Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO DOENÇAS DESMIELINIZANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: ESCLEROSE MÚLTIPLA: A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune com caráter inflamatório, marcada por placas de desmielinização no SNC, responsáveis por disfunções neurológicas diversas. A epidemiologia desse quadro se direciona principalmente a mulheres jovens (cerca de 30 anos) e brancas, havendo influência geográfica sobre o número de casos, maior em países afastados do equador. No Brasil, a distribuição desse quadro não é homogênea, indicando influências étnico-geográficas nesse processo. Padrão de dispersão geográfica para a EM A etiologia da EM ainda é desconhecida, porém há uma contribuição importante entre aspectos imunológicos, com a perda de autotolerância, e ambientais, como infecções virais (EBV), tabagismo ou depleção de vitamina D. Observa-se também a influência de fatores genéticos no desenvolvimento dessa doença, relacionados principalmente a alterações nos alelos do HLA de cromossomos específicos Mecanismo etiopatogênicos da esclerose múltipla Uma vez que a inflamação na EM é restrita ao sistema nervoso central, supõe-se que as alterações ao sistema imunológico criam linfócitos B/T seletivos a autoantígenos dessa região. Duas hipóteses explicam esse processo, a saber: Modelo intrínseco do SNC: alterações neurológicas diretas provocam a liberação de autoantígenos, que alcançam a circulação por drenagem linfática ou por transporte mediado por células dendríticas; Modelo extrínseco do SNC: eventos sistêmicos, como a proliferação de vírus leva ao desenvolvimento de respostas imunes aberrantes às células encefálicas. As células da micróglia também podem auxiliar na instalação da EM, levando a secreção de citocinas inflamatórias, radicais livres, quimiocina e glutamato. Com o avanço da doença, respostas sistêmicas passam a ser menos expressivas, com aumento dos infiltrados monocíticos e linfocitários difusos Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO Principais contribuintes fisiopatológicos na Esclerose Múltipla Como principais características da esclerose múltipla é possível destacar a perda neuronal e a desmielinização, sendo a primeira a mais importante, causando incapacidade permanente. Esse comprometimento aos axônios pode tanto ser agudo, em focos inflamatórios novos, ou de instalação insidiosa, mais comuns em lesões crônicas Aspectos fisiopatológicos em esclerose múltipla Os principais mediadores do bloqueio de condução neural (intermitente ou completo) são as citocinas pró-inflamatórias e o óxido nítrico, que causam hiperexcitabilidade de axônios desmielinizados. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os sinais e sintomas causados pela EM são diversos, produtos da desmielinização de áreas difusas do SNC, como: Neurite óptica: cursa com dor ocular, agravada pela movimentação, além de perda visual central e diminuição na percepção de cores. Normalmente regride em 2-6 meses; Mielite aguda (com mais sintomas sensitivos); Síndrome de tronco encefálico e cerebelar: marcada por vertigem (ou instabilidade postural) e oftalmoplegia, que pode causar diplopia; Transtornos motores (hiperreflexia e paraparesia); Dor neuropática; Espasticidade; Declínio de funções cognitivas: é progressivo, podendo afetar a atenção, a percepção visuoespacial e a velocidade de processamento dos pensamentos; Fadiga; Disfagia; Transtornos esfincterianos; Diminuição na função sexual; Fenômenos paroxísticos: o fenômeno de Lhermittte, apesar de não ser patognomônico, é bastante encontrado na EM, caracterizado por uma sensação de choque irradiada para os membros inferiores ao fletir a coluna vertebral. O retorno da condução nervosa pode criar novos internodos mielinizados, que junto a plasticidade cortical permite a reorganização de funções clínicas, “compensando” a perda neuronal Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO Principais impactos sistêmicos da esclerose múltipla DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da EM será consolidado a partir de dos critérios de McDonald, que contemplam