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Gravura Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Lídice Romano de Moura Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia • Colagravura (collagraph) • Gypsogravura · Compreender como as técnicas da colagravura e gipsogravura contem- porâneas nasceram e observar suas principais características e possibili- dades plásticas. Estudaremos também a história e pontuaremos alguns artistas gravadores que desenvolveram trabalhos nessas linguagens. · Conhecer os elementos fundamentais da linguagem e produção da gravura. · Adquirir conhecimentos técnicos e procedimentos fundamentais da linguagem da gravura. · Conhecer o desenvolvimento e a evolução das técnicas de gravura em seus contextos históricos, sociais e estéticos. · Pesquisar individual e/ou coletivamente a utilização da linguagem gráfica nas manifestações artísticas. · Elaborar uma poética pessoal adequada à linguagem gráfica e às potencialidades próprias da gravura. · Produzir, executar e imprimir gravuras. · Desenvolver pesquisa de materiais, meios e procedimentos de gra- vura adequados a situações de ensino. · Observar, analisar, comparar e criticar a produção contemporânea de gravura e outras produções artísticas OBJETIVO DE APRENDIZADO Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafi a e Gipsografi a Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Contextualização Na história da humanidade, percebemos a gravura percorrendo o tempo e se renovando a cada técnica: primeiro a xilografia, depois a calcografia, seguida da litografia e serigrafia. Pode parecer que essas técnicas abarcam todo o universo da gravura de forma pura e definitiva, mas isso não é verdade. A gravura continua apresentando novas possibilidades plásticas em resposta às inquietações dos artistas, e é nesse clima de pesquisa que surge a colagravura e a gipsogravura. Você poderá verificar que essas duas técnicas mais recentes de gravura partiram de técnicas já consagradas na história da arte e da associação de experimentos que os artistas desenvolveram. Você já percebeu, na arte contemporânea, como a gravura se apresenta associada a outras linguagens? Já observou como artistas utilizam diferentes técnicas de gravura associadas em uma única obra? Figura 1 Fonte: Wikimedia Commons Observe a obra do artista Frank Stellla, A fonte, de 1992. Essa obra foi elaborada por meio de colagem, estêncil, gravura em côncavo e relevo. Vamos observar quais elementos do universo da gravura os artistas utilizaram e associaram para chegar à colagravura e gipsogravura? 8 9 Colagravura (collagraph) A princípio, podemos dizer que qualquer material sobre o qual seja possível pro- duzir sulcos e relevos pode ser utilizado como matriz de gravura. Partindo dessa pre- missa, podemos utilizar diferentes materiais para constituírem uma matriz de gravura. A colagravura é, portanto, uma técnica de gravura que se utiliza dessa possibilidade. Importante! Defi ne-se colagravura como uma técnica aditiva. Nessa matriz, não se subtrai material; de forma inversa, agregam-se materiais com diferentes texturas ao suporte. Importante! Uma matriz de colagravura é elaborada a partir de uma base que pode ser de papelão, madeira, plástico ou até mesmo metal. Nessa base, com uso de cola adequada ao suporte escolhido, colam-se materiais com texturas táteis, como rendas, lixas, areia, folhas secas, dentre outros. A palavra colagravura é uma interpretação da palavra inglesa Collagraph. Collagraph deriva do grego Kolla, que significa cola, e da palavra Graphic, que significa gráfico ou impresso. Importante! A colagravura consiste em uma estampa que foi gerada por uma matriz efetuada através da colagem de diferentes materiais. Na matriz, temos a existência de sulcos e relevos pro- duzidos pelos diversos materiais agregados; na estampa, as impressões dessas texturas. Em Síntese Essa técnica possui diversas qualidades: é extremamente versátil, pois sua base pode ser um material flexível como um papelão, o que facilita o corte da matriz, possibilitando matrizes de formatos inusitados; pode ser confeccionada com a colagem de uma grande variedade de materiais, muitos dos quais baratos, até mesmo sucatas; e oferece diversas possibilidades no processo de impressão. Assim a estampa de uma colagravura é caracterizada por texturas variadas, decorrentes do resultado da impressão dos materiais utilizados na matriz. Não devemos confundir a colagravura com a Collotype, que