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Natureza da Tendência Antissocial “A tendência antissocial não é um diagnóstico. [. . .] A tendência antissocial pode ser encontrada num indivíduo normal ou num indivíduo neurótico ou psicótico”, podendo se fazer presente em qualquer faixa etária do desenvolvimento humano (WINNICOTT, 1956). A tendência antissocial se caracteriza por tornar o ambiente importante; inconscientemente o sujeito torna outra pessoa responsável por cuidar dele. É tarefa do terapeuta se envolver nesse cuidado, de forma a administrar, tolerar e compreendê- lo (WINNICOTT, 1956). “A tendência antissocial implica esperança. [. . .] A compreensão de que o ato antissocial é uma expressão de esperança é vital no tratamento de crianças que apresentam tendência antissocial” (WINNICOTT, 1956). A tendência antissocial está relacionada com a privação durante a infância, enquanto ainda era um bebê (WINNICOTT, 1956). “De todas as tendências humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se manifesta é sempre tarefa difícil identificar suas origens” (WINNICOTT, 2012, p. 94). A agressividade desafia o ambiente e o ambiente falha ao responder a essa agressividade (quando há a presença da tendência antissocial). Segundo Winnicott, até os bebês possuem agressividade, então todos nós temos agressividade em algum grau, é ela que nos motiva a buscar nossos desejos. Assim, o que faz diferença é como o ambiente responde a agressividade. A manifestação da agressividade é um pedido de ajuda. “Se a sociedade encontra-se em perigo, não é por causa da agressividade do homem, mas em consequência da repressão da agressividade pessoal nos indivíduos” (WINNICOTT, 2012, p. 94). Para entender como a tendência antissocial se instala é preciso olhar para a história de vida do paciente, para as relações que ele estabelece, entender o seu contexto. O Contexto da Teoria Winnicottiana – relação mãe-bebê • Saída do paradigma edípico para o paradigma da relação mãe-bebê. • O relacionamento em que mãe e bebê vivem juntos uma experiência. • O relacionamento em que a mãe e bebê vivem juntos uma experiência. • As relações triangulares ou triângulo é composto pela relação mãe – pai – criança que é bem representado pelo complexo de édipo. Entretanto, para Winnicott, a principal relação dual entre mãe e bebê. • To be left holding the baby – quem pariu Mateus que balance. Muitas vezes o exercício da parentalidade é um exercício solitário para os cuidadores. Nem sempre os cuidadores sabem como cuidar de um bebê e prover suas necessidades. • As crianças deprivadas – guerras e trauma, hospitalismo. Winnicott teve contato com crianças que perderam seus pais num contexto de guerra. Elas perderam casa, pessoas de referência, Tendência Antissocial Tendência Antissocial para onde voltar, perderam tudo. Em consequência, elas foram institucionalizadas, tendo prejudicada suas necessidades emocionais, demonstrando déficits em seu desenvolvimento. • As necessidades primordiais a serem supridas pelo ambiente. O ambiente não foi capaz de responder adequadamente às crianças vítimas da guerra. • John Bowlby – Attachmente Theory – Vínculo. Bowlby trata como a relação mãe – bebê faz com que a sobrevivência do bebê aconteça. Um bom livro que demonstra essa relação é o precisamos falar sobre Kevin. • Precisamos promover, enquanto psicólogas(os), ambientes adaptados para fornecer o que faltou ao paciente em seu processo de desenvolvimento, pois são necessidades primordiais do ser humano. • A destrutividade do bebê e a difícil tarefa de proteger aquilo que amamos de nossas tendências agressivas. • Um jogo de forças – amor-ódio: para sentir-se gratificado, o bebê põe em perigo aquilo que ama. Há de encontrar uma conciliação. Com sua agressividade, o bebê convoca as pessoas a atender suas necessidades, por exemplo: chorar para ter colo, para mamar. • Ao mesmo tempo em que é gratificado, o bebê também é frustrado quando a gratificação cessa, por exemplo: parar de mamar, ser colocado de volta no carrinho de bebê. O ódio ou frustração ambiental desperta reações controláveis ou incontroláveis conforme o montante de tensão já existente na fantasia do indivíduo. • A criança procura uma estabilidade ambiental que suporte seu comportamento impulsivo. Para que a impulsividade seja controlável, é preciso que o ambiente seja estável. Em “precisamos falar sobre Kevin”, percebemos que o ambiente dele era instável, sem autoridade paterna. Qualquer Ato de uma Criança Implica Considerar: • A criança em seu ambiente, com adultos que dela cuidam; • A maturidade da criança de acordo com sua idade cronológica e emocional; • A criança que, apesar