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Anamnese, Exame Físico e Incisões Cirúrgicas Anamnese e EF Anamnese Saber identificar paciente cirúrgico Correlacionar patologia cirúrgica com anamnese e exame físico Saber fazer diagnóstico adequado das principais causas da cirurgia em pronto socorro Saber identificar através das incisões no exame físico as possíveis cirurgias que o paciente foi submetido Elementos importantes da anamnese ID: importante saber sobre a vida do paciente, com o que trabalha etc, principalmente devido ao atestado médico necessário para ele (para o paciente receber do mesmo jeito no final do mês) QP: conseguir diferenciar se é uma queixa crônica ou aguda HDA: identificar sintoma-guia e descrever suas características, descrevendo a analisando com outras queixas cronologicamente. É importante não induzir respostas e deixar o paciente falar sobre sua doença IS: importante saber carga tabágica: quantidade de maços/dia pelo tempo que fuma (em cada maço tem 20 cigarros): 1 maço/dia há 30 anos: carga 30 maços/ano). É considerado alto a partir de 20 maços/ano Dor abdominal Anamnese: características da dor, há quanto tempo (aguda x crônica) Posição antálgica: posição que paciente fica para avaliar a dor Exame físico Inspeção + ausculta: avaliação dos quadrantes (necessário fazer inspeção e depois ausculta para não interferir no peristaltismo) Ausculta: 1 min em cada quadrante fazer em sentido horário devido movimento ordenado, começar com fosse ilíaca (quadrante inferior direito) Palpação superficial: uma mão + ponta dos dedos com movimentos circulares. Capaz de detectar lipoma Palpação profunda: bimanual com mão dominante na sensibilidade. Fazer sempre a direita do paciente Exame de toque: avaliar se há fezes, sangue, se teve palpação de lesão Abdome agudo Classificação e causas Hemorrágico Prenhez tubária rota Rotura de cistos hemorrágicos Necrose de tumor com hemorragia Obstrutivo Bridas: fibrinas que são formadas após uma cirurgia, podendo grudar uma alça intestinal na outra, resultando em obstrução, dificuldade de passar gás ou líquido Hérnia Tumor Intussuscepção Infeccioso Apendicite Diverticulite Colecistite Pancreatite Colangite Perfurativo Úlcera perfurada Necrose com perfuração tumoral Diverticulite complicada Perfuração por corpo estranho Caso clínico ABC, masculino, 66 anos, casado. Vem ao OS com história de dor abdominal de início súbito há 2 dias. A dor é difusa, em aperto, sem migração ou irradiação. Intensidade 7/10 e refere episódio prévio semelhante, sendo submetido a cirurgia. Relata distensão abdominal, náuseas e vômitos, constipação intestinal há 05 dias, com diminuição da eliminação de fatos, referindo eructações há 3 dias. Relata também hiporexia, astenia e nega febre no período. HPP: 4 cirurgias abdominais, sendo a primeira em setembro de 2018 após ferimento por arma branca (FAB) em abdome. Submetido a laparotomia de urgência, sendo identificado lesão de cólon transverso, intestino delgado e veia mesentérica superior. A segunda cirurgia foi realizada no 2º PO por fístula; sendo a 3ª cirurgia para reconstrução de trânsito intestinal + lise de bridas em 2019. A 4ª cirurgia, em 2020, foi realizada para correção de hérnia incisional. EF: REG, abdome distendido (por isso não é possível identificar corretamente os órgãos; se estiver muito distendido, não é possível ouvir murmúrio vesicular bem audível), hipertimpânico (aumento de RHA), doloroso à palpação difusa OBS: Tratamento de bridas antes de cirurgia: passagem de sonda nasogástrica (retira a pressão, então o que estava meio torcido, muitas vezes, diminui a pressão, soltam as bridas). Geralmente espera-se 24h, caso não resolva (paciente começa a soltar gases), necessário cirurgia Incisões cirúrgicas Laparotomia Definição: “abertura cirúrgica da cavidade abdominal” Etapas da laparotomia Abertura (laparotomia) Exploração da cavidade abdominal: avaliar a extensão da patologia e identificar possíveis patologias não diagnosticadas Realização da cirurgia Inventário ou revisão: para ter certeza que a cirurgia está completa e