achados clínicos, exames de imagem e parâmetros laboratoriais, permitindo assim descartar outras manifestações neurológicas semelhantes. Estratificação diagnóstica da EM a partir dos critérios de McDonald Os surtos, importantes para a definição de esclerose múltipla, são definidos como agravamento de disfunções neurológicas com duração > 24 horas, sem ocorrência de febre ou outros sinais de infecção. Esses déficits podem retroceder total ou parcialmente, e nota-se que todas as manifestações desenvolvidas num mesmo mês fazem parte de um único surto. Padrões fenotípicos de progressão da EM de acordo com a frequência de novos surtos A ressonância magnética é o exame de imagem mais utilizado na avaliação da EM, sendo marcada por hiperintensidade em T2, principalmente nas regiões periventricular, justacortical, infratentorial e medular. Os dedos de Dawson são os principais sinais radiológicos dessa condição. Dedos de Dawson (oval azul), sinal típico de esclerose múltipla na ressonância magnética A punção do líquido cefalorraquidiano também pode ser utilizada na investigação Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO dessa doença como uma forma de descarte de outras causas. Normalmente os resultados contam com celularidade e proteína normais, além da presença de bandas oligoclonais sinais de disseminação da doença e do aumento da síntese de IgG. A detecção de bandas oligoclonais no líquor é um importante marcador da esclerose múltipla Dentre os principais diagnósticos diferenciais da EM, destacam-se: Doenças inflamatórias granulomatosas (ex.: LES, miastenia gravis); Doenças infecciosas (ex.: AIDS, meningites e brucelose); Leucodistrofias; Síndromes medulares isoladas; Vasculites. TRATAMENTO: O controle da EM, principalmente em sua forma recorrente-remitente, consiste no uso de medicamentos modificadores da doença, que buscam reduzir a neuroinflamação e modular a degeneração neuronal. Os principais representantes desse grupo são os interferons, os anticorpos monoclonais (alemtuzumab) e o fumarato de dimetila. Nesse contexto, podem ser empregadas duas abordagens distintas, a saber: Estratégia de escalonamento: se inicia com o uso de fármacos de 1ª linha, que pode ser revisto, em caso de recidivas contínuas, para o emprego de medicamentos mais eficazes, porém mais caros e menos seguros; Estratégia de indução: é recomendada para quadros de evolução rápida, com atividade elevada. Aqui, o objetivo é provocar remissão persistente de modo direto a partir de moduladores altamente eficazes. Fármacos usados no manejo de pacientes com EM Dentre as medidas não farmacológicas usadas com êxito na EM, podem ser evidenciadas o exercício físico, a fisioterapia e a terapia ocupacional. NEUROMIELITE ÓPTICA: A neuromielite óptica (NMO ou doença de Devic) é um outro exemplo de doença desmielinizante e inflamatória, com acometimento predominante sobre a medula e os nervos ópticos. O manejo dos surtos em esclerose múltipla é feito majoritariamente com corticoides (metilprednisolona) Júlia Figueirêdo – PROBLEMAS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO Sua epidemiologia é semelhante à da EM, afetando principalmente mulheres de 30 a 40 anos. Mecanismo de modulação imunológica associada a desmielinização da NMO Pontos marcantes dessa doença são a ocorrência de ataques de neurite óptica bilateral aguda, que causam perda visual, e a mielite transversal, promovendo fraqueza, paraparesia simétrica ou atémesmo disfunções vesicais. A mielite transversal longitudinalmente extensa, acometendo ao menos três segmentos vertebrais vistos numa ressonância, pode corresponder a manifestação primária da NMO. O tratamento da neuromielite óptica tem como obrigatório o manejo de ataques agudos, também realizado com altas doses de metilprednisolona, reservando a troca plasmática terapêutica para pacientes refratários. Para prevenir novos episódios, é recomendada a imunomodulação. A “conformação” da neurite óptica pode ser usada para diferenciar a NMO da EM, pois a última apresenta quadros unilaterais (o mesmo pode ser observado na mielite, que tende a ser assimétrica na esclerose)
Compartilhar