de madura, carrega dentro de si níveis de imaturidade – regressão; • A criança enquanto pessoa adoecida, fixada em pontos anteriores do desenvolvimento; • A criança em seu estado emocional relativamente desorganizado; • Elaboração do impulso destrutivo da criança em algo diferente: o desejo de reparar, de construir, de assumir a responsabilidade. Isto é, trabalhando o que a criança estraga, podemos trabalhar o desejo de reparação também. • As pessoas antissociais não têm senso de responsabilidade por aquilo que destrói. Por exemplo: o antissocial que comete assassinato não sente responsabilidade pela vida que ele destruiu. • Sentimento de envolvimento: traz consigo a capacidade de sentir culpa. Esta culpa refere-se ao dano que a criança imagina haver causado à pessoa amada. Furto Ao roubar, a criança está procurando a mãe que lhe é, na sua concepção, de direito (WINNICOTT, 1956). “A manifestação da tendência antissocial inclui roubo, mentira, incontinência e, de modo geral, uma conduta desordenada, caótica” (WINNICOTT, 1956). Primeiros Sinais de Tendência Antissocial • A de-privação: natureza da tendência antissocial. “Existe uma relação direta entre a tendência antissocial e a privação” (WINNICOTT). Isto é, a criança perdeu um suprimento, mesmo que muito pobre, que era satisfatório e foi retirado por muito mais tempo do que a criança poderia suportar, esquecendo a experiência da satisfação. • Falhas/negligências nas satisfações do ego. A criança percebe, demonstrando sua frustração, que o ambiente falhou com ela. • As exigências feitas ao meio ambiente: o bebê compele alguém a se encarregar dele. Mesmo que o bebê ou criança não receba o que quer, ainda há a esperança diante do desapossamento (uma boa experiência que se perdeu): o sujeito delinquente está fazendo uma tentativa de chamar a atenção do ambiente. Essa esperança se manifesta em forma de condutas antissociais. • O incômodo que o bebê manifesta – indicativo da privação e da tendência antissocial. • Necessidades do id vs necessidades do ego: a mãe estará mais adaptada a atender as necessidades do ego do bebê, mas ao mesmo tempo poderá cuidar dos sintomas da privação – essa avidez, a sujeira, o valor de incômodo. As necessidades do id são quase impossíveis de serem atendidas. A mãe bem adaptada consegue cuidar das necessidades que o bebê tem, mesmo que não consiga atender a todos os impulsos do bebê. • Os primeiros sintomas de privação costumam ser sutis. Alguns sintomas são a avidez relacionada à inibição de apetite, sujeira (defecar, urinar) e destrutividade compulsiva (WINNICOTT, 1956). • Quando o ambiente desiste da criança, no futuro, teremos um adulto antissocial. • O tratamento da criança com tendência antissocial é muito mais fácil do que com um adulto que já se tornou um antissocial. A Perda Original “Na base da tendência antissocial está uma boa experiência inicial que se perdeu”. O bebê sendo capaz de perceber (psicologicamente) que a causa da desintegração é ambiental, e não uma falha interna, determina a alteração da personalidade para buscar a cura no ambiente de formainconsciente (desenvolvimento da tendência antissocial). O problema é que crianças antissociais não são capazes de fazer uso da cura (WINNICOTT, 1956). Assim, ao que parece, “o momento de privação original ocorre durante o período em que o ego do bebê ou da criança pequena está em processo de realização da fusão das raízes libidinais e agressivas (ou motilidade) do id” (WINNICOTT, 1956). Tratamento O tratamento é o conjunto de cuidados à criança que lhe permite testar o ambiente e vivenciar seus impulsos. “Os impulsos do id devem ser experimentados, para que façam sentido, num quadro de ligação com o ego, e, quando o paciente é uma criança que sofreu privação, a ligação egóica deve obter apoio do lado do relacionamento com o terapeuta”. Assim, “é o ambiente que deve dar nova oportunidade à ligação egóica, uma vez que a criança percebeu que foi uma falha ambiente no apoio ao ego” que deu origem à alteração na sua personalidade (WINNICOTT, 1956). O ambiente deve se responsabilizar pelo que está frustrando a criança, perceber o que a criança está reivindicando. O fracasso do tratamento dos antissociais se dá, segundo Winnicott, porque não é o profissional que dará conta disso sozinho, é preciso que o ambiente em que ele vive se altere para responder às necessidades primordiais do antissocial. Winnicott, D. W. (1956/2019). A tendência antissocial. In D. W. Winnicott, Privação e Delinquência (pp. 135-147). São Paulo: Martins Fontes. Veja Também: Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos
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