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Plano de Aula 5

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Plano de Aula: 5 - Psicologia Aplicada ao Direito
Tema
Sociedade: Grupos; Organizações; Instituições. Análise do poder nas Organizações
Objetivo
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
·   Conhecer as diferenças entre grupos, organizações e instituições, na sociedade, segundo a Psicologia Social;
·   Identificar alguns processos que ocorrem nos grupos e os diferentes tipos de grupos;
·   Interpretar as estruturas de poder nas organizações.
Estrutura do Conteúdo
A proposta desta aula é chamar a atenção do aluno para as diferenças entre os conceitos de grupo, organizações e instituições, além de apresentar algumas características dos grupos sociais.
 
Conteúdos:
O professor deverá demonstrar aos alunos a importância do viver em sociedade para a formação do indivíduo. Serão apresentados os conceitos de: instituição, como valor ou regra social reproduzida no cotidiano como estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas. Para a formação destes valores ou regras é necessário que o professor explique o processo de institucionalização que ocorre em cada sociedade, em cada cultura. As organizações devem ser apresentadas aos alunos como a base concreta da sociedade, ou seja, o polo prático das instituições. Por fim, o professor levará o aluno a conhecer a importância do estudo dos grupos para a Psicologia e para o Direito. A dinâmica dos grupos deverá ser estabelecida juntamente com o processo grupal. Diferentes tipos de grupos e de liderança deverão ser descritos.
 
O aluno deve compreender as estruturas de poder que permeiam as organizações, com enfoque, especial, nas organizações penitenciárias.
 
Conteúdos:
O professor deverá apresentar ao aluno algumas noções sobre a representação do poder para Michel Foucault. Deverá ser uma explanação introdutória, dada a complexidade do tema. Foucault, com o tema do poder, rompe com as concepções clássicas deste termo. Para ele, o poder não pode ser localizado em uma organização ou no Estado. O poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades práticas e subjetividades. Para analisar o poder Foucault desenvolve o conceito de poder disciplinar. Este tipo de poder deve ser exemplificado através da forma como ele ocorre nas prisões.
Psicologia da Tirania 
Comportamentos autoritários e brutais dependem da personalidade e da organização social. Grupos não suprimem valores e crenças pessoais, mas tendem a acirrar características individuais 
por S. Alexander Haslam e Stephen D. Reicher.
Imagens de desumanidades e atrocidades estão gravadas em nossa memória. Judeus - homens, mulheres e crianças - sendo levados para as câmaras de gás. Vilas inteiras destruídas por bandos enfurecidos em Ruanda. Reincidência sistemática de estupro e destruição de comunidades como estratégia de "limpeza étnica" nos Bálcãs. O massacre de My Lai no Vietnã do Sul, a tortura de prisioneiros iraquianos em Abu Graib e, mais recentemente, a carnificina causada por ataques suicidas de homens-bomba em Bagdá, Jerusalém, Londres e Madri. Quando refletimos sobre esses fatos, uma pergunta é inevitável: O que faz com que as pessoas sejam tão brutais? Elas têm problemas psiquiátricos? São produto de famílias desajustadas? Será que dadas as condições certas - ou melhor, erradas - qualquer um é capaz de protagonizar atos extremos de violência coletiva? As pesquisas mais recentes, incluindo o que é, provavelmente, o maior experimento de psicologia social das últimas três décadas, estão abrindo novos caminhos para a explicação desses enigmas. 
As perguntas sobre a crueldade coletiva foram responsáveis por alguns dos maiores desenvolvimentos da psicologia social desde a Segunda Guerra. Começando pela necessidade de entender os processos psicológicos que tornaram possíveis o horror do Holocausto, os cientistas têm procurado saber como pessoas, aparentemente civilizadas e decentes, podem perpetrar atos tão pavorosos.
Inicialmente, os teóricos procuraram explicar o comportamento patológico de alguns grupos por meio do estudo da psicologia individual. Em 1961, a historiadora e filósofa-política americana, de origem alemã, Hannah Arendt, acompanhou, em Jerusalém, o julgamento de Adolf Eichmann, um dos principais mentores do Holocausto. Ela concluiu que o acusado, longe de apresentar uma "personalidade sádica e pervertida" (como afirmavam os psiquiatras da acusação), era um homem comum e surpreendentemente simples. Arendt afirmaria que Eichmann era a encarnação da "banalidade do mal".
