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Análise Institucional A Análise Institucional surge nos anos 70 como uma abordagem que propõe, através da articulação de conceitos e instrumentos de análise, a partir da emergência de dispositivos que venham a provocar os sujeitos constitutivos de tal instituição, a transformação dessas instituições e suas ações. Propõe Lapassade, em 1963, chamar de Análise Institucional o método que visa revelar, nos grupos, esse nível oculto de sua vida e de seu funcionamento. A dialética dos grupos em lugar da dinâmica dos grupos, tem, para Lapassade, suas bases teóricas em duas obras fundamentais: Fenomenologia do Espírito de Hegel e Crítica da razão dialética de Sartre. Assim, a dialética dos grupos ou sócio análise, no dizer de Lapassade, passa a ser a própria instituição que analisa seus aspectos ocultos ou reprimidos e, em geral, por conveniência, não revelados. Esses aspectos são aqueles referentes as reações entre analistas e analisandos que revelam a reprodução das relações de produção da sociedade, do saber e não- saber entre dirigentes e dirigidos. Dito de outra forma, o objetivo do sócio análise ou análise institucional é a análise da transversa/idade do grupo e a elucidação. da "transferência institucional". 3 LINHAS PARA A CONSTITUIÇÃO DA ANÁLISE INSTITUCIONAL NA FRANÇA DOS ANOS 1960 • Experiências da Psicoterapia Institucional lidadas ao hospital psiquiátrico de Sant Alban (Felix Guattari); • Experiências de Pedagogia Institucional e as práticas questionadoras da educação vigente (Rene Lourau e Georges Lapassade). • Experiências da Psicossociologia trazidos no pós-guerra (Kurt Lewin, Rogers, Moreno, dentre outros). De acordo com Georges Lapassade, sociólogo francês, as instituições são “formas”, ou seja, são produto históricos de uma sociedade instituinte que produzem e reproduzem as relações sociais e se instrumentalizam em estabelecimentos e/ou dispositivos. Apropriando-se desse jogo constitutivo entre instituído (formas) e instituinte (processo), vão analisar as situações de institucionalização quando chamados a intervir em organizações e grupos. KURT LEWIN E A PESQUISA-AÇÃO • Nessa mesma década (anos 70), a psicanálise e os movimentos políticos entraram em cena para questionar alguns postulados da pesquisa-ação; • O rompimento com a ciência positiva é bem-vista, contudo, a metodologia mantinha as dicotomias sujeito-objeto e teoria-prática. O objetivo da ação na pesquisa é determinado pela encomenda de trabalho, visando à otimização do funcionamento social, o que revelava uma pressuposição de ordem social naturalizada e uma desordem tomada como patológica; • O pesquisador era visto como privilegiado agente da mudança, o que também revelava, mesmo que na técnica do T-Group se tenha incluído os formandos, que essas fronteiras ainda existiam fortemente (PASSOS e BENEVIDES, 2000). As pesquisas em psicossociologia levaram psicólogos e sociólogos a concluir, contestar t: demonstrar que a origem e o sentido do que se passa nos grupos humanos devem ser buscados: a) no que aparece no nível visível do que se chama dinâmica de grupo; b) na dimensão oculta, não analisada e, portanto, determinante, a dimensão institucional. A dimensão institucional é revelada através da análise institucional. Ela visa revelar, nos grupos, esse nível oculto de sua vida e de seu funcionamento. Esse duplo aspecto tem levado a duas psicoterapias: a) psicoterapia de grupo; b) psicoterapia institucional. Essas duas atividades mostraram que a terapia de grupo praticada, por exemplo, em coletividade hospitalar, não tem efeitos decisivos, desde que não se leve em consideração a dimensão institucional do hospital. Um grupo é sempre determinado por instituições. Se quisermos analisar o que se passa num grupo, seja natural ou artificial, psicológico ou experimental, é preciso admitir a hipótese previa de que o sentido do que se passa aqui e agora, de um grupo, liga-se ao conjunto do contexto institucional de nossa sociedade. Existe uma relação de interdependência entre os conceitos de grupo de organização e de instituição, que permitem nomear três níveis de sistema social. Eles servem para determinar três níveis de análise institucional. • Grupo - 1º nível • Organização - 2º nível • Instituição - 3º nível O primeiro nível é o do grupo. Define-se como o nível de base e da vida quotidiana. A unidade de base é a oficina, o escritório, a sala de aula. O segundo nível é o da organização. É o nível da empresa em sua totalidade. É a Escola, a Universidade, a Faculdade, o Estabelecimento Administrativo. O terceiro nível é o da instituição. É o nível do Estado que faz as Leis, que· confere as instituições a forca da lei. SOCIOANÁLISE Primeiras intervenções socio analíticas apostavam em intervenções de curta duração, a partir da instauração de crises ao operar sobre a dinâmica das relações grupais, fazendo evidenciar o não dito das relações. No decorrer dos anos, esta estratégia foi sendo substituída por ações longitudinais, visando mais a regulação do grupo do que ao seu desarranjo. Ao fazer parte do cotidiano da instituição, a socio análise se constituiu como uma ação não diretiva e teve como uma de suas diretrizes formativas a restituição dos resultados da pesquisa como forma de sulear suas intervenções. ANÁLISE DA ENCOMENDA “A análise da encomenda gera a demanda como o seu desdobramento problemático, expondo o emaranhado de forças contido no pedido de análise”. ANÁLISE DA OFERTA Na análise da oferta, coloca em xeque o próprio grupo-interventor como instituição que propõe um serviço, problematizando o modo como as intervenções podem gerar um especialismo e produzir ou modular as encomendas de intervenção que lhe são propostas. ANÁLISE DA DEMANDA A demanda não é desvelada, mas sim produzida no encontro. A encomenda se analisa para compreender a demanda de quem a trouxe, mas a demanda do grupo em questão se dá apenas em contato com esse grupo. Mesmo que o psicólogo leve algumas dinâmicas pensando em usá-las com a turma que vai atender, é sempre importante que esteja pronto para deixar de lado o que pensou a priori e fazer algo diferente que se encaixe com a demanda da turma em questão. CAMPO DE ANÁLISE E CAMPO DE INTERVENÇÃO Não tomar naturalmente a encomenda de intervenção é fazer uma pausa que permita a entrada do operador crítico. Ao contrário de Lewin, que aceitou a encomenda do governo americano para a mudança de padrões de comportamento da população, a A.I. objetiva não incorrer no uso utilitário da intervenção, montando sua direção no próprio ato de intervir. Não há separação entre o trabalho teórico e técnico, entre a intervenção e os operadores conceituais, entre campo da intervenção e campo de análise. Estes domínios se distinguem sem se separar de modo que a intervenção altera as formas de fazer e as formas de pensar a realidade da instituição. GUATTARI E O CONCEITO DE TRANSVERSALIDADE Ajudou a sustentar a inseparabilidade do campo de análise e do campo de intervenção. Gestado nas experiências de Sant Alban como forma de tentativa de superação, nas organizações psiquiátricas da hierarquia vertical e da igualdade horizontal, introduzindo no pensamento institucional outras formas de relação entre os grupos que denominou de grupos sujeitos e grupos sujeitados. • Conceito de transferência dá lugar ao de transversalidade (abertura ou quanta de transversalidade); • Inseparabilidade da clínica e da política. CAMPO DE IMPLICAÇÃO Remete ao conceito psicanalítico de contratransferência. Transferência e contratransferência institucionais são noções que ganham sentido socio analítico em um campo de intervenção institucional no qual estão todos implicados, aí incluído o próprio grupo-interventor. Implicação Institucional: se refere ao conjunto das relações entre o “ator”e as instituições; • Implicação prática: indica as relações que o “ator” mantém com as bases materiais das instituições (o estabelecimento e organização); • Implicação sintagmática: mostra as relações interpessoais que os grupos apresentam, ou seja, os fantasmas de grupo; • Implicação paradigmática: delimita a relação entre o saber e o não saber do grupo, ou seja, os códigos e regulamentos da organização; • Implicação simbólica: diz respeito à “própria sociabilidade, o vínculo social”. Intervir não é observar de fora um objeto dado, mas construí-lo de dentro, ao mesmo tempo construindo a si mesmo no momento da intervenção.
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