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1 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL ESQUIZOFRENIA INTRODUÇÃO Trata-se de um transtorno psicótico primário, que é definido por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios: delírios, alucinações, pensamento desorganizado, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos. CONCEITO Constitui um grupo de distúrbios mentais graves, sem sintomas patognomônicos, mas caracterizados por distorções do pensamento e da percepção, por inadequação e embotamento do afeto sem prejuízo da capacidade intelectual. Logo, o pensamento, a percepção e o afeto são os domínios essencialmente afetados. ESQUIZO: fragmentada ou partida + FRENIA: mente. EPIDEMIOLOGIA Afeta 1% da população mundial e é uma das dez doenças que mais incapacitam os indivíduos afetados. Início mais precoce em homens – dos 20 aos 25 anos – e mais tarde em mulheres – dos 25 aos 30 anos, aproximadamente. Os indícios da doença aparecem, frequentemente, na adolescência ou primeiros anos da idade adulta. Ocupa a 18º posição dentre as doenças incapacidades, segundo levantamento realizado em 2016 pelo Global Burden of Disease Study. Alta taxa de mortalidade, suicídio no inicio da doença e alterações cardiovasculares na cronicidade da doença (obesidade, tabagismo, inatividade física). Menor expectativa de vida: 10-15 anos a menos. HISTÓRIA NATURAL A história natural da esquizofrenia pode ser dividida em quatro fases: pré-mórbida, prodrômica, progressão e estabilização. FASE PRÉ-MORBIDA A baixa sociabilidade, com predileção por atividades solitárias ou ansiedade social, e as alterações cognitivas (principalmente déficits de memória verbal, atenção e funções executivas), identificadas já em filhos de indivíduos portadores de esquizofrenia, podem ser consideradas alterações pré-mórbidas. Essas alterações no comportamento, observáveis desde a infância, podem progredir e estar associadas ao desenvolvimento da esquizofrenia. FASE PRODRÔMICA A fase prodrômica é caracterizada por um período variável de tempo, geralmente de meses, antecedendo a eclosão da psicose, em que o indivíduo pode apresentar um estado de apreensão e perplexidade sem um foco aparente, sendo comum o sentimento de que “algo está para acontecer”. Geralmente se nota uma mudança no comportamento da pessoa, que passa a ficar mais isolada e a demonstrar atitudes peculiares e excêntricas, podendo ocorrer sintomas psicóticos breves e transitórios. PROGRESSÃO O período prodrômico culmina muitas vezes com o primeiro episódio de psicose e, nesse ponto, inicia- se a chamada fase progressiva da esquizofrenia, podendo ocorrer deterioração. 2 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL ESTABILIZAÇÃO A esquizofrenia evolui para fase estável, sujeita a recaídas. Os sintomas negativos muitas vezes são detectáveis desde o princípio, ao passo que os intomas positivos ocorrem durante o período de exacerbação. ETIOPATOGENIA É um transtorno com múltiplas causas, como o câncer. O indivíduo pode ter uma predisposição genética, porém, uma série de outros fatores terão de intervir para a eclosão da patologia. PATOFISIOLOGIA BIOQUÍMICA TEORIA DOPAMINÉRGICA, baseia-se na ação exacerbada da dopamina, que passa a salientar os estímulos (ficam aberrantes e salientes) e apresentar psicose. A mediação antipsicótica bloqueia os receptores pós-sinápticos da dopamina do subtipo D2, ocorrendo com isso melhora da sintomatologia. Por outro lado, a administração de agonistas da dopamina piora a sintomatologia da esquizofrenia. A serotonina também está implicada na patologia da doença, visto que o bloqueio dos receptores da serotonina do tipo 2 (5-HT2), também levam a melhora do quadro clínico. GABA: o aminoácido neurotransmissor inibitório ácidoY-aminobutírico (GABA) também foi implicado na fisiopatologia da esquizofrenia com base nos achados de que alguns pacientes têm uma perda de neurônios GABAérgicos no hipocampo. O GABA tem um efeito regulador sobre a atividade da dopamina, e a perda de neurônios GABAérgicos inibidores poderia levar à hiperatividade dos neurônios dopaminérgicos. Glutamato: o glutamato foi implicado porque a ingestão de fenciclidina, um antagonista do glutamato, produz uma síndrome aguda semelhante à esquizofrenia. A hipótese proposta sobre o glutamato inclui as de hiperatividade, hipoatividade e neurotoxicidade induzidas por ele. Não há, aparentemente, uma única lesão cerebral responsável pela causa da