consiste em um processo fotomecânico de impressão, desenvolvido no fi nal do século XIX, cuja matriz consiste em uma placa de vidro com gelatina em sua superfície. Essa placa carrega uma imagem com defi nição de detalhes para a reprodução de fotografi as. Ex pl or 9 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Breve histórico O artista é um ser inquieto e por isso mesmo busca constantemente inovar. É difícil precisar quem foi o primeiro a fazer uma colagravura ou de qual técnica ela descende. Diferentes artistas trabalharam com locais, ideias e materiais diversos, mas tentaremos aqui apontar algumas relações no nascimento do que consideramos hoje uma das mais recentes técnicas de gravura. Segundo DaSilva (1976), na segunda metade do séc. XVIII, foi desenvolvida a técnica do verniz mole sobre matrizes de metal com o objetivo de imitar o traço do lápis, o que se ampliou na modernidade com a captura da aparência de outras superfícies, evidenciando assim o desejo dos artistas gráficos de imitarem as diversas texturas de outros meios. Assemblages é um termo francês usado para definir colagens com objetos e materiais tridimensionais. Ex pl or Artistas como Picasso (1881-1973), Georges Braque (1882-1963), Paul Klee (1879-1940) e Juan Gris (1887-1927), dentre outros, no início do século XX utili- zaram de colagens e assemblages para preparar o caminho para outras inovações. Foi desses dois pensamentos expressivos acima: a preocupação com a representação de texturas e a utilização do próprio objeto colado que surgiram pesquisas no campo da gravura que resultaramna colagavura. Rolf Nesch, (1893-1975) artista norueguês, desenvolveu uma técnica a qual chamou de metal printing. Seu primeiro trabalho com essa técnica foi Elbe Bridge, que consistia em uma placa de zinco trabalhada com fios de cobre transpassados por furos. Figura 1 − metal printing. NESCH, Rolf. Elbe Bridge. 1932 Fonte: Wikimedia Commons 10 11 O artista russo Boris Margo (1902-1995) também contribuiu para a colagravura atual quando desenvolveu sua Cellocut. Em 1932, Margo criou essa técnica na qual utilizava celulóide, que consiste em material plástico, dissolvido com acetona sobre um suporte que é utilizado como base para uma matriz de gravura. Nessa técnica, ele também imprimia texturas e encaixava outros materiais, fundindo-os à matriz. Na impressão, utilizou métodos de relevo e côncavo assim como método de impressão com e sem prensa. No Brasil, Margo apresentou três gravuras nessa técnica na primeira Bienal de São Paulo em 1951. Figura 2 − Cellocut. MARGO, Boris. ‘Corralled’ 1945 Fonte: Wikimedia Commons Outra técnica aditiva conhecida por gravura à carborundum foi desenvolvida pelo artista Henri Goetzs (1909- 1989) e consiste no uso de carborundum, ou seja, carboneto de silício, que é fixado na matriz com o uso de verniz. Uma vez fixado a matriz, essa sílica gera texturas semelhantes ao da água-tinta, uma das vertentes possíveis na gravura em metal. Outro americano, Roland Ginzel (1921), após ter seu ateliê incendiado, perdendo todas suas matrizes de zinco, iniciou trabalhos com matrizes de papelão colados e massa. Nesses trabalhos, explorou o verniz e as texturas que ele podia adicionar à placa, assim como utilizou sobre ela também o carborundum. Glen Alps (1914-1996) foi o gravador e escultor que utilizou pela primeira vez o nome collograph para designar seus trabalhos. Esse professor da universidade de Washington desenvolveu trabalhos usando verniz queimado sobre madeira, assim como impressões sobre placas de vidro. 11 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Figura 3 − Colagravura A. ALPS, Glen. Space Tensions. 1956 Fonte: Ross, 1990 Edmond Casarella, (1920-1996) foi um artista americano que iniciou uma pesquisa com matrizes de papelão colado e massa, às quais deu o nome de papers cut. Elas eram impressas com relevo e sem o uso de prensa. Outros artistas como Clare Romano e John Ross a partir de 1950 iniciaram trabalhos com colagens de papelão, tecidos, areia e uso de massa acrílica na captura de texturas em suas colagravuras, trabalhos que a princípio foram impressos em técnica de relevo e posteriormente em técnica de côncavo. Figura 4 − Colagravura B. ROMANO Clare. Night Canyon. 