/inclusão social. Ou seja, tendencialmente, uma região que apresenta um alto índice de desenvolvimento socioeconômico deveria também apresentar um alto índice de inclusão social ou um baixo índice de exclusão social, e um alto índice de desenvolvimento humano. Será que isso é verdadeiro? E se não for, será que se está diante de problemas de qualidade dos índices desenvolvidos ou será que os índices estão de fato mensurando coisas diferentes? EaD 39 GESTÃO PÚBLICA IV Figura 1: Mapa dos Municípios Gaúchos com População Urbana Superior a 50 mil hab em 2000 (os municípios com mais de 50 mil habitantes aparecem em cor escura) Fonte: elaborado pelo autor com base no Atlas de Desenvolvimento Humano. Analisando os dados relativos aos 35 maiores municípios gaúchos em termos de popu- lação urbana, evidenciam-se alguns aspectos interessantes (os dados estão reunidos nas Tabelas 1 a 4). Veja-se o exemplo de Canoas. Este município apresenta um Idese de 0,822, o 2º maior índice do Estado, atrás apenas de Caxias do Sul, com Idese de 0,831. Canoas também é o 2º do ranking dos 35 maiores municípios. Já quando analisamos o IES, verificamos que Cano- as, com 0,589, passa a ser o 14º do grupo dos 35 municípios, ocupando apenas a 77ª posi- ção no ranking estadual do índice se exclusão social. Se analisarmos o IDH-M, Canoas apresenta o índice de 0,815 e também aparece em 14º no grupo dos 35 maiores municípios, mas em 97º no conjunto dos municípios gaúchos. No caso do IDH-M, Canoas faz parte do grupo de municípios que apresentam alto desenvolvimento humano. No Idese mantém-se este enquadramento, com Canoas perten- cendo ao grupo dos municípios classificados como de alto desenvolvimento. Já o IES classi- fica Canoas como um município de desempenho médio, ou de média situação social. Se verificamos os subíndices de cada índice-síntese, percebemos que no IDH há, em geral, uma maior proximidade nos diversos subíndices. No caso de Canoas, o IDH-Educa- ção é de 0,920, o IDH-Longevidade de 0,773 e o IDH-Renda de 0,759, resultando no IDH-M de 0,815. EaD Sérgio Luis Al lebrandt 40 Tomando o Idese, Canoas apresenta um índice de Educação de 0,853; índice de renda de 0,943; índice de saneamento de 0,656; índice de saúde de 0,849. O índice de saneamento é que pressionou o índice geral para baixo. Aliás, a decisão de incluir no Idese um indicador de saneamento e situação domiciliar enquanto um elemento para medir o desenvolvimento social das regiões parece bastante acertada, uma vez que as condições de saneamento pos- suem uma relação direta com a saúde, e também pelo fato de o Idese ser utilizado para orientar os investimentos públicos visando à diminuição dos desequilíbrios regionais. Os indicadores utilizados para esta dimensão, entretanto, são o número de domicílios ligados à rede geral de água, a média de moradores por domicílio e o número de domicílios ligados à rede de esgoto, tanto geral quanto pluvial. Ora, a rede de esgoto deve estar ligada à rede cloacal. De fato, em muitos municípios não existe rede de esgoto cloacal, o que faz com que a população, mesmo que de forma ilegal, ligue sua rede doméstica diretamente na rede pluvial, poluindo rios e lagos, uma vez que na maioria dos casos também não existe estação de tratamento. Neste caso, parece que a situação retratada pelo indicador é bem melhor que a realidade. Já tomando o IES, Canoas apresenta um índice de pobreza de 0,768; um índice de emprego de 0,194; índice de desigualdade de 0,201; índice de alfabetização de 0,916; índice de escolaridade de 0,677; índice de juventude de 0,731 e de violência de 0,925. Tendo pre- sente que quanto maior o índice melhor a situação social, alguns dos valores apresentam-se como extremos opostos: violência – 0,925, perto da melhor situação possível, e emprego – 0,194, perto da pior situação. Este é um padrão que se repete para boa parte dos municípios gaúchos e brasileiros. No RS 255 municípios apresentam índice de desigualdade inferior a 0,1, portanto uma péssima situação social no que se refere à desigualdade de renda. Apenas três municípios gaúchos apresentam índice superior a 0,5. O índice de emprego é calculado a partir da taxa de emprego formal (carteira assina- da) sobre a população em idade ativa (mais de 10 anos). Caberia questionar se este indica- dor é o mais acertado, considerando as atuais mudanças estruturais na relação de emprego. Além disso, se considerarmos a grande maioria dos municípios gaúchos (e brasileiros), es- sencialmente rurais, com mão de obra familiar, talvez este indicador não dê conta do que deseja medir. O mesmo parece se aplicar para o caso da desigualdade, calculado a partir de uma proxy da desigualdade de renda, tomando-se a razão entre chefes de família que ga- nham mais de 10 SM sobre todos os outros. O índice de violência é medido pelo número de homicídios em 100 mil habitantes. Em pequenos municípios, de 1 ou 2 mil habitantes, este indicador não parece ser a melhor variável para captar o grau de violência na sociedade. Mais de 250 municípios apresentam índice 1,0 e apenas 9 apresentam índice abaixo de 0,8. Ora, isso significa que os municípios gaúchos de um modo geral apresentam uma excelente situação social no que se refere à violência. Dos 35 municípios mais urbanos, apenas 4 EaD 41 GESTÃO PÚBLICA IV apresentam índice de violência abaixo de 0,9, sendo o menor igual a 0,86 (Alvorada). O município brasileiro que apresenta o pior índice é Nova América da Colina – PR, que possui uma população de 4.585 habitantes, 2.401 deles na área urbana. O índice de violência deste município foi em 2000 de 0,019 (péssima situação social), enquanto o Rio de Janeiro e São Paulo, classificadas entre as cidades mais violentas do mundo, apresentam índices de violência de 0,821 (alta situação social) e 0,743 (média situação social), respectivamente. Retomando o grupo dos 35 municípios gaúchos mais urbanizados, vamos comparar os
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