esquizofrenia. Interneurônios inibitórios são particularmente afetados, principalmente na diminuição em seu número; diminuição na expressão de enzimas que sintetizam o neurotransmissor inibitório GAMA; diminuição na expressão de neuropeptídios, como a colecistoquinina e a somatostatina; e o decréscimo da migração de neurônios da matéria branca para o córtex cerebral. Há também uma perda generalizada de dendritos e axônios da região cortical, refletindo uma falha de conexões sinápticas entre neurônios piramidais e neurônios inibitórios, explicados por uma falha no neurodesenvolvimento e podem sugerir que a esquizofrenia está relacionada com distúrbios em qualquer fase da maturação cerebral. Num achado consistente com essa neuropatologia, imagens de ressonância magnética mostram alargamento de ventrículos, simetria reduzida em várias áreas do cérebro (lobos temporal, frontal e occipital), diminuição de várias regiões do cérebro, incluindo hipocampo e córtex superior temporal. Além de diminuição do sistema límbico - funcionalmente anormal, com alteração da transmissão de glutamato e alteração do cerebelo e núcleos da base, pela presença de movimentos motores bizarros. TEORIAS PSICANALÍTICAS FREUD: resulta de fixações precoces do desenvolvimento que produzem déficits no desenvolvimento do ego, que contribuem para os sintomas do transtorno. Essa desintegração representa um retorno à época em que ele ainda não tinha se formado. Como o ego afeta a percepção da realidade e controle de impulsos internos, quando comprometido, são perdidas as funções. PSICANÁLISE: indicam que os sintomas do paciente refletem um significado único para cada um. Por exemplo, a fantasia de que o mundo está acabando indica que o mundo interno do paciente está se desfazendo. A incapacidade de lidar com a realidade induz as alucinações, que são tentativas 3 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL regressivas e restituitivas de criar uma nova realidade. DA APRENDIZAGEM: a teoria indica que os pacientes quando crianças aprenderam reações e formas de pensar mais irracionais ao imitar os pais que também possuíam problemas emocionais. As relações interpessoais são pobres, porque durante a infância os modelos de relação com a sociedade eram insatisfatórios. APRESENTAÇÃO CLÍNICA O quadro clínico pode precipitar de forma aguda inicialmente, como uma psicose, mas mais frequentemente assume um curso insidioso e crônico, com deterioração progressiva da funcionalidade do paciente. Os sintomas mais comuns são: afeto inadequado (rir na ausência de estímulo), humor disfórico que pode evoluir para depressão, ansiedade ou raiva, padrão de sono perturbado, falta de interesse em alimentar ou recusa a comida sempre. Pode ter despersonalização, desrealização e preocupações somáticas. Ansiedade e fobias são comuns. Baixa de memória declarativa, de trabalho, lentidão de pensamento. Os pacientes podem não ter insight ou consciência do seu transtorno, o que faz com que o paciente não perceba que está tendo alucinações – não adesão ao tratamento. Poucos são violentos. OBS: é comum ter obesidade porque são pacientes pouco ativos, que comem muito e que engordam pelo uso de antipsicóticos. A maioriatem DM, dislipidemia e HAS. Muitos são HIV positivos, pelo uso de drogas injetáveis. SINTOMAS POSITIVOS E NEGATIVOS Os sintomas negativos são um conjunto de sintomas que representam a perda ou diminuição das funções normais. Caracterizam-se pela perda de certas funções psíquicas (na esfera da vontade, do pensamento, da linguagem, etc.) e pelo empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo. Os sintomas negativos podem ser primários (resultantes da própria evolução da esquizofrenia) ou secundários (aos próprios sintomas positivos, à desorganização, à depressão, ao isolamento social ou aos efeitos da medicação antipsicótica). O DSM-5 definiu como sintomas negativos os seguintes: aplanamento e embotamento afetivos (redução da amplitude e intensidade da expressão emocional), alogia (pobreza no discurso com respostas lacónicas, sem conteúdo), avolição (redução da motivação, falta de vontade e de iniciativa), anedonia (perda da habilidade em sentir prazer em atividades ou relacionamentos interpessoais) e isolamento social. Quanto aos sintomas positivos são os sintomas presentes de forma mais visível nas fases de descompensação aguda da doença e incluem classicamente os delírios e as alucinações. São também incluídas neste conjunto outras alterações do