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VICTORIA ALENCAR – 7º SEMESTRE – UNIFTC – 2021.2 11 dermato aula 07 – úlceras e curativos ÚLCERAS · Lesão elementar por perda da solução de continuidade → dependendo do nível da agressão pode comprometer derme, hipoderme, podendo chegar a músculo e osso: · Membros inferiores; · Crônicas: não cicatrizam dentro de 6 semanas; · Existem outros tipos de úlceras, por trauma, queimadura... Mas, o tratamento é mais direcionado. Iremos tratar aqui de úlcera por outros tipos de processos patológicos. · Prevalência e incidência tem aumentado: · Com envelhecimento da população; · Doenças crônicas associadas. · Diversas etiologias: metade são úlceras venosas, 20% mistas, 10% arteriais e 20% outras causas (infecciosa, neoplásica e por vasculites). ÚLCERA VENOSA · Estágio mais avançado da doença venosa crônica: · Insuficiência venosa periférica (IVP) – principalmente após trauma; · Trombose venosa profunda (TVP). · Trauma é fator desencadeante; NA IVP HÁ ALTERAÇÕES NO EQUILÍBRIO DA PRESSÃO HIDROSTÁTICA (IMAGEM 1), NO FLUXO NORMAL HÁ RETORNO VENOSO E AS CÚSPIDES (VÁLVULAS) FAVORECEM ESSE RETORNO VENOSO E NÃO DEIXAM O SANGUE RETORNAR PARA A EXTREMIDADE INFERIOR. COMO ESSAS CÚSPIDES SERÃO DANIFICADAS NA IVP ESSE SANGUE NÃO TEM RETORNO VENOSO ADEQUADO NO DECORRER DO DIA E TAMBÉM POR CONTA DA IMOBILIDADE (POIS A MOVIMENTAÇÃO DA PANTURRILHA FAVORECE O RETORNO VENOSO) ESSE SANGUE QUE NÃO RETORNA, HÁ ENTÃO AUMENTO DA PRESSÃO HIDROSTÁTICA E COM ELE COMEÇA AS REPERCUSSÕES VASCULARES (DANO ENDOTELIAL, SURGIMENTO DE CITOCINAS, ACÚMULO DE FIBRINA...IMAGEM 2). ESSAS SUBSTÂNCIAS IRÃO SE DEPOSITAR EM FORMA DE MANGUITO AO REDOR DO VASO E LEVAR À FIBROSE E LEVAM A INSUFICIÊNCIA DO VASO DE RETORNAR O SANGUE. · Principais características clínicas: · Formato irregular: · Superficial inicialmente → progressão lenta para profunda; · Bordas bem definidas; · Tenda a ter exsudato amarelado no centro da lesão; · Leito evolui com tecido desvitalizado e colonização bacteriana; · Raramente há necrose dos tecidos. · Local principal: porção distal de MMII por conta dessa dinâmica de retorno venoso; · Lugar de preferência: maléolo medial; · Pulsos periféricos ao exame físico: presentes, quando não há associação de doença arterial (o sangue arterial alcança a região, o que não acontece é o retorno veoso); · Pele ao redor: purpúrica e hiperpigmentada → dermatite ocre (pigmentação por depósito de hemossiderina). · Pode ter eczema manifestado (principalmente subagudo a crônico): eritema, vesículas, descamação, prurido; · Lipodermatoesclerose: induração e fibrose; · Quando tende a cicatrizar as cicatrizes são estelares atróficas de cor branco marfim com telangiectasias ao redor – não é patognomônico. OBS: é um processo contínuo, então inicialmente ele terá essas alterações na pele, a dermatite ocre, o eczema e a lipodermatoesclerose. Por isso é importante ficar atento a esses sinais iniciais para o paciente não chegar a ulceração. · Exame físico geral da perna: veias varicosas e edema; · Dor da lesão: intensidade variável, alguns pacientes são indolores e outras dolorosas. Quando a dor é presente, esta piora no final do dia com posição ortostática e melhora com elevação do membro;7 6 4 1 IMAGEM 1: TELANGIECTASIAS (DILATAÇÃO DE CAPILARES); IMAGEM 2: VENULOGIECTASIAS (DILATAÇÃO DE VEIAS); IMAGEM 3: