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aula prescrição. dec

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INTRODUÇÃO AO
 DIREITO 
Parte Geral 
3ª Aula
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Abuso do direito
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 A boa-fé pode atingir diretamente o componente obrigacional, seja para ampliar-lhe o conteúdo, seja para minorá-lo.
 No caso da redução da amplitude obrigacional, temos quatro institutos: supressio, surrectio, venire contra factum proprium e tu quoque.
 Serão adiante analisados. 
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 Supressio 
           A supressio ou Verwirkung da doutrina alemã, consiste na redução do conteúdo obrigacional pela inércia de uma das partes em exercer direito ou faculdades, gerando na outra legítima expectativa. 
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A prescrição fundamenta-se na preservação da paz social através da consolidação no tempo das relações jurídicas, ou seja, trata-se de elemento de estabilidade social.
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 A faculdade ou direito consta efetivamente do pacto, todavia, a inércia qualificada de uma das partes gera na outra a expectativa legítima (diante das circunstâncias) de que a faculdade ou direito não será exercido, ou, por outras palavras, "verifica-se a supressio quando, pelo modo como as partes vêm se comportando ao longo da vida contratual, certas atitudes que poderiam ser exigidas originalmente passam a não mais poderem ser exigidas na sua forma original (sofrem uma minoração), por ter se criado uma expectativa de que aquelas disposições iniciais não seriam exigidas daquela forma inicialmente prevista." 
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 "Por igual atua a boa-fé como limite ao exercício de direitos subjetivos nos casos indicados sob a denominação de ´supressio´. Segundo recente acórdão do Tribunal de Justiça do RS, esta ‘constitui-se em limitação ao exercício de direito subjetivo que paralisa a pretensão em razão da boa-fé objetiva’. 
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Surrectio
        A surrectio, ao contrário da supressio, representa uma ampliação do conteúdo obrigacional. Aqui, a atitude de uma das partes gera na outra a expectativa de direito ou faculdade não pactuada. Ordinariamente, a doutrina tem apontado para a necessidade da presença de três requisitos, conforme lembram Antônio Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro:. 
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 "Exige-se um certo lapso de tempo, por excelência variável, durante o qual se atua uma situação jurídica em tudo semelhante ao direito subjetivo que vai surgir; requer-se uma conjunção objectiva de factores que concitem, em nome do Direito, a constituição do novo direito; impõe-se a ausência de previsões negativas que impeçam a surrectio" 
          A surrectio pode ou não vir acompanhada da supressio.
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Venire contra factum proprium
  Nesta hipótese, o contratante assume um determinado comportamento o qual é posteriormente contrariado por outro comportamento seu. A respeito assertoa Nelson Nery Junior:
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   "Venire contra factum proprium. A locução ‘venire contra factum proprium’ traduz o exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente pelo exercente.
 ‘Venire contra factum proprium’ postula dois comportamentos da mesma pessoa, lícitos em si e diferidos no tempo. 
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 A proibição de venire contra factum proprium traduz a vocação ética, psicológica e social da regra ‘pacta sunt servanda’ para a juspositividade 
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   O comportamento anterior gera expectativa na outra parte a qual é frustrada pela ação do contratante que antagoniza seu anterior posicionamento. A proibição relaciona-se á confiança recíproca 
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  O princípio tem ganho aplicação jurisprudencial. No âmbito do TJRS, encontramos emblemático exemplo no julgamento da Apelação Cível nº 70014739346, Quinta Câmara Cível, Relator: Umberto Guaspari Sudbrackm, cuja ementa é a seguinte:
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          "SEGURO-SAÚDE. LIMITAÇÃO DE LOCAL DE INTERNAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DA CLÁUSULA À LUZ DO PRINCÍPIO CONTRATUAL DO ¿VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM¿. COBERTURA INDENVIDAMENTE NEGADA. As cláusulas limitativas devem ser interpretadas restritivamente, não se configurando, por si só, como abusivas, desde que não desvirtuem o próprio objeto do contrato. Em que pese haja cláusula de exclusão expressa quanto à prestação do serviço hospitalar ocorrer em determinado nosocômio, (in casu) tal limitação mostra-se indevida, porquanto em outras duas oportunidades o paciente recebeu autorização da seguradora para internar-se no hospital objeto da controvérsia. 