verificação se não foi esquecido nenhum corpo estranho (compressas, gazes, etc) Fechamento da cavidade Indicações Exposição adequada Espaço suficiente para manobras cirúrgicas Localização de cicatrizes prévias Deve interferir pouco com a função da parede abdominal Pouco traumatismo Potencial de sangramento interno Reduzir risco de deiscência Necessidade de abertura rápida Diminuir risco de dor pós-operatória Reduzir risco de hérnia incisional Certeza diagnóstica Desfecho estético Princípios da diérese ideal Seguir as linhas de força da pele (linhas perpendiculares que tem maior força de tensão do músculo – é na direção dessas linhas o local mais adequado para incisão e suturas, melhor cicatrização) Extensão e localização adequadas Todos os planos com a mesma extensão Bordos nítidos Respeito aos planos e estruturas anatômicas: o apêndice está no quadro inferior direito, então tem que abrir de maneira oblíqua para não rasgar (e, consequentemente, não sangrar) Se necessário acesso rápido: ir pela linha alba (não há muito vaso e nem muito nervo, mas as linhas de tensão da pele fazem força, então tem maior risco de abrir e a cicatriz) Atenção: linhas de tensão são perpendiculares ao sentido de movimento do músculo sob o qual está localizada Equipamentos de incisão: bisturi x eletrocautério Sem diferença significativa na taxa de infecção pós-operatória Sem diferença estatística significativa para determinar benefício de um equipamento em detrimento do outro, mas a eletrocirurgia é aceitável para incisão e pode diminuir a necessidade de analgésicos no pós operatório Bisturi Maior perda sanguínea (15mL) Maior incisão para realização de incisão (67 segundos) Maior dos PO (24h) Controle de infecção Antissepsia: utilização de clorexidina Antibioticoprofilaxia: cirurgias eletivas de abdome são potencialmente contaminadas, por isso, necessário fazer. Cefasolina é geralmente antibiótico de escolha (aproximadamente 30min antes) Higienização das mãos Técnica cirúrgica Classificação das laparotomias Quanto à finalidade Eletivas: objetivo definido e previamente agendadas Exploradoras: objetivo de definir diagnóstico Em relação à cicatriz umbilical Supra-umbilical Peri-umbilical Infra-umbilical Em relação à linha média do abdome Medianas: supra-umbilical, infra-umbilical, xifo-púbica Paramedianas: direita, esquerda Quanto à complexidade Simples: uma incisão Combinadas (associação de incisões): abdominais puras, tóraco-abdominais Em relação aos músculos retos Transrretais: por divulsão Pararretais Interna (Lannander): supra-umbilical, para- umbilical, infra-umbilical, xifo-púbica Externa (Jalaguier): supra-umbilical Quanto à direção Longitudinal: mediana, paramediana (pararretal interna/Lannander e externa/Jalaguier) Transversal: supra-umbilical (parcial/Sprengel ou total), infra-umbilical (parcial/Pfannestiel e Cherney ou total/Gurd) Oblíquas: subcostal (Kocher), diagonal epigástrica, estrela supra-umbilical, estrelada infra-umbilical (Mc Burney), lombo-abdominal, toracolaparotomia e toracofrenolaparotomia Combinadas: rio branco, Kebr (baioneta), Mayo-Robson, Alfredo Monteiro Incisões quanto à direção Extensão variável Passa pela linha alba ou paralelo a ela Tipos Mediana: supra/infra-umbilical, xifopúbica Paramediana Pararretal interna (Lennander) Pararretal externa (Jalaguier) Linha mediana Localização - Linha que vai do apêndice xifoide à sínfise púbica, passando pela cicatriz umbilical - Abertura: no entrecruzamento das fibras da bainha dos mm. reto-abominais, ou seja, não há secção de planos musculares Tipos: supra/infra-umbilica, xifopúbica Considerada “incisão universal” pois permite acesso a qualquer órgão (intrabdominal e retroperitoneal), e acesso mais rápido e menos hemorrágico - Acesso Vísceras abdominais Grandes vasos Órgãos pélvicos Órgãos retroperitoneais Obs: difícil acesso a retoperitoneo póstero-lateral (hilo real e via cava retro- hepática) Indicações - LE: sepse, trauma - Rápido acesso - Exposição - Probabilidade de expandir Vantagem: apenas ramos terminais dos vasos sanguíneos e nervos da parede abdominal estão