1976 Fonte: Ross, 1990 Perceba que mesmo que cada artista tenha nomeado suas pesquisas de formas diversas, podemos notar que os trabalhos mostrados até o momento são decorrentes de matrizes concebidas pela adição de diferentes materiais, ou seja, matrizes aditivas, colográficas. Ex pl or 12 13 No Brasil, também encontramos artistas trabalhando com colagens em matrizes de gravura. O artista brasileiro Odetto Guersoni (1924-2007) desenvolveu duas vertentes nesse caminho: a filigrafia e a plastigrafia – sendo que esta última será abordada quando tratarmos de gravura em gesso. Sua amizade com Aldo Bonadei (1906- 1974), o qual trabalhou com costuras e bordados, levou Guersoni a explorar o que chamou de filigrafia, ou seja, matrizes executadas com fios costurados impressos em relevo. Outro artista brasileiro, Orlando DaSIlva, (1923-2012) desenvolveu o que chamou de papelogravura. Essa técnica consiste na colagem de diferentes papéis, explorando texturas e diversas alturas e impressas em relevo. Figura 5 − Papelogravura. DaSilva, Orlando. Sem título. s/d. Fonte: Da Silva, 1990 Importante! Observamos que diante de diferentes nomes aplicados aos trabalhos anteriormente citados todos comungam características comuns: a adição de materiais e a captura de texturas para a confecção de uma matriz de gravura. Em Síntese Técnica Suporte para a matriz: A matriz de colagravura pode, a princípio, ser feita em qualquer material rígido, como: acrílico, madeira, compensado, metal, papelão, etc. Recomendamos a você o uso de papelão couro que oferece rigidez suficiente como matriz, mas não possui o risco de quebrar-se durante a impressão na prensa como um acrílico, por exemplo. O papelão tem um custo reduzido e ainda poderá ser cortado com facilidade em qualquer formato. 13 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Ruth Leaf (1976) aconselha fazer um chanfro no suporte, mesmo que seja um suporte macio como o papelão. No suporte de papelão, essa autora sugere passar sobre o chanfro verniz, para enrijecê-lo, facilitando a entrada da matriz na prensa de côncavo e obtendo-se o efeito sugestivo do bisel, como na gravura em metal. De forma geral, o corte das bordas a 45º é também recomendado para matrizes de qualquer material. Figura 6 − Esquema de perfil de matriz com chanfro Fonte: Acervo do Conteudista No caso da utilização de madeira como suporte da matriz, sugere-se o uso de espessuras finas, facilitando a impressão em côncavo. Deve-se também evitar aglomerado que tenha uma tendência a se desfazer durante o processo de impressão. Matrizes de metal podem ser trabalhadas com solda para se agregar a outras peças metálicas. Essas matrizes podem ser ainda perfuradas como fez o artista Rolf Nesch na obra apresentada na Figura 1. De forma geral, o suporte de matriz necessita ser resistente para não empenar, rasgar, deformar, mas ao mesmo tempo ter certa flexibilidade. Segundo Catalfi (2003), a matriz ideal gira em torno de 2 a 4 mm de espessura, alcançando um máximo de 9 mm e um mínimo de 1 mm. Materiais Sobre o suporte escolhido, adicionam-se diferentes materiais, utilizando-se, de maneira geral, a cola branca (tipo PVA). Posso utilizar outra espécie de cola? Se a matriz for de metal, que cola poderei utilizar? Para matrizes de colagravura, pode-se utilizar uma vasta gama de colas ou bases aditivas líquidas ou pastosas, como cola de madeira, de contato, colas rápidas, vernizes, solda, etc. Para escolher a cola, deve-se levar em consideração a adequação a dois fatores: adequação à matriz e aos materiais adicionados. Por exemplo, uma matriz de plástico requer um adesivo mais potente, um adesivo para plástico como araldite ou super bonder; uma matriz de metal necessitará ter os materiais soldados ou fixados com verniz, como na técnica do carborundum. Ex pl or 14 15 Os materiais a serem agregados a uma matriz podem ser os mais diversos possíveis, sendo que a principal característica para a escolha deles é a textura tátil desses: lixas, tecidos texturizados, areia, grãos, cascas de árvores, rendas, serragem, papéis amassados ou texturizados, linhas e lãs, espumas, pó de carborundum, folhas secas, peças de metal finas, penas, etc. A textura resultante desses materiais está relacionada à sua porosidade do material e ao método de impressão. Na impressão em côncavo, quanto mais poroso – texturizado – for o material, mais ele terá a capacidade de reter tinta. Quanto menor for essa porosidade, mais liso o material será, e menos ele reterá a tinta, proporcionado tonalidades mais claras. Na impressão em relevo, teremos o material poroso com um registro muito próximo à sua textura real, e o material menos poroso, mais escuro. Outro recurso utilizado