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 Houve, assim, segundo reza o princípio do (venire contra factum proprium), modificação da cláusula restritiva, devido ao comportamento das partes. Após o prévio consentimento da ré em autorizar, por duas ocasiões, a internação do autor no nosocômio cujos serviços estavam expressamente excluídos do plano de saúde, revela-se ilegal a negativa de nova internação, pois restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual, pois esta limitação está burlando as expectativas legítimas do consumidor. Apelo provido."
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          ‘Nestes termos, como já decidiu o Colendo Superior Tribunal de Justiça, para se ter um comportamento por relevante, há de ser lembrada a importância da doutrina sobre os atos próprios. Assim, "o direito moderno não compactua com o venire contra factum proprium, que se traduz como o exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente (MENEZES CORDEIRO, Da Boa-fé no Direito Civil, 11/742). ...
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 Havendo real contradição entre dois comportamentos, significando o segundo quebra injustificada da confiança gerada pela prática do primeiro, em prejuízo da contraparte, não é admissível dar eficácia à conduta posterior.’ (Resp n. 95539-SP), onde restou consignado pelo então relator, Min. RUY ROSADO que, o sistema jurídico nacional, "deve ser interpretado e aplicado da tal forma que através dele possa ser preservado o princípio da boa-fé, para permitir o reconhecimento da eficácia e validade de relações obrigacionais assumidas e lisamente cumpridas, não podendo ser a parte surpreendida com alegações formalmente corretas, mas que se chocam com os princípios éticos, inspiradores do sistema.’
 
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 Neste cenário, como a teoria dos atos próprios é um importante vetor interpretativo no combate ao abuso do direito, avigoro a sentença, desprovendo o presente recurso."
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Tu quoque 
        A locução significa "tu também" e representa as situações nas quais a parte vem a exigir algo que também foi por ela descumprido ou negligenciado. 
  Em síntese, a parte não pode exigir de outrem comportamento que ela própria não observou. Exemplo do instituto está no artigo 150 do Código Civil. 
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  Se a parte "a" descumpre determinada cláusula bilateral, está legitimando a parte "b" pressupor que tal cláusula não é essencial ou que seu descumprimento será tolerado. Gerada expectativa por fato próprio, não ressoa ético aquele que anteriormente não observou um comportamento exigi-lo de outrem
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 A boa- fé objetiva também é fonte das denominadas obrigações anexas ou laterais, também denominados deveres anexos. A doutrina os divide em três grupos a saber: 
 deveres de lealdade e cooperação, deveres de proteção ou cuidado e deveres de informação ou esclarecimento. 
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A par de inúmeras visões acerca da prescrição, ora se entendendo que ela extingue o próprio direito, ora defendendo-se que ela extinguiria o direito de ação, parece que o acerto está na forma como o instituto se encontra disciplinado no artigo 189 do Código Civil que positivou o melhor entendimento doutrinário no sentido de que a prescrição extingue a pretensão, vista esta como a possibilidade de submeter o interesse alheio ao próprio ou como já se disse alhures a própria ação sob o ponto de vista do direito material e não processual.
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Com a lesão a um direito subjetivo nasce a pretensão que se extinguirá se for exercida dentro do prazo previsto em lei (art. 205 e 206, CC). Por isso é que se pode afirmar com segurança que a prescrição provoca o convalescimento de uma lesão. 
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 Para que haja prescrição é necessária a presença
dos seguintes requisitos: direito subjetivo lesado fazendo nascer a pretensão + inação + transcurso de tempo previsto em lei.
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ME DÁ EXEMPLOS DE PRAZOS PRESCRICIONAIS
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Ex. prazo para reclamar da seguradora o pagamento da indenização, prazo para exigir indenização, prazo para pleitear a repetição do indébito, prazo cobrar alimentos, e, ainda, qualquer pretensão creditícia que não tenha prazo específico (art. 205) e que, por tal motivo, se submeterá ao prazo decenal genérico do artigo 206 do Código Civil.
Nota: A prescrição, via de regra, é alegada como matéria de defesa, mas pode servir como causa de pedir de uma petição inicial. Ex: mútuo com pacto adjeto de hipoteca. O débito está prescrito e o devedor quer vender. Cabe ação declaratória nesse sentido.