DERMATITE OCRE; IMAGEM 4: ECZEMA DE CONTATO E A FIBROSE DA LIPODERMATOESCLEROSE DEIXANDO A PERNA EM FORMATO DE GARRAFA INVERTIDA; IMAGEM 5: PIGMENTAÇÃO INTENSA; IMAGEM 6: ULCERA AMARELO MEDIAL COM BORDA DELIMITADA E FUNDO COM FIBRINA; IMAGEM 7: ABDOME EM AVENTAL, ÚLCERA POR INSUFICIÊNCIA VENOSA, APESAR DE 95% DAS ÚLCERAS SEREM EM MMII NADA IMPEDE QUE OCORRAM EM OUTRS LOCAIS. Diagnóstico · Clínico; · Índice tornozelo-braço (ITB) - coexistência de doença arterial (não é pensado para confirmar doença venosa e sim a fim de afastar doença arterial): · Divisão do valor mais alto da pressão sistólica do tornozelo pela pressão sistólica da a. braquial: ITB < 0,9 indica insuficiência arterial associada. · Importante saber dessa coexistência pensando na terapia, principalmente a terapia compressiva que é contraindicada em pacientes com insuficiência arterial. · Exame caro, pouco utilizado na prática. · Na prática: USG doppler venoso - refluxo, obstrução ou USG doppler arterial – afastar insuficiência arterial quando for indicar terapia compressiva. Tratamento: · Terapia compressiva (1ª escolha); · Tratamento cirúrgico; · Tratamento local da úlcera; · Medicamentos sistêmicos que auxiliam na cicatrização; · Medidas complementares. Terapias compressivas · 1ª escolha; · Ataduras compressivas elásticas e meias elásticas; · Úlceras abertas não são contraindicação para seu uso, mas sim lesões infectadas e doença arterial associada, assim com pacientes sem ponto de apoio; · Quando a úlcera está presente se faz pressão externa maior (de 35 a 40 mmHg) e gradualmente menor na região abaixo do joelho:2 · Após cicatrizar a úlcera, na terapia IVP: 30 a 35 mmHg. 5 3 · Estimular a deambular com uso da meia; · Trocar meia a cada 6 meses; · Vestir pela manhã e retirar a noite: · Hidratar a pele ao retirar – leva a ressecamento. · Contraindicado se doença arterial periférica (ocluir um vaso que já não perfunde corretamente) grave e em casos de Infecção aguda e necrose.1 · Bota de Unna (imagem 1) – envolve óxido de zinco juntamente com a compressão, atadura aplicada no membro e deixada por 7 dias (compressão contínua, favorece muito a cicatrização). Para feridas 100% venosas e sem complicações (contraindicada em infecções, necroses e doença arterial); Tratamento sistêmico · É adjuvante – sozinho não resolve; · Medicamentos que melhoram o tônus venoso: · Flavonoides naturais; · Diosmina 1g/dia. · Melhora do fluxo sanguíneo: · Pentoxifilina 800 mg 3x/dia (vasodilatador e anti-inflamatória). Medidas complementares · Repouso com membro elevado acima do nível do coração 3 a 4x/dia por 30 minutos; · Caminhadas breves, 3 a 4 x/dia. ÚLCERA ARTERIAL · 25% das úlceras dos membros inferiores: · Causada por doença aterosclerótica; · Fatores de risco: tabagismo, diabetes mellitus, idade avançada. · Principais características: · Formato: arredondada, borda bem demarcada, fundo pálido (vascularização deficiente) – pode ser necrótico: · Exsudato mínimo ou ausente. · Local principal: porções laterais (maléolo lateral) ou pré-tibiais de pernas · Dorso dos pés; · Sobre proeminências ósseas (calcanhar, falanges). · Pele ao redor: pálida, fina, descamativa, pelos rarefeitos e unhas espessas (o sangue arterial não chega de forma adequada). · Principais características: · Claudicação intermitente (paciente relata que quando deambula dói e quando em