na colagravura são as bases cremosas nas quais se desenham ou imprimem texturas, e que depois de secas tornam-se rígidas. Sobre materiais muito porosos como lixas grossas, por exemplo, pode-se passar a base cremosa para minimizar texturas muito fortes. Dentre essas bases cremosas, a mais usual é a pasta de modelagem para tela que, misturada a um pouco de cola, torna- se flexível o suficiente para a impressão. Pode-se utilizar ainda massa plástica, pasta de gesso também misturado à cola, resinas epóxi eoutras variações. Figura 7 − Utilizando pasta de modelagem para amenizar textura do material Fonte: Ross, 1990 Essas bases podem ser gravadas ainda moles quando se deseja imprimir alguma textura, como as de folhas, tecidos, moedas, botões, etc.; ou gravadas quando secas com instrumentos para produzir sulcos, ferir e moldar – como ponta seca, pregos, estiletes, lixas, etc. As bases cremosas também são úteis para diminuir diferenças de níveis muito grandes entre um material e outro na mesma matriz. 15 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Figura 8 − Capturando texturas com pasta de modelagem Fonte: Ross, 1990 Na utilização de pastas, é necessário respeitar o tempo de secagem recomendado pelo fabricante e, no caso da aplicação de mais de uma demão do produto, você deve respeitar o tempo de secagem entre a aplicação de cada camada. A espessura dos materiais utilizados para matrizes de colagravura deve ser estu- dada com cautela. Materiais espessos diretamente agregados à matriz – como clipes, moedas, grãos muito espessos, palitos de fósforos ou de dente ou de sorvete, botões, etc. – necessitam de menor pressão, pois podem gerar três problemas distintos: • Grãos e botões podem quebrar-se durante a impressão por excesso de pressão, estragando a matriz e rasgando o papel; • Metais e madeiras podem quebrar o acrílico da prensa durante a impressão devido à sua rigidez, ou rasgar o papel ou feltro da prensa; • Todos os materiais espessos utilizados próximos a materiais de pouca espessura e textura suave em uma mesma matriz encobrem a textura dos outros, pois, durante a impressão, a pressão será única em toda a matriz e baseada na superfície mais alta, derivada dos materiais mais espessos, gerando predomínio dessas texturas. Gravação Pronto o projeto e selecionados os materiais, transferimos o desenho desejado para a matriz, invertendo-o. Partindo da ideia de trabalho sobre um suporte de papelão, devemos primeiramente chanfrar suas bordas com o auxílio de uma lixa de madeira colada a uma madeira rígida, de forma a se obter um rebaixado uniforme. Estamos agora diante de uma etapa importante: identificar os planos do projeto, pois, como obteremos um relevo, devemos observar que tudo o que estiver mais baixo na matriz resultará na estampa, como a parte mais ressaltada do papel, e vice-versa. 16 17 Utilize as espessuras dos materiais para cada plano específico, isso significa que os materiais mais espessos devem ser colados na matriz nas áreas correspondentes à impressão, que resultarão nos últimos planos, os mais distantes de seu projeto. De igual forma, os materiais mais finos colados na matriz corresponderão na estampa às áreas mais próximas, aos primeiros planos do projeto. Observe que a diferença sobre a qual estamos falando é muito sutil, pois uma matriz com grandes diferenças de níveis entre um material e outro resultará no não aparecimento das texturas mais rebaixadas, conforme explicado anteriormente. Isso acontece por conta de que, durante o processo de impressão, a pressão tem que ser adequada à parte mais alta da matriz. Figura 9 − Colagravura e relação planos e espessuras de materiais. Autorretrato quando criança. Márcia Santtos. 2007 Fonte: Acervo do Conteudista Certifi que-se sempre, ao produzir uma matriz de colagravura, que os materiais utilizados na matriz não possuam uma diferença grande entre baixo e alto relevo. A matriz deve resultar quase uniforme e com texturas suavizadas, se necessário, com massa acrílica. Colados os materiais, segundo esses critérios, devemos impermeabilizar a matriz com vedante, que poderá ser verniz spray automotivo, náutico, cola diluída em água, ou até diversas camadas de óleo com secagem intercalada a cada demão. Esse acabamento garante maior durabilidade da matriz e permite uma edição maior. A artista Selma Daffré (1951) utiliza em suas colagravuras 3 demãos de cola PVA misturada com água, na proporção de 1 para 4, ou seja, se utilizar uma colher de café de cola, acrescentar 4 de água, intercalando a secagem. 