pensamento, discurso ou comportamento. SUBTIPOS KAPLAN e CID-10 listam os subtipos da esquizofrenia: PARANOIDE Preocupação com alucinações auditivas frequentes. Marcado por delírios de perseguição ou grandeza. Os pacientes dessa classe costumam ter o primeiro episódio em idade mais tardia o que pode ser bom porque a esse ponto, ele já tem uma rede social que vai ajudar com a doença. Menor regressão das funções mentais, respostas emocionais mais leves e comportamento mais restrito. Tendem a ser pacientes tensos, desconfiados, cautelosos, reservados e as vezes agressivos. Questionar o que as vozes planejam. DESORGANIZADO OU HEBEFRÊNICO Regressão acentuada para um comportamento primitivo, desinibido e desordenado, mas que não tem os sintomas para ser encaixado no tipo 4 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL catatônico. Costuma aparecer mais precocemente, aos 25 anos. São pacientes ativos, mas de uma forma não construtiva. Mente rica, realidade pobre. Aparência desleixada, risos sem motivo, caretas e ações tolas. CATATÔNICO Distúrbio acentuado da função motora que pode desenvolver esturpor, negativismo, rigidez, excitação e posturas bizarras. A maioria deles ainda possui estereotipias, maneirismos e flexibilidade cérea (coloca numa posição e fica desse jeito por dias). Durante a excitação catatônica, o paciente pode precisar de supervisão, para impedir que se machuquem. Mais comum de ter sintomas negativos. São mais agressivos. A maioria tem ecolalia e ecopraxia – repete tudo que fala e todos os movimentos que o médico realiza. RESIDUAL Evidências contínuas do transtorno na ausência de sintomas completos ativos ou sintomas insuficientes para satisfazer outro subtipo. Quando ocorrem, os delírios não são proeminentes e não são acompanhados de reações afetivas significativas. Geralmente é no começo de outra síndrome ou após o tratamento. INDIFERENCIADO Quando não deu pra encaixar em nenhum outro. DIMENSÕES O DSM-5 ao invés de subtipos divide a esquizofrenia em dimensões psicopatológicas. Além disso, apresenta também: perda cognitiva (atenção, memória, abstração, funções executivas) e alterações do humor (depressão, mania). DIAGNÓSTICO DSM 5 CID – 10 CID 11 (ENTRARÁ EM VIGOR 2022) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Transtorno esquizofreniforme (dura de 1-6 meses e abrange somente 1 área daquelas grandes 5); delirante por uso de substâncias, delírio por grandes emoções, transtorno de personalidade esquizotípico e transtorno esquizoafetivo. 5 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL TRATAMENTO NÃO TEM CURA, TEM CONTROLE! Consiste, principalmente, na administração de antipsicóticos. PRIMEIRA GERAÇÃO (APG) Atuam, sobretudo, no bloqueio dos recetores D2 que, para além do efeito antipsicótico pretendido (obtido sobretudo pela sua ação na via dopaminérgica mesolímbica). Este mecanismo pode levar ao surgimento de sintomas extrapiramidais (acatísia, distonia aguda, parkinsonismo, discinesia tardia) e hiperprolactinemia que por vezes traduz- se clinicamente em amenorreia, galactorreia e disfunção sexual. SEGUNDA GERAÇÃO (ASG) Para além do bloqueio de recetores D2, bloqueiam também os recetores serotoninérgicos 5-HT2A. A estimulação destes recetores inibe a libertação de dopamina, logo o bloqueio dos mesmos conduzirá inversamente a aumento da libertação de dopamina. Este aumento de dopamina terá uma funcionalidade particular na via mesocortical ao levar uma melhoria dos sintomas negativos, o que corresponde a uma vantagem dos ASG face aos APG. MANEJO 6 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL Se com a monoterapia o paciente reagiu bem, vai para a fase de manutenção!!! ESQUIZOFRENIA RESISTENTE: persistência de sintomas positivos (delírios, alucinações, desorganização do pensamento e conduta) após 2 tratamentos adequados com antipsicóticos “não clozapina”. PROGNÓSTICO TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO São transtornos nos quais ambos os sintomas, afetivos e esquizofrênicos, são proeminentes dentro do mesmo episódio da doença. Podem estar presentes simultaneamente ou afastados por poucos dias. EPIDEMIOLOGIA Prevalência ao longo da vida é de menos de 1%, possivelmente entre 0,5 e 0,8%. A idade de início para mulheres é mais tardia do que para os homens, como na esquizofrenia. ETIOLOGIA Inclui esquizofrenia e transtorno de humor. A genética também parece ter influência. O uso de maconha, por exemplo, pode precipitar psicose e sintomas psicóticos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Os sintomas negativos costumam ser menos graves e persistentes do que na esquizofrenia, no entanto, pouco contato social e autocuidado prejudicado estão associados ao transtorno esquizoafetivo. Existe o transtorno esquizoafetivo do tipo maníaco, no qual há sintomas esquizofrênicos e maníacos proeminentes no mesmo episódio. No transtorno esquizoafetivo do tipo depressivo, sintomas esquizofrênicos e depressivos são proeminentes no mesmo episódio da doença. São menos alarmantes que o tipo maníaco, porém tendem a durar mais e ter prognóstico mais desfavorável. 