e, todavia, toda a verdade. Em tempos idos, embora este numero fosse profundamente mais limitado, 0 equivoco na escolha existia,fazendo com que 0 status de se formar em uma universidade jogasse 0 aluno em uma delas, pelos fatores mais diversos, entre eles 0 da facilidade de ingresso no vestibular. Este desajuste na escolha dava lugar ao chamado "escoadouro das voca<;:oesmaldefinidas", que passava a abrigar todos aqueles que, ap6s terem cursado uma faculdade, jamais exerciam a profissao! Para Hackman e Davis (1953), a escolha adequada de uma profissao depende daquilo que cham am de "identidade vocacional". Essa identidade come<;:aa ser esbo<;:adano periodo final da adolescencia, quando frequentemente 0 adolescente principia a fazer uma sele<;:aode seu campo de interesse, por meio de fatores varios, urn deles certamente ligado ao desenvolvimento da personalidade. Ginzberg (1969) procura demonstrar que, para ser atingida a identidade vocacional, 0 individuo passa por tres fases, a saber: 1. fase da fantasia: a crian<;:apensa na profissao em termos de urn sonho, sem nada compreender a respeito de sua fantasia. Neste periodo e que 0 menino da classe media deseja ser jogador de futebol, artista, bombeiro, ou seja, aquilo que no momenta ele admira; 2. fase da escolha: baseada nos valores pessoais, passa a pensar numa profissao em termos de realiza<;:aocomo pessoa humana; 3. fase realista: jana altura dos dezessete arros,come<;:aa explorar as possibilidades concretas de sua op<;:aopro fissional. A escolha da profissao e algo dinamico, orientado para 0 futuro. Quando a "identidade vocacional" estabele-se cedo, 0 individuo a segue sem maiores problemas. Quando esta identidade ainda nao se formou, de passa a agir como no processo de tentativa de erro e acerto. A idade em que uma identidade se forma apenas poupa de maiores sofrimentos os jovens, e nao tern valor significativo se ela se faz tardiamente. Poi 0 que aconteceu com 0 psic610go e fil6sofo WilliamJames, que, nas incertezas, chegou a refugiar-se na hipocondria. Escolheu a Medicina, mas foi muito mais psic610go e fil6sofo que medico. Em contraposi<;:ao,Grimberg, citado por Meleiro (1994), relata que Laennec, 0 inventor do estetosc6pio, embora passando agruras, mas em urn ambiente propicio, fez escolha precoce e acertada da profissao. A complexidade do assunto e de tao grande porte, pelas suas inumeras variaveis, que existem numerosos metodos que tentam avaliar 0 acerto da escolha pro fissional. Dentre eles temos a aferi<;:aodo grau de satisfas;ao,que deixa clara a existencia de ciclos de satisfa<;:aovocacional, que variam com as diferentes idades ou fases da vida. Dentre os aspectos pelos quais passam os adolescentes em busca do estabelecimento do seu ego, importante e a questao da defini<;:ao de sua identidade vocacional. Durante as primeiras fases em que tentam estabelecer a identidade do ego, 0 que existe na realidade e uma difusao de papeis: identificam-na com lideres do grupo a que pertencem, com her6is do esporte, cinema, enfim com her6is de todos os tipos. A difusao e de tal ordem e profundidade, que alguns deles chegam ao estado de quase perda total da pr6pria identidade de seu ego. Nesta diversidade de identifica<;:ao,raramente se identificam com seus pais; ao contra do, rebelam-se contra o dominio dos mesmos, e tudo 0 que as figuras parentais conseguem e uma resposta contraria a seus propositos: hi uma verdadeira necessidade de se distanciar dos desejos dos mesmos. Contudo, em, contraposi<;ao, hi necessidade quase desesperada de pertencer a urn grupo social. E ai e agora que passam a ter valor inestimivel 0 grupo de amigos e de seu grupo, que the permitem se enquadrar em um contexto social. Desta valoriza<;ao surge 0 sentimento de cla e a indiferen<;a total para com os "grupos diferentes". Segundo Erikson (1950), trata-se de ,uma defesa necessaria contra os perigos da auto difusao existente neste periodo. E 0 periodo de grande atra<;ao pelos sistemas totalitarios, formando a identidade. A "identidade democratica Ira emergir mais tardiamente, pois ela envolve a liberdade de escolha". E, conseqiientemente, 0 periodo do preto ou branco, numa dicotomia onde nao cabem as tonalidades intermediarias. Do acima referido observa-se a dificuldade e 0 perigo da escolha vocaeional, que tem de ser realizada nesta Ease. Dai as inumeras conseqiiencias desastrosas da escolha. 