repouso melhora – vaso com vascularização insuficiente, com oclusão parcial e dor por conta de hipóxia); · MUITO dolorosas mesmo quando pequenas (dor muitas vezes discrepante quando comparada ao tamanho da lesão): · Piora ao elevar o membro; · Alivia com posição pendente. · Pulsos ausentes/diminuidos e enchimento capilar lento. Diagnóstico · Clínico - palpar pulsos; · ITB < 0,9 (confirma doença arterial); · USG doppler arterial; · AngioTC e angiografia – solicitados pelo vascular. Tratamento · Redução de fatores de risco (tratar comorbidades); · Corrigir fluxo: revascularizar: · Cilostazol: vasodilatador 100 mg 2x/dia; · Antiagregante plaquetário. · Evitar debridamento cirúrgico (tende a piora da isquemia por manipulação), evitar umidade na escara seca (favorece infecção bacteriana e sepse); · Controle de dor; · Oxigenoterapia hiperbárica (adjuvante, sozinha não resolve); · Associar ATB se desconfiar de infecção: se aumento no tamanho/odor/eritema/edema/dor (principalmente piora de dor). úlcera mista PACIENTE COM ÚLCERA VENOSA NO MALÉOLO MEDIAL E ARTERIAL NO MALÉOLO LATERAL – ÚLCERA BIMALEOLAR. úlcera neuropática · Causas: neuropatia diabética, hansênica e alcóolica: · Outras doenças: Sífilis, mielodisplasia sarcoidose, infecção por HIV e HTLV, amiloidose etc. · Principais características: · Alterações cutâneasprévias: pele seca e espessa, fissuras plantares; · Diminuição da sensibilidade tátil, dolorosa, proprioceptiva; · Alterações da marcha e paralisias – favorece a formação de calosidades por diferença de pressão depositadas em certos locais, e isso favorece a úlcera também nesses locais; · Deformidades em pés: dedos em garra, alterações de arqueamento da planta. Também há deformidades nas mãos no caso das úlceras causadas pela hanseníase; · Perfusão em geral não é alterada, a não ser que haja associação com diabetes. · Principais características: · Formato: · Precedida por calosidade não dolorosa → formam pontos arroxeados, principalmente no centro; · Anel hiperceratótico ao seu redor formando borda calosa, centro profundo e granuloso (borda com calo e centro ulcerado). · Local de preferência: região plantar, pontos de apoio → antepé, calcâneo, falanges distais; · Pele ao redor: normal ou eritematosa por distúrbio autonômico: · Pode referir queimação, formigamento, pontadas. · É chamada de “mal perfurante plantar” quando é uma úlcera indolor, profunda e de bordas calosas localizadas nas plantas dos pés – muito comum em hanseníase; · É chamada de Pé de Charcot quando há destruição indolor dos ossos e articulações dos pés. Complicações · Infecções cutâneas e osteomielite: · Odor fétido, exsudato amarelo-esverdeado, dor local, esfacelos em excesso. Diagnóstico · Clínico: testar sensibilidades, força muscular, reflexos, palpar nervos; · Investigar causa da neuropatia: perfil glicêmico, eletroneuromiografia, buscar lesões de Hanseníase. Isso porque a úlcera é diagnóstico sindrômico, vamos buscar o diagnóstico etiológico. Tratamento · Inspeção diária dos pés, limpeza e secagem; · Corte reto de unhas, hidratação, lubrificação; · Restrição a andar descalço, remoção de calosidades; · Calçados confortáveis, órteses/palmilhas → evitar trauma; · Tratar doença de base; · Fortalecimento muscular, fisioterapia; · Se dor: amitriptilina, gabapentina, pregabalina. úlcera de decúbito · Três mecanismos principais: a pressão ininterrupta em áreas de proeminências ósseas por imobilidade, que leva a isquemia da pele no local e ulceração, associado à cisalhamento/atrito/fricção que levam a defeito de barreira cutânea e a umidade local que vai macerar a pele e contribuir para a formação da lesão. 