7 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL No transtorno esquizoafetivo do tipo misto, sintomas de esquizofrenia coexistem com sintomas de um transtorno bipolar do tipo misto. DIAGNÓSTICO Pelo DSM-V, os seguintes critérios diagnósticos devem estar presentes: Um período ininterrupto da doença durante o qual há a presença concomitante do critério A da esquizofrenia e de um episódio depressivo maior ou maníaco; Delírios ou alucinações durante pelo menos duas semanas na ausência de episódio depressivo maior ou maníaco durante a duração da doença ao longo da vida; Os sintomas de episódio de humor estão presentes durante a maior parte da duração das fases ativa e residual da esquizofrenia; Descartados o uso de substância ou outra condição médica como causas. Para diferenciar o transtorno esquizoafetivo do transtorno de humor com características psicóticas, é necessária a presença de doença psicótica sem sintomas de episódios de humor, por pelo menos 2 semanas ininterruptas. Os sintomas de humor devem estar presentes durante a maior parte da doença psicótica. Se estiver presente durante curto período de tempo em relação à doença psicótica, o diagnóstico é de esquizofrenia. TRATAMENTO Uso de antidepressivos e estabilizadores do humor devem ser empregados, e osantipsicóticos são utilizados somente para controle em curto prazo. No transtorno do tipo depressivo, pode-se ainda utilizar antidepressivos, sendo os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS’s) comumente prescritos, pelo menor efeito no estado cardíaco e maior segurança em caso de superdosagem. Pode-se também utilizar os tricíclicos, especialmente em pacientes agitados ou insones. Antipsicóticos podem ser utilizados no tratamento dos sintomas psicóticos do transtorno esquizoafetivo. TRANSTORNO ESQUIZOFRENOIDE Caracteriza-se por um quadro idêntico em todos os aspectos ao da esquizofrenia, exceto pela duração de seus sintomas de no mínimo um mês, porém menor que seis meses com retorno ao funcionamento normal. Quando os sintomas persistem, o diagnóstico deve ser substituído pelo de esquizofrenia. EPIDEMIOLOGIA Mais frequente em adolescentes e adultos jovens e o diagnóstico diferencial é igual ao da esquizofrenia. Uma taxa cinco vezes maior do transtorno foi encontrada em homens em comparação a mulheres. Os parentes de pacientes com transtorno esquizofreniforme são mais propensos a apresentar transtornos do humor do que os parentes de daqueles com esquizofrenia, e mais propensos a ter diagnóstico de transtorno do humor psicótico do que os parentes daqueles com transtornos bipolares. ETIOLOGIA Causa não é conhecida. Provavelmente tem semelhanças com a natureza episódica dos transtornos do humor. Entretanto, alguns dados indicam uma relação próxima com a esquizofrenia. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Perfil de sintoma inicial é o mesmo da esquizofrenia, uma vez que dois ou mais sintomas psicóticos (alucinações, delírios, discurso e comportamento desorganizados ou sintomas negativos) devem estar presentes. Sintomas schneiderianos de primeira linha são observados dos com frequência. Mesmo que sintomas negativos possam estar presentes, eles são um tanto raros no transtorno esquizofreniforme e são considerados aspectos prognósticos ruins. 8 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL Por definição, pacientes com transtorno esquizofreniforme retornam a seu estado basal EM SEIS MESES. DIAGNÓSTICO Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (a), (b) ou (c): Um episódio do transtorno que dura pelo menos um mês, mas menos do que seis meses. Quando deve ser feito um diagnóstico sem aguardar a recuperação, ele deve ser qualificado como “provisório”. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas foram descartados porque 1) nenhum episódio depressivo maior ou maníaco ocorreu concomitantemente com os sintomas da fase ativa ou 2) se os episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, estiveram presentes pela menor parte da duração total dos períodos ativo e residual da doença. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. TRATAMENTO Os antipsicóticos devem ser utilizados para o tratamento dos sintomas psicóticos, porém cessados estes, após 3-6 meses, costuma haver resposta rápida à medicação. TRANSTORNO DELIRANTE E PSICÓTICO COMPARTILHADO O diagnóstico de transtorno delirante é feito quando uma pessoa exibe delírios não bizarros de pelo menos um mês de duração que não podem ser atribuídos a outros transtornos psiquiátricos. EPIDEMIOLOGIA Há dificuldade em estabelecer epidemiologia, uma vez que os indivíduos delirantes raramente buscam ajuda psiquiátrica, a não ser que sejam forçados a isso por suas famílias ou por ordens judiciais. ETIOLOGIA Fatores biológicos: condições neurológicas mais comumente associadas com delírios afetam o sistema límbico e os gânglios da base. Pode surgir como uma resposta normal a experiências anormais no ambiente, no sistema nervoso periférico ou no sistema nervoso central (SNC). Portanto, se tiverem experiências sensoriais errôneas de serem seguidas (p. ex., ouvir passos), as pessoas podem passar a acreditar que estão, de fato, sendo seguidas. Fatores psicodinâmicos: muitos pacientes com transtorno delirante são socialmente isolados e atingiram níveis de realização mais baixos do que o esperado. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Os pacientes costumam estar bem arrumados e bem vestidos, sem evidências de desintegração aparente da personalidade ou das atividades diárias, mas podem parecer excêntricos, estranhos, desconfiados ou hostis. A característica mais notável de pacientes com transtorno delirante é que o exame do estado mental mostra que são bastante normais, exceto por um sistema delirante acentuadamente anormal. 9 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL DIAGNÓSTICO SUBTIPOS TRATAMENTO Os objetivos do tratamento são estabelecer o diagnóstico, decidir sobre as intervenções adequadas e lidar com complicações. É necessário excluir outras causas dos aspectos paranoides e confirmar ausência de outras psicopatologias. PSICOTERAPIA: elemento essencial da psicoterapia eficaz é estabelecer um relacionamento no qual os pacientes comecem a confiar no terapeuta. A terapia individual parece ser mais eficaz do que a de grupo; as terapias orientadas ao insight, de apoio, cognitiva e comportamental muitas vezes são eficazes. HOSPITALIZAÇÃO: as indicações incluem necessidade de avaliação médica e neurológica completa, avalição da capacidade de controle de impulsos violentos e comportamento do paciente diante do delírio. FARMACOTERAPIA: indivíduos gravemente agitados devem receber um antipsicótico por via intramuscular. A história de resposta à medicação é o melhor guia para a escolha de um medicamento. Muitas vezes, o médico deve começar com doses baixas (p. ex., 2 mg de haloperidol ou 2 mg de risperidona) e aumentá-las de maneira progressiva. Se não houver resposta a uma dosagem razoável em um período de seis semanas, antipsicóticos de outras classes devem ser tentados. TRANSTORNO PSICÓTICO BREVE, OUTROS TRANSTORNOS PSICÓTICOS E CATATONIA TRANSTORNO PSICÓTICO BREVE O transtorno psicótico breve é definido como uma condição psicótica que envolve o início súbito de sintomas psicóticos que duram um dia ou mais, mas menos de um mês. A remissão é completa, e o indivíduo retorna ao nível de funcionamento prémórbido. É uma síndrome psicótica aguda e transitória. EPIDEMIOLOGIA Considerado incomum. Ocorre com maior frequência entre indivíduos mais jovens (na segunda e terceira décadas de vida) do que entre os mais velhos. É mais comum em mulheres do que em homens. O transtorno é observado com frequência em pacientes com transtornos da personalidade (mais comumente histriônica, narcisista, paranoide, esquizotípica e borderline). ETIOLOGIA 10 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL Formulações psicodinâmicas têm enfatizado a presença de mecanismos de enfrentamento inadequado. Outras teorias psicodinâmicas sugerem que os sintomas psicóticos sejam uma defesa contrafantasias proibidas, a satisfação de um desejo frustrado ou uma fuga de uma situação psicossocial estressante. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Incluem pelo menos um sintoma importante de psicose, como alucinações, delírios e pensamentos desorganizados, geralmente com início repentino, mas nem sempre incluem todo o padrão sintomático visto na esquizofrenia. Os sintomas característicos do transtorno psicótico breve incluem volatilidade emocional, comportamento estranho ou bizarro, gritos ou mutismo e memória comprometida para eventos recentes. ESTRESSORES PRECIPITANTES Incluem eventos que causamimpacto emocional significativo. Exemplo: perda de um membro da família próximo ou um acidente automobilístico grave. DIAGNÓSTICO Sintomas psicóticos duram pelo menos um dia, mas menos de um mês, e não estão associados com um transtorno do humor, com um transtorno relacionado a substâncias ou com um transtorno psicótico causado por uma condição clínica geral. Há três subtipos desse transtorno: (1) a presença de um estressor, (2) a ausência de um estressor e (3) um início no período pós-parto. TRATAMENTO Pode necessitar de hospitalização breve tanto para avaliação como para proteção. A avaliação requer o monitoramento rigoroso dos sintomas e a estimativa do nível de perigo do paciente para si mesmo e para os outros. Farmacoterapia: duas principais classes de medicamentos a serem consideradas no tratamento de transtorno psicótico breve são os antipsicóticos e os benzodiazepínicos. Quando se opta por um medicamento antipsicótico, como haloperidol, ou um agonista de serotonina-dopamina, como ziprasidona, podem ser utilizados. Para pacientes com alto risco de desenvolvimento de efeitos adversos extrapiramidais (p. ex., homens jovens), um antagonista de serotoninadopamina deve ser administrado como profilaxia contra sintomas de transtorno do movimento. Psicoterapia: a parte mais difícil do tratamento é a integração psicológica da experiência (e do trauma precipitante, caso exista um) na vida dos pacientes e de suas famílias. A psicoterapia é útil como uma oportunidade para discutir os estressores e o episódio psicótico. TRANSTORNO PSICÓTICO INDUZIDO POR MEDICAMENTO/SUBSTÂNCIA Frequentemente encontrado em pacientes que abusam de álcool ou de outras substâncias a longo prazo. As substâncias envolvidas com mais frequência são álcool, alucinógenos indólicos, como a dietilamida do ácido lisérgico (LSD), anfetamina, cocaína, mescalina, PCP e cetamina APRESENTAÇÃO CLÍNICA Alucinações (táteis – insetos andando na pele podem surgir em pessoas cegas devido a catarata); delírios (hiperatividade e apatia podem estar presentes, e um humor disfórico associado é considerado comum). DIAGNÓSTICO TRATAMENTO Direcionado para condição subjacente. Agentes antipsicóticos (p. ex., olanzapina ou haloperidol) podem ser necessários para o controle imediato e de curto prazo do comportamento psicótico ou agressivo, embora os benzodiazepínicos também possam ser úteis para controlar agitação e ansiedade. TRANSTORNO CATATÔNICO A catatonia é uma síndrome clínica caracterizada por anormalidades comportamentais impressionantes que podem incluir imobilidade ou 11 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL excitação motora, negativismo profundo ou ecolalia (imitação da fala) ou ecopraxia (imitação de movimentos). O diagnóstico não é feito se a catatonia for mais bem explicada por um transtorno mental primário, como esquizofrenia ou depressão psicótica, ou se os sintomas catatônicos ocorrem exclusivamente no curso de delirium EPIDEMIOLOGIA Condição incomum, vista sobretudo em doenças primárias do humor ou psicóticas avançadas ETIOLOGIA Transtornos neurológicos (p. ex., status epilepticus não convulsivo e traumatismo craniano), infecções (p. ex., encefalite) e distúrbios metabólicos (p. ex., encefalopatia hepática, hiponatremia e hipercalcemia). Alguns medicamentos também, como corticosteroides, imunossupressores e agentes antipsicóticos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Pode incluir imobilidade motora ou atividade excessiva, negativismo extremo ou mutismo, peculiaridades do movimento voluntário e ecolalia ou ecopraxia. Flexibilidade cérea, uma forma de postura artificial muitas vezes evidente no exame físico, pode estar presente. DIAGNÓSTICO TRATAMENTO Compromete a capacidade de uma pessoa de cuidar de si mesma e, portanto, requer hospitalização. Os benzodiazepínicos podem proporcionar melhora temporária dos sintomas, e sua utilização pode melhorar a capacidade de comunicação dos pacientes e o autocuidado. 12 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES MÓDULO SAÚDE MENTAL
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