localizados na linha alba, limitando assim o potencial de sangramento ou lesão do nervo Desvantagem: incisões supraumbilicais são sujeitas (altas incidências) a eviscerações e eventrações (devido ao fato de a região estar sujeita e maiores tensões, oferecendo apoio inseguro a suturas e má cicatrização) Linha paramediana Localização: 1,5 a 2cm à direita ou esquerda da linha mediana, de extensão variável, do rebordo condral até o púbis - “Secciona-se a lâmina anterior da bainha do músculo reto abdominal, paralelamente à linha mediana, afastando-o lateralmente, expondo a lâmina posterior do músculo, que é aberta juntamente com o peritônio, na mesma direção e extensão da incisão da lamina anterior (pararretal interna/incisão de Lennander)” - O músculo reto abdominal pode ser deslocado medialmente (pararretal externa/incisão de Jalaguier) quando infraumbilical ou atravessado por divulsão de suas fibras (transretal) “Incisão transretal é pouco usada e geralmente empregada em pequenas incisões para confecção de estomias (gastrostomia, jejunostomia, colostomia)” Indicação: apêndice, drenagem abscesso pélvico Desvantagens - Estão localizadas na posição onde as forças antagônicas se fazem em direção perpendicular à abertura, ou seja, possuem tendência em afastar as bordas suturadas risco de deiscência pós-operatória - Dolorosa aos mínimos esforços, levando a um reflexo de defesa protetor, diminuindo a amplitude respiratória, evitando também a tosse - Complicações pulmonares conhecidas: atelectasias pós-operatórias, acúmulo de secreção brônquica Acessos: limitado acesso à pelve contralateral Planos - 2 camadas de fáscia anterior do m. reto abdominal - Músculo - Vasos epigástricos inferiores e nervos Linha paramediana pararretal - Indicação: apendicite, drenagem de abscesso pélvico - Em desuso: denervação do m. reto adbominal (atrofia muscular) - Incisão paramediana pararretal interna (Lennander) Antes de terminar o m. reto abdominal De 2 a 5cm antes de terminar a linha alba - Incisão paramediana pararretal externa (Jalaguier) Uso limitado devido ao grande risco de lesão dos nervos que entram no músculo pela borda lateral Localização: segmento infraumbilical (permite bom acesso ao ceco, apêndice, anexos uterinos, caso seja realizada à direita; se for realizada à esquerda, bom acesso ao colon sigmoide e aos anexos uterinos à esquerda) Linha paramediana infraumbilical (Incisão de Battle): nomenclatura/técnica antiga usada para apendicite Incisão Plano sagital ou transversal Planos musculares podem ou não ser seccionados (dependem da extensão da incisão) Tipos Mc Burney Localização: fossa ilíaca direita Indicação: apendicetectomia (acesso ao quadrante inferior direito) Abertura: divulsão das camadas musculares Subcostal/Kocher Localização: segue paralelamente o rebordo costal, podendo ir do apêndice xifoide ao flanco - À direita: acesso a vesícula biliar e vias biliares (colecistectomia, cirurgia biléo-digestiva) - À esquerda: esplenectomias e adrenalectomias Ressecção hepática Desvantagens: estética, aumento da dor pós- operatória Chevron Transplante hepático Cirurgia duodenal Adrenalectomia Nefrectomia Mercedes-Benz Bypass cardiopulmonar Mobilização hepática Toracoabdominal Transtorácica + intra ou extraperitoneal Cirurgia vascular (aórtica) Localização: perpendicular ao plano sagital Incisões podem ser: ampla, total, estendendo-se de flanco a flanco e a linha mediana pode ser cruzada acima ou abaixo do umbigo Músculos reto abdominais são seccionados transversalmente; enquanto os músculos oblíquos (externo e interno) são seccionados obliquamente Segue as linhas de Langer: menor tensão na pele e esteticamente mais bonita Respeitam inervação da parede Características Aumenta o tempo cirúrgico (mais sangramento) Exposição limitada Se paciente obeso, dificulta exposição/acesso Desenvolvida incialmente para diminuir possibilidade de deiscência e/ou hérnia incisional Incisões transversais quando comparadas às longitudinais A abertura é na mesma linha de tensão predominante no abdome, ou seja, resguarda as bordas suturadas da