1. Pressão local → isquemia; 2. Cisalhamento/atrito/fricção → defeito na barreira cutânea; 3. Umidade → maceração: · Ocorre em áreas de proeminência óssea: · Classificação: · Estágio I: Eritema não esbranquiçado (não modifica à pressão), edema e induração com pele intacta – eritema fixo; · Estágio II: Perda parcial da epiderme e/ou derme; · Estágio III: Perda total da pele; · Estágio IV: Comprometimento de estruturas profundas (osso, tendão, músculo). Grau 2 Grau 1 Grau 3 OBS: nem toda ulcera de decúbito é uma escara. Ela somente é considerada escara quando há tecido necrótico!! outras úlceras SÃO INÚMERAS CAUSAS DE ÚLCERAS POSSÍVEIS, COMENTAMOS ACIMA AS MAIS COMUNS. APÓS PESQUISA-LAS E AFASTA-LAS É NECESSÁRIO PROSEGUIR A INVESTIGAÇÃO PARA BUSCAR A CAUSA, QUE PODE SER DESDE INFECÇÕES A PICADAS DE INSETOS, VASCULITES, NEOPLASIAS, DOENÇAS DA COEGULAÇÃO (PÚRPURAS), PIODERMA GANGRENOSO (DOENÇA INFLAMATÓRIA), DOENÇAS VASOCLUSIVAS, ANEMIA FALCIFORME E OUTRAS DOENÇAS QUE SÃO RARAS... ETC. · Causas infecciosas – acrônimo PLECT: · Paracoccidioidomicose, Leishmaniose tegumentar, Esporotricose, Cromomicose, Tuberculose Cutânea; · Protozoários e fungos que causam lesões profundas – lesões ulcerosas inespecíficas, que são diagnósticos diferenciais de úlceras; · O diagnóstico diferencial é após biópsia e cultura do tecido.7 4 2 6 5 3 1 IMAGEM 1 - VASCULOPATIA LIVEDÓIDE (ULCERA E FAZ A CICATRIZ ATRÓFICA ESTELAR BRANCA, ASSIM COMO NA VENOSA); IMAGEM 2 – LESÃO DE PELE OCASIONADA PELO PESO DAS MAMAS; IMAGEM 3 – PACIENTE COM ÚLCERA POR ANEMIA FALCIFORME; IMAGEM 4 – EXTREMIDADE DO DEDO DA MÃO ULCERADO POR ESCLEROSE SISTÊMICA (ULCERAÇÃO DE DÍGITO); IMAGEM 5 – LESÃO DE NECROBIOSE LIPOÍDICA QUE ULCEROU; IMAGEM 6 – CALCIFILAXIA (DEPÓSITO DE CÁLCIO NO VASO LEVANDO A ISQUEMIA E NECROSE DESTE VASO POR INSUFICIENCIA RENAL CRONICA COM DESEQUILÍBRIO DE CÁLCIO E FÓSFORO); IMAGEM 7 – PIODERMA GANGRENOSO. leishmaniose cutânea/ tegumentar (lt) OBS: Sempre que nos depararmos com jovens com úlcera crônica em rosto e áreas expostas (braços, pernas e mãos) devemos pensar em Leishmaniose cutânea. A prevalência é em toda Bahia, muito mais comum na Chapada Diamantina (pacientes que viajaram ou moram lá, alerta!). OBS 2: A espécie do protozoário que causa a Leishmaniose cutânea é diferente da que causa a Leishmaniose visceral! São doenças diferentes. · Doença infecciosa, crônica, não contagiosa entre pessoas (é transmitido pelo mosquito); · Agente – protozoário: · L. (V). Brasiliensis: agente mais importante da América Latina. · Transmissão pela fêmea do flebotomíneo infectada pelo protozoário: · Lutzomya intermedia (mosquito); · Altamente antropofílicos (muita afinidade pelo humano); · No corpo do inseto = forma promastigota do protozoário (com flagelo); · Nos macrófagos = forma amastigota do protozoário (capaz de infectar outros mosquitos); · Roedores e marsupiais são reservatórios. Perfis epidemiológicos · Brasil: homens e maiores de 10 anos; · LT Silvestre: surtos nas derrubadas de matas; · LT Silvestre modificada: surtos sazonais em áreas de focos de