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Tutorial 07 – Módulo XII ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO É uma lesão encefálica secundaria a um mecanismo lesivo vascular não traumático, tendo súbito déficit neurológico, geralmente focal, de rápida evolução e duração prolongada de 24h ou mais, caso o pcte não morra. AVE abrange encéfalo (tronco cerebral, diencéfalo e cérebro), e AVC apenas cérebro. →EPIDEMIO: primeira causa de morte no Brasil e segunda causa no mundo todo. Fatores de risco modificáveis: HAS (aterosclerose das carótidas e vertebrais), FA, DM, dislipidemia, obesidade, tabagismo, álcool, drogas, ACO. Fatores de risco não modificáveis: sexo masculino, idade > 60 anos, raça negra e hispânica, hereditariedade. →CLASSIFICAÇÃO: conforme o processo fisiopatológico subjacente; → AVE isquêmico: mais comuns, 85% dos casos, tendo HAS e FA como grandes fatores de risco. → AVE hemorrágicos: 15% dos casos, tendo HAS, angiopatia amiloide, má formação vascular e uso de cocaína como fatores de risco. →FISIOPATO: depende de como ocorre a lesão. AVE ISQUÊMICO: é causado por obstrução súbita do fluxo arterial encefálico, geralmente por embolo móvel, ou raramente por trombo nas artérias. Caso não seja possível definir se é trombo ou embolo, o AVE é chamado de criptogênico (30% dos casos). Dos AVEs isquêmicos trombóticos, o mais comum é o AVE lacunar, onde ocorrem pequenos infartos causados pela oclusao das artérias cerebrais perfurantes, as quais irrigam o tálamo, capsula interna e gânglios da base. Quando tem caso subagudo de manifestação neurológica, investigar trombose de artéria basilar. A interrupção do fluxo causa isquemia do local, e isso causa disfunção neuronal por causa da falta de oxigênio e de glicose. Caso não ocorra reversão da situação, diminui a possibilidade de reverter a lesão, mas ainda pode reverter na zona de penumbra (mecanismo de extração aumentada de oxigênio em volta). No AVE isquêmico embólico, pode ser cardioembolico (FA), ou por cardiomiopatias (IAM permite formar trombo). Ainda existe uma possibilidade por embolia arterial, chamado de AVE arterioembolico (artéria carótida ou vertebrais com placa aterosclerótica). Após ter o infarto neuronal, começa um quadro de edema citotóxico (intracelular) por desbalance da bomba de sódio-potassio pela falta de ATP. Em raros casos pode ter edema vasogenico (permeabilidade aumentada, 3-4 dias depois, responsável por complicações). Após as primeiras 48 horas, ocorre migração de neutrófilos e monócitos pra região, aumentando a inflamação e edema. Após 10 dias do quadro, o edema citotóxico é resolvido e a zona infartada fica nítida nos exames de imagem. ATAQUE ISQUEMICO TRANSITÓRIO AIT: não pode ser considerado AVE, pois tem déficit neurológico focal reversível, com caráter transitório e duração < 24h. Geralmente por embolo arterial. Manifestações semelhantes a uma AVE isquêmico, sendo fator de risco pro AVE. Pra diferenciar, levar em conta o tempo, sintomas < 24h, regiao infartar é bem menor tambem. AVE HEMORRÁGICO: ruptura dos vasos, tendo compressão nas estruturas encefálicas causando isquemia secundaria e edema. A compressão de determinadas regiões causa os sintomas de déficit neurológico (se comprimir sistema reticular ascendente, pode ter rebaixamento da consciência). Pode ser por hemorragia intraparenquimatosa (HIP), onde é dentro do parênquima, por fragilidade das paredes vasculares e rompimento de aneurismas de Charcot-Bouchard. Ou ainda por hemorragia subaracnóidea (HSA), principal mecanismo de rompimento de aneurismas saculares. O tipo mais comum de AVE hemorrágico é o hipertensivo, causado por rompimento dos aneurismas de Charcot-Bouchard durante pico hipertensivo em artérias perfurantes. Os parâmetros serão analisados pela escala de Fisher modificada, útil pro prognostico, de 0-5 (HIP). O hematoma aumenta de tamanho entre 12-36 horas seguintes, sendo necessário realizar mais de uma vez a escala. Letalidade da HIP é muito alta por consequencia da HIC, tendo desfecho com herniação cerebral. →MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: emergência medica, tempo-dependente (tempo é neurônio), deve-se reconhecer sintomas e sinais