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A epidemiologia é o ramo da medicina que faz o estudo das epidemias de doenças e eventos relacionados com a saúde das populações. É um estudo da distribuição e dos determinantes da frequência de doenças no homem. Epi – sobre Demio – demo = população Logia – logo = tratado Os estudos epidemiológicos podem ser classificados como observacionais ou experimentais. Alguns termos importantes ao estudo epidemiológico: Desfecho – principal variável do estudo. Na medicina, pode ser o surgimento de uma doença, de um determinado sintoma, o óbito ou outro evento qualquer que esteja relacionado ao processo de saúde-doença; Fator de risco – variável que possa estar associada ao desfecho. Medidas de associação: criadas com o propósito de avaliar a relação entre o fator de risco e o desfecho. Entre elas, estão: Estudos observacionais Nesses tipos de estudos é permitido que a natureza determine seu curso, ou seja, o investigador mede, porém não intervém. Dentro deles, podem ser estudos descritivos e analíticos. Descritivo – limita-se a descrever a ocorrência de uma doença na população. Assim, estuda-se a distribuição da frequência e determinantes das doenças e agravos à saúde coletiva em função das variáveis: tempo, espaço e pessoas. Examina como a incidência ou a prevalência de uma doença ou condição relacionada à saúde variam de acordo com tais determinantes. É o primeiro passo de uma investigação epidemiológica. Seus dados podem ser coletados rotineiramente (dados secundários) ou através de questionários específicos (dados primários). Estudos puramente descritivos não tentam analisar possíveis associações entre exposição e efeito. São, usualmente, baseados em estatísticas de mortalidade, permitindo a análise de óbitos de acordo com a idade, grupo étnico ou idade durante um determinado período de tempo ou em vários países/locais. MEDICINA NOVE DE JULHO Esse gráfico é um exemplo de estudo descritivo, em que mostra a taxa bruta de mortalidade materna por 100 mil nascidos vivos, na Suécia, em um período que varia desde a metade do século XVIII até o XX. Com esses dados, é possível iniciar uma investigação da relação da mortalidade materna com as condições ambientais e sociais da Suécia na época, como: emigração de boa parte dos suecos aos Estados Unidos; mudanças nas condições de vida das mulheres jovens. Analítico – com mais profundidade, aborda a relação, ou melhor, examina a associação entre uma exposição e uma doença e as outras variáveis, como as condições de saúde. “É um estudo dos fatores que explicam tal distribuição, relacionando uma determinada situação de saúde, ou seja, as desigualdades dos níveis de saúde entre grupos populacionais, com a eficácia das intervenções realizadas no âmbito da saúde pública, ou mesmo identificando suas causas no modo como tais iniquidades são produzidas, na forma como a sociedade se organiza e desenvolve.” Os principais delineamentos de estudos analíticos são: Ecológico/ de correlação Úteis para gerar hipóteses. As unidades de análise são um grupo de pessoas ao invés de indivíduos, ou seja, compara-se a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde e a exposição de interesse entre o grupo de pessoas para verificar a possível existência de associação entre elas. A análise não é individual, mas comparando-se populações ou um grupo de pessoas que geralmente pertencem a uma área definida. Avaliam como o contexto social e ambiental podem afetar a saúde dos grupos populacionais. Objetivo: gerar hipóteses etiológicas de uma dada doença ou monitorar a efetividade de intervenções populacionais (implantação de uma estratégia de saúde pública). O estudo ecológico motiva o planejamento dos estudos caso e controle e coorte, visto que faz a análise socioepidemiológica e econômica em relação à doença, analisando as exposições mas não especificando qual a exposição. Ao contrário, o caso e controle e coorte demonstram de uma forma mais convincentes determinada exposição sobre o desfecho. Medida de associação: Correlação de Pearson ( r ) - mede o grau de correlação linear entre duas variáveis quantitativas - relação com frequência e média r = 1 correlação perfeita positiva r = -1 correlação negativa perfeita (se uma aumenta, a outra SEMPRE diminui) r = 0 as duas variáveis não dependem linearmente uma da outra Existe certa confusão nos estudos ecológicos do grupo que é estudado. Entretanto, os estudos de série temporal tem potencial de reduzir esse tipo de problema, sobretudo no aspecto socioeconômico. Assim, esse problema nos estudos epidemiológicos ecológicos é chamado de falácia ecológica ou viés, definida como conclusões impróprias tiradas com base em estudos ecológicos, visto que uma associação entre duas variáveis no nível agregado (grupal/maioria), não necessariamente representa uma associação no nível individual; ou seja, conclusão errada obtida quando se infere algo individual a partir de comportamento dos grupos. Isso se deve, pois os estudos ecológicos são fáceis de realizar, mas raramente encontram-se explicações sobre os resultados obtidos, visto que se baseiam em dados coletados com outros propósitos. Gráfico com período de tempo curto; logo, fator de confusão praticamente