mata – peridomiciliar (desmatamento) – agricultura → de forma informal podemos até chamar de doença “ocupacional”, pois ocorre em pessoas que se expõem em matas; · LT periurbana: endemoepidêmica em áreas de colonização antiga e participação de animais domésticos como reservatório → cães e equinos: · LTA (leishmaniose tegumentar americana) por L. (V.) brasiliensis → vetor tem hábito peridomiciliar, por isso é comum também em cidades. Formas clínicas polimorfa · Comprometimento primário é cutâneo e secundariamente do tecido mucoso nasobucofaríngeo - tanto por distribuição hematogênica quanto por contiguidade; · A forma que o paciente vai apresentar a doença depende de qual foi a espécie da leishmania que o infectou e de como a resposta imune vai se comportar diante da infecção, ou seja, a genética (polos th1 e th2 – th1 resposta mais eficaz e lesões localizadas e th2 lesões disseminadas e graves); · Lesão primária: Leishmaniose cutânea localizada → úlcera · 95% dos casos; · Inicia-se como uma pápula única ou múltipla no local da picada, em geral nas áreas fotoexpostas; · Após há necrose tecidual → imunidade celular th1 (mais eficaz) → redução dos parasitas, porém há lesão de pele; · Assim, há formação da úlcera bem delimitada, circular, bordas infiltradas (“moldura”), indolor, escavada até a derme, fundo granuloso (tecido vermelhinho, imagem abaixo); · L. (V.) guayanensis: causa a linfagite subcutânea simulando a esporotricose – não é comum no Brasil. CASOS DE LEISHMANIOSE CUTÂNEA LOCALIZADA E EM ÚLTIMA FOTO O TIPO ESPOROTRICÓIDE, QUE SEGUE O CAMINHO DOS VASOS LINFÁTICOS. Outras formas clínicas · LC disseminada borderline: · Subgrupo Viannia: L.(V.) brasiliensis e panamensis: · 3 a 4 meses após lesão primária: dezenas e centenas de úlceras, ectimas, pápulas em diferentes estágios evolutivos; · Alta imunidade celular: perfil Th1. · Subgrupo Leishmania: L.(L.) amazonesis e mexicana: · 1 ano após lesão primária dissemina; · Redução da imunidade celular: perfil Th2. · Forma anérgica difusa: raro, mais comuns em crianças, infiltração difusa da pele, pápulas, nódulos disseminados, pápulas e superfície verrucosa (Th2). mucosa e cutâneomucosa · Disseminação linfo-hematogênica do parasita de forma tardia (anos depois): · Nasal → ora → faríngea. · Mucosa: manifestação tardia, 1 a 40 anos após cicatrizar a lesão primária: · Eritema, infiltração, granulação e ulceração → perfuração da região. FORMA CLÍNICA MUCOSA E CUTÂNEOMUCOSA. Diagnóstico Provas diretas – VISUALIZAÇÃO DO PROTOZOÁRIO · Exame parasitológico direto por escarificação da borda; · Cultura; · Anatomopatológico. ANATOMOPATOLÓGICO - MACRÓFAGOSENDO COLONIZADO POR AMASTIGOTAS. Provas indiretas · Reação intradérmica de Montenegro: · Avalia imunidade celular tardia; · + em sensibilizados e curados; · Pápula ou infiltração > 5 mm = positivo; PÁPULA FORMADA NA REAÇÃO INTRADÉMICA DE MONTENEGRO (É COMO SE FOSSE UM PPD); · IFI e ELISA - anticorpo; · PCR – para pesquisa científica. Tratamento · Antiomoniato de N-metilglucamina = Glucantime: · 1ª escolha; · 20 a 30 dias EV ou IM: · Nas formas nodulares, vegetantes e verrucosos: 3 a 4 séries deste ciclo de 20-30 dias. · Dose: 10 a 20 mg/kg/dia; · Critério de cura: clínico regressão da lesão após o tempo de tratamento (até 2 meses após o fim do tratamento); · Medicamento possui cardiotoxicidade → é necessário o ECG