0 que nos leva a decidir pela Medicina, nesta periodo em questao? A mutabilidade desta fase, quando ainda se encontram, sem saber, no "reinado pelas fantasias", pode torna-los estudantes inconformados e futuros medicos frustrados. Estas condi<;6es psicossociais em que se encontram, por ocasiao da escolha, implicam a heterogeneidade dos colegas de turma, que vai desde os possuidores de urn puritanismo exacerbado ate os colegas extremamente liberais. A pos-adolescencia ou a adolescencia tardia traz consigo urn problema que e 0 da "fantasia do salvamento"; em vez de dominar as tarefas da vida, ele espera que urn ambiente benevolo venha resolver seus problemas. Esta fantasia adolescente de salvamento nao deve ser confundida com aquela descrita por Freud, em 1910, express a pelo "impulso de salvar a pessoa amada". Esta segunda e marcada pelo desejo de salvar alguem, ao passo que a primeira refere-se ao desejo de ser salvo por uma ::>essoa,atraves da sorte, ou privilegio. 0 referendal desta e 0 "SE": "se" eu Fosse ~asado, "se eu Fosse residente, "se" meu nome Fosse outro etc, ete. E aqui, neste ponto, que devemos falar no problema da voca<;ao. Quando se :ala em voca<;ao medica, a referencia se faz principalmente para as atividades clinicas ~eirurgicas, e nao para toda uma constela<;ao de disciplinas que envolve hoje a vfedicina moderna. o ideal medico deve-se constituir na vontade de socorrer, no' arnor ao proximo no espirito de sacriffcio. Em contrapartida, 0 outro componente varia con forme 0 ~mpo, porquanto cada epoca possui urn ideal medico. Cada epoca exige e aguarda Jisa diferente do medico. omedico moderno nao po de mais limitar-se a cuidar tao somente do individuo. sta compelido a participar mais ativamente da vida c6letiva. Dai a necessidade de argar seus conhecimentos no que tange aos problemas da comunidade (a automa<;ao, :omputa<;ao,o emprego de novas tecnicas bio-clinicas e de aparelhos sofisticados). ai, portanto, a abertura do "sentido vocacional", e a necessidade de novas tecnicas : aferi<;ao desse potencial vocacional, que referimos no inicio deste capitulo. Explica mbem, como vimos anterior mente, aquele fato que logo chama a aten<;ao: a terogeneidade dos colegas de turma (Meleiro, 1994). su: Es na 1m ex] de ao de da ep tar soJ me ae SUI caJ pe V1~ de Na decada de cinqiienta, ainda como estudante de Medicina, um de nos teve a oportUnidade de entrevistar 0 Prof. Pacheco e Silva e 0 sabio espanhol Gregorio Maranon, que nos visitava na ocasiao. Das anotac;oes feitas na epoca, descrevemos 0 pensamento de cada urn deles a respeito da vocac;ao medica. Para Maranon, avocac;ao medica genuina e muito parecida com 0 amor. A paixao tern caracteristicas diferentes do amor: exige exclusividade do objeto amado e absoluto desinteresse em servi-Io. Nissa se distingue do amor. Melhor vocibulo existe em portugues, que e a expressao "querer". Quer-se, por exemplo, uma mulher, mas quere-Ia e aspirar a possui-la: conseqiientemente, e uma paixao radicalmente interesseira; ao passo que 0 amor procura 0 objeto amado, sem 0 querer para si, para possui-Io. 0 mais alto exemplo e 0 seguinte: ''Ama-se, mas nao se quer a Deus". Pacheco e Silva concorda que a vocac;ao medica e uma forma· de amor, com suas atitudes espedficas: ac;aointransferivel para 0 seu objeto e espirito de sacrificio. Estes do is aspectos revelam-se: sua pratica gratuita aos pobres (e aos que tambem nao 0 sao), tantas vezes comparavel ao sacerdocio e sua estreita ligac;ao com a investigac;ao cientifica pura. A fun<;ao apostolica e 0 recurso ao born senso saG expressao da personalidade do medico. 0 valor