17 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Depois de completa a secagem, segundo o produto utilizado, recomenda-se, antes de iniciar a impressão, passar a matriz na prensa sem tinta para nivelá-la e acertar a pressão adequada. Recomendamos também que você passe uma fina camada de óleo de linhaça na matriz, esse procedimento não deixará o papel se grudar na matriz durante o processo de impressão. Na medida em que o tempo passa, o óleo aplicado à matriz, devido a seu processo de maturação, torna a matriz mais resistente. Ruth Leaf (1976), outra autora e artista gravadora, também recomenda vedar o verso da matriz com verniz ou papel contact. O papel para impressão O papel para colagravura deve ser encorpado com gramatura alta para acomodar- se nas texturas durante o processo de impressão, registrando-as na estampa. O papel deve estar úmido no momento da impressão, mas sem poças d’água – sendo que alguns autores, como Catafal (2003), recomendam a imersão prolongada dos papéis antes da impressão. Selma Daffré recomenda borrifar água mineral ou passar estopa úmida nos dois lados de cada folha e, na sequência, empilhar um papel úmido sobre o outro e colocar dentro de um plástico, no qual eles aguardarão pelo momento da impressão. Mais uma vez observamos que a cozinha de cada gravador nos traz uma receita a ser pesquisada, ou seja, você deve fazer suas experimentações e escolher a melhor forma de fazer o seu trabalho. Impressão Antes de iniciar a impressão, recomenda-se passar óleo de linhaça, de uma forma bem suave, na matriz. Se você utilizar muito óleo durante a impressão, a tinta irá se misturar ao óleo que está na matriz e ficará muito diluída, resultando em uma estampa borrada. A impressão da colagravura pode ser feita de maneiras distintas: relevo seco, relevo ou côncavo. Gravura em relevo (sem tinta) Essa impressão consiste no relevo seco, ou seja, no embosing. Leva-se a matriz sem tinta à prensa de cilindro, utiliza-se o papel molhado para obter o relevo da mesma. Gravura em relevo (com tinta) Selma Daffré recomenda que a primeira prova de uma colagravura seja sempre feita em relevo com tinta, pois, segundo a experiência dessa artista, em uma matriz na qual esse tipo de impressão saia satisfatória, a prova de côncavo também sairá. 18 19 Tinta-se a matriz com o rolo de borracha como na técnica de xilo ou linóleo, obtendo-se a gravura em relevo com tinta. A folha de papel também deve estar úmida para a impressão em prensa de cilindro ou rosca. Gravura em côncavo A tinta para esse tipo de impressão deve ser mais fluida, portanto deve ser misturada ao óleo. A quantidade de óleo misturada a tinta deve ser testada com antecedência, pois uma tinta muito espessa não penetra nos sulcos, e uma muito diluída oxida com e tempo gerando manchas amareladas no papel. Na colagravura, “as matrizes não se devem aquecer, porque muitas destas, pela sua própria natureza ficam alteradas” (CATALFI,2003, p. 103). Tinta-se a matriz com a técnica de gravura em côncavo, espalhando-se a tinta com o auxílio de uma espátula ou pincel de pelos duros e curtos, ou ainda com o auxílio de uma escova de dente, deixando a tinta nas partes baixas da gravura. Limpe com entretela escócia desengomada no sentido vertical e novamente na horizontal. Em seguida, com entretela mais limpa em movimentos circulares, até visualizar a imagem. Passar suavemente com a palma da mão uma folha de páginas amarelas para limpeza final. Côncavo e relevo juntas Após fazer a impressão em côncavo, rola-se um rolo com uma segunda cor sobre a matriz. Você poderá utilizar um rolo pouco carregado com tinta branca tonalizada, ou seja, meio “suja” em uma passada rápida sobre a matriz já entintada em côncavo, para criar uma veladura. Limpeza da matriz A limpeza da matriz é feita com o óleo de linhaça, que ajudará a mantê-laíntegra. Gypsogravura Da palavra Gypsum do latim, que significa gesso, criou-se o nome gipsogravura para nomear uma técnica de gravura realizada com uma matriz que consiste em uma placa de gesso. O gesso como o conhecemos deriva da Gipsita, um sulfato de cálcio que é desidratado de forma total ou parcial. Esse aglomerante já era conhecido no Egito, utilizado pela humanidade há mais de 4.500 anos. Assim como na história da colagravura, não podemos precisar o início exato dessa técnica da forma como ela é atualmente utilizada. O primeiro registro do uso desse aglomerante na gravura foi em 1893, quando Pierre Roche (1855-1922), escultor francês, realizou uma matriz onde capturou a textura de uma alga marinha sobre uma superfície de gesso, criando assim a gypsogravura ou gypsotype. 