precocemente pra agir o mais rápido possível, aumentando chances de recuperação. Sinais e sintomas dependem da área acometida do encéfalo. MANIFESTAÇÕES DO AVE ISQUÊMICO: depende se afeta o sistema carotídeo ou o sistema vertebrobasilar. → Sistema Carotídeo: tem artéria oftálmica, artéria cerebral anterior, artéria cerebral media, e artérias perfurantes do sistema lenticulo-estriadas. Pode ter alterações visuais monoculares, déficit sensitivo e motor do MMSS contralateral, afasia de wernick e broca, sinal de Babinski, hiperrreflexia, espasticidade e etc. → Sistema Vertebrobasilar: tem artéria cerebral posterior (cefaleia ipsilateral, alterações de memoria, Hemibalismo, campo visual e etc), e artteria vertebral ou cerebelar póstero-inferior (síndrome bulbar, síndrome de horner). As lesoes vasculares isquemias mais comuns são as que afetam a artéria cerebral media, ocasionando em paresias e parestesias plenas ou controlaterais, alteração da visão, afasias, rebaixamento da consciência, tontura e distúrbios de marcha, cefaleias súbitas e etc. AVC isquêmico maligno é definido como infarto de > 50% do território de irrigação da artéria cerebral media, levando a morte em 80% dos casos. MANIFESTAÇÕES DO AVE HEMORRÁGICO: → Hemorragias Intraparenquimatosas: os locais mais acometidos são o putâmen (hemiplegia, desvio do olhar), área talâmica (hemianestesia pras sesibilidades), cerebelo (náusea, vertigem, ataxia) e ponte (quadriplegia súbita, coma, pupilas mioticas, perda de reflexos). Por ocorrer compressão de áreas vitais quando acomete a ponte, a letalidade é 90%. Podendo ter descerebração, hiperpneia e hiperidrose. A hemorragia lobar é especialmente comum em idosos, por causa da angiopatia amiloide comum nessa idade. Pctes com Alzheimer são mais propensos. → Hemorragias Subaracnoideas: cefaleia holocraniana forte, em trovejadas, evolui com sincope, vômitos, rigidez de nuca e sinais de meningismo, associada ou não ao déficit neurológico foral (geralmente nervo oculomotor). Também é comum ter crises convulsivas. Escala que determina prognostico. →DIAGNÓSTICO: através de escalas associadas aos exames laboratoriais e de imagem. ESCALA DE FAST: primeira a ser usada, usa na triagem pra reconhecimento rápido dos sinais clínicos de AVE. → Face = presença de paralisia facial → Arms = fraqueza nos músculos superiores → Speech = alterações de fala → Time = tempo do inicio e duração dos sintomas. Saber o tempo é essencial, pois a terapia trombolítica IV no AVEi só funciona em < 4,5 h. ESCALA DE NIH: quantificação do déficit neurológico, feita rapidamente por qualquer profissional. Pontuação de alguns parâmetros, variando de 0-42. → Nível de consciência observado → Orientação no tempo espaço → Resposta aos comandos → Olhar → Campo visual → Movimento facial → Função motora dos membros superiores e inferiores → Ataxia de membros → Sensibilidade → Linguagem → Articulação da fala → Extinção ou desatenção durante o exame. Em relação aos exames: TC SEM CONTRASTE: exame de escolha, sendo acessível e boa sensibilidade. → TC na chegada do pcte, importante pra excluir AVEh e possíveis diagnósticos diferenciais. Feita em < 45 minutos da chegada do pcte. → TC após 72 horas do inicio dos sintomas: definir a anticoagulação em casos de AVEi. Geralmente o AVEi não é encontrado na TC, pois o infarto so tem expressão radiológica após 24-72 h, por isso realizar segundo exames. Após a TC, realizar o ESCORE DE ASPECTS pra dano isquêmico, que subdivide território de irrigação da artéria cerebral media (ACM) em10 regiões avaliadas em dois cortes, um na altura do tálamo e núcleos da base, e o outro acima dos núcleos da base. Nas hemorragias intraparenquimatosas, a TC mostra imagem hipoatenuante com limites definidos e localização de complicações visíveis. Nas hemorragias subaracnóideas, a TC mostra imagem hiperatenuante ocupando cisternas e sulcos. Quanto maior o sangue presente, mais sensível o exame. Uma TC normal é igual a um escore ASPECTS de 10 pontos, e um escore 0 significa isquemia difusa em todo o território da ACM. Cada área hipodensa na TC sem contraste diminui um ponto. Pcte < 7 tem maior risco de transfusão hemorrágica e pior evolução neurológica. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA COM DIFUSÃO: exame de maior sensibilidade, permitindo diagnosticar área isquemia bem mais precocemente, tendo mais acurácia no AVEi. É um exame que demora mais, não tao acessível. Utilizado em momento de duvida de AVE na TC, ou em pctes em janela terapêutica desconhecida ou fora da janela, pra avaliar a zona de penumbra. Visualiza bem a fossa encefálica posterior. COAGULOGRAMA: avaliar pcte caso haja histórico de uso de anticoagulantes ou suspeita de alteração, útil pra avaliar antes da trombólise. EXAMES COMPLEMENTARES: não podem atrasar o tratamento, dosa ureia, creatinina, eletrólitos, hemograma completo, gasometria, marcadores de necrose miocárdica e ECG. →DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: → Angiotomografia helicoidal: analise dos grandes vasos intra e extracranianos, reconhece obstrução e estenoses. → Doppler transcraniano: determina a artéria obstruída no AVEi . → Ecocardiograma: verificar causas do AVEi (chagas, aneurisma particular de VE e etc). → Doppler de carótidas: verifica aterosclerose. →TRATAMENTO: limitar e diminuir o dano cerebral pra que o pcte tenha poucos ou nenhuma incapacidade, além de evitar repetição. → AVEi = desobstruir artérias pra permitir mais afluxo de sangue. → AVEh = controle hemorragia, parando o sangramento. TRATAMENTO DO AVE ISQUÊMICO Medidas de suporte: não é necessário a realização de suplementação de oxigênio (exceto pctes com redução da oximetria), manter temperatura normal, monitorização cardíaca obrigatória nas primeiras 24h, reduzir PA no segundo dia caso esteja alta (nitroprussiato de sódio), monitorização de glicemia, pcte deitado com cabeceira de 30º elevada, sem necessidade de privação alimentar, avaliar natremia e hidratação. Antiagregante plaquetário: AAS é droga de escolha, previne recidiva, usado de 100-325mg/dia. Heparina: usada como profilaxia pra tromboembolismo venoso, usando HNF 5000 UI 8-12 horas ou HBPM (enoxaparina). Caso precise ser VO, usa varfarina sódica. Trombolítico: usado quando necessário terapia trombolítica endovenosa (TEV) com ativador de plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) caso não haja contraindicações. Consegue reduzir sequelas, mas não reduz mortalidade caso iniciada após 4,5 horas do inicio dos sintomas. Droga de escolha é a Alteplase 0,9mg/kg EV. Trombectomia Mecânica: considerada em pctes com oclusao de vasos proximais ou que não apresentam resposta com rtPA. Os critérios são itus < 6 horas, idade > 18 anos, oclusao de carótida interna ou ramo M1 da ACM, e NIHSS > 6. Cirurgia descompressiva: até 48 horas pode reduzir mortalidade em pctes com infarto maligno da ACM < 60 anos. Tratamento do edema cerebral: controle da PA e elevação da cabeceira. Caso pcte tenha HIC é necessário uso de diuréticos osmóticos e descompressão cirúrgica de emergência. Tratamento da transformação hemorrágica: AAS precoce pode aumentar o risco. Tratamento das convulsões: profilaxia com anticonvulsivantes após 24h apenas se secundarias. TRATAMENTO DO AVE HEMORRÁGICO Cuidados intensivos e avaliar necessidades cirúrgicas durante a “goulden hour”, ou seja, a primeira hora depois do AVE. É necessário parar o sangramento excessivo por rígido controle de PA e reverter coagulopatia possíveis. Tratamento da hemorragia intraparenquimatosa: intubação com suporte ventilatório mecanico, monitorização hemodinâmica com cateter de PA invasivo (manter < 140mmHg), e monitorização da pressão intracraniana com cateter ventricular. Caso necessário, reverter coagulopatia direcionada a causa base quando RNI > 1,4. Pode ser necessário neurocirurgia de drenagem do hematoma. Tratamento da hemorragia subaracnóidea: assim que confirmado, internar na UTI. após a constatação de um aneurisma, a cirurgia de clipagem é a primeira escolha, pois previne recidivas e complicações. Monitorar os sinais vitais do paciente, como PIC através de cateter intraventricular. Cuidar com o vasoespasmo, principal complicação da HSA, reconhecida de um novo déficit focal a partir do 3º dia, usa nimodipino pra prevenção. Caso tenha vasoespasmo, fazer hemodiluição hipovolêmica e hipertensão com PAS até 200mmHg.
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