antes do início do tratamento e de controle durante o tratamento; · Feito em PSF ou hospitais municipais após o ECG. · Pentamidina · 2ª escolha se falha ou contraindicação com antimonial (ex: pessoas com arritimias). · Anfotericina B · Formas resistentes aos antimoniais; · Gestantes. CURATIVOS · É o meio terapêutico de tratamento de uma ferida → é o ato de limpeza e aplicação de coberturas em uma ferida: · Objetivo de proteger as lesões contra agentes físicos, químicos, mecânicos e biológicos, ou seja, contra sujeira, trauma e infecção; · Para feridas 2ª e 3 ª intenção (úlceras) → ambiente limpo e úmido; · Curativo são divididos em cobertura primária (em contato direto com a ferida) e secundária (em contato com o meio: gaze, atadura, esparadrapo chama-se “penso”). OBS: feridas de 2ª intenção são aquelas que não conseguimos suturar borda-borda a priori. Logo, iremos esperar a cicatrização por 2ª intenção. As feridas de 3ª intenção são aquelas que deixamos aberta por um tempo e após haver condição suturamos borda-borda. Não se aplica ao que iremos discutir adiante para as feridas de 1ª intenção (suturadas), pois é basicamente manter limpo e seco (cuidados básicos). · O curativo é uma abordagem multidisciplinar dinâmica indicações se modificam conforme ferida evolui e não deve ser colocado na prescrição médica, pois não depende apenas da avaliação do médico. CARACTERÍSTICAS DE UM CURATIVO IDEAL – MANTER FLUXO DE AR E LÍQUIDOS, ABSORVER E REMOVER EXUDATO EM EXCESSO, MANTER LIMPO DE COLONIZAÇÃO E FAVORECER A OXIGENAÇÃO LOCAL E A CHEGADA DE NUTRIENTES. · As escolhas do curativo correto dependem do grau de contaminação, etiologia, fatores locais e sistêmicos (comorbidades do paciente), presença e tipo de exsudato; · Conceito TIME - abordagem sistemática para correção de desequilíbrios: · T: avaliar Tecido (necrose, tecido viável); · I: Infecção/ Inflamação; · M: Moisture – controle da umidade, principalmente controle da quantidade de exsudato; · E : Edge – borda da ferida, que impacta no processo de reepitelização. EXCERÉSE CIRÚRGICA DE CÂNCER DE PELE, NA QUAL NÃO HAVIA POSSIBILIDADE DE FECHAMENTO BORDA-BORDA, ALÉM DISSO, ENXERTO E RETALHO ERAM CONTRAINDICADOS POR CONTA DO TIPO DE CÂNCER, DEIXANDO A CICATRIZAÇÃO OCORRER POR 2ª INTERNÇÃO. limpeza · 1º passo: remover tecidos desvitalizados, corpos estranhos e debris de pele; · Feridas abertas escolher produtos não tóxicos para não danificar tecidos viáveis: · SF 0,9%: hipoalergênica favorece autólise (processo de ação das nossas próprias enzimas, que manejam a cicatrização) e formação de tecido de granulação; · Em jato (agulha 40x12) e movimentos leves e lentos com gaze umedecida, sem esfregar → não friccionar; · Secar a borda para esta não macerar (o centro da ferida queremos úmido para as células e as enzimas migrarem). · Água de torneira: fácil acesso; · PHMB (poli-hexametileno de biguanida): bactericida, antisséptico de baixo risco com excelente tolerância, baixo risco de sensibilização e não destrói tecido saudável – é caro. · Não usar em feridas abertas (são indicados para feridas primárias): · Iodopovidona: alergia, efeito tóxico; · Clorexidina: retarda produção de colágeno, tóxico para tecido de granulação – destrói tecidos viáveis. desbridamento · 2º passo: após a limpeza avaliar a necessidade de desbridamento; · Todo e qualquer método de remoção