zero. Vantagens Facilidade de execução Baixo custo relativo Capacidade de gerar hipóteses Simplicidade analítica Desvantagens Vulnerável à Falácia ecológica Migração entre os grupos Não estabelece temporalidade entre causa e efeito Dados pessoais não disponíveis Transversais/ seccionais/ de prevalência Medem a prevalência da doença. Medidas de exposição e desfecho da doença são realizadas ao mesmo tempo. Isso impossibilita a aferição da temporalidade, dificultando a análise de associação entre a doença e seus fatores. Garantia que o fato associado precede ao desfecho recorte temporal: pega determinado/ específico período. É o primeiro passo ao fazer os estudos analíticos. Observação única de uma amostra ou população. Não conhece os participantes. Medida de associação: Risco de Prevalência (RP) Vantagens: São pesquisas baratas, fáceis de conduzir e úteis na investigação das exposições que são características individuais, como grupo étnico ou sanguíneo. Seus dados obtidos são úteis na avaliação das necessidades da população = perfil epidemiológico + auxilia no planejamento de ações. Menor tempo para execução Permite fazer série temporal, passível de gerar hipóteses causais. Em geral, determina a prevalência de uma doença crônica ou condição relacionada à saúde de uma população especificada (crianças, idosos, asiáticos, etc). Desvantagens: Não indicado para doenças de curta duração – infecciosas Não recomendado para doenças raras Não afere riscos, incidência Não é possível saber se a exposição antecede ou é consequência da doença/condição relacionada à saúde. Portanto, esse delineamento é fraco para determinar associações do tipo causa- efeito. Coorte (longitudinal, de acompanhamento, seguimento) Estudo observacional mais adequado para estabelecer causalidade Trabalha com incidência, ou seja, afere riscos. Observação das mesmas pessoas ao longo do tempo; necessário um conhecimento “próximo” dos participantes da pesquisa. Coorte prospectiva: acompanhamento dos participantes sem o desfecho no início da pesquisa que são acompanhados ao longo do tempo até o desfecho ocorrer. Aguarda a ocorrência do desfecho no futuro, coletando as informações sobre a exposição no presente. O que possibilita a observação e a medição da incidência. Coorte retrospectiva: odesfecho já ocorreu; porém a pesquisa procura descobrir a causa. Coleta as informações ocorridas no passado a partir de prontuários e registros prévios da doença e exposição. Tanto na retrospectiva quanto na prospectiva será observado a comparação entre expostos e não expostos. O estudo é dado por segmentos = temporalidade; período de tempo ao decorrer do estudo. Em cada segmento se avalia a incidência. Vantagens: Diferentes tipos de exposição podem ser estudados: biológicos, químicos, físicos e sociais por exemplo. Faz análise da incidência Possibilita observar fatores de risco na população Indicado para estudos de doenças infecciosas Possibilidade de medição de múltiplos desfechos (visto que no início recruta pessoas saudáveis) Maior controle na aferição das variáveis, inclusive a possibilidade de ajustes. Fornece a melhor informação sobre a etiologia de doenças; Investigação de efeitos crônicos ou tardios Desvantagens Alto custo Participantes podem viver mais tempo do que o pesquisador Perdas de segmentos – inviabiliza a pesquisa, prolongando-a e encarecendo-a É necessário aguarda a ocorrência do desfecho, sendo assim pode inviabilizar a pesquisa de desfechos de curso longo ou desfechos raros; Medida de associação: Risco relativo (RR) Há também o risco atribuível: diferença entre a incidência nos expostos e não expostos. RR (Risco relativo) – estima a magnitude da associação entre a exposição ao fator de risco e ao desfecho. É definido como sendo a razão entre a incidência do desfecho nos expostos e a incidência do desfecho nos não-expostos. Caso e controle Trabalha com chance. Recrutamento de pessoas com desfecho (casos) e de pessoas sem o desfecho (controle); fazer comparativo com a ocorrência da doença, ou seja, a escolha de casos e controles não deve ser escolhida com base na exposição. Os participantes são recrutados depois que o desfecho ocorreu coleta-se retrospectivamente a informação da exposição. Identificar fatores que ocorram com maior frequência em casos do que em controlesquer identificar a frequência/chance de aumentar ou diminuir o desenvolvimento de desfecho. Exposição avaliada a partir de: entrevistas; prontuários médicos; registro de empregos; exames de sangue e resultados de análises químicas. Não tem temporalidade definida (por isso, não é transversal e nem longitudinal). Probabilidade: comparação de número de casos favoráveis com o número de casos possíveis. É a perspectiva favorável de que algo venha a ocorrer. Chance = possibilidade: compara-se número de casos favoráveis com desfavoráveis. Cálculo entre o esperado e inesperado. Medida de associação: Odds Ratio (OR) ou Razão de chance (RC) razão entre número de vezes que o evento possa ocorrer pelo número de vezes que pode não ocorrer. A razão de chance também pode ser encontrada nos estudos de coorte e transversal. A RC/ OR é uma boa estimativa de RR quando três condições forem satisfeitas: - quando a doença não ocorre frequentemente, ou