Publicada em 1963, na revista New Yorker, a análise de Arendt foi considerada chocante e herética. No entanto, vários estudos feitos, na mesma época, chegaram às mesmas conclusões da filósofa. Em experimentos realizados em acampamentos de verão no final da década de 50, o psicólogo social Muzafer Sherif, nascido na Turquia e naturalizado americano, descobriu que meninos em idade escolar se tornavam cruéis e agressivos com seus colegas quando colocados em grupos que tinham de competir por recursos escassos.
Ainda mais impressionantes são os estudos sobre obediência realizados na Universidade Yale, no começo dos anos 60, por Stanley Milgram. Em experiência simulada sobre a memória, homens comuns foram orientados a dar choques com intensidade crescente numa pessoa que se passava por aluno (era na verdade um assistente do coordenador da pesquisa, e não sentia os choques). Todos os "professores" estavam dispostos a aplicar "choques intensos" de 300 volts e dois terços deles fizeram tudo que o coordenador da pesquisa pediu, dando o que acreditavam ser choques de 450 volts. Os participantes da experiência continuaram a punir os alunos mesmo depois de saberem que eles tinham problemas cardíacos e de ouvi-los gritar de dor. Milgram concluiu que "a concepção de banalidade do mal de Hannah Arendt está mais próxima da realidade do que gostaríamos de imaginar".
Essa linha de pesquisa teve seu ponto culminante no "experimento do prisioneiro", realizado pelo psicólogo Philip G. Zimbardo, na Universidade Stanford, em 1971. A pesquisa distribuiu, aleatoriamente, estudantes universitários nos papéis de prisioneiro ou de guarda numa prisão simulada. Estudaram-se a dinâmica intra e a intergrupal por duas semanas. Os guardas (com Zimbardo no papel de supervisor) exerceram poder de forma tão cruel que o experimento teve de ser suspenso apenas seis dias depois de iniciado.
Os pesquisadores concluíram que membros de grupos não conseguem resistir à pressão da posição que assumem e que a brutalidade é a expressão "natural" de papéis associados a grupos que têm poderes desiguais. Duas máximas com enorme influência, tanto no nível científico como no cultural, surgiram em consequência do experimento de Stanford. A primeira é que os indivíduos perdem a capacidade de realizar julgamentos intelectuais e morais quando estão em grupo; portanto, os grupos são perigosos por natureza. A segunda é que as pessoas têm um impulso inevitável de agir de modo tirânico quando se reúnem coletivamente e detêm poder.
O impacto do experimento de Stanford se deve tanto às suas descobertas impressionantes como às conclusões simplistas que suscitou. Com o passar dos anos, no entanto, os psicólogos sociais começaram a questionar as conclusões que o senso comum tirou da experiência.
A ideia de que grupos dotados de poder se tornam automaticamente tirânicos não leva em consideração a liderança efetiva que os pesquisadores desempenharam. Zimbardo teria dito o seguinte a seus guardas: "Podem criar nos prisioneiros um sentimento de medo em algum grau e uma noção de arbitrariedade de modo que a vida deles pareça depender completamente de nós. Prisioneirosnão têm liberdade para agir, não podem fazer nem falar nada sem a nossa permissão. Nós vamos roubar sua individualidade de diversos modos".
Outro questionamento leva em conta que grupos não praticam apenas atos antissociais. Em pesquisas - como na sociedade - os grupos, em geral, surgem como meio de resistir à opressão e aos incentivos para agir destrutivamente. Em estudos parecidos com os testes de obediência de Milgram, os participantes eram muito mais propensos a resistir aos aplicadores da pesquisa quando eles eram apoiados por outros participantes que também desobedeciam aos aplicadores.
Além disso, estudos realizados após o experimento de Stanford têm confirmado os aspectos dos grupos que são enriquecedores e positivos para a coletividade. Uma abordagem sobre grupos bastante influente na psicologia social contemporânea é a da identidade social, desenvolvida em 1979 pelos psicólogos sociais John Turner, atualmente na Universidade Nacional da Austrália, e Henri Tajfel, então na Universidade de Bristol, Inglaterra. Essa teoria sustenta que é sobretudo em grupo que as pessoas - especialmente aquelas que são desprovidas de poder - podem se tornar agentes efetivos que desenham seu próprio destino.