de tecidos desvitalizados (debris), necróticos, infectados, fibrinoso ou que contenha material estranho na ferida, que estão muito aderidos e não saem com o jato de soro ou com movimentos leves com a gaze úmida: · Alcançar tecido de granulação saudável; · Auxilia na cicatrização pela remoção do biofilme; · Melhora a distribuição dos antimicrobianos; · Evita a formação de novo biofilme. FERIDAS QUE TEM INDICAÇÃO DE DESBRIDAMENTO – IMAGEM 1 FIBRINA (TECIDO BRANCO AMARELADO ADERIDO A FERIDA), IMAGENS 2 E 3 - ESFACELOS (NECROSE ÚMIDA E AMARELADA AO REDOR) E NECROSE (ESCARA SECA, TECIDO PRETO). ENQUANTO ISSO ESTIVER NO LEITO, A FERIDA NÃO VAI FECHAR. Métodos · Cirúrgico: conservador (retirar aos poucos) ou propriamente dito (com cirurgião no cc); · Mecânico: · Terapia úmido-seco: não seletivo e doloroso colocava-se gaze úmida na ferida, esperava secar e puxava (muito antiga, não se usa mais); · Hidroterapia: jatos com soro ou água. · Autolítico (um dos mais utilizados, se puder use): altamente seletiva (preserva colágeno saudável), indolor → retenção de exsudato/umidade com enzimas proteolíticas endógenas → poupando tecido de granulação: · Hidrogéis e hidrocoloides; · Atentar para risco de maceração perilesional; · Contraindicado se lesões infectadas e isquêmicas. · Enzimático - enzima exógena autolítica: · Papaína, colagenase e fibrinolisina/Dnase; · Apesar de serem enzimas que não destroem tecido de granulação, na prática as feridas em uso demoram mais para cicatrizar as feridas; · Utilizadas quando não disponível o autolítico. · Biológico: larvas criadas em laboratório (não utilizado na prática). controle do biofilme · 3º passo: controle do biofilme (colonização e não infecção!). · Biofilme: comunidade estruturada de colônias de células microbianas – bactérias, fungos e vírus - envoltos por em uma matriz polimérica e aderidas a superfícies naturais (como as úlceras) ou artificiais (como cateteres) ou a eles próprios: · Dinâmicos, capazes de criar ambientes e defesas que podem produzir uma inflamação crônica e atraso da cicatrização; · Produzem substâncias que lhe conferem integridade estrutural e protegem contra agentes externos → resistência a agentes antimicrobianos, antissépticos e defesas do hospedeiro; · Presentes na maioria das úlceras crônicas. · Medidas para controle: · NÃO são recomendados antibióticos tópicos: neomicina, bacitracinam mupirocina e sulfadiazina de prata; · Antibióticos sistêmicos não são capazes de erradicar o biofilme de uma ferida; · Indicada lavagem, desbridamento, agentes antissépticos (PHMB); · Cobertura com produtos com prata (antimicrobiana); · Meta: leito da ferida visivelmente limpo, tecido de granulação saudável e/ou em trajetória de cicatrização (pele se aproximando do centro). · Indicam infecção e não biofilme → tratamento com antibioticoterapia sistêmica (que cubra Pseudomonas, em geral tem que hospitalizar): · Sintomas sistêmicos como mal-estar, perda de apetite e febre (difícil); · Sinais locais: aumento de exsudato, retardo da cicatrização, tumefação na base da ferida, dor persistente, tecido de granulação friável, descoloração no leito da ferida, focos de abscesso e odor fétido; · Preditores mais úteis: aumento de dor e no tamanho da ferida; · Para determinar o agente: biopsiar base da lesão e fazer cultura não adianta fazer cultura da secreção! Tem que