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Existem causas que obstam a verificação da prescrição. São elas as causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição disciplinadas nos artigos 197 a 201 do Código Civil. A presença de uma causa impeditiva (ex. o titular do direito subjetivo conta com menos de dezesseis anos de idade) leva a que o prazo prescricional não se inicie. As causas suspensivas
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Hum! Como se aplica na prática?
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 Ex. o credor está fora do país a serviço da União Federal paralisam temporariamente seu curso e depois o prazo continua a correr, computando-se o tempo decorrido antes dele.
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E o fundamento jurídico?
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Seção II
Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição
Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
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 Art. 198. Também não corre a prescrição:
 I - contra os incapazes de que trata o art. 3o; 
 II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
 III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
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 Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
 I - pendendo condição suspensiva; 
 II - não estando vencido o prazo; 
 III - pendendo ação de evicção.
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E nas causas interruptivas (ex. citação do devedor) o prazo se interrompe e se voltar a correr, recomeça a contar do zero.
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Seção III
Das Causas que Interrompem a Prescrição
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: 
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; 
III - por protesto cambial; 
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IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. 
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
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E a decadência?
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A decadência provoca a perda do direito potestativo pelo seu não exercício dentro de um prazo previsto em lei ou no próprio negócio jurídico. 
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 Ensina Agnelo Amorim Filho que “os únicos direitos para os quais podem ser fixados prazos de decadência são os direitos potestativos e, assim, as únicas ações ligadas ao instituto da decadência são as ações constitutivas que tem prazo especial de exercício fixado em lei.”
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Quero um exemplo!
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 ex. prazo para anulação do casamento, prazo para o exercício do direito de reclamar por vícios redibitórios, prazo para o exercício do direito de reclamar por vícios do produto ou do serviço na relação de consumo, prazo para escolher a prestação no caso de obrigação alternativa, prazo para o exercício da ação renovatória de contrato de locação não residencial, dentre outros.
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Afinal qual a diferença entre prescrição e decadência?
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Neste sentido, conquanto seja a decadência, instituto assemelhado à prescrição, com ela não se confunde, exigindo do intérprete que reconheça a diferença entre eles. Tais diferenças podem assim serem resumidas: 
A decadência extingue um direito potestativo; a prescrição, que apenas atinge direitos subjetivos, extingue a coercitividade inerente à ação (pretensão); 
2) A decadência tem sua origem no nascimento do direito; a prescrição se origina da lesão; 
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Só isso!
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3) a decadência, em regra, não admite suspensão ou interrupção (ver art. 26, § 2º da lei 8078/90); a prescrição sim; 
4) Somente as ações condenatórias podem sofrer os efeitos da prescrição, pois tais ações protegem direitos subjetivos que podem ser lesionados; a decad ência está ligada às ações constitutivas (direito potestativo) que possuem prazo para serem exercidos;
5) decadência pode ser voluntariamente estabelecida; a prescrição não.
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 A matéria não é tão fácil quanto parece no momento da aplicação ao caso concreto.
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CASO CONCRETO
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Maria compra uma bela casa na cidade do Rio de Janeiro. Duas semanas após a compra, tendo se mudado para a casa, Maria e sua família começam a se sentir incomodados com uma janela da casa vizinha, aberta a 80 cm da linha divisória entre os dois terrenos. 
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 Embora a família vizinha seja sociável, Maria se sente invadida em sua privacidade e decide tomar uma providência. Os vizinhos argumentam que aquela situação já existia em relação aos antigos proprietários da casa de Maria, com quem conviveram ao longo de 8 anos. 
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 Maria, pesquisando o Código Civil, vê que os artigos 1301 e 1302 proíbem janelas abertas a menos de metro e meio da linha divisória entre dois imóveis urbanos. Ela também percebe que o Código dá ao prejudicado o prazo de um ano e um dia para reclamar. 
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 Pergunta-se: 
 a-) O direito previsto no artigo 1302 do Código Civil é subjetivo ou potestativo? 
 
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 b-) O prazo em questão é de prescrição ou decadência? 
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 c-) É possível a Maria se beneficiar dos artigos em questão? Explique
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UFA!
 Para a maioria, mais uma etapa, vamos porque...
 Tá na hora do Jantar !
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