seja, rara. - controles forem representativos em relação à história de exposição de todas as pessoas SEM a doença na população de onde saíram os casos. - casos forem representativos em relação à história de exposição de todas as pessoas COM a doença na população de onde saíram os casos. Vantagens: Baratos e rápidos Fácil execução Essencial para doenças raras ou com grande período de latência Boa aproximação com RR se o desfecho não for muito frequente Avaliação de múltiplas exposições Análise simultânea de diversas exposições Desvantagens: Não tem temporalidade definida = controvérsias Suscetíveis a vieses Não permite cálculo de RR e, portanto, incidência. Vieses nos estudos caso e controle Viés de amostragem/ seleção: tendência de selecionar controles diferentes dos casos, podendo gerar confusões. Viés de memória: o estudo é retrospectivo. Portanto, lapsos de memória podem gerar informações incorretas ou pouco precisas. Quanto maior o tempo entre o de exposição e o atual, maior risco desse viés. Estratégias de mitigação dos vieses Pareamento/ emparelhamento: - auxilia a diminuir as diferenças entre grupos de casos e controles - garantir que as características de casos e controles sejam semelhantes Múltiplos controles: - múltiplos controles são usados para um único caso aumento do poder estatístico do estudo - controles obtidos em diferentes ambientes para avaliar se influencia na presença ou não da exposição Estudos experimentais/ de intervenção Envolvem a tentativa de alterar os determinantes de uma doença, como: exposição ou comportamento, ou cessar o progresso de uma doença através do tratamento; ou seja, é um tipo de estudo que o pesquisador manipula o fator de exposição (intervenção), provocando uma modificação no estado de saúde, introduzindo um esquema profilático ou terapêutico. Seus principais delineamentos experimentais são: Ensaio clínico randomizado, cujos participantes são pacientes; Ensaio clínico quase experimental; Ensaios de campo, em que os pacientes são saudáveis; Ensaios comunitários, os participantes são os próprios membros da comunidade. Ambos são ensaios clínicos (EC). Em geral, suas características: Participantes recrutados sem desfecho e sem exposição Grupos separados em grupo experimental (recebe intervenção) e controle (não recebe a intervenção) Tais estudos podem ser divididos em profiláticos ou terapêuticos Ensaio clínico randomizado (ECR) Objetivo: estudar os efeitos de uma intervenção em particular Unidade de análise: indivíduos Alocação dos grupos (experimental e controle): aleatório/ randomizado Para assegurar a equivalência, os pacientes são alocados aleatoriamente, ou seja, alocados ao acaso, visto que isso garante a comparabilidade entre os grupos desde o início do estudo. Assim, quaisquer diferenças observadas são obras do acaso o que, portanto, não são afetadas por viés do investigador. Então, pode – se entender que o estudo randomizado tem menores chances de viés. Ensaio clínico quase experimental/ não randomizado Unidade de análise: indivíduos Alocação dos grupos (experimental e controle): não aleatório Ensaio comunitário Unidade de análise: agregados/ grupos/ áreas Alocação dos grupos (experimental e controle): aleatório ou não Características que dão qualidade ao estudo experimental: Randomização – reduz vieses; as diferenças são devido ao acaso; Seguimento – dá noção de temporalidade; melhor avaliação da intervenção no estudo; Cegamento – garante a imparcialidade no estudo, o que evita afirmações incorretas. Ocorre nos ensaios randomizados; Único/ mono-cego: observado ou o observador/ pesquisador não conhece a intervenção nos grupos. Duplo-cego: observado e o pesquisador, ou seja, ambos, não conhecem a intervenção nos grupos. Triplo-cego: o observado, observador/pesquisador e o estatístico não conhecem a intervenção nos grupos (garante maior confiabilidade nos resultados do estudo) Grupos semelhantes no início – melhor visibilidade do desenvolvimento do desfecho; maior acurácia sobre a causa; Resultados se aplicam ao paciente – usado à saúde pública; Eventos clinicamente importantes; Benefícios superam possíveis danos ou custos. Medidas de associação: Risco Relativo (RR) ** No caso dos EC, é mais comum a testagem de intervenção com o objetivo de reduzir o desfecho. Então, se usa mais RRR (redução do risco relativo). RRR = 1 – RR Redução absolutade risco (RAR) É a diferença entre o risco do grupo NÃO experimental e o risco do grupo experimental. Seu cálculo está relacionado com o cálculo de NNT Número necessário para tratar (NNT) É o número de pessoas necessárias que devem receber a intervenção para evitar um desfecho Exemplo: número de pessoas que devem receber a droga/ tratamento para evitar um óbito. Vantagens: Redução de vieses (dependendo do estudo – randomização). Apropriado para doenças que tenham suas origens nas condições sociais (exemplo: doenças cardiovasculares) Relações de causalidade – temporalidade Melhor fonte de evidências científicas (por conta dos efeitos da experimentação) Desvantagens/ limitações: Custo elevado Questões éticas (por se tratar de vida humana) Não responde a todas as questões clínicas Perda de pacientes ao longo do estudo
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