Quando compartilham uma identidade (por exemplo, "somos todos americanos", "somos todos católicos"), os indivíduos procuram o consenso, confiam mais uns nos outros, são mais propensos a seguir os líderes dos grupos e formam organizações mais eficientes. Isso é evidenciado nos extensos estudos sobre cooperação em grupos conduzidos recentemente por Steven L. Blader e Tom R. Tyler, da Universidade de Nova York. Os estudos concluíram que as pessoas podem se unir para criar um mundo social baseado nos valores que compartilham - gerando um estado de "autorrealização coletiva", o que é muito bom para o bem-estar psicológico. Possuir o apoio social para controlar o seu destino pode fazer com que o indivíduo tenha maior autoestima, menos stress e níveis mais baixos de ansiedade e pressão.
 
Preservação da identidade
As pessoas que compartilham senso de identidade em grupo apresentam duas características sociais preponderantes. Primeiro, não perdem a capacidade de fazer julgamentos, mas a base de suas decisões se desloca de suas noções individuais para as crenças coletivamente estabelecidas.
Como foi demonstrado por estudos de campo realizados por um de nós, Reicher, mesmo as ações coletivas mais extremas, como uma rebelião, apresentam padrão de comportamento que reflete crenças, normas e valores do grupo. Segundo, as respostas das pessoas variam de acordo com qual noção de pertencimento a um grupo é mais forte em cada momento. Normas e valores que usamos em nosso trabalho, na condição de empregados, podem ser diferentes daqueles que nos governam como fiéis em nossos lugares de devoção, como militantes em uma manifestação política ou como patriotas durante o hasteamento da bandeira.
Assim, ao contrário das conclusões tiradas a partir do experimento de Stanford, os teóricos da identidade social têm argumentado contra a ideia de que as pessoas aceitam automaticamente a filiação a grupos que outros atribuem a elas. Com muita frequência, os sujeitos se distanciam dos grupos, principalmente aqueles que são desvalorizados na sociedade.
Por exemplo, na década de 70, Howard Giles e Jennifer Williams, ambos da Universidade de Bristol, chamaram a atenção para o fato de que muitas mulheres reagiam à desigualdade menosprezando seu próprio gênero, enfatizando qualidades pessoais e buscando o sucesso. Apenas quando elas acreditam que não podem escapar - isto é, quando os limites entre os grupos são "impermeáveis", como argumentaram as feministas quando apontaram o "telhado de vidro" - elas se identificarão com o grupo desvalorizado e agirão coletivamente. Além disso, elas somente estarão preparadas para usar o seu poder coletivo para confrontar o status quo e tentar melhorar a posição de seu grupo se acharem que o sistema social é suscetível a mudanças. 
Uma grande quantidade de pesquisas, incluindo experimentos controlados de laboratório, extensos levantamentos por questionários e observações de campo detalhadas, corrobora a abordagem da identidade social. Ainda assim, até recentemente, não havia um único estudo do tipo realizado por Sherif, Milgram e Zimbardo que pudesse ilustrar e combinar as várias proposições da teoria de modo amplo e convincente. Mais do que isso, parecia impossível realizar um estudo desses. Apesar de todas as dúvidas que pairam em torno do experimento de Stanford, sua própria radicalidade parecia tolher projetos nos mesmos moldes. 
A situação mudou com o recente experimento do prisioneiro realizado pela BBC. Colaboramos com a pesquisa da British Broadcasting Corporation, que a financiou e televisionou em quatro documentários de uma hora cada. 
Nosso primeiro desafio foi desenvolver procedimentos éticos para garantir que, apesar de sua intensidade, o estudo não causaria mal a seus participantes. Instituímos uma série de medidas de proteção, apoio psicológico em tempo integral e uma equipe de ética. Segundo as conclusões do relatório da equipe, mostramos que é possível conduzir estudos de campo dinâmicos com balizamento ético.
 
O experimento da BBC
Como no experimento de Stanford, o da BBC dividiu aleatoriamente guardas e prisioneiros em um ambiente construído especialmente para isso. O cenário era uma prisão, mas nosso objetivo era representar uma classe mais ampla de instituições - escritório ou escola - em que um grupo tem mais poder e privilégio que o outro. Acompanhamos o comportamento dos participantes através de câmeras escondidas e monitoramos seu estado psicológico com testes diários. O bem-estar de cada um foi medido pela quantidade de cortisol - um indicador de stress - coletado da saliva. 