biopsiar a base da lesão. escolha de coberturas · São escolhidas pensando em todos esses fatores anteriores e após esses 3 passos, além da profundidade da lesão e quantidade de exsudato; · Lesões rasas e pouco exsudato – curativo de filme transparente; · Mais profunda, porém ainda com pouco exsudato – curativo de gel; · Aumenta a profundidade e o exsudato – curativo de hidrocoloide fino ou grosso (depende da profundidade) ou espuma (absorve exsudato); · Feridas profundas e com bastante exsudato – alginato (fibras que absorvem exsudato e se adaptam a profundidade). coberturas especiais· Possuem papel tanto no desbridamento quanto no controle de biofilme. IMAGEM 1 - COBERTURA DE PRATA; IMAGEM 2 – ALGINATO; IMAGEM 3 – COBERTURA TRANSPARENTE E IMAGEM 4 – ERRO NA COBERTURA DA FERIDA COM CURATIVO TRANSPARENTE (QUE É CARO E A IDEIA É VER A LESÃO, ALÉM DE DURAR 3 DIAS E COM A GAZE DEVE SER TROCADO TODOS OS DIAS). ESPUMAS E HIDROCOLOIDES – PRINCIPALMENTE PARA FERIDAS COM EXSUDATO, ABSORVE A QUANTIDADE EXATA PARA EVITAR MACERAÇÃO. LADO DE FORA (ROSA) IMPERMEÁVEL. IMAGEM 1 - HIDROCOLOIDES E HIDROGÉIS (EXCELENTES EM QUEIMADURAS); IMAGEM 2 – ALGINATO MOLDADO NA FERIDA; IMAGEM 3 – PLACA DE HIDROCOLOIDE (PODE SER UTILIZADOS COMO PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DE DECÚBITO, COLOCADOS EM LOCAIS DE PROEMINÊNCIAS ÓSSEAS, ASSIM COMO OS FILMES TRANSPARENTES). IMAGEM 1 E 2 – BIOTECNOLOGIA: ENXERTOS XENOGÊNICOS (NÃO HUMANOS, DE PORCOS, BOIS E TILÁPICA); IMAGEM 3 – COBERTURA DE PRESSÃO NEGATIVA. CURATIVOS BÁSICOS DE FERIDAS DE 1ª INTERNÇÃO - BAND AID E MICROPORE. ácido graxo essencial (AGE) · Utilizados em feridas abertas: promove quimiotaxia de leucócitos e angiogênese e mantém o meio úmido e acelera o processo de granulação; · Utilizado em pele íntegra: forma película protetora, previne escoriações (úlceras de decúbito) e fornece nutrição local; · Pode ser utilizado o óleo de girassol, não é tão bom quanto o AGE, mas em falta de condições financeiras pode-se usar. time t: tecido · Avaliar se matriz extracelular (MEC) é defeituosa; · Se tem restos celulares e necrose alterando a cicatrização; · Objetivo da conduta: base da ferida viável → restaurar a base da ferida e proteínas funcionais da MEC; · Condutas: · Desbridamento; · Terapia por pressão negativa. I: infecção/inflamação · Avaliar presença de biofilme; · Evitar a inflamação prolongada: citocinas, alta atividade de proteases, baixa atividade de fatores de crescimento; · Objetivo da conduta: equilíbrio bacteriano e controle da inflamação; · Condutas: · Antissépticos; · Antimicrobianos sistêmicos quando infecção associada. M: umidade · Quando há falta de exsudato: retarda a migração das células manter úmido; · Quando há excesso de exsudato: maceração das bordas; · Objetivo da conduta: equilíbrio da umidade; · Condutas: · Falta de exsudato: Hidratação com hidrogel ou hidrocoloide; · Excesso de exsudato: alginato/hidrofibra/espuma, compressão, pressão negativa absorvem exsudato. e: bordas · Na borda epitelizada não há migração de queratinócitos das bordas para o centro da ferida, por isso deve-se desepitelizar as bordas; · Objetivo da conduta: avançar a borda da ferida (deseptelizar); · Condutas: · Desbridamento; · Enxertos; · Outras tecnologias. FLUXOGRAMA AVALIAÇÃO DAS ÚLCERAS E CONDUTA CORRETA.
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