tendência ao afastamento condicionado (ao contrário da deiscência) Lesões nos nervos intercostais são mínimas (ou nenhumas) pois o traçado é quase paralelo A secção muscular tem boa cicatrização em relação ao músculo reto anterior, formando uma nova interseção aponeurótica Desvantagens: abertura mais demorada, sangramento maior, fechamento exige mais tempo e técnica Incisões para cirurgia pélvica Incisão transversal supra-umbilical Parcial Sprengel/total - Realizadas no quadrante superior direito Incisão transversal infra-umbilical Excelente acesso à aorta abdominal e artéria ilíaca Parcial/Pfannestiel - Usadas em cirurgias ginecológicas (cesárea), abrindo o plano músculo- aponeurótico pela linda alba (como nas incisões longitudinais) - 2-5cm acima da sínfise púbica, sendo 10-15cm de extensão Desvantagem: maior tempo para abertura, maior risco de seroma, hematoma e infecção de ferida Contra-indicação relativa: infecção de abdome Cuidado: nervo íleo-hipogástrico e íleo-inguinal Maylard (Makenrodt) - EIAS indicação ginecológica complexa - Secciona músculo - Secção habitualmente ao nível da espinha ilíaca superior Cherney - Separação do tendão dos músculos reto abdominal e piramidal - Indiicação: espaço retro-púbico Total/Gurd - Bom acesso para colectomia e pancreatectomia Kustner Incisão transversa 5cm acima da sínfise púbica Não comumente utilizada Turner-Warwick Indicação: exposição retro-púbica 2 a 3cm acima da sínfise púbica Incisões de flanco: retroperitôneo, pielonefrite enfisematosa, nefrectomia Vantagem: incisão pequena, diminui chance de íleo, não mobiliza alças Desvatagem: exposição polo superior rim (esquerdo), pneumotórax Incisões Lombotomia: nefrectomia, pieloplastia pediátrica Vantagem: evitar acesso aos músuclos, menor dor no pós- operatório, acesso a pelve renal e ureter Desvantagem: acesso aos vasos renais Incisões Abdominais Acima ou na altura da cicatriz umbilical (mais comum na pediatria) Incisão transversa a partir de uma incisão mediana também é realizada a fim de se obter maior exposição Incisões Rockey-Davis ou Elliot Modificação do McBurney Incisões lombo-abdominais: acesso ao retroperitôneo: rim, ureter, veia cava, aorta, cadeia simpática e tumores retroperitoneais Incisão diagonal epigástrica permite boa exposiçãoao estômago Incisão estrelada supraumbilical de Arce: acesso ao colon ascendente, ângulo hepático e metade do cólon transverso Imagens abaixo 1: incisão Mercedes-Benz (toraco-abdominal) 2: incisão mediana estendida (incisão mediana ampliada: linha mediana supra-umbilical até região lombar ou flancolateral direita). Indicação: maior exposição do que só na linha mediana (ocorre em pacientes obesos) 3: incisão subcostal direita/Kocher (provavelmente vesícula) 4: incisão subcostal ampliada para o lado esquerdo (Chevron) Curiosidade: incisão prévia – paciente obeso Videolaparoscopia Menor dor no pós-operatório Retorno precoce ao trabalho Menor taxa de complicação pós-operatório Hérnia incisional Infecção de ferida Se incisão mediada prévia, lembrar de aderências Complicações: lesão de alças, lesão de vasos Acesso inicial: linha mediana (menos nervos e vasos) SNG Esvaziamento da bexiga Incisões Transumbilical: Hasson e Agulha de Veress Palmer: 3cm abaixo da margem subcostal esquerda na linha hemi- clavicular “Single incision laparoscopic surgery” (SILS): nefrectomia, apendicectomia, colecistectomia “Natural orifice transmluminal endoscopic surgery” (NOTES) Triangulação Evitar ser próximo a protuberâncias ósseas Deve ser fechada qualquer incisão > ou igual 12mm Instrumentais necessários definem tamanho de incisão Incisões na cirurgia robótica Lembrar Uma série de fatores se associam a incisão adequada para uma melhora cirúrgica: Diminuição do trauma tecidual Hemostasia adequada Posicionamento correto do paciente Iluminação adequada Há divergências na literatura a respeito de menor taxa de complicação das incisões oblíquas/transversas em relação à longitudinal, ou seja, a preferência de uma incisão em detrimento de outa cabe ao cirurgião
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