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Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO TRANSTORNOS RELACIONADOS A CANNABIS: A Cannabis (maconha ou erva) é a droga ilegal mais usada em todo o mundo, sendo um símbolo importante da cultura jovem no ocidente, com o 1º uso ocorrendo na metade final da adolescência. Na idade adulta, observa-se que homens fazem uso mais frequente dessa substância, porém essa diferença é mínima em indivíduos mais jovens. As preparações de Cannabis sativa, empregam principalmente sua forma feminina, que tem as maiores concentrações de diversos canabinoides, em especial o delta-9-tetraidrocanabinol (Δ-9-THC), que causa efeitos psicoativos. Essas plantas são secas, picadas e enroladas em cigarros (baseados), que são fumados, porém também podem ser ingeridas por via oral, ainda que sejam necessárias doses maiores para um mesmo efeito. EFEITOS NEUROFARMACOLÓGICOS: O já citado Δ-9-THC é convertido rapidamente em 11-hidróxi-Δ9-THC, seu metabólito ativo no sistema nervoso central, que se liga a receptores canabinoides associados a proteína G inibitória. Esses sítios são encontrados em maior quantidade nos gânglios basais, hipocampo e cerebelo, porém não são vistos no tronco encefálico. Segmentos mais afetados pela Cannabis, destacando o papel do encéfalo e do cerebelo Mecanismo de ação neurológico da Cannabis O canabidiol (CBD), outro composto importante na Cannabis, apresenta um importante papel analgésico e antiemético, não apresentando ação psicoativa, o que justifica seu emprego no tratamento de diversas doenças. É notório o desenvolvimento de tolerância e dependência psicológica em usuários de Cannabis, porém a abstinência promove apenas sintomas leves, como pequeno aumento da irritabilidade, náuseas e anorexia. A euforia surge após poucos minutos do consumo da maconha, persistindo por 2 a 4 horas, ao passo que efeitos motores e cognitivos podem durar até 12 horas. Outros pontos de ação dessas substâncias são os neurônios monoaminérgicos e GABAérgicos. Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO Essas manifestações podem ser influenciadas por diversos fatores, desde o tipo de Cannabis, a técnica de fumo e as experiências prévias do usuário. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO: Dentre os efeitos físicos mais comuns associados à Cannabis, destacam-se a dilatação dos vasos da conjuntiva, a taquicardia leve, boca seca e aumento do apetite. Mesmo em intoxicações por maiores quantidades, não são reportadas mortes causadas por essa droga. As reações de maior gravidade decorrentes do uso dessa droga são as mesmas causada pela inalação de hidrocarbonos carcinogênicos encontrados no tabaco, podendo levar ao câncer de pulmão. Principais sintomas somáticos decorrentes do uso de Cannabis Relatos indicam também que o uso crônico de Cannabis pode provocar atrofia cerebral, principalmente do hipocampo e da amígdala, áreas ricas em receptores canabinoides. Há risco de convulsões, transtornos psicóticos induzidos por substâncias, menor atividade imunológica e diminuição na produção de hormônios sexuais. Outro desfecho neurológico importante é o prejuízo da memória e da capacidade de integrar informações complexas, que se desenvolve com o uso prolongado da droga. O transtorno por uso de Cannabis é definido pelo DSM-V de forma semelhante ao abuso de demais substâncias, marcado por padrão de consumo problemático e persistente, acompanhado por tolerância e abstinência. Adolescentes são mais susceptíveis aos efeitos neurológicos de longo prazo, devido a maturação incompleta do cérebro, tanto anatômica como bioquimicamente Essa droga também eleva a sensibilidade do usuário a estímulos externos e altera a percepção individual de tempo Ocasionalmente também pode haver ansiedade induzida pela Cannabis, frequentemente causada por pensamentos paranoides. Sua intensidade é proporcional a dose consumida, principalmente em iniciantes Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO Ainda que pequeno, o risco de dependência se eleva de forma inversamente proporcional à idade do primeiro uso da droga. Outro importante transtorno associado à Cannabis é a síndrome amotivacional, comum principalmente em usuários de longa data, no qual há relutância extrema para persistir em uma tarefa que necessite de atenção prolongada. Esses indivíduos passam a ser vistos como preguiçosos e apáticos, sendo o ganho de peso algo comum. TRATAMENTO: Assim como em demais abordagens a substâncias de abuso, a conduta geral da dependência induzida pela Cannabis é a abstinência e o apoio. Essa primeira “meta” pode ser alcançada pela hospitalização, método mais direto, ou por meio do monitoramento ambulatorial constante, com exames toxicológicos frequentes. O suporte individual pode ser alcançado por meio da psicoterapia, seja ela individual, familiar ou em grupo, tendo como “objetivo secundário” informar e conscientizar o paciente. Esse é o momento ideal para abordar outros transtornos mentais de base, que podem ser mascarados pelo uso de drogas.
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