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Icterícia no paciente cirúrgico 1 Icterícia no paciente cirúrgico Conceito É a manifestação clínica dos níveis de bilirrubina plasmática acima de 2,0 mg/dl (normal: 0,2 – 0,8) Metabolismo da bilirrubina → Produzida a partir da destruição dos eritrócitos (hemocatarese). → Eritrócitos vivem em média 120 dias, depois são recolhidos pelos órgãos que possuem sistema retículo endotelial, como o baço, medula óssea e fígado. → Estes órgãos irão degradar a hemoglobina contida no seu interior. Formação da Bilirrubina: formada a partir do grupamento heme da hemoglobina → Ferro do grupamento heme é retirado e transformado em biliverdina → Biliverdina é reduzida e transformada em bilirrubina não conjugada ou indireta → Bilirrubina não conjugada (lipossolúvel) é transportada no sangue pela albumina vai para o fígado. → No fígado a bilirrubina não conjugada é conjugada com o ácido glicurônico, formando bilirrubina conjugada ou direta (glicuronato de bilirrubina). → Bilirrubina direta chega ao intestino duodenal vai para o intestino duodenal por meio das vias biliares. Sobre a icterícia → 1% dos eritrócitos saem por dia da circulação → O fígado conjuga normalmente 250-300 mg/dia de bilirrubina e pode conjugar mais – por isso a icterícia não aparecerá a menos que a produção de bilirrubina ultrapasse 3x o valor normal → Cada 500ml de sangue retido em tecidos ou em cavidades originam 75g de Hb que fornecem ao fígado aproximadamente 2,5g de bilirrubina que, mesmo íntegro, é incapaz de metabolizar em um dia BILIRRUBINA INDIRETA (BI): ainda não metabolizada no hepatócito (não excretada pela árvore biliar) Icterícia no paciente cirúrgico 2 → Icterícia pré-hepática BILIRRUBINA DIRETA (BD): já metabolizada no hepatócito → Icterícia hepática → Icterícia pós-hepática → 25% a 75% dos pacientes submetidos à cirurgia tem alterações nos exames laboratoriais do fígado 💡 Risco de icterícia em cirurgia eletiva Em pacientes sem doença hepática: mínimo [elevações discretas das aminotransferases ou enzimas de colestase são comuns] Em cirróticos: 47% Icterícia pós operatória → É a elevação de bilirrubinas que ocorre após um procedimento cirúrgico → Na vesícula e/ou vesículas vias biliares → Quando a doença básica/ procedimento não tem relação com a vesícula e/ou vias biliares Tipos: pré-hepática, intra-hepática, pós-hepática Abordagem do paciente com icterícia pós operatória História: → Tipo de procedimento cirúrgico: → Doença de base (das vias biliares ou não) → Transfusão sanguínea → Parâmetros hemodinâmicos transoperatórios → Anestésicos utilizados → Infecção → Nutrição parenteral total (pré e pós-operatória) → Drogas utilizadas → Doença hepática prévia Imagem: → USG → Colangiorressonância magnética – CRM Icterícia no paciente cirúrgico 3 → Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica – CRPE → TC Laboratório: ❗ Avaliação hepática: albumina, TAP (atividade de pró trombina) e bilirrubina (APENAS) Alterações que podem servir de alerta: (não é confirmatório) Possível lesão hepatocelular: Aumento de aminotransferases AST: transaminase do aspartato – TGO: mitocondrial ALT: transaminase de alanina – TGP: citoplasmática Possível obstrução canaliculares: aumento de fosfatase alcalina – FA: produzida nos canalículos biliares Possível colestase e processo expansivo: aumento de Gamaglutamiltranspeptidade – γGT: presente no hepatócito e vias biliares 💡 Importante solicitar sorologia para doenças suspeitas, como hepatites e leptospirose Icterícia Pré hepática: aumento da bilirrubina indireta, discreto aumento de ALT e AST e FA Hepática: aumento da bilirrubina direta e indireta, aumento de ALT e AST (valores superiores a 5 - 100), discreto aumento de FA Pós hepática: aumento de bilirrubina direta e FA, aumento de γGT, pode ter um discreto aumento de bilirrubina na indireta Causas de icterícia pós operatória Pré-hepática: sobrecarga de bilirrubina não conjugada Hemólise: transfusões maciças, drogas (halotano, sulfas, acetaminofeno), crises de anemia falciforme, doenças autoimunes, talassemias Reabsorção de hematomas Hepática: sobrecarga de bilirrubina não conjugada/conjugada Necrose hepatocelular: ligadura acidental da artéria hepática Colestase intra-hepática: obstrução, sepse, nutrição parenteral total por longos períodos, drogas Icterícia no paciente cirúrgico 4 Pós hepática: sobrecarga de bilirrubina conjugada Obstrução extra-hepática: ligadura/ estenose das vias biliares; cálculo residual, pancreatite pós operatória, tumor, coleperitônio em órgão vizinhos Absorção de bile da cavidade abdominal: biloma Pode ocorrer por: Escape da ligadura do ducto cístico: pode ocorrer por grampeador ou por amarração com fio. Dessa forma, a bile extravasa na cavidade abdominal. Lesão da vesícula biliar. Presença dos canais Luschka (ductos subvesiculares): são pequenos ductos biliares derivados da parede da vesícula biliar e fazem comunicação com o parênquima hepático, ou seja, drenam uma parte da bile produzida para o interior da vesícula. Quando são rompidos em uma cirurgia, promovem o extravasamento de bile para a cavidade abdominal também. Colestase intrahepática → É um tipo de icterícia pós-operatória → É a estagnação de bile dentro do fígado → Alteração no fluxo biliar tanto em hepatócitos quanto na árvore biliar intra- hepática com dificuldades de escoamento de bile pelos canalículos intra-hepáticos Causas: → Infecção (sepse): pós-operatório de doenças que cursaram com peritonite. Pode ser resultado de: → Invasão bacteriana direta do fígado → Hemólise → Produção de endotoxina com piora do transporte de bilirrubina → Impedimento ao fluxo biliar canalicular – falência da capacidade secretória do hepatócito – acúmulo no sangue → Nutrição parenteral total: por excesso de calorias oferecidas – infiltração gordurosa do fígado por excesso de glicose → Drogas 💡 Comprometimento dos ramos de maior calibre da árvore biliar intra- hepática também pode ocorrer por tumores compressivos e pela litíase intra-hepática. Icterícia no paciente cirúrgico 5 Cirurgias que causam colestase pós hepática Colecistectomia: ressecção cirúrgica da vesícula biliar. Pode levar a icterícia por: → Cálculo migrado para o colédoco – residual → Ligadura da via biliar principal (videolaparoscópica) – recente → Absorção de bile da cavidade abdominal: Soltou a ligadura do cístico, Lesão de via biliar, Canalículos de Luschka (cirurgião não percebe a sua existência e não realiza a sua ligadura, permitindo que a bile extravase para a cavidade abdominal) → Estenose cicatricial de via biliar – icterícia tardia Consequências de cirurgias sem relação com a vesícula e/ou vias que podem causar icterícia: → Infecção: pode causar colestase (principal causa) → Lesão da via biliar por proximidade do órgão operado (exemplo gastrectomia) → Absorção de hematomas → Drogas Observação: cirrose hepática tem duas causas a pós-hepatite e o alcoolismo. Pode ser uma causa de icterícia não operatória. Nathália Farias @medicinathy
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