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A hematúria consiste na presença de células sanguíneas na urina. É um sinal comum em inúmeras doenças ou condições sistêmicas. Por definição, considera-se hematúria o achado de 3 eritrócitos por campo de grande aumento (400x) em pelo menos 2 amostras distintas coletadas em um intervalo de 2 a 4 semanas. A hematúria pode ser considerada normal quando a quantidade for < 500 mil eritrócitos em 12 horas ou até 3 eritrócitos por campo, pois pode decorrer de exercício vigoroso antes da coleta, intercurso sexual, trauma de leve intensidade ou de contaminação por paciente menstruada As principais etiologias variam com a idade e as mais comuns são litíases, infecções e inflamações da bexiga ou da próstata. Outras etiologias são: CLASSIFICAÇÃO Micro-hematúria: as hemácias são detectadas somente por sedimentoscopia urinária. É definida como 3 ou mais glóbulos vermelhos (RBC) por campo de alta potência (HPF) em uma amostra urinária devidamente coletada. Hematúria Macroscópica: coloração característica (avermelhada ou marrom), acompanhada por mais de 106 hemácias /ml. Pode ser inicial, total ou terminal. A inicial está relacionada com alterações na uretra; a terminal está relacionada com a uretra prostática ou com o colo vesical; e a total está relacionada com bexiga ou trato urinário superior. Assintomática: não associadas a sintomas. Sintomática: associadas a sintomas. Em relação a ocorrência: episódica ou isolada, continua ou intermitente (episódios de urina com coloração normal), persistente (> 3 meses) ou transitória (< 3 meses), recorrente (intervalos de meses ou de anos entre as remissões). INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA O objetivo dessa avaliação é: 1. Diagnosticar a hematúria 2. Identificar a causa 3. Identificar se é transitória ou permanente 4. Identificar os pacientes com maior risco de doenças significativas como tumores Quando encontra-se micro-hematúria assintomática em pacientes com < 50 anos, o diagnóstico de tumor urológico é muito raro. ANAMNESE E EXAME FÍSICO Devem ser detalhados, procurando por infecções recentes, ingestão de alimentos (beterraba e páprica) e medicamentos que podem alterar a coloração da urina (fenitoina). Perguntar sobre medicamentos que podem levar a hematúria, sobre tabagismo, história pessoal e familiar de doenças urológicas, renais e sistêmicas. Deve realizar a medida da PA, dos parâmetros antropométricos, exames da genitália e uretra. O grau da coloração da urina pode ajudar a identificar a origem: as glomerulares normalmente têm coloração cor castanho escuro; as urológicas são mais macroscópicas de cor vermelho rubi. Falsas hematúrias podem ocorrer quando há a presença de mioglobina ou de porfirina na urina. Esquema de anticoagulação habitual, com dicumarínicos ou aspirina, não predispõem hematúria, exceção aos casos com tempo de protrombina muito elevado. É MUITO COMUM ocorrer em caso de infecções urinárias (80%). De forma mais rara, em mulheres deve suspeitar de endometriose. Exercícios físicos extenuantes podem causar hematúria e o grau correlaciona-se com a intensidade e a duração da atividade. Normalmente, o sangramento é limitado e desaparece em até 72 horas de repouso. LABORATÓRIO Urina do tipo I: realizado com a 1ª urina da manhã. Permite identificar, entre outros, hemoglobina, proteína, nitrito e glicose na urina. Teste de fita positivo para hematúria deve ser confirmado pela avaliação microscópica do sedimento urinário. Exame microscópico da urina permite documentar o grau de hematúria, determinar o aspecto morfológico do eritrócito e avaliar a existência de cristais urinários e cilindros hemáticos. Quando há piúria ou bacteriúria, realiza-se urinocultura com antibiograma para descartar patógenos no trato urinário. Se há piúria e cultura negativa, suspeita-se de tuberculose do trato urinário ou de nefrite intersticial. É possível ainda realizar a análise da morfologia da hemácia ou estudo do dismorfismo eritrocitário, feito na microscopia de contraste de fase. Isomorfismo eritrocitário caracteriza lesões das vias urinárias. Citologia urinária: como teste de screening, apresenta baixa sensibilidade (33 a 54%) e não é indicada na avaliação inicial na população geral, é reservado para indivíduos com mais risco para tumores uroteliais e que serão submetidos a cistoscopia. Marcadores tumorais urinários: (NMP22 e BTA) não são indicados como exames de rotina. Estudos recentes mostram que teste positivo para NMP 22 na urina, associado a cistoscopia e a citologia, aumenta a detecção de tumor vesical em até 90% dos casos. Exames Séricos: hemograma, coagulograma, avaliação da função renal (ureia e creatinina). IMAGEM Indicada para todos os casos de macro-hematúria não glomerular, mesmo que tenha apenas 1 episódio na história. Adultos jovens com micro-hematúria assintomática não apresentam risco mais alto de câncer de vias urinárias do que a população normal. Neles, deve-se realizar avaliação apenas com um método de imagem (p. ex., ultrassonografia). A avaliação completa deve ser feita em casos de: 1. Tabagismo 2. Idade > 40 anos, principalmente em homens 3. Historia anterior de hematúria macroscópica 4. Antecedentes de patologias urológicas (cálculos ou tumores) 5. Exposição ocupacional a químicos ou a corante 6. Uso abusivo de anti-inflamatório não hormonal 7. Sintomas irritativos vesicais 8. Antecedentes de irradiação pélvica 9. Antecedentes de infecção do trato urinário 10. Antecedentes de uso de ciclofosfamida A avaliação começa com uma TC que apresenta especificidade de 97% e é melhor do que a urografia excretora para a diagnosticar e caracterizar lesões renais, como tumores e cistos, extrarrenais e ureterais, principalmente tumores pequenos na região anterior e posterior do rim, bem como cálculos urinários e lesões infecciosas. É inferior a uretrocistoscopia. Vários centros utilizam ultrassonografia (US) renal como exame inicial por ser um método de menor custo, não invasivo e não radioativo, embora apresente limitações na avaliação do sistema coletor e de pequenas lesões renais. No diagnóstico de tumores vesicais, sua sensibilidade também é inferior à uretrocistoscopia. É uma boa opção para pacientes com baixo risco para desenvolvimento de tumores e para alérgicos a contraste. Uretrocistoscopia é indicada a todos os indivíduos com mais risco de desenvolver câncer de bexiga. É aconselhável que os exames de imagem precedam a cistoscopia. Cistoscopia é o melhor exame para diagnóstico de tumores vesicais, embora seja invasiva, pois permite a realização de biópsias de lesões e de áreas suspeitas. Atualmente, por ser invasiva, não se indica angiografia no diagnóstico de hematúria, ficando restrita a casos com necessidade de embolização (fístulas ou tumores).
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