Apesar de termos seguido o mesmo paradigma do experimento de Stanford, nossa pesquisa era diferente em muitos pontos. Para estudar as dinâmicas de grupo, sem interferir diretamente nessas interações, não presumíamos nenhum papel específico na prisão, ao contrário de Zimbardo. Além disso, manipulamos características de hierarquia que, de acordo com a teoria da identidade social, deveriam afetar a identificação dos prisioneiros com seu grupo e as formas de comportamento que eles adotariam em consequência disso. Mais importante, no entanto, foi que nós variamos a permeabilidade dos limites dos grupos, permitindo oportunidades de promoção de um prisioneiro a guarda, mas depois eliminando-as. Esperávamos que, com a possibilidade de promoção, os prisioneiros procurassem rejeitar sua identidade e trabalhassem para melhorar sua própria posição. Prevíamos que essa estratégia reforçaria o status quo e permitiria aos guardas manter ascendência sobre os prisioneiros. Depois de suprimida a possibilidade de promoção (no terceiro dia), achávamos que os prisioneiros começariam a colaborar entre si para resistir à autoridade dos guardas. 
Os resultados confirmaram as previsões. Inicialmente, eles eram submissos e trabalhavam duro para melhorar sua situação. Passaram a se identificar como grupo e pararam de cooperar com os guardas apenas quando ficaram sabendo que continuariam a ser prisioneiros, apesar de todo e qualquer esforço. Mais importante, essa identidade compartilhada levou a uma melhor organização, eficiência e bem-estar psicológico. À medida que o experimento avançava, os prisioneiros se tornavam mais confiantes. 
Os guardas, contudo, nos surpreenderam. Vários deles, assombrados pela ideia de que a associação de grupos e poder é perigosa, relutavam em exercer controle. Desconfortáveis com suas tarefas, discordavam de outros guardas sobre como desempenhar seus papéis e não chegaram a desenvolver um senso de identificação. Essa ausência de identidade levou à diminuição da capacidade organizacional, o que reduziu a eficiência em manter a ordem e os deixou, cada vez mais, desanimados e esgotados. Com o progresso do experimento, a administração dos guardas ficou mais e mais frágil. 
Depois deseis dias, os prisioneiros se uniram para desafiá-los. A essa altura eles estavam bastante divididos. A situação levou a uma fuga organizada e ao colapso da estrutura guarda-prisioneiro. Sobre as ruínas do antigo sistema, prisioneiros e guardas criaram, espontaneamente, um sistema mais igualitário - em suas palavras, "uma comuna autogovernada e autodisciplinada". Mais uma vez, no entanto, alguns dos membros se sentiam desconfortáveis com a ideia de exercer poder. Eles não puniam os indivíduos que se negavam a realizar as tarefas que lhes eram atribuídas e quebravam as regras do acordo. 
Nesse ponto tivemos uma segunda surpresa. Os participantes passaram a não acreditar que poderiam manter a comuna funcionando, o que deixou seus membros completamente perdidos. Como resultado, alguns prisioneiros e guardas tramaram um golpe que os tornariam os novos guardas: requisitaram boinas pretas e óculos escuros como símbolos de uma nova forma de comando autoritário sobre os demais. Eles queriam recriar a divisão guarda-prisioneiro, mas desta vez assegurando controle sobre os prisioneiros - até mesmo com o uso da força, caso necessário.
Esperávamos que os apoiadores da comuna defendessem a estrutura democrática que tinham adotado. Não foi o que aconteceu - ao contrário, eles careciam de vontade individual e coletiva para desafiar o novo regime. Dados psicológicos indicavam que eles haviam se tornado mais autoritários e dispostos a aceitar líderes severos. 
De qualquer modo, o golpe não ocorreu. Por razões éticas, não podíamos correr o risco de permitir uso da força como ocorreu no experimento de Stanford, o que nos levou a encerrar o estudo no oitavo dia. Se, por um lado, o resultado final era parecido com o de Stanford, o caminho que os participantes de nossa pesquisa tomaram para chegar a esse ponto foi muito diferente. O fantasma da tirania claramente não era resultado da ação "natural" dos grupos. A tirania surgiu por causa da falência desses grupos: entre os guardas, por causa da dificuldade de criar laços de coesão; no caso da comuna, pelo fracasso na tarefa de transformar crenças coletivas em realidade.