19 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Figura 10 − Gypsogravura. ROCHE, Pierre. Alga marinha. 1893 Fonte: Ross, 1972 Conforme dissemos anteriormente, o artista brasileiro Odetto Guersoni desenvolveu a plastigrafia. Utilizando gesso, alvaiade, óleo, terebintina e secante, criava uma pasta que aplicava à madeira, onde, com gestos rápidos e incisões livres, gravava na superfície pastosa, utilizando-se de pentes, canetas, etc. Nessa técnica, oferece como resultado estampas com características muito gestuais. Assim, verificamos que a plastigrafia de Guersoni possui elementos de colagravura e da gipsogravura. A gipsogravura é feita na atualidade sobre uma placa de gesso. Existem artistas que fundem uma placa de gesso a partir do gesso em pó; entretanto, muitos fazem uso de placas de gesso prontas, comercializadas para forro de tetos. O vídeo da UNArte - Universidade Nacional de Arte de Bucareste, mostra o Prof. Dr Florin Stoiciu fundindo uma placa de gesso para fazer uma gipsografia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pIsEGue76UI Ex pl or Gravação e impressão A gipsogravura tem seus processos de gravação e impressão da mesma forma que uma gravura em relevo como a xilografia ou linoleografia. Na placa de gesso, o projeto pode ser elaborado diretamente com tinta preta ou somente delineado com um lápis. Para a gravação, utilizam-se goivas e formões, como na xilogravura, mas também podem ser improvisadas ferramentas com pregos, facas e colheres, com as quais vão se raspando a superfície até se conseguir sulcos. 20 21 O processo de impressão é o mesmo da xilogravura com tinta gráfica transferida para a matriz com o rolo de borracha. A impressão se faz na colher com papel de baixa gramatura, pois o gesso, uma vez levado à prensa, irá se quebrar, dada sua fragilidade. A matriz de gipsogravura não se limpa com nenhum tipo de solvente. Deixe a tinta secar sobre a matriz e, se for necessário, volte a imprimi-la e retome logo após a tinta estar completamente seca. 21 UNIDADE Técnicas Alternativas de Gravação: Colagrafia e Gipsografia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Onde Habitam Pedras e Linhas Cruzadas Recomendamos a leitura do artigo: Onde habitam pedras e linhas cruzadas. Ele traz a beleza sutil da obra gravada de David de Almeida, de autoria de Joanna Latka. No artigo, a autora faz um breve relato das possibilidades das técnicas aditivas a partir da obra do artista português David de Almeida. https://goo.gl/F3ihkg Vídeos Técnicas de Grabado - Cómo se Hace la Colografía Um vídeo onde você visualizará as etapas explicadas no conteúdo teórico, desde a colagem dos elementos na matriz até a impressão em côncavo. https://www.youtube.com/watch?v=TNIjL-KucVQ 1º Harvey McWilliams: Collagraph Technique in Printmaking Assista ao vídeo realizado por Paul Canady na década de 1970, onde o artista Harvey McWilliams demonstra todo o seu processo de criação, desde o desenho, a confecção da matriz e impressão de uma colagravura. Observe o uso que o artista faz da cola em primeiro lugar na criação de desenhos que ganharam texturas com a adição da areia amarela e, posteriormente, para impermeabilizar a matriz. https://www.youtube.com/watch?v=g5TILDLp1Do Gipsogravura / Plaster Relief Print Assista ao artista Florin Stoiciu, da Universidade de Bucareste, efetuando uma gipso- gravura. Observe quais recursos o artista utiliza e o resultado obtido através da estam- pa, onde podemos observar as imperfeições características da placa de gesso. https://www.youtube.com/watch?v=xFGpCHhYRQo 22 23 Referências CATAFAL, Jordi; OLIVA, Clara. A Gravura. Lisboa: Editora Estampa, 2003. DASILVA, Orlando. De Colecionismo Gráfica. Curitiba: Secretaria do Estado da Cultura do Governo do Paraná, 1990. JOHNSON, Uma E. American prints and printmakers. New York: Doubleday & Company, 1980. LEAF, Ruth. Etching, Engraving and other intaglio printmaking techniques. New York: Watson-Guptill, 1976. ROSS, John; ROMANO, Clare; ROSS, Tim. The Complete Printmaker. New York: Roundtable Press, 1990. SANTOS, Márcia Campos dos. Gravura sobre policarbonato: uma experiência contemporânea. 2006. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2006. 23
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