 
Lições para a sociedade
Por que os participantes que haviam rejeitado desigualdades impostas e que lutaram para estabelecer um regime democrático terminaram optando pela tirania? Encontramos a resposta em um corolário básico de nossos argumentos. Grupos, segundo definimos, são orientados para a realização individual. Usam o poder social para assegurar comportamentos baseados na imagem que fazem de suas crenças e valores comuns. Mas quando os grupos não conseguem produzir esse modo de funcionamento, seus membros se tornam mais dispostos a aceitar outras estruturas sociais, mesmo se os novos sistemas não vão ao encontro de seu modo de vida.
Assim, quando os guardas não conseguiram impor sua autoridade, eles se tornaram mais dispostos a concordar com a democracia. Entretanto, e de modo mais preocupante, quando a comuna caiu por terra, seus membros se tornaram menos propensos a defender a democracia contra a tirania. 
Desse estudo, e de outras pesquisas sobre processos de identidade social, podemos tirar importantes conclusões. Em termos gerais, concordamos com Sherif, Milgram, Zimbardo e outros que a tirania é o resultado de processos de grupo, não de patologias individuais. Discordamos, no entanto, no que se refere à natureza desses processos. De nosso ponto de vista, as pessoas não perdem a cabeça quando estão agrupadas, não sucumbem inapelavelmente aos requisitos de seus papéis sociais e não abusam automaticamente do poder coletivo. Pelo contrário, identificam-se com grupos apenas quando esse processo tem sentido para elas. E quando o fazem, tentam, de forma consciente e ativa, implementar valores coletivos - e o modo como elas exercem o poder depende desses valores. Em suma, grupos não impedem seus participantes de escolher - ao contrário, oferecem a seus integrantes bases e meios para exercer suas escolhas. 
Evidentemente, esse argumento não nega que as pessoas podem fazer coisas terríveis quando reunidas. Mas, nem todos os grupos no comando, e com certeza, nem todos os guardas de prisão são brutais. Propor que há algo inerente na psicologia de grupo que torna inevitável a crueldade excessiva é retirar o foco dos fatores específicos que fazem certos grupos tornar-se perversos, brutais e tirânicos. 
Dois conjuntos relacionados de circunstâncias podem levar a uma dinâmica tirânica. O primeiro surge quando um grupo com valores sociais opressivos obtém sucesso. Já foi constatado o fato de que grandes atrocidades são cometidas quando pessoas acreditam agir para se defender de um inimigo ameaçador. Alguém poderia se perguntar: Como se adotam tais crenças? De nossa parte, perguntamos qual o papel de líderes nacionais ao demonizar grupos "estranhos" - judeus, tutsis ou muçulmanos. E quanto a superiores imediatos de unidades militares que encorajam a brutalidade ou a aceitam passivamente? Qual o papel de homens e mulheres comuns quando riem ou fingem não ver a humilhação de um membro de grupo discriminado? Como fica implícito em nossas perguntas, acreditamos que pessoas ajudam a nutrir uma cultura coletiva de ódio e são, portanto, responsáveis por suas consequências. 
De modo menos evidente, o segundo conjunto de fatores, que pode gerar tirania, ocorre quando grupos que tentam introduzir valores humanos e sociais democráticos não são bem-sucedidos. Quando um sistema social entra em colapso, as pessoas acabam se tornando mais abertas a alternativas, mesmo àquelas que antes pareciam pouco atraentes. Além do mais, quando o colapso de um sistema causa tanta destruição que uma vida social regular e previsível se mostra inviável, a promessa de uma ordem rígida e hierarquizada se torna mais sedutora. Assim, a queda caótica da democrática República de Weimar levou ao nazismo; a divisão deliberada imposta pelos poderes coloniais facilitou a ascensão de regimes extremamente brutais na África pós-colonial e nos Bálcãs após a queda do regime soviético; e a supressão de formas de organização depois da Guerra do Iraque preparou o terreno para o ressurgimento de forças antidemocráticas no país. Em todos esses casos, a rejeição da democracia pode ser atribuída a estratégias políticas que procuraram, de forma deliberada, destruir grupos e apeá-los do poder. Nossa sugestão é que, melhor que tentar fazer as pessoas temer os grupos e o poder, é encorajá-las